Com a tramitação na Câmara dos Deputados
do processo de impeachment da presidenta da república, está em curso uma
tentativa de golpe de Estado institucional, valendo-se de pretextos fiscais, as
chamadas “pedaladas”. À vingança pessoal de Eduardo Cunha soma-se o golpismo de
uma parte da direita tradicional (PSDB e afins), que quer abreviar a sua
chegada ao poder. Os golpistas, e parte da esquerda, negam a existência de
golpe porque o impeachment teria uma base legal. Para nós, trata-se de um golpe
de Estado, que se define, não pela legalidade formal, mas por valer-se de
pretextos legais. A sua viabilidade é incerta, mas em qualquer caso serve para
paralisar o governo, o que também é seu objetivo.
O proletariado brasileiro não tem razões
para defender o governo Dilma, autor de profundo ataque aos seus direitos e
conquistas, na condição de agente do capital internacional. Tem menos razões
ainda para defender ou omitir-se diante do golpe de Estado. A luta contra o
impeachment não se confunde com a defesa do governo. Os ataques liberais em
curso são patrocinados pelo governo Dilma em santa aliança com os seus
“inimigos” golpistas. O golpe é dirigido não apenas contra o governo, mas
principalmente contra os trabalhadores. O sucesso do golpe é a sua derrota e a
pavimentação do caminho para ataques ainda maiores.
Nenhum trabalhador consciente pode ser
conivente com o impeachment, como o faz grande parte da esquerda. Da mesma
forma, não pode compactuar com o governo, como faz a outra parte. O combate ao
golpe é sinônimo de combate aos planos de arrocho, obra conjunta do governo e
oposição de direita. Significa denunciar ambos como braço esquerdo e direito do
mesmo patrão, o grande capital. O governo, movimentos sociais (CUT, CTB, MST,
UNE, etc.) e parte da esquerda formaram um bloco para mobilizar contra o
impeachment. Mais do que contra o impeachment, é um movimento de apoio ao
governo, incluída a sua política antipopular. Os trabalhadores não devem
participar desses atos governistas. A sua mobilização deve ser independente,
para poder denunciar ao mesmo tempo o impeachment e os planos liberais.
Uma parte da esquerda (PSTU, MRT,
correntes do PSOL) diz não apoiar nem o governo, nem o impeachment. Entretanto,
a sua política de fato é de apoio ao golpe, que não classificam como tal. O
PSTU defende o “Fora Todos” e “eleições gerais”. O proletariado carece de
organização para tornar realidade o Fora Dilma e muito menos o Fora a direita.
Neste momento, apenas a direita pode realizar o Fora Dilma. Por esse motivo, o
Fora Todos é um apoio disfarçado ao impeachment e à direita. O mesmo se diga de
“eleições gerais”, que na atual conjuntura provavelmente redundaria num
congresso ainda mais reacionário que o atual. O MRT, ex-LER, nos brinda com a
tradicional e universal proposta de Assembléia Constituinte, que claudica da
mesma perna que as bandeiras do PSTU, e alimenta uma ilusória alternativa
democrático-burguesa.
A proposta de greve geral também
alimenta ilusões. Não existe nem mobilização nem organização para convocá-la.
Somente a CUT poderia fazê-lo. Mas a CUT é um braço do governo e está também
comprometida com os ajustes contra o povo. A exigência dessa esquerda de que a
CUT rompa com o governo e encabece a luta contra os ajustes é uma venda de
ilusões da pior espécie.
Não existe atalhos. É preciso
reconstruir a organização independente dos trabalhadores, criando sindicatos
revolucionários e um partido revolucionário. Denunciar todos os agentes do capital,
governistas e oposição de direita. Derrotar a burocracia sindical (CUT, CTB,
Força Sindical, etc.), inclusive a de “esquerda”. Organizar a luta contra os
ataques liberais onde for possível. Essa é a única forma possível e coerente de
luta contra o golpe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário