terça-feira, 29 de dezembro de 2015

REFORMISMO, ANTE-SALA DO FASCISMO

                                                           
                O ascenso do fascismo é um dos fatos mais importantes da atualidade. No primeiro turno das eleições regionais francesas, em 06 de dezembro, pela primeira vez, a Frente Nacional ficou em primeiro lugar, à frente do Partido Socialista e do Partido Republicano, com 27,73% dos votos. Na Ucrânia, o fascismo já está no poder, desde o golpe de Estado patrocinado pelos Estados Unidos e a Europa. Na Polônia, governa um partido semi-fascista. Crescem grupos fascistas em outros países. Nos Estados Unidos, o Tea Party, extrema direita do Partido Republicano, ganha força. No Oriente Médio, o fascismo sionista continua atacando os palestinos impunemente e o fascismo “islâmico” (Al Qaeda, Estado Islâmico, Irmandade Muçulmana) domina amplos territórios na Síria e no Iraque. Na América Latina, a direita está na ofensiva (o fascismo é um dos seus componentes): na Argentina, vitória eleitoral de Maurício Macri; na Venezuela, a direita obteve ampla vitória nas eleições parlamentares; no Brasil, patrocina um movimento golpista.
        O fenômeno fascista não é casual, e se repete. São diversas as suas causas. Surgiu no século XX, como último recurso do capitalismo diante da revolução socialista, que não está na ordem do dia nos dias de hoje. Podemos dizer então que o fascismo atual seria o recurso extremo do capitalismo diante da profundidade da sua crise social e econômica. Na ausência de um perigo socialista real, inventa-se um socialismo fictício, ao lado de outros bodes expiatórios (imigrantes, por exemplo).
        A acentuada degeneração do capitalismo é a principal das suas causas. Não se trata apenas das crises cíclicas, mas de uma crise estrutural permanente e irreversível: parasitismo econômico (produção do supérfluo, especulação financeira, dívida pública fraudulenta), guerras por mercados e fontes de matérias primas, miséria social, destruição da natureza, ofensiva contra todas as conquistas sociais. Essa crise estrutural se conjuga com a decadência dos Estados Unidos como império hegemônico, fato que potencia todos os efeitos da atual barbárie (armamentismo, guerras, e o fascismo).
        O terrorismo fundamentalista é uma velha criação do império. Este, inicialmente, criou a Irmandade Muçulmana como contraponto ao nacionalismo árabe nasserista (Gamal Abdel Nasser, dirigente egípcio nas décadas de 50 e 60 do século XX), ao nacionalismo palestino (OLP) e sua vertente socialista, e aos partidos árabes laicos. Mais recentemente, o imperialismo criou o Taliban e a Al Qaeda, para se opor à Rússia no Afeganistão. Seu mais novo pupilo é o Estado Islâmico, criação dos serviços secretos dos Estados Unidos, Israel, Inglaterra e França, e sustentado pela Arábia Saudita e Catar. Hoje, os principais grupos terroristas formam grandes exércitos mercenários, postos a serviço do imperialismo (Líbia, Síria, Iraque, Mali, Sudão, Ucrânia, etc.). Com o terrorismo, o imperialismo mata dois coelhos: cria exércitos mercenários a seu serviço e ao mesmo tempo fabrica um inimigo, a justificar suas guerras.
        Além do patrocínio imperialista e da crise estrutural, o crescimento fascista se dá em razão da falência do reformismo em todas as suas variantes: nacionalista, socialista, social-democrata e “comunista” (estalinismo). A social-democracia européia serviu de escada para a vitória dos regimes de Hitler e Mussolini, ao lado do estalinismo. Após a revolução russa, freou a luta do proletariado pelo socialismo, limitando o seu objetivo à reforma do capitalismo. Os partidos estalinistas tiveram trajetória semelhante. Traíram todas as revoluções socialistas através de frentes populares, em nome de uma suposta revolução burguesa. Posteriormente, transformaram-se em euro-comunistas, ou seja, uma nova versão da social-democracia.  “Comunistas” e sociais-democratas passaram a promover as contra-reformas liberais. De apoiadores do Estado de Bem Estar Social, viraram o seu coveiro. Assumiram também a política colonial do grande capital. Hoje, Hollande, de braços dados com Sarkozy, estende o tapete para a passagem da senhora Marine Le Pen.
        Na América Latina, a história se repete com o nacionalismo, o populismo ou o “socialismo do século XXI”. No passado, Salvador Allende havia pavimentado o caminho para Pinochet; João Goulart, para Castelo Branco. Hoje, Cristina Kirchner, passa o bastão para Maurício Macri; Nicolás Maduro abre alas para Capriles; Dilma contempla impotente a ofensiva golpista. Allende e Goulart cutucaram o imperialismo com vara curta: tentaram reformar o capitalismo pacificamente, apoiados nas estruturas do Estado. Pinochet era ministro de Allende e João Goulart confiava na sua base militar. Ignoraram que o Estado serve ao grande capital e que não existe mais burguesia nacional independente.
        O “reformismo” atual é uma caricatura do seu predecessor: tem todos os seus defeitos e nenhum dos seus méritos. Allende e Goulart defenderam programas nacionalistas, embora limitados. Nenhum dos regimes atuais (Cristina, Morales, Maduro, Dilma) defendem a soberania nacional. Governam para as multinacionais. O anti-imperialismo de Cristina, Maduro e Morales, é verbal. O de Dilma, nem isso. O seu “progressismo” se restringe a programas sociais populistas: “menciones”, bolsa- família, etc. Não se propõem reformar a estrutura do Estado e romper com a sua dependência. Seria mais correto caracterizá-los como populismo liberal. O suposto desenvolvimentismo do PT é uma fraude, da mesma forma que o do chavismo. Os seus regimes apenas se sustentaram enquanto durou os altos preços das matérias primas. Mantiveram as respectivas economias baseadas na produção primária, característica das semi-colônias, e jamais questionaram a agiotagem internacional através da fraudulenta dívida pública. A ascensão da direita é a conseqüência óbvia.

O neo-reformismo e o socialismo

        O fracasso do populismo liberal na América Latina ou da social-democracia na Europa, numa conjuntura de radicalização de massas, pode levar provisoriamente a uma nova farsa reformista. Isso aconteceu na Grécia com o Syriza e está se passando na Espanha com o Podemos. E pode se repetir em outros lugares. O Syriza elegeu-se prometendo romper com a draconiana “austeridade”, para passar a geri-la uma vez no governo. O capital não se dispõe a abrandar os seus ataques às conquistas sociais. A sua sobrevivência depende da escravização cada vez maior dos povos. O reformismo verbal sempre capitula uma vez no poder. Os trabalhadores conscientes devem desconfiar de todas as promessas de melhorias por dentro do capitalismo.
        A crise estrutural do capitalismo fabricará sempre novos mercadores de ilusões. É necessário identificá-los. Basta analisar os seus programas reformistas e os seus métodos eleitoralistas. Ver quem se solidarizou com o Syriza, por exemplo. No Brasil, os candidatos a novos reformistas sem reformas atendem pelos nomes de PSOL e PSTU, dentre outros menos cotados. Estão muito distantes do poder, mas causam estragos entre a vanguarda. Defendem a revolução socialista nos dias de festa e um programa reformista na prática. O seu método é o eleitoralismo e o economicismo (restrição das lutas a objetivos puramente econômicos) nos sindicatos. Não fazem agitação contra o capitalismo e muito menos apostam na insurreição dos trabalhadores. Em todos os fatos importantes da luta de classes têm se colocado ao lado da burguesia. Diante do atual movimento golpista contra o governo, defendem o Fora Todos, eleições gerais ou assembléia constituinte. Como os trabalhadores não estão em condições de impor o Fora Todos, essa bandeira se resume de fato a apoio disfarçado ao Fora Dilma. O mesmo se diga de Eleições Gerais e Constituinte. Nós entendemos que o governo Dilma não pode ser defendido, mas muito menos o golpe institucional.
        A história tem provado à exaustão que o capitalismo é irreformável. O reformismo, ao lado do nacionalismo, liberalismo e outras variantes, sempre fracassará e abrirá passagem para o fascismo, como último recurso de salvação do capitalismo. Mas isso não é inevitável. A única alternativa dos trabalhadores é o fim do capitalismo, que não se dará através de reformas, mas de uma insurreição socialista. Esta ainda não está na ordem do dia. A nossa tarefa é criar as condições para ela. As condições objetivas estão mais do que maduras: o grau de internacionalização da economia e da socialização do trabalho. Faltam as condições subjetivas: a consciência e organização do proletariado. Criar sindicatos independentes e organizados por local de trabalho, o que requer a derrota da atual burocracia sindical. Somente um partido revolucionário pode liderar esse processo, que passa pela destruição de todos os representantes da burguesia: os seus partidos tradicionais, e inclusive os empecilhos de esquerda. Apenas a revolução socialista pode cerrar o passo ao fascismo e à barbárie capitalista.




       

        

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

CONTRA O IMPEACHMENT E O ARROCHO LIBERAL

                        
        Com a tramitação na Câmara dos Deputados do processo de impeachment da presidenta da república, está em curso uma tentativa de golpe de Estado institucional, valendo-se de pretextos fiscais, as chamadas “pedaladas”. À vingança pessoal de Eduardo Cunha soma-se o golpismo de uma parte da direita tradicional (PSDB e afins), que quer abreviar a sua chegada ao poder. Os golpistas, e parte da esquerda, negam a existência de golpe porque o impeachment teria uma base legal. Para nós, trata-se de um golpe de Estado, que se define, não pela legalidade formal, mas por valer-se de pretextos legais. A sua viabilidade é incerta, mas em qualquer caso serve para paralisar o governo, o que também é seu objetivo.
        O proletariado brasileiro não tem razões para defender o governo Dilma, autor de profundo ataque aos seus direitos e conquistas, na condição de agente do capital internacional. Tem menos razões ainda para defender ou omitir-se diante do golpe de Estado. A luta contra o impeachment não se confunde com a defesa do governo. Os ataques liberais em curso são patrocinados pelo governo Dilma em santa aliança com os seus “inimigos” golpistas. O golpe é dirigido não apenas contra o governo, mas principalmente contra os trabalhadores. O sucesso do golpe é a sua derrota e a pavimentação do caminho para ataques ainda maiores.
        Nenhum trabalhador consciente pode ser conivente com o impeachment, como o faz grande parte da esquerda. Da mesma forma, não pode compactuar com o governo, como faz a outra parte. O combate ao golpe é sinônimo de combate aos planos de arrocho, obra conjunta do governo e oposição de direita. Significa denunciar ambos como braço esquerdo e direito do mesmo patrão, o grande capital. O governo, movimentos sociais (CUT, CTB, MST, UNE, etc.) e parte da esquerda formaram um bloco para mobilizar contra o impeachment. Mais do que contra o impeachment, é um movimento de apoio ao governo, incluída a sua política antipopular. Os trabalhadores não devem participar desses atos governistas. A sua mobilização deve ser independente, para poder denunciar ao mesmo tempo o impeachment e os planos liberais.
        Uma parte da esquerda (PSTU, MRT, correntes do PSOL) diz não apoiar nem o governo, nem o impeachment. Entretanto, a sua política de fato é de apoio ao golpe, que não classificam como tal. O PSTU defende o “Fora Todos” e “eleições gerais”. O proletariado carece de organização para tornar realidade o Fora Dilma e muito menos o Fora a direita. Neste momento, apenas a direita pode realizar o Fora Dilma. Por esse motivo, o Fora Todos é um apoio disfarçado ao impeachment e à direita. O mesmo se diga de “eleições gerais”, que na atual conjuntura provavelmente redundaria num congresso ainda mais reacionário que o atual. O MRT, ex-LER, nos brinda com a tradicional e universal proposta de Assembléia Constituinte, que claudica da mesma perna que as bandeiras do PSTU, e alimenta uma ilusória alternativa democrático-burguesa.
        A proposta de greve geral também alimenta ilusões. Não existe nem mobilização nem organização para convocá-la. Somente a CUT poderia fazê-lo. Mas a CUT é um braço do governo e está também comprometida com os ajustes contra o povo. A exigência dessa esquerda de que a CUT rompa com o governo e encabece a luta contra os ajustes é uma venda de ilusões da pior espécie.

        Não existe atalhos. É preciso reconstruir a organização independente dos trabalhadores, criando sindicatos revolucionários e um partido revolucionário.  Denunciar todos os agentes do capital, governistas e oposição de direita. Derrotar a burocracia sindical (CUT, CTB, Força Sindical, etc.), inclusive a de “esquerda”. Organizar a luta contra os ataques liberais onde for possível. Essa é a única forma possível e coerente de luta contra o golpe. 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

ESQUENTA A NOVA GUERRA FRIA

                         
        O panorama internacional se instabiliza ainda mais com a intervenção militar russa na Síria, mesmo que seja limitada e concertada com os Estados Unidos. Na Síria, este encurrala o regime e põe em risco as bases militares russas de Tartus e Lataquia. À Rússia não interessa o confronto militar. Precisa de tempo para fortalecer as suas posições, mas antes que o cerco se feche resolveu reagir enviando armamento moderno para essas bases e bombardeando o terrorismo sírio, não sem antes comunicar os seus “parceiros” ocidentais. Não pode permitir a perda do acesso ao mediterrâneo, garantido pela base naval de Tartus, já ameaçada pelos terroristas. Putin pretende dar um recado à Turquia, uma das principais financiadoras do terrorismo na região, e que também controla o acesso do mar negro ao mediterrâneo. Por ela também passaria o planejado gasoduto russo para abastecer a Europa sem passar pela Ucrânia. Recep Erdogan (presidente Turco) e Obama já haviam acertado a criação unilateral de um “espaço de exclusão aérea” na Síria para proteger os terroristas, o que seria o golpe de misericórdia no enfraquecido governo Assad, aliado da Rússia.
 Putin resolveu intervir de forma limitada e acobertado pela bandeira do combate ao terrorismo, coisa que os Estados Unidos alega fazer liderando uma coalizão de quarenta países. Foi uma jogada de mestre que combina a intervenção armada e a diplomacia, mas que é ao mesmo tempo muito arriscada. No plano geral, a iniciativa não pertence à Rússia, mas aos Estados Unidos. Vejam, além da Síria, a Libia, Ucrânia, Iraque, Irã, etc. A OTAN expande as suas bases aos países da esfera da antiga URSS, instala mísseis nucleares na Europa, contra os tratados estabelecidos, e prepara-se para provocá-la através da Polônia, Bulgária, Romênia, Estônia, Letônia e Lituânia.
        Diante da ameaça às suas bases na Síria e ao governo do seu aliado Assad, restava à Rússia reagir ou capitular. Resolveu reagir de forma calculada, na exata medida para estancar a ofensiva imperialista, negociar em melhores condições e ganhar tempo. Além de preservar os seus interesses na Síria, a Rússia também pretende: aumentar o seu poder de barganha na Ucrânia; negociar as represálias econômicas do ocidente; fortalecer-se diante dos atores regionais (Turquia, Israel, Arábia Saudita, Irã); debilitar o terrorismo, em especial o terrorismo checheno no interior do Estado Islâmico. Putin também dá garantias a Israel, com quem busca aproximar-se negociando acordos comerciais e de exploração de gás (Leviatã, no mediterrâneo).
        A força dos EUA não é mais a mesma. Intervém principalmente através dos seus aliados (Turquia, Israel, Arábia Saudita, Jordânia, etc.), que têm os seus próprios interesses, difíceis de conciliar. Obama enfrenta ainda uma severa oposição interna (republicanos, parte dos democratas, pentágono). Alguém sustenta que essa intervenção russa possa ser também do seu interesse, cuja política para o Oriente Médio encontra-se num impasse. Obama resiste a um maior envolvimento direto na Síria com medo dos seus possíveis reflexos eleitorais. Mas, apesar das pretensões limitadas russas, das garantias oferecidas e de um possível acordo prévio, a situação é de grande risco. Dentre o “saco de gatos”, envolvendo a oposição interna e os aliados dos Estados Unidos, não faltará quem queira fazer uma provocação militar à Rússia.

