É fácil reconhecer os variados oportunismos
pelos seus chavões políticos, verdadeiras receitas gerais: defesa da revolução
democrática; Assembleia Constituinte; Revolução Permanente; Frente Única Antiimperialista
(FUA); Greve Geral. Este é um texto de critica à Frente Única Antiimperialista
na versão da Liga Comunista. Recentemente publicamos outro texto, A Nova Guerra Fria e a Luta de Classes, onde
caracterizamos dois setores do “trotskismo” que apoiam respectivamente um ou outro desses imperialismos. Entre aqueles que apoiam o bloco Rússia/China,
citamos a Liga Comunista: “apoiam também
politicamente os governos das semi-colônias que estão sendo desestabilizados pelo
imperialismo. O traço característico das suas políticas é a proposta abstrata e
capituladora de frente única”. Ela então nos respondeu com o texto Combate ao Sectarismo Pró-imperialista. Essa
versão de FUA faz parte de uma escola oportunista.
A
LC nos acusa de falsificar as suas posições: “toda a sua argumentação se baseia na falsificação das nossas posições
“embelezando e apoiando de fato os
governos burgueses dessas nações”, sem citar uma vez sequer a tal posição
criticada em qualquer documento nosso. É assim porque a posição criticada
SIMPLESMENTE NÃO EXISTE e qualquer um que leia as declarações da FCT e não
precise apelar para a má fé para nos detratar constatará isto, pois uma das
características básicas da política da FCT é a sua defesa (da) frente única sem
prestar qualquer apoio político aos aliados vacilantes e circunstanciais que
dirigem o movimento de massas ou as nações oprimidas ameaçadas”.
Não
há falsificação. Não citamos nenhum documento seu por se tratar de um texto de
conjuntura e porque o oportunismo não se assume como tal. Jamais encontraríamos
nos textos da LC prova explícita do seu oportunismo. A prova é sempre uma
interpretação. O que dissemos nesse texto já foi dito e provado em outro, A
Frente Única Segundo a Liga Comunista: “A
Frente Única Anti-imperialista não faz parte do programa da IV Internacional.
Não é verdade que a defenda, apenas sem utilizar a denominação, como afirma o
Socialist Fight. Não, a IV Internacional não se valeu dessa tática porque não
existem mais as condições da década de 20, principalmente, um partido
revolucionário. A FUA é um “acordo prático” entre organizações de massa. Carece
de sentido a sua defesa por pequenas organizações. Nunca foi uma tática
universal, como o defendiam Lambert, Lora e agora a Liga Comunista. Pierre
Lambert ressuscitou a FUA como tática política, fora de contexto. Na Bolívia,
Guilhermo Lora aderiu à FUA lambertista, que passou a fazer parte da sua
política permanente. Essa FUA lorista nada tinha a ver com as Teses do Oriente,
(Teses da III Internacional, 1922)
mas a uma versão “trotskista” de frente popular. Pressupunha a existência de
uma ala progressista da burguesia”. “Ret
Marut e a Liga Comunista não se dão ao trabalho de analisar a conjuntura atual
comparativamente com a da época”.
A LC nega a necessidade de um partido
revolucionário como condição para a FUA. Para as Teses do Oriente, a luta pela
direção da Frente Única era uma tarefa para os partidos comunistas (Capítulos V
e VI). Ao contrário, a FUA da LC deve realizar-se entre governos ou partidos
burgueses e pequenos grupos, como se estes pudessem fazer um acordo com esses
governos. Quando condicionamos a FUA à existência de partidos proletários, nos
acusam de valer-nos de “uma metodologia
confusa de pensamento”. Toda a tradição marxista vincula qualquer tática
aos partidos proletários: “o elemento
essencial de uma manobra, como de toda a ação histórica da classe operária, é o
partido” (A Internacional Comunista Depois de Lênin).
Segundo
a LC, “logo descobrimos que a LM é
anti-FUA, ou seja, pró-imperialista”; “mas não dizem o porquê”. Não somos
contra a FUA em geral, somos contra a FUA oportunista da LC e dissemos o porquê
no texto mencionado (A Frente Única Segundo a Liga Comunista), e repetimos: a inexistência
de partido revolucionário; a integração total das burguesias nacionais ao
imperialismo. Isto, para LC, é ser pró-imperialista. A FUA da LC é uma
estratégia, a mesma de Lambert e Lora. Não fosse assim, não a proporiam como
uma panaceia universal, capaz de curar câncer e “mau olhado”, na Líbia, Síria,
Venezuela, Brasil, Ucrânia, etc. É óbvio que para a LC a FUA não se trata de
“acordos práticos”, porque estes somente são possíveis em situações
perfeitamente delimitadas, que não são regra: “É evidente que não podemos, no
futuro, renunciar a acordos semelhantes, rigorosamente limitados e servindo cada
vez a um objetivo claramente definido” (idem).
