sábado, 3 de junho de 2017

NENHUMA CONFIANÇA NO PT, MENOS AINDA NA LAVA JATO

    O bloco que patrocinou o impeachment está dividido. Uma parte resolveu sacrificar o governo Temer e Aécio Neves. Mas esse golpe dentro do golpe, patrocinado por Janot e a ala pró-Lava Jato do STF, encontra-se numa encruzilhada. Após patrocinar o golpe sem consultar o conjunto dos golpistas, precisam chegar rapidamente a um novo consenso. Essa divisão é ruim para o sistema e compromete as suas “reformas” contra o povo. Temer diz que não renuncia, provavelmente apenas para ganhar tempo, a espera de um acordo geral. Caso isso não acontecer, não se descarta a hipótese da sua permanência, já que conta ainda com o apoio do principais partidos governistas, PSDB e PMDB, atingidos em cheio pelas denúncias. O golpe teve muitas motivações. Além dos motivos pessoais de Janot, que seria rifado por Temer, visa preservar a Lava Jato, ameaçada pela lei de abuso de autoridade e patrocinada