O
ascenso do fascismo é um dos fatos mais importantes da atualidade. No primeiro
turno das eleições regionais francesas, em 06 de dezembro, pela primeira vez, a
Frente Nacional ficou em primeiro lugar, à frente do Partido Socialista e do
Partido Republicano, com 27,73% dos votos. Na Ucrânia, o fascismo já está no
poder, desde o golpe de Estado patrocinado pelos Estados Unidos e a Europa. Na
Polônia, governa um partido semi-fascista. Crescem grupos fascistas em outros
países. Nos Estados Unidos, o Tea Party, extrema direita do Partido
Republicano, ganha força. No Oriente Médio, o fascismo sionista continua
atacando os palestinos impunemente e o fascismo “islâmico” (Al Qaeda, Estado
Islâmico, Irmandade Muçulmana) domina amplos territórios na Síria e no Iraque.
Na América Latina, a direita está na ofensiva (o fascismo é um dos seus
componentes): na Argentina, vitória eleitoral de Maurício Macri; na Venezuela,
a direita obteve ampla vitória nas eleições parlamentares; no Brasil, patrocina
um movimento golpista.
O fenômeno fascista não é casual, e se
repete. São diversas as suas causas. Surgiu no século XX, como último recurso
do capitalismo diante da revolução socialista, que não está na ordem do dia nos
dias de hoje. Podemos dizer então que o fascismo atual seria o recurso extremo
do capitalismo diante da profundidade da sua crise social e econômica. Na
ausência de um perigo socialista real, inventa-se um socialismo fictício, ao lado
de outros bodes expiatórios (imigrantes, por exemplo).
A acentuada degeneração do capitalismo é
a principal das suas causas. Não se trata apenas das crises cíclicas, mas de uma
crise estrutural permanente e irreversível: parasitismo econômico (produção do
supérfluo, especulação financeira, dívida pública fraudulenta), guerras por
mercados e fontes de matérias primas, miséria social, destruição da natureza,
ofensiva contra todas as conquistas sociais. Essa crise estrutural se conjuga
com a decadência dos Estados Unidos como império hegemônico, fato que potencia
todos os efeitos da atual barbárie (armamentismo, guerras, e o fascismo).
O terrorismo fundamentalista é uma velha
criação do império. Este, inicialmente, criou a Irmandade Muçulmana como
contraponto ao nacionalismo árabe nasserista (Gamal Abdel Nasser, dirigente
egípcio nas décadas de 50 e 60 do século XX), ao nacionalismo palestino (OLP) e
sua vertente socialista, e aos partidos árabes laicos. Mais recentemente, o
imperialismo criou o Taliban e a Al Qaeda, para se opor à Rússia no
Afeganistão. Seu mais novo pupilo é o Estado Islâmico, criação dos serviços
secretos dos Estados Unidos, Israel, Inglaterra e França, e sustentado pela Arábia
Saudita e Catar. Hoje, os principais grupos terroristas formam grandes
exércitos mercenários, postos a serviço do imperialismo (Líbia, Síria, Iraque,
Mali, Sudão, Ucrânia, etc.). Com o terrorismo, o imperialismo mata dois coelhos:
cria exércitos mercenários a seu serviço e ao mesmo tempo fabrica um inimigo, a
justificar suas guerras.
Além do patrocínio imperialista e da
crise estrutural, o crescimento fascista se dá em razão da falência do
reformismo em todas as suas variantes: nacionalista, socialista, social-democrata
e “comunista” (estalinismo). A social-democracia européia serviu de escada para
a vitória dos regimes de Hitler e Mussolini, ao lado do estalinismo. Após a
revolução russa, freou a luta do proletariado pelo socialismo, limitando o seu
objetivo à reforma do capitalismo. Os partidos estalinistas tiveram trajetória
semelhante. Traíram todas as revoluções socialistas através de frentes
populares, em nome de uma suposta revolução burguesa. Posteriormente,
transformaram-se em euro-comunistas, ou seja, uma nova versão da
social-democracia. “Comunistas” e
sociais-democratas passaram a promover as contra-reformas liberais. De
apoiadores do Estado de Bem Estar Social, viraram o seu coveiro. Assumiram
também a política colonial do grande capital. Hoje, Hollande, de braços dados
com Sarkozy, estende o tapete para a passagem da senhora Marine Le Pen.
Na América Latina, a história se repete
com o nacionalismo, o populismo ou o “socialismo do século XXI”. No passado,
Salvador Allende havia pavimentado o caminho para Pinochet; João Goulart, para
Castelo Branco. Hoje, Cristina Kirchner, passa o bastão para Maurício Macri;
Nicolás Maduro abre alas para Capriles; Dilma contempla impotente a ofensiva
golpista. Allende e Goulart cutucaram o imperialismo com vara curta: tentaram
reformar o capitalismo pacificamente, apoiados nas estruturas do Estado.
Pinochet era ministro de Allende e João Goulart confiava na sua base militar.
Ignoraram que o Estado serve ao grande capital e que não existe mais burguesia
nacional independente.
O “reformismo” atual é uma caricatura do
seu predecessor: tem todos os seus defeitos e nenhum dos seus méritos. Allende
e Goulart defenderam programas nacionalistas, embora limitados. Nenhum dos
regimes atuais (Cristina, Morales, Maduro, Dilma) defendem a soberania nacional.
Governam para as multinacionais. O anti-imperialismo de Cristina, Maduro e
Morales, é verbal. O de Dilma, nem isso. O seu “progressismo” se restringe a
programas sociais populistas: “menciones”, bolsa- família, etc. Não se propõem
reformar a estrutura do Estado e romper com a sua dependência. Seria mais
correto caracterizá-los como populismo liberal. O suposto desenvolvimentismo do
PT é uma fraude, da mesma forma que o do chavismo. Os seus regimes apenas se
sustentaram enquanto durou os altos preços das matérias primas. Mantiveram as
respectivas economias baseadas na produção primária, característica das
semi-colônias, e jamais questionaram a agiotagem internacional através da
fraudulenta dívida pública. A ascensão da direita é a conseqüência óbvia.
O neo-reformismo e
o socialismo
O fracasso do populismo liberal na
América Latina ou da social-democracia na Europa, numa conjuntura de radicalização
de massas, pode levar provisoriamente a uma nova farsa reformista. Isso
aconteceu na Grécia com o Syriza e está se passando na Espanha com o Podemos. E
pode se repetir em outros lugares. O Syriza elegeu-se prometendo romper com a
draconiana “austeridade”, para passar a geri-la uma vez no governo. O capital
não se dispõe a abrandar os seus ataques às conquistas sociais. A sua
sobrevivência depende da escravização cada vez maior dos povos. O reformismo
verbal sempre capitula uma vez no poder. Os trabalhadores conscientes devem
desconfiar de todas as promessas de melhorias por dentro do capitalismo.
A crise estrutural do capitalismo
fabricará sempre novos mercadores de ilusões. É necessário identificá-los.
Basta analisar os seus programas reformistas e os seus métodos eleitoralistas.
Ver quem se solidarizou com o Syriza, por exemplo. No Brasil, os candidatos a
novos reformistas sem reformas atendem pelos nomes de PSOL e PSTU, dentre
outros menos cotados. Estão muito distantes do poder, mas causam estragos entre
a vanguarda. Defendem a revolução socialista nos dias de festa e um programa
reformista na prática. O seu método é o eleitoralismo e o economicismo
(restrição das lutas a objetivos puramente econômicos) nos sindicatos. Não
fazem agitação contra o capitalismo e muito menos apostam na insurreição dos
trabalhadores. Em todos os fatos importantes da luta de classes têm se colocado
ao lado da burguesia. Diante do atual movimento golpista contra o governo,
defendem o Fora Todos, eleições gerais ou assembléia constituinte. Como os
trabalhadores não estão em condições de impor o Fora Todos, essa bandeira se
resume de fato a apoio disfarçado ao Fora Dilma. O mesmo se diga de Eleições
Gerais e Constituinte. Nós entendemos que o governo Dilma não pode ser
defendido, mas muito menos o golpe institucional.
A história tem provado à exaustão que o
capitalismo é irreformável. O reformismo, ao lado do nacionalismo, liberalismo
e outras variantes, sempre fracassará e abrirá passagem para o fascismo, como
último recurso de salvação do capitalismo. Mas isso não é inevitável. A única
alternativa dos trabalhadores é o fim do capitalismo, que não se dará através
de reformas, mas de uma insurreição socialista. Esta ainda não está na ordem do
dia. A nossa tarefa é criar as condições para ela. As condições objetivas estão
mais do que maduras: o grau de internacionalização da economia e da
socialização do trabalho. Faltam as condições subjetivas: a consciência e
organização do proletariado. Criar sindicatos independentes e organizados por
local de trabalho, o que requer a derrota da atual burocracia sindical. Somente
um partido revolucionário pode liderar esse processo, que passa pela destruição
de todos os representantes da burguesia: os seus partidos tradicionais, e
inclusive os empecilhos de esquerda. Apenas a revolução socialista pode cerrar
o passo ao fascismo e à barbárie capitalista.