A capitulação da esquerda
        Na Síria, repete-se a já tradicional capitulação da esquerda: uma parte apóia o imperialismo EUA/Europa, sob o disfarce do apoio a uma fantasiosa revolução síria (LIT/PSTU, UIT/CST, PTS/MRT, etc.). Outros menos cotados apóiam a Rússia, através das palavras de ordem: Viva Putin e Frente Única.
        O primeiro bloco diz: “Não aos bombardeios russos na Síria” (LIT); “Fim dos bombardeios russos na Síria!” (UIT). Mesmo que essa esquerda também fale contra os bombardeios americanos, na prática, sempre apoiou essa intervenção imperialista, em nome da defesa da suposta revolução síria, e a exigiu pedindo “armas para os rebeldes”. Distorcem de tal maneira a realidade que, segundo sua versão, os bombardeios americanos seriam contra a “revolução” e não contra o regime sírio. A sua verdadeira aspiração é que o imperialismo deixe de bombardear os “rebeldes” (ou seja, os terroristas) e o faça contra Assad, com quem não deveria negociar. Essa distorção é tão acintosa que o próprio imperialismo e a sua imprensa admitem financiar tais “rebeldes”, inclusive, o “moderado” Exército Sírio Livre, considerado revolucionário pela esquerda. Este, o ESL, inclusive participa publicamente das reuniões de cúpula imperialista, conhecidas como “amigos da Síria”. Existe outro grupo, o PTS argentino, MRT no Brasil, ex-LER, que supostamente não apóia qualquer dos lados, mas compartilha com os outros a defesa da “revolução síria”, sendo assim uma variante política dos demais.
        Esse bloco defende a “revolução síria” de 2011, que teria sido esmagada a ferro e fogo pela ditadura sanguinária de Bashar al-Assad, mas que contraditoriamente sobreviveria até hoje através de algum setor “rebelde revolucionário”, que somente poderia ser representado pelo Exército Sírio Livre. Somente essa esquerda não sabe que o ESL tem assento no bloco imperialista “os amigos da Síria”; que também é financiado pelo imperialismo e seus prepostos e se articula com os outros grupos terroristas (al-Qaeda, Estado Islâmico, etc.). Não existe grupo independente do imperialismo e muito menos revolucionário. Isso é uma invenção vergonhosa para justificar a capitulação.
        A pretensa revolução de 2011 é uma fantasia. Por revolução o marxismo entende a luta pelo poder de uma classe contra outra, ou seja, do proletariado contra a burguesia. O proletariado na Síria não tem qualquer representante e muito menos poderia sê-lo algum grupo fundamentalista. As mobilizações de 2011 não foram uma insurreição do proletariado pelo poder. E hoje não existem mais. Toda a luta contra o regime se transformou em guerra civil, sob absoluto controle militar dos grupos terroristas a serviço do imperialismo. A possível queda de Assad levaria ao domínio do fundamentalismo (vide Afeganistão, Iraque e Líbia). Nesse caso, esses grupos dirão na maior cara de pau que a “revolução” teria sido “seqüestrada”, ou seja, teria triunfado a contra revolução que eles mal disfarçadamente apoiaram.
        De outro lado, existem os defensores do Viva Putin e da Frente Única com ele. Estes, colocam nas mãos da Rússia a sorte e a independência da Síria, como se esta lutasse de alguma forma pela soberania síria. Não é verdade. A Rússia luta exclusivamente pelos seus interesses nacionais. Não pode conquistar a sua independência nacional a não ser expandindo a sua influência, que leva necessariamente ao surgimento de um novo imperialismo. A parca influência que consiga será colocada a serviço de algum acordo podre com o imperialismo dominante. A defesa de Assad é apenas moeda de troca nessa negociação.
        Apoiar a política russa na Síria é uma capitulação. A palavra de ordem de “frente única com a Rússia” significa apoio à política externa russa na Síria, muito embora, seja correto no confronto entre dois inimigos tirar proveito da divisão entre eles, ou seja, fazer frente única com um deles contra o outro. Entretanto, essa frente única deve ser concreta e determinada. No caso sírio, apoiamos os ataques russos contra o Estado Islâmico, a al-Qaeda, a Ahrar al-Sham, o Exército Sírio Livre, porque estes representam o fascismo árabe aliado ao imperialismo dominante contra a independência nacional síria. É muito diferente de propor frente única genérica com a Rússia, porque isso implica apoiar toda a política externa russa para a Síria, inclusive, a autorização de vôos de Israel sobre o espaço aéreo sírio, a contenção do Hesbolah e do Irã, e a submissão da Síria aos seus interesses.
        Os apoiadores incondicionais de Putin mancham a bandeira do trotskismo tanto quanto os defensores da “revolução síria”. A IV Internacional defendeu a URSS contra o imperialismo, mas não defendeu a política internacional de Stálin. Defendeu a expropriação da burguesia polonesa pelo exército vermelho, mas não defendeu a invasão da Polônia, porque essa invasão era fruto de um acordo com Hitler para a sua divisão entre Rússia e Alemanha. Os interesses do proletariado internacional era o único critério da sua política. Em nome dele não se poderia apoiar a política externa de Stálin. É preciso saber determinar exatamente o que e quando apoiar. Embora Putin não seja Stálin, o método é o mesmo na atual ocupação russa da Síria. Nenhum desses “trotskistas” passou na prova da independência de classe do proletariado.



sexta-feira, 25 de setembro de 2015

MARCHA DOS TRABALHADORES, VERSÃO DE ESQUERDA DA MARCHA DA DIREITA

No dia 18.09 ocorreu a Marcha Nacional dos Trabalhadores, em São Paulo, convocada pelo Espaço Unidade de Ação, composto por uma parte da esquerda – Conlutas, PSTU, parte do PSOL, MRT/LER, PCB, sindicatos e movimentos sociais. Seria um ato contra o governo e a direita.  Segundo Cacau, do PSTU e Conlutas: “Nesse ato, vamos levantar as bandeiras mais sentidas pelo povo pobre e trabalhador: o desemprego, o ajuste fiscal, a violência na periferia, o tema da dívida pública, dos direitos da juventude, das mulheres, negro e negras e LGBTs, dentre outros”.
        O caráter da marcha foi dado pela palavra de ordem “Basta de Dilma”, que é a versão envergonhada do “Fora Dilma”. A Folha de São Paulo escreve: “Diferentemente de outros setores da esquerda, como MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), os organizadores não descartam a saída de Dilma Roussef, embora não defendam abertamente o impeachment. As palavras de ordem mais gritadas eram ‘Chega de Dilma, chega de Aécio, chega de Cunha e desse Congresso’”. Esse bloco não erra ao denunciar o governo Dilma e sua política. Isso é uma necessidade para retirar da direita o monopólio da crítica ao governo. Capitula ao confundir o combate aos ataques do governo ao Fora Dilma, que serve exclusivamente à direita, porque somente ela está em condições de substituí-la.
        O impeachment representa um golpe de Estado, que traz em si um mandato de maior repressão e exploração. Representa uma derrota, não só de Dilma, mas dos trabalhadores. Dilma não é melhor que Aécio ou Temer, tanto que está aplicando profundamente o arrocho fiscal e privatizando a Petrobrás. O PT se diferencia do PSDB pela sua base social, que não o faz mudar de política, mas a aplica de forma mascarada. E quando se torna explícita, aparece claramente como uma traição. O PSDB não vende as mesmas ilusões. Um governo Aécio não será o mesmo se saído de eleições ou de um golpe. O PMDB já governa o país por concessão de Dilma, mas um governo Temer, fruto de um impeachment, será pior para os trabalhadores. Estes têm sobrados motivos para derrubar Dilma, mas não têm condições para tal.
        Os grupos de esquerda que propõem frente única com o governismo, supostamente, contra o golpe, traem os trabalhadores, não por serem contra o impeachment, mas por serem coniventes com os ataques de Dilma. Confundem a luta contra o golpe com o apoio ao governo ao participar dos atos governistas. Esses atos não são apenas contra o impeachment, são de apoio a Dilma e toda a sua política. Não é possível disputá-los. A CUT apóia essa política. O governo não enfrenta o movimento golpista. Caso o fizesse, seria possível a frente única pontual com ele. A sua forma de “enfrentar” o golpe é capitular a todo o seu programa. Essa “frente única” de parte da esquerda é apenas uma forma de apoio ao governo.
        A outra esquerda capitula à direita. A sua luta contra os pacotes liberais, associada ao Fora Dilma, alimenta o movimento golpista. Todo o mérito dessa luta deságua no moinho da reação, não na suposta terceira via dos trabalhadores. A luta dos trabalhadores contra o arrocho somente teria coerência se conjugada à luta contra o impeachment. Essa esquerda (PSTU, MRT/LER, etc.), mesmo que negue ser favorável ao impeachment, flerta abertamente com ele através do Fora Dilma ou mesmo do “Chega de Dilma, Aécio, Cunha, Temer, e o congresso corrupto”. Essa “terceira via” encobre uma política de apoio ao golpe, o que fica evidente na tentativa de frente única com golpistas, tipo PPL (Partido Pátria Livre, ex-MR8, grupo de direita). Toda a gritaria contra os ajustes, não apaga o caráter principal da Marcha dos Trabalhadores, que foi o Fora Dilma. Isso a transforma na versão de esquerda das marchas da direita.

Greve Geral
         “Zé Maria fez um chamado à direção da CUT e demais centrais para a construção de uma greve geral no país contra o ajuste fiscal e os ataques do governo Dilma” (PSTU). Como se a CUT pudesse deixar de ser uma agência do governo e do capital. Outro grupo é ainda mais delirante: “Nossa tarefa desde já é organizar a greve geral contra o ajuste e sua maior promotora, a gerentona do capital financeiro em nosso país, ...”. Quem organizará essa bendita greve geral? Certamente, está se dirigindo à CUT. Não é engraçado propor à CUT, agente do capital financeiro, organizar uma greve geral contra esse mesmo capital financeiro?
        Greve Geral não é algo que se “constrói” abstratamente. É uma consequência de um período de radicalização e contra um ataque concreto. Esses momentos têm acontecido e passado em branco, sem que os “radicais” se lembrem de propor a greve geral. Por exemplo: o massacre do PSDB contra os professores do Paraná; a votação do projeto 4330, o das terceirizações, etc. Esses fatos criam uma necessidade de um protesto geral dos trabalhadores. A Conlutas poderia realizar uma grande agitação, dentro das suas forças, mas nada faz. É assim que se criam as condições para a greve geral, que foi transformada numa panacéia oportunista.
As tarefas dos trabalhadores para a conjuntura
        Vivemos uma ofensiva contra os direitos sociais levada a cabo por todos os partidos burgueses. Dilma encampa esses ataques. O desenvolvimentismo do PT é uma fraude. Governa para os bancos (juros altos, superávit primário, multiplicou a dívida pública). Privatizou mais reservas de petróleo que FHC. Desindustrializou o país e aprofundou o seu caráter semi-colonial: produtor de produtos primários e pagador de juros. Exporta petróleo bruto e importa derivados; quase não tem refinarias; exporta minério de ferro e importa aço, sete vezes mais caro.
        O crescimento econômico e as melhorias sociais deveram-se muito mais à conjuntura internacional do que à política do governo. Foi o bônus de ser semi-colônia. Os altos preços dos produtos primários, conjugado ao crédito fácil, sustentou o desenvolvimento. Isso não existe mais. A crise traz o ônus de ser semi-colônia. O “mérito” do PT esteve em aproveitar a bonança para ampliar os programas sociais, como o bolsa família, que representa uma migalha em relação ao destinado ao capital.
        O imperialismo pressiona por retirada de direitos trabalhistas e benefícios sociais. O movimento golpista exerce uma pressão sobre Dilma para que se engaje nessa tarefa. Ela capitula em toda linha. Abre-se para os trabalhadores um período de lutas de resistência, contra os pacotes e o golpe em andamento.  Os ataques não são exclusivos do governo. São promovidos em conjunto com os demais partidos patronais e seus governos estaduais. A denúncia do governo é uma condição do combate ao golpe, retirando da direita o seu discurso demagógico.
        A resistência aos ataques e o combate ao golpe fazem parte da mesma luta. Esta não pode ser levada em conjunto com a CUT, UNE e MST, porque os mesmos apoiam o arrocho e não combatem o golpismo. Os ataques aos trabalhadores fazem parte da sua estratégia de “resistência” ao golpe. Os atos da CUT são diversionistas. Deixa passar em branco as votações no Congresso. Os grupos de esquerda que propõem a frente única com a CUT estão de fato apoiando os planos de austeridade. Devemos denunciá-la como agente do capital em vez de propor frente única com ela. A frente única contra o golpe deve ser proposta a todos aqueles que estejam dispostos a lutar efetivamente contra essa política.
        O combate ao impeachment é uma denúncia da direita golpista. É uma incoerência falar “chega de Aécio, Cunha, Temer e o Congresso corrupto” se não denunciar o impeachment, que é sua bandeira. É também incoerente a luta pelos direitos dos trabalhadores desvinculada da luta contra o impeachment, que representará mais repressão e mais arrocho. Devemos denunciar ao mesmo tempo o governo e a direita golpista, sem confundir a denúncia do governo com o Fora Dilma, bandeira da direita. Somente assim se pode construir a independência de classe. O “terceiro campo dos trabalhadores” baseado no Fora Dilma é, na verdade, o terceiro campo da burguesia.

        A nossa resistência deve se basear na luta direta e não apenas em atos midiáticos, como os promovidos tanto pela CUT quanto pela esquerda, a exemplo da recente Marcha dos Trabalhadores. Luta direta envolve mobilização e organização de base, uma campanha de agitação e propaganda nas ruas e locais de trabalho. Os atos são importantes, mas devem ser reflexo de uma mobilização, não apenas da vanguarda. Deve-se ir onde os trabalhadores estão com a nossa agitação. Fazer das campanhas salariais momentos dessa agitação e conscientização geral, fugindo do economicismo, que é o método da esquerda. Organizar nos sindicatos os terceirizados e precarizados.  É mais importante um ato na frente do Congresso nas votações desses pacotes que dez atos de vanguarda na avenida paulista. A nossa pauta deve ser a luta contra o desemprego, as terceirizações, as privatizações, o impeachment, a dívida pública, os planos de arrocho, a denúncia do capitalismo, do governo e da direita. Organizar os trabalhadores pela base para derrotar a burocracia sindical, tanto a governista quanto a de esquerda. Criar um partido revolucionário capaz de se contrapor ao governismo e aos partidos oportunistas (PSTU, PSOL...). A esquerda atual é um estorvo à independência de classe dos trabalhadores, que estão órfãos de direção. Isso não é novidade na história. Outros ventos soprarão.  

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

SARTORI: GERENTE DE TURNO DO CAPITALISMO DECADENTE

O governo Sartori patrocina um conjunto de ataques ao funcionalismo e ao patrimônio público, alegando a crise financeira do Estado: congelamento e parcelamento de salários, cortes de orçamento, ataques à previdência, aumento de impostos, extinção de fundações (Fundação Zoobotânica – FZB, Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde – FEPPST e Fundação de Esporte e Lazer – FUNDERGS). Embora a crise seja real, algumas dessas medidas fazem parte de um verdadeiro terrorismo de Estado para justificar e aprovar as demais: o parcelamento de salários e a extinção das fundações.
        O parcelamento de salários é uma provocação. Existem soluções emergenciais. O corte foi uma opção política para provocar a reação do funcionalismo em condições desfavoráveis e derrotá-lo, abrindo caminho para a sua política, sem contestações. A extinção das fundações faz parte do mesmo terrorismo. Estas prestam serviços inestimáveis e consomem uma parte insignificante do orçamento. A Fundação Zoobotânica (Zoológico, Jardim Botânico e Museu Zoobotânico) é um órgão de pesquisa, cultural, de defesa da fauna e da flora, banco de sementes, de assessoria ambiental, expedidor de laudos paleontológicos, de cooperação internacional, e gasta apenas 0,045% do orçamento. É também um órgão arrecadador. O governo gastaria muitas vezes mais com a contratação privada desses serviços, sem substituí-los à altura. Essa proposta de extinção exagera a importância da crise e demonstra total descompromisso com a cultura e a natureza. Abre também caminho para futuras negociatas imobiliárias com esse patrimônio público privilegiado.
        Esse conjunto de medidas terroristas são o “bode na sala” com que o governo pretende pavimentar o caminho para o seu objetivo maior, a privatização do Estado: CEEE, CORSAN, BANRISUL, e a própria educação. Isso transparece nos seus discursos propondo “um Estado menor e mais eficiente”, ou seja, a chamada Agenda 2020 proposta pela burguesia (RBS, Gerdau e a elite do empresariado). Por Estado mínimo deve-se entender a sua exclusão da prestação dos serviços públicos (saúde, educação, transporte, etc.). Fingem desconhecer que o Estado já é mínimo para a população. Os serviços públicos já estão em condições deploráveis. A burguesia reclama da morosidade da concessão de licenças ambientais e, ao mesmo tempo, sucateia a FEPAN e propõe a extinção da Fundação Zoobotânica, responsáveis por elas. Não querem entraves aos seus lucros e estão se lixando para a natureza e para as necessidades populares.
        Os defensores do Estado mínimo são os mesmos que recebem R$-15 bilhões por anos de isenções fiscais, que sonegam outros tantos bilhões e ganham todo tipo de financiamento público a fundo perdido (sem considerarmos a corrupção de praxe, vide a Operação Zelote). A dívida pública somada às isenções fiscais consome metade do orçamento estadual. E esses sujeitos têm a cara de pau de dizer que o problema é o salário dos servidores e o inchaço do Estado. E a imprensa capacho repete essa anedota. A burguesia quer o Estado mínio apenas para o povo, e máximo para ela.
        O PT faz oposição eleitoreira a Sartori. Opõe-se aos projetos contra o funcionalismo e à extinção das fundações. Ao mesmo tempo, está aliado ao PMDB no plano nacional para implementar em conjunto o mesmo tipo de política: transferir a crise para as viúvas, aposentados, desempregados, privatizar portos, aeroportos, rodovias e a Petrobrás Distribuidora. Isso é feito em santa aliança com os demais partidos, porque todos estão a serviço do mesmo patrão, o capital multinacional. A direção do CPERS, vinculada ao PT, critica Sartori por não enfrentar os principais gargalos do Estado: as isenções fiscais e a dívida pública: - “os benefícios fiscais concedidos às grandes empresas que em 2014 eram em torno de 15 bilhões, significam o dinheiro que falta para a saúde, a educação e a segurança, entre outros”; - “enfrentar a dívida do RS com a União. O Estado fez um empréstimo de R$-9,7 bilhões. Já pagou 21 bilhões e ainda deve 47 bilhões”. Sofre de amnésia. Esqueceu as mesmas isenções concedidas pelo governo Tarso, aquele que jamais enfrentou a dívida do Estado com a União. Não por acaso, a direção do CPERS faz corpo mole para organizar a luta contra as medidas do governo.
        O governo Sartori faz apenas teatro ao deixar de pagar em dia a dívida com a União. O mesmo se diga da proposta dos senadores gaúchos (Ana Amélia, Lasier e Paim) de recálculo das dívidas dos estados, questionando os juros usurários. Isso pelo menos tem o mérito de trazer à luz o problema das dívidas estaduais. Mas esse questionamento é demagógico e parcial. Não se diz que do pagamento das dívidas estaduais depende o pagamento da dívida externa do Brasil, sujeita à mesma agiotagem. Nem Sartori, nem os senadores, nem a direção do CPERS propõe a Dilma o não pagamento da dívida externa. Estão fazendo apenas jogo de cena para as respectivas torcidas. Também não dizem que essas dívidas, todas elas (inclusive as de outros países), são uma grande fraude, um mecanismo de transferência dos recursos nacionais para o capital financeiro.
        Dizem que devemos pagar aquilo que recebemos. Isso não é verdade. Jamais recebemos essa montanha de dinheiro. Nesse montante estão incluídas dívidas privadas assumidas pelo Estado, agiotagem (juros sobre juros) e outras fraudes. Não por acaso, o Brasil sempre se negou a fazer uma auditoria da dívida, como fizeram o Equador e a Grécia. No Equador, a auditoria constatou que, em vez de devedor, o país era credor. Esse sistema da dívida, que é imposto a todos os países dependentes, é um mecanismo colonial. Os povos do mundo devem trabalhar exclusivamente para os bancos. E não é algo circunstancial e reversível dentro do capitalismo. É um sintoma da sua profunda decadência.
        O grande capital não sobrevive mais apenas do mercado privado. Sobrevive principalmente da agiotagem e da extorsão direta sobre os povos. Isso é feito através do Estado, que é o agente dessa sangria. É impossível um capitalismo noutros moldes. O parasitismo do capital crescerá cada vez mais, até nada mais restar de serviços sociais, bens públicos e direitos trabalhistas. Aqueles que hoje estão falando da dívida pública mostram apenas uma pequena parcela da verdade, porque são também agentes da burguesia. É preciso dizer a verdade por inteiro ao povo e não alimentar ilusão de solução dentro do capitalismo. Os trabalhadores devem saber o que lhes espera: a escravatura. Se não quiserem esse destino, somente lhes resta lutar pela expropriação do grande capital. Como já dizia há um século Rosa Luxemburgo: socialismo ou barbárie.
        A conscientização é apenas um dos aspectos dessa luta. Deve ser acompanhada por uma ampla organização popular por local de trabalho, as comissões e comitês de empresa. O conjunto dessas organizações devem formar os Conselhos Populares, órgãos do futuro poder dos trabalhadores, que inaugurará a era do socialismo.  Isso é impossível sem a derrota da burocracia sindical, agente da burguesia dentro dos sindicatos, e dos partidos burgueses (PSDB, PT, PMDB, PP, PPS, PDT, etc.), inclusive, dos seus apêndices de esquerda (PSOL, PSTU). Somente sob a direção de um partido revolucionário esse movimento proletário poderá ser vitorioso. Construí-lo é a nossa principal tarefa.


domingo, 2 de agosto de 2015

O “ULTRA-ESQUERDISMO” DE DIREITA DO PSTU


         O PSTU está sendo criticado por parte da esquerda (PCO, etc.) e mesmo pela revista Carta Capital com base num vídeo onde Zé Maria defende que se deve “derrubar esse governo”, “por Dilma para fora” e “criar uma alternativa de trabalhadores ao governo”. Em resposta a essas críticas, publicou uma nota oficial, onde diz: “O PSTU não está propondo o impeachment de Dilma. Não queremos colocar nas mãos deste Congresso Nacional corrupto a solução da crise vivida pelo país”. “O que o nosso partido propõe é que os trabalhadores, . . . , se organizem e lutem para derrubar o governo Dilma, mas também Aécio Neves, Eduardo Cunha, Michel Temer e toda esta corja”.
        Essa crítica ao PSTU, mesmo que correta, é feita por quem não tem autoridade política para criticá-lo, porque parte dos apoiadores do governo, em nome do combate a um possível golpe de Estado. Não sabemos dizer quem é pior. O PSTU tem toda razão quando lhes devolve a crítica: “Fazer o jogo da direita não é lutar contra esse governo, do qual a direita faz parte, . . . , é tentar defender, fazer manifestações para blindar um governo que é repudiado, e com toda razão, pelos trabalhadores. É isso que deixa nossa classe nas mãos dessa falsa oposição que aí está”.
        O crime do PSTU não está em criticar o governo, mas em propor o Fora Dilma, que é, na aparência, radicalmente distinto do objetivo da direita. Propõe: colocar Dilma pra fora e criar um governo dos trabalhadores, sem patrões. A direita quer derrubar Dilma para criar um governo antipopular ainda mais repressor. Essas alternativas, aparentemente antagônicas, se transformam, na prática, uma na outra, pela simples razão de que a primeira não existe. O PSTU sabe disso, está fazendo conscientemente o jogo da direita. Os trabalhadores não estão em condições, em prazo razoável, de “colocar Dilma pra fora”, mas a direita está. É por isso que a palavra de ordem “Fora Dilma”, na atual conjuntura, serve exclusivamente a esta.
        O PSTU confunde a propaganda do poder proletário com a agitação do “abaixo o governo Dilma”, ele que sempre se omitiu da propaganda do socialismo, o que faz esporadicamente em artigos de jornal, apenas para a vanguarda. Jamais se dirige às massas para denunciar o capitalismo, e denuncia quem o faz, a quem rotula de “ultra-esquerdista”, ou a “ultra”, no seu jargão oportunista. Porque será que, justamente agora quando há um movimento golpista de direita, o PSTU se fantasia de ultra, propondo derrubar Dilma e criar um governo dos trabalhadores? Não seria a sua forma de aderir à direita, disfarçado de esquerda?
        Faz parte do passivo político do PSTU o seu tradicional apoio às intervenções dos Estados Unidos (Líbia, Síria, Ucrânia), sempre mascarado de apoio à supostas revoluções democráticas. No Brasil, opõe-se ao governo Dilma por razões legítimas, como o combate aos ataques liberais, mas também por outras razões inconfessáveis, ou seja, pelo mesmo alinhamento ao imperialismo dominante e à opinião pública pequeno burguesa. Os EUA não vêem com bons olhos a participação do Brasil nos BRICs e os seus negócios com a China, embora Dilma também esteja se submetendo a ele e implementando o seu programa.
        Essa política antipopular do governo o desgasta diante das massas e alimenta a campanha golpista de parte da direita, que mobiliza a opinião pública pequeno burguesa. Isso seduz o PSTU (cuja política se dirige ao mesmo setor social), mas não adere abertamente a essas marchas por senso de preservação. Já o MRS, participa delas sem culpa. No nosso país, o PSTU não pode se alinhar abertamente à direita, como o faz na Síria e na Ucrânia, que estão muito longe das suas bases. Daí porque a sua proposta de Fora Dilma vem justificada por um fantasioso governo dos trabalhadores. O seu “ultra-esquerdismo” serve para dar uma aparência de esquerda à sua capitulação, tentando agradar tanta a esquerda quanto a direita. Mas ninguém serve a dois senhores. Não é ao proletariado a quem serve o PSTU.






quarta-feira, 29 de julho de 2015

GRÉCIA: NOVA COLÔNIA DA UNIÃO EUROPEIA

       O acordo entre o governo grego (Syriza/ANEL) e a Troika (Banco Central Europeu, Comissão Européia e FMI) transforma a Grécia numa colônia. Até mesmo as propostas de lei devem ser apresentadas previamente à União Européia. Foi um golpe de Estado contra o povo grego. O Syriza passa a ser o executor desse plano. Tsipras tentou embelezar a capitulação: “um acordo difícil, mas que permite continuar a luta”. Isso contrasta com vozes do próprio imperialismo. O economista Paul Krugman afirma: “Isso é um golpe! A lista é mais do que dura, é vingança pura, destruição completa da soberania nacional e sem esperança de alívio”. Ou, como afirma a revista alemã Der Spiegel: “um catálogo de crueldades à Grécia”. A Grécia foi colocada à venda e criado um fundo de privatizações. Os impostos serão aumentados, bem como, a idade mínima para aposentadoria. Os contratos individuais se sobreporão aos coletivos.
 Alguns analistas relacionam esse acordo ao Tratado de Versalhes. Alguém o comparou ao Tratado de Brest-Litovsk (cidade polonesa) entre a Alemanha e a Rússia soviética (03.03.1918), avaliando que era um mal menor em relação à expulsão do Euro. Ao final da guerra, o exército russo estava sem condições de resistir à Alemanha. O tratado entregava a Ucrânia e a Bielo-Rússia, mas preservava o poder soviético, que ganhava tempo para consolidar-se. O acordo da Grécia com o Eurogrupo não tem qualquer relação com Brest-Litovsk. A Grécia não ganha fôlego, não cria possibilidade de recuperação e não tem uma revolução a preservar. O governo Syriza já está reprimindo as manifestações populares. Passa a governar apoiado nos partidos pró-imperialistas (Pasok, Nova Democracia, Potami), que ele mesmo havia derrotado.

O reformismo não passou na prova grega.
        Aqueles que apoiam o Syriza o ajudam a trair o povo. Entretanto, os críticos ao acordo não desempenham melhor papel. A Plataforma de Esquerda, tendência do Syriza, votou contra o acordo mas não rompeu com o partido e o governo. A Antarsya (Coalisão de Esquerda Anti-capitalista) de anti-capitalista não tem nada, é uma oposição burguesa. A maioria da esquerda mundial propõe a frente única com essa esquerda grega, que no máximo propõe o rompimento com a Eurozona. O reformismo, quando na oposição, costuma ser radical. Uma vez no governo, esquece o seu radicalismo.
         A Eurozona é uma camisa de força a serviço dos bancos, que esmaga principalmente os países periféricos, que não têm instrumentos para resistir: não tem moeda própria, o euro controlado pelo Banco Europeu, e com baixa produtividade. O rompimento com o euro somente é viável com a estatização do capital, principalmente, os bancos, e com o monopólio do comércio exterior. A nada disso se propõe essa esquerda. A unidade européia sob o capitalismo significa a escravização do mais fraco pelo mais forte.
        A esquerda internacional, após o acordo, está posando de radical, o que é uma fraude política. A maioria está contra a capitulação do Syriza, mas até a véspera o ajudou a colocar areia nos olhos dos trabalhadores. Apoiou acriticamente o referendo. Até as pedras sabiam que o governo apenas procurava respaldo para negociar outro acordo. Porque, então, a esquerda não preveniu o povo da traição anunciada? Nem sequer chamou voto crítico no não. Pelo contrário, voltou as suas baterias contra o Partido Comunista, o único que alertou contra essa traição, propondo a colocação na urna da seguinte proposta: “Não à proposta da União Européia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional; Não à proposta do governo. Saída da União Européia e classe trabalhadora no poder”. Isso foi tachado de sectarismo e divisionismo por toda a esquerda oportunista (LIT/PSTU, UIT/CST, PTS/MRT (ex-LER), etc.).
        Após o referendo, essa esquerda se fez de muito surpresa com a traição e sacou do colete o seu programa radical. Veremos apenas o programa da LIT, que é um retrato dos demais: “- Não a qualquer plano de austeridade; - Não a todas as medidas da Troika!; - Não à divida; - Pela imediata nacionalização da banca!; Por um plano de resgate dos trabalhadores e do povo!; - A vitória obtida no referendo deve ser defendida nas ruas com a mobilização!; - Fora o pacto Syriza, Pasok, ND”.
        Como se pode falar em vitória? A vitória do não no referendo respaldou a traição do Syriza que resultou no pacote de maldades da União Européia. A esquerda e a LIT se lembraram de defender “não a qualquer plano de austeridade”, apenas após o referendo. Antes disso, respaldaram o governo e o seu plano que estava na manga e todo mundo sabia.  Chamaram de sectarismo a proposta do PC de incluir no referendo exatamente isso, ou seja, não a qualquer plano de austeridade.
         A sua palavra de ordem “não à dívida” é incoerente. A dívida brasileira e argentina é tão fraudulenta quanto a grega. Aqui e na Argentina, essas correntes não fazem qualquer agitação de massa contra a dívida. Fazem apenas declarações para a vanguarda nos seus jornais. Também não fazem qualquer propaganda para as massas das tarefas do socialismo. A sua política do dia a dia é o economicismo rebaixado. A proposta de “nacionalização da banca” é ainda mais irônica. Alguém, por acaso, já leu na plataforma eleitoral do PSTU: - pela expropriação dos bancos e das multinacionais? É fácil ser radical para a Grécia, com o atlântico a nos separar.
         Após romper tardiamente com o Syriza, a esquerda passa a apostar na equivalente grega (Plataforma de Esquerda e Antarsya): “É necessário construir organismos de frente única que possam, nas ruas e locais de trabalho, combater os planos da Troika e promover toda a medida de mobilização dos trabalhadores e do povo, e com apoio internacional. Essa é a única via para derrotar o ataque imperialista e construir uma saída operária para a Grécia e Europa” (LIT). Convocam a raposa para cuidar do galinheiro. Não se pode descartar frente única eventual com alguns setores dessa esquerda contra os planos de austeridade, mas colocar nas suas mãos a tarefa de “construir uma saída operária para a Grécia” equivale a debochar dos trabalhadores, como se esta se dispusesse a romper com o capital. Os métodos devem ser coerentes com o programa.
        Mesmo que a LIT e todo o “trotskismo” estivesse à frente do proletariado grego, nem assim essa pretensa “saída operária para a Grécia” deixaria de ser demagógica. Basta lembrar que o seu programa é a revolução democrática, etapa anterior à revolução proletária. Não se pode romper com a União Européia e estatizar os bancos por via parlamentar, sem insurreição popular. A prova dos nove de uma política revolucionária não está nos discursos socialistas de dias de festa, mas no trabalho coerente pela insurreição proletária. Não propomos aventura, mas a criação de condições para a emancipação do proletariado.

E o Partido Comunista grego?
        Um setor da esquerda alinha-se ao Partido Comunista grego (no Brasil, a LBI). Nós também consideramos que o PC teve uma posição correta no referendo: “Não às propostas da União Européia; e, não às propostas do governo”. A frente única com ele contra os planos da Troika é uma necessidade. Entretanto, diferente da LBI, não delegamos ao PC a tarefa de encabeçar a revolução socialista, porque o seu programa e métodos são contraditórios com esses objetivos. Lembramos que se trata de um partido estalinista, que não defende a soberania popular, baseada nos conselhos de trabalhadores. Também devemos desconfiar da sua amizade com a Rússia, como expressa seu secretário geral, Dimitris Koutsoumpas: “Podemos utilizar as contradições entre os centros imperialistas e alcançar acordos internacionais de benefício mútuo para a Grécia sob o poder popular, o qual estará desligado da U.E. e da NATO”. Em geral, é correto tirar proveito das divisões entre os nossos inimigos, mas não podemos achar que a Rússia é amiga do povo grego e acreditar que a Grécia possa se beneficiar de “acordos internacionais” com a Rússia e a China.
        Na nova guerra fria entre os blocos EUA/Europa, de um lado, e Rússia e China, de outro, estas últimas estão numa posição defensiva. Assim como a Rússia não pode tolerar os mísseis da OTAN em Kiev, a Europa não tolerará a tutela da Grécia pela Rússia e China, a quem não convém comprar briga com aquela. E mesmo que resolvam socorrer a Grécia, não o fariam caso esta fizesse uma revolução proletária. Uma revolução grega vitoriosa colocaria Rússia e China, não ao seu lado, mas da Europa. Então, o PC grego ficaria diante do dilema: ou de frear a revolução ou romper com os seus aliados.
        A LBI ainda levanta a sua tradicional proposta de greve geral. Tudo o que a Grécia não precisa. Em cinco anos, houve 32 “greves gerais” na Grécia. Greves gerais demonstrativas, sem continuidade, que não pretendem conquistar nada, obstáculo que a burocracia coloca entre o povo e a revolução. Essa mesma burocracia que defendeu o sim no referendo. Nos últimos 40 anos, houve uma centena de greves gerais no mundo e apenas uma greve geral revolucionária (no Uruguai, anos 80, que durou quinze dias). A proposta de uma verdadeira greve geral revolucionária é uma abstração, porque, nas condições atuais, somente a burocracia pode convocar tais greves, que servem para amortecer a luta de classes e evitar a insurreição popular.

Uma proposta para a Grécia
        Não somos pessimistas. Vivemos uma profunda crise de organização e de consciência dos trabalhadores. Fato que não é novidade e não dura para sempre. A política do capital de destruição das conquistas populares cria as condições para a retomada das lutas, como está ocorrendo na Grécia e outros países. Essa resistência trará novamente a sua indispensável organização. O momento é de luta por criar as condições para a revolução proletária. Isso passa pela derrota da burocracia sindical, pelo desmascaramento do reformismo nas suas mais diversas variantes. É de luta pela soberania popular, sinônimo de organização de base, cuja expressão máxima são os conselhos populares. Nada disso acontece espontaneamente. Somente a criação de um partido revolucionário pode tornar efetiva a luta por esses objetivos.
        Essas são as tarefas gerais para a Grécia. Combater sem tréguas o governo capitulador do Syriza, aliado da direita, em unidade com quem estiver disposto a mobilizar as massas. Combater a burocracia sindical. Não depositar confiança na esquerda reformista (Plataforma de Esquerda e Antarsya), nem mesmo no PC. Lutamos pelos Estados Unidos Socialistas da Europa, o que implica romper com a escravatura da Eurozona, o que não pode ser feito por dentro do capitalismo. A vitória do socialismo não pode acontecer por via parlamentar, mas por via insurrecional. Um governo proletário não se sustentará se não for apoiado por um amplo movimento internacional de trabalhadores. A denúncia da extorsão capitalista sobre a Grécia, apelidada de dívida externa, é uma condição para esse movimento. O imperialismo europeu tem os pés de barro. Não resistiria a um movimento consciente das massas. A Grécia não está sozinha. Os amigos do proletariado grego são os seus irmãos escravizados europeus e o proletariado internacional.



domingo, 5 de julho de 2015

ALERTA CONTRA O OPORTUNISMO “FRENTISTA”

                          
         É fácil reconhecer os variados oportunismos pelos seus chavões políticos, verdadeiras receitas gerais: defesa da revolução democrática; Assembleia Constituinte; Revolução Permanente; Frente Única Antiimperialista (FUA); Greve Geral. Este é um texto de critica à Frente Única Antiimperialista na versão da Liga Comunista. Recentemente publicamos outro texto, A Nova Guerra Fria e a Luta de Classes, onde caracterizamos dois setores do “trotskismo” que apoiam respectivamente um ou outro desses imperialismos. Entre aqueles que apoiam o bloco Rússia/China, citamos a Liga Comunista: “apoiam também politicamente os governos das semi-colônias que estão sendo desestabilizados pelo imperialismo. O traço característico das suas políticas é a proposta abstrata e capituladora de frente única”. Ela então nos respondeu com o texto Combate ao Sectarismo Pró-imperialista. Essa versão de FUA faz parte de uma escola oportunista.
        A LC nos acusa de falsificar as suas posições: “toda a sua argumentação se baseia na falsificação das nossas posições “embelezando e apoiando de fato os governos burgueses dessas nações”, sem citar uma vez sequer a tal posição criticada em qualquer documento nosso. É assim porque a posição criticada SIMPLESMENTE NÃO EXISTE e qualquer um que leia as declarações da FCT e não precise apelar para a má fé para nos detratar constatará isto, pois uma das características básicas da política da FCT é a sua defesa (da) frente única sem prestar qualquer apoio político aos aliados vacilantes e circunstanciais que dirigem o movimento de massas ou as nações oprimidas ameaçadas”.
        Não há falsificação. Não citamos nenhum documento seu por se tratar de um texto de conjuntura e porque o oportunismo não se assume como tal. Jamais encontraríamos nos textos da LC prova explícita do seu oportunismo. A prova é sempre uma interpretação. O que dissemos nesse texto já foi dito e provado em outro, A Frente Única Segundo a Liga Comunista: “A Frente Única Anti-imperialista não faz parte do programa da IV Internacional. Não é verdade que a defenda, apenas sem utilizar a denominação, como afirma o Socialist Fight. Não, a IV Internacional não se valeu dessa tática porque não existem mais as condições da década de 20, principalmente, um partido revolucionário. A FUA é um “acordo prático” entre organizações de massa. Carece de sentido a sua defesa por pequenas organizações. Nunca foi uma tática universal, como o defendiam Lambert, Lora e agora a Liga Comunista. Pierre Lambert ressuscitou a FUA como tática política, fora de contexto. Na Bolívia, Guilhermo Lora aderiu à FUA lambertista, que passou a fazer parte da sua política permanente. Essa FUA lorista nada tinha a ver com as Teses do Oriente, (Teses da III Internacional, 1922) mas a uma versão “trotskista” de frente popular. Pressupunha a existência de uma ala progressista da burguesia”. “Ret Marut e a Liga Comunista não se dão ao trabalho de analisar a conjuntura atual comparativamente com a da época”.
 A LC nega a necessidade de um partido revolucionário como condição para a FUA. Para as Teses do Oriente, a luta pela direção da Frente Única era uma tarefa para os partidos comunistas (Capítulos V e VI). Ao contrário, a FUA da LC deve realizar-se entre governos ou partidos burgueses e pequenos grupos, como se estes pudessem fazer um acordo com esses governos. Quando condicionamos a FUA à existência de partidos proletários, nos acusam de valer-nos de “uma metodologia confusa de pensamento”. Toda a tradição marxista vincula qualquer tática aos partidos proletários: “o elemento essencial de uma manobra, como de toda a ação histórica da classe operária, é o partido” (A Internacional Comunista Depois de Lênin).
        Segundo a LC, “logo descobrimos que a LM é anti-FUA, ou seja, pró-imperialista”; “mas não dizem o porquê”. Não somos contra a FUA em geral, somos contra a FUA oportunista da LC e dissemos o porquê no texto mencionado (A Frente Única Segundo a Liga Comunista), e repetimos: a inexistência de partido revolucionário; a integração total das burguesias nacionais ao imperialismo. Isto, para LC, é ser pró-imperialista. A FUA da LC é uma estratégia, a mesma de Lambert e Lora. Não fosse assim, não a proporiam como uma panaceia universal, capaz de curar câncer e “mau olhado”, na Líbia, Síria, Venezuela, Brasil, Ucrânia, etc. É óbvio que para a LC a FUA não se trata de “acordos práticos”, porque estes somente são possíveis em situações perfeitamente delimitadas, que não são regra: “É evidente que não podemos, no futuro, renunciar a acordos semelhantes, rigorosamente limitados e servindo cada vez a um objetivo claramente definido” (idem).  
        A política marxista é concreta. Nem sempre são possíveis acordos práticos. Ao propor a FUA, como receita válida universalmente, a LC pressupõe a existência de uma burguesia anti-imperialista, mesmo que o negue. É uma lógica insofismável. Tanto é assim que considera até mesmo a Al Qaeda anti-imperialista. Isso seria válido para o chavismo, embora também o critiquem. Isso significa embelezar esses governos, que seriam supostamente nacionalistas. Não caluniamos. A sua afirmação de que “todo chamado à frente única se faz sem depositar nenhuma confiança nos aliados”, não melhora em nada, piora. Com uma declaração formal, a LC pretende disfarçar a sua política conciliadora.
        A LC, para justificar a sua receita de FUA, comete uma extrema generalização e falsificação histórica: “Toda a história das revoluções no pós-guerra comprova que onde a política de frente única anti-imperialista não foi desviada em frente popular, se edificaram Estados Operários (Iugoslávia, China, Coréia do Norte, Vietnã, ...)”. Isso é uma inverdade rematada. Tomemos o caso exemplar da China. Onde a frente única com a burguesia nacional, representada pelo Kuomintang, ajudou na vitória da revolução socialista? Pelo contrário, nas aventuras revolucionárias de Cantão e Xangai de 1926/27, o Kuomintang massacrou os conselhos populares e estes, antes de serem derrotados, o colocaram na ilegalidade. Desde então, o movimento revolucionário se fez contra o Kuomintang. 
       
O schachtmanismo
        A LC nos rotula de “a versão gaúcha do schachtmanismo”, que seria um câncer que “alastrou-se por quase todas as correntes que reivindicam o legado de Leon Trotsky”. Também lutamos contra esse “câncer”, que a LC não explica o que seja. O próprio termo revela o seu pedantismo com ares de sabedoria. Schachtmanismo se refere a Max Schachtman, dirigente na década de 30 de uma fração do SWP, partido da IV Internacional nos EUA. Schachtman defendia a luta em duas frentes simultâneas, na segunda guerra mundial, tanto contra Hitler, quanto contra Stálin. Trotsky respondeu: “naturalmente que isso é bem mais atraente”. Essa seria a condição mais favorável. Mas, “o problema é colocado assim: o que fazer se Hitler, antes de ser derrotado pela revolução, atacar a Ucrânia antes que a revolução tenha derrotado Stálin?” Nesse caso, “a IV Internacional responde: defenderemos esta Ucrânia escravizada por Stálin, contra Hitler”.
        Esse é o dilema atual nas agressões imperialistas às semi-colônias, como a Síria. Tanto Obama como Assad são nossos inimigos, mas não podemos compará-los. O imperialismo é o inimigo principal dos povos. Muitos grupos “trotskistas” caem no canto de sereia da luta em duas frentes, ou no schachtmanismo, segundo a LC. Essa nunca foi a nossa política. O nosso texto, A Nova Guerra Fria e a Luta de Classes, critica explicitamente o schachtmanismo: “existem também aqueles que defendem a luta em duas frentes: contra as ditaduras e os bombardeios da OTAN. Essa suposta terceira via, transformou-se numa variante da política pró-imperialista dos demais”; “Trotsky combateu, na IV Internacional, as frações internas que defendiam esse tipo de combate em duas frentes”; “os marxistas perfilam-se ao lado das nações oprimidas, como o fizeram na China, contra o Japão, por exemplo”.
         Defendemos a Líbia, sob a direção de Kadafi, contra a OTAN (ver Entre dois Oportunismos) e a Síria, sob Assad. Seriamos schachtmanistas porque fomos contra a frente única com Kadafi, e somos contra com Assad. Dizemos que a frente única não se aplica entre um governo e pequenas organizações, o que não nos impede de tomar uma posição anti-imperialista: “A defesa das nações oprimidas é uma obrigação de qualquer organização. As pequenas organizações  não fazem acordos com governos nacionais. Apoiamos a Síria, mas não é possível uma frente única com Assad. O apoio é unilateral e incondicional. O proletariado apóia as nações oprimidas com os seus próprios métodos: agitação, propaganda, denúncias, greves, boicotes, etc. É isso que está ao alcance das pequenas organizações. Não a abstrata frente única” (A Frente Única Segundo a Liga Comunista). Para a LC, quem não é a favor da sua fantasiosa frente única, seria schachtmanista e pró-imperialista.
        Seriamos também schachtmanistas na questão da Ucrânia, porque não somos favoráveis à sua política de frente única com a Rússia e por isso estaríamos em “cima do muro”. Ser contra a frente única permanente com a Rússia, não implica estar em cima do muro no combate ao fascismo. Será que os companheiros não conhecem a política bolchevique para a guerra imperialista, que se convencionou chamar de derrotismo? Ou jamais ouviram falar do Manifesto da IV Internacional para a segunda guerra mundial? É mais provável que conheçam. Nesse caso, deveriam chamar também Lênin e Trotsky de schachtmanistas. Alguns grupos chegam a definir o derrotismo como a defesa da derrota do próprio país. Isso seria o suicídio político. Derrotismo é a política independente do proletariado nas guerras imperialistas, que não apóia nenhum dos blocos em luta e procura transformar a guerra imperialista em luta pelo seu próprio poder. Dignifica considerar que o inimigo principal está em casa. A primeira obrigação do proletariado é combater a sua própria burguesia, mesmo que isso possa levar à vitória do inimigo. Essa foi a política de Lênin na I Guerra Mundial. Não apoiou a Rússia contra a Alemanha, considerando a defesa da pátria um crime. Os bolcheviques só se transformaram em defensistas, ou seja, favoráveis à defesa da pátria, após a tomada do poder.
        Uma política defensista ou derrotista depende do caráter dos países envolvidos. O defensismo se aplica nos casos de uma agressão imperialista contra uma colônia ou semi-colônia. O derrotismo, para as guerras inter-imperialistas. É fundamental definir se esses países são imperialistas ou colônias e semi-colônias. No caso da Ucrânia, de um lado está os Estados Unidos e seus marionetes fascistas, e de outro a Rússia. Nós definimos a esta como um imperialismo nascente. Toda a política de LC leva a crer que a considera uma semi-colônia, embora a defina como uma potência capitalista sui-generis, o que é uma definição ambígua porque não esclarece se é imperialista ou semi-colônia. A Rússia age nas suas imediações como imperialista: Chechênia, Abkassia, Ossétia, Geórgia, Ucrânia, e agora na anexação da Criméia. Nenhuma semi-colônia anexa território, principalmente, contra a potência dominante. Alegar que era a vontade da população, não exclui que seja uma anexação. É insofismável, nem Putin nega, só a LC. Reconhecer isso não quer dizer “repercutir a propaganda de guerra do imperialismo contra a Criméia, Repúblicas de Donbass e a Rússia”.
        Os Estados Unidos são o imperialismo agressivo, que está cercando a Rússia e chega às portas de Moscou ao promover o golpe fascista na Ucrânia. A anexação da Crimeia, pela Rússia, é defensiva. Nem por isso, devemos apoiá-la. Defendemos a independência política do proletariado ucraniano em relação aos dois imperialismos, a transformação da guerra imperialista em luta pelo poder. Não é luta em duas frentes, porque o inimigo principal está em casa, o fascismo apoiado pelos Estados Unidos. Essa é uma tarefa do proletariado, que não delegamos a Putin. Para a LC, o fato de não apoiarmos a Rússia, ou não propormos frente única com ela, seria apoiar o imperialismo e seus prepostos fascistas. Para nós, o fato de a Rússia estar na defensiva não a torna o mal menor. Os Estados Unidos promove as hordas fascistas de Kiev. A Rússia também enviou para a ocupação da Crimeia batalhões monarquistas, a versão russa do fascismo. O fascismo ucraniano é mais perigoso e tem o apoio do imperialismo mais forte. Mas a Rússia não é garantia contra o fascismo em geral, embora esteja lutando contra o fascismo na Ucrânia. O fascismo europeu divide-se entre o apoio a Kiev e a Moscou. Houvesse uma revolução proletária no Donbass, veríamos Putin mostrar as suas garras. Logo faria um acordo com Kiev e mandaria para o Donbass o seu próprio fascismo.
        A proposta de frente única permanente com a Rússia é um crime. Significa embelezar o regime russo de oligarcas, que estão por trás de Putin. Caso houvesse um movimento proletário independente no leste da Ucrânia, este poderia eventualmente estabelecer acordos temporários com a Rússia, enquanto esta não passar para o outro lado.  Mas isso dependeria de circunstâncias muito particulares e concretas, impossíveis de estabelecer de antemão. A proposta de frente única da LC peca por ignorar a falta de tal movimento organizado e por se antecipar aos fatos imprevisíveis, como se a Rússia fosse permanentemente anti-imperialista. É uma capitulação à Rússia. O proletariado ucraniano deve ser educado na desconfiança em relação ao regime russo, como inimigo, não como aliado permanente, como pressupõe essa proposta de frente única. É também criminosa a proposta de anexação do Donbass pela Rússia. Supõe que esta seja a salvação e não o poder do proletariado. Este deve enfrentar um inimigo de cada vez, de acordo com o perigo que cada qual representa. O fascismo ucraniano é o inimigo de casa, mais perigoso e agressivo. Deve também saber utilizar, em proveito próprio, a briga entre os seus inimigos.

A frente única com Dilma
        Segundo a LC, a LM defenderia que “não se deve combater com todas as nossas forças e por todos os meios a direita golpista e chamar uma frente única contra o imperialismo e a oposição de direita golpista ...”. Sim, devemos combater a oposição de direita, mas não através da frente única permanente com Dilma, CUT, UNE, MST, etc., porque nenhum desses está combatendo a direita. Quando mais Dilma capitula, mais a direita exige e mais audaciosa se torna. Devemos apoiar a luta contra a direita, por mínima que seja, mas não podemos apoiar o governismo, participando dos atos governistas da CUT, disfarçados de luta, e votando em Dilma, como faz a LC. É preciso avaliar bem cada “luta” concreta. É a política antipopular do governo que joga as massas no colo desta. É a denúncia do governo que a enfraquece, retirando dela o monopólio da critica. É um tiro no pé qualquer identificação com o regime. Somos contra o golpe, tanto na forma de golpe militar como impeachment, porque seria uma derrota dos trabalhadores e abriria um período de maior repressão.
        A LC tenta disfarçar de bolchevismo a sua capitulação representada pelo voto em Dilma. Os bolcheviques defenderam “apoiar a burguesia contra o tzarismo (na segunda fase das eleições ou nos embates eleitorais, por exemplo)...”. Isso é completamente fora de contexto. Na época bolchevique, se tratava da revolução democrática contra a monarquia semi-feudal. Lênin considerava que os agentes sociais da revolução seriam o proletariado e os camponeses pobres, contra a burguesia liberal. Mesmo assim, por se tratar de uma revolução democrática, era possível alguns acordos práticos com ela. Esse foi o caso do voto crítico, nos segundos turnos eleitorais, no partido Kadete (Liberais Constitucionalistas) contra os partidos monárquicos. Somente a deturpação histórica da LC vê semelhanças com a atualidade.
        Não somos “objetivamente adversários de toda a qualquer frente única”. Somos adversários do método oportunista de frente única da LC. Também não é verdade que defendamos que “nem sequer se deve participar de greves cuja direção é burocrática”, e seríamos por isso “fura greves”. Participamos dos sindicatos dirigidos pela burocracia e de suas greves (CPERS e SIMPA). Mas não somos apêndice da burocracia, como a LC, a ponto de participar inclusive das suas greves patronais, como as greves da CNTE de apoio ao PNE (Plano Nacional da Educação) liberal, ditado pelo Banco Mundial. Não participados dos atos nacionais da CUT quando são de apoio ao governo Dilma. Preferimos ser esse tipo de “fura greve” do que ser cúmplices da traição da burocracia aos trabalhadores.
        Temos apenas um acordo fundamental com a LC, de que as nossas políticas são realmente opostas.