A
política marxista é concreta. Nem sempre são possíveis acordos práticos. Ao
propor a FUA, como receita válida universalmente, a LC pressupõe a existência de
uma burguesia anti-imperialista, mesmo que o negue. É uma lógica insofismável.
Tanto é assim que considera até mesmo a Al Qaeda anti-imperialista. Isso seria
válido para o chavismo, embora também o critiquem. Isso significa embelezar
esses governos, que seriam supostamente nacionalistas. Não caluniamos. A sua
afirmação de que “todo chamado à frente
única se faz sem depositar nenhuma confiança nos aliados”, não melhora em nada,
piora. Com uma declaração formal, a LC pretende disfarçar a sua política
conciliadora.
A
LC, para justificar a sua receita de FUA, comete uma extrema generalização e
falsificação histórica: “Toda a história das revoluções no pós-guerra comprova
que onde a política de frente única anti-imperialista não foi desviada em
frente popular, se edificaram Estados Operários (Iugoslávia, China, Coréia do
Norte, Vietnã, ...)”. Isso é uma inverdade rematada. Tomemos o caso exemplar da
China. Onde a frente única com a burguesia nacional, representada pelo Kuomintang,
ajudou na vitória da revolução socialista? Pelo contrário, nas aventuras
revolucionárias de Cantão e Xangai de 1926/27, o Kuomintang massacrou os
conselhos populares e estes, antes de serem derrotados, o colocaram na
ilegalidade. Desde então, o movimento revolucionário se fez contra o
Kuomintang.
O schachtmanismo
A
LC nos rotula de “a versão gaúcha do
schachtmanismo”, que seria um câncer que “alastrou-se por quase todas as correntes que reivindicam o legado de
Leon Trotsky”. Também lutamos contra esse “câncer”, que a LC não explica o
que seja. O próprio termo revela o seu pedantismo com ares de sabedoria.
Schachtmanismo se refere a Max Schachtman, dirigente na década de 30 de uma
fração do SWP, partido da IV Internacional nos EUA. Schachtman defendia a luta
em duas frentes simultâneas, na segunda guerra mundial, tanto contra Hitler,
quanto contra Stálin. Trotsky respondeu: “naturalmente
que isso é bem mais atraente”. Essa seria a condição mais favorável. Mas, “o problema é colocado assim: o que fazer se
Hitler, antes de ser derrotado pela revolução, atacar a Ucrânia antes que a revolução
tenha derrotado Stálin?” Nesse caso, “a
IV Internacional responde: defenderemos esta Ucrânia escravizada por Stálin,
contra Hitler”.
Esse
é o dilema atual nas agressões imperialistas às semi-colônias, como a Síria.
Tanto Obama como Assad são nossos inimigos, mas não podemos compará-los. O
imperialismo é o inimigo principal dos povos. Muitos grupos “trotskistas” caem
no canto de sereia da luta em duas frentes, ou no schachtmanismo, segundo a LC.
Essa nunca foi a nossa política. O nosso texto, A Nova Guerra Fria e a Luta de Classes, critica explicitamente o schachtmanismo:
“existem também aqueles que defendem a
luta em duas frentes: contra as ditaduras e os bombardeios da OTAN. Essa
suposta terceira via, transformou-se numa variante da política pró-imperialista
dos demais”; “Trotsky combateu, na IV Internacional, as frações internas que
defendiam esse tipo de combate em duas frentes”; “os marxistas perfilam-se ao
lado das nações oprimidas, como o fizeram na China, contra o Japão, por
exemplo”.
Defendemos a Líbia, sob a direção de Kadafi,
contra a OTAN (ver Entre dois Oportunismos)
e a Síria, sob Assad. Seriamos schachtmanistas porque fomos contra a frente
única com Kadafi, e somos contra com Assad. Dizemos que a frente única não se
aplica entre um governo e pequenas organizações, o que não nos impede de tomar
uma posição anti-imperialista: “A defesa
das nações oprimidas é uma obrigação de qualquer organização. As pequenas
organizações não fazem acordos com
governos nacionais. Apoiamos a Síria, mas não é possível uma frente única com
Assad. O apoio é unilateral e incondicional. O proletariado apóia as nações
oprimidas com os seus próprios métodos: agitação, propaganda, denúncias,
greves, boicotes, etc. É isso que está ao alcance das pequenas organizações.
Não a abstrata frente única” (A Frente Única Segundo a Liga Comunista).
Para a LC, quem não é a favor da sua fantasiosa frente única, seria
schachtmanista e pró-imperialista.
Seriamos
também schachtmanistas na questão da Ucrânia, porque não somos favoráveis à sua
política de frente única com a Rússia e por isso estaríamos em “cima do muro”. Ser contra a frente única
permanente com a Rússia, não implica estar em cima do muro no combate ao
fascismo. Será que os companheiros não conhecem a política bolchevique para a
guerra imperialista, que se convencionou chamar de derrotismo? Ou jamais
ouviram falar do Manifesto da IV Internacional para a segunda guerra mundial? É
mais provável que conheçam. Nesse caso, deveriam chamar também Lênin e Trotsky
de schachtmanistas. Alguns grupos chegam a definir o derrotismo como a defesa
da derrota do próprio país. Isso seria o suicídio político. Derrotismo é a
política independente do proletariado nas guerras imperialistas, que não apóia
nenhum dos blocos em luta e procura transformar a guerra imperialista em luta
pelo seu próprio poder. Dignifica considerar que o inimigo principal está em
casa. A primeira obrigação do proletariado é combater a sua própria burguesia,
mesmo que isso possa levar à vitória do inimigo. Essa foi a política de Lênin
na I Guerra Mundial. Não apoiou a Rússia contra a Alemanha, considerando a
defesa da pátria um crime. Os bolcheviques só se transformaram em defensistas, ou
seja, favoráveis à defesa da pátria, após a tomada do poder.
Uma
política defensista ou derrotista depende do caráter dos países envolvidos. O
defensismo se aplica nos casos de uma agressão imperialista contra uma colônia
ou semi-colônia. O derrotismo, para as guerras inter-imperialistas. É fundamental
definir se esses países são imperialistas ou colônias e semi-colônias. No caso
da Ucrânia, de um lado está os Estados Unidos e seus marionetes fascistas, e de
outro a Rússia. Nós definimos a esta como um imperialismo nascente. Toda a
política de LC leva a crer que a considera uma semi-colônia, embora a defina
como uma potência capitalista
sui-generis, o que é uma definição ambígua porque não esclarece se é imperialista
ou semi-colônia. A Rússia age nas suas imediações como imperialista: Chechênia,
Abkassia, Ossétia, Geórgia, Ucrânia, e agora na anexação da Criméia. Nenhuma
semi-colônia anexa território, principalmente, contra a potência dominante.
Alegar que era a vontade da população, não exclui que seja uma anexação. É
insofismável, nem Putin nega, só a LC. Reconhecer isso não quer dizer “repercutir a propaganda de guerra do
imperialismo contra a Criméia, Repúblicas de Donbass e a Rússia”.
Os
Estados Unidos são o imperialismo agressivo, que está cercando a Rússia e chega
às portas de Moscou ao promover o golpe fascista na Ucrânia. A anexação da Crimeia, pela Rússia, é defensiva. Nem por isso, devemos apoiá-la. Defendemos a
independência política do proletariado ucraniano em relação aos dois
imperialismos, a transformação da guerra imperialista em luta pelo poder. Não é
luta em duas frentes, porque o inimigo principal está em casa, o fascismo apoiado
pelos Estados Unidos. Essa é uma tarefa do proletariado, que não delegamos a
Putin. Para a LC, o fato de não apoiarmos a Rússia, ou não propormos frente
única com ela, seria apoiar o imperialismo e seus prepostos fascistas. Para
nós, o fato de a Rússia estar na defensiva não a torna o mal menor. Os Estados
Unidos promove as hordas fascistas de Kiev. A Rússia também enviou para a
ocupação da Crimeia batalhões monarquistas, a versão russa do fascismo. O
fascismo ucraniano é mais perigoso e tem o apoio do imperialismo mais forte.
Mas a Rússia não é garantia contra o fascismo em geral, embora esteja lutando
contra o fascismo na Ucrânia. O fascismo europeu divide-se entre o apoio a Kiev
e a Moscou. Houvesse uma revolução proletária no Donbass, veríamos Putin
mostrar as suas garras. Logo faria um acordo com Kiev e mandaria para o Donbass
o seu próprio fascismo.
A
proposta de frente única permanente com a Rússia é um crime. Significa
embelezar o regime russo de oligarcas, que estão por trás de Putin. Caso
houvesse um movimento proletário independente no leste da Ucrânia, este poderia
eventualmente estabelecer acordos temporários com a Rússia, enquanto esta não
passar para o outro lado. Mas isso
dependeria de circunstâncias muito particulares e concretas, impossíveis de estabelecer
de antemão. A proposta de frente única da LC peca por ignorar a falta de tal
movimento organizado e por se antecipar aos fatos imprevisíveis, como se a
Rússia fosse permanentemente anti-imperialista. É uma capitulação à Rússia. O
proletariado ucraniano deve ser educado na desconfiança em relação ao regime
russo, como inimigo, não como aliado permanente, como pressupõe essa proposta
de frente única. É também criminosa a proposta de anexação do Donbass pela
Rússia. Supõe que esta seja a salvação e não o poder do proletariado. Este deve
enfrentar um inimigo de cada vez, de acordo com o perigo que cada qual
representa. O fascismo ucraniano é o inimigo de casa, mais perigoso e
agressivo. Deve também saber utilizar, em proveito próprio, a briga entre os
seus inimigos.
A frente única com Dilma
Segundo
a LC, a LM defenderia que “não se deve
combater com todas as nossas forças e por todos os meios a direita golpista e chamar uma frente única
contra o imperialismo e a oposição de direita golpista ...”. Sim, devemos combater a oposição de
direita, mas não através da frente única permanente com Dilma, CUT, UNE, MST,
etc., porque nenhum desses está combatendo a direita. Quando mais Dilma
capitula, mais a direita exige e mais audaciosa se torna. Devemos apoiar a luta
contra a direita, por mínima que seja, mas não podemos apoiar o governismo,
participando dos atos governistas da CUT, disfarçados de luta, e votando em
Dilma, como faz a LC. É preciso avaliar bem cada “luta” concreta. É a política
antipopular do governo que joga as massas no colo desta. É a denúncia do
governo que a enfraquece, retirando dela o monopólio da critica. É um tiro no
pé qualquer identificação com o regime. Somos contra o golpe, tanto na forma de
golpe militar como impeachment, porque seria uma derrota dos trabalhadores e
abriria um período de maior repressão.
A
LC tenta disfarçar de bolchevismo a sua capitulação representada pelo voto em
Dilma. Os bolcheviques defenderam “apoiar
a burguesia contra o tzarismo (na segunda fase das eleições ou nos embates
eleitorais, por exemplo)...”. Isso é completamente fora de contexto. Na
época bolchevique, se tratava da revolução democrática contra a monarquia
semi-feudal. Lênin considerava que os agentes sociais da revolução seriam o
proletariado e os camponeses pobres, contra a burguesia liberal. Mesmo assim,
por se tratar de uma revolução democrática, era possível alguns acordos
práticos com ela. Esse foi o caso do voto crítico, nos segundos turnos
eleitorais, no partido Kadete (Liberais Constitucionalistas) contra os partidos
monárquicos. Somente a deturpação histórica da LC vê semelhanças com a
atualidade.
Não
somos “objetivamente adversários de toda
a qualquer frente única”. Somos adversários do método oportunista de frente
única da LC. Também não é verdade que defendamos que “nem sequer se deve participar de greves cuja direção é burocrática”,
e seríamos por isso “fura greves”.
Participamos dos sindicatos dirigidos pela burocracia e de suas greves (CPERS e
SIMPA). Mas não somos apêndice da burocracia, como a LC, a ponto de participar
inclusive das suas greves patronais, como as greves da CNTE de apoio ao PNE
(Plano Nacional da Educação) liberal, ditado pelo Banco Mundial. Não
participados dos atos nacionais da CUT quando são de apoio ao governo Dilma.
Preferimos ser esse tipo de “fura greve”
do que ser cúmplices da traição da burocracia aos trabalhadores.
Temos
apenas um acordo fundamental com a LC, de que as nossas políticas são realmente
opostas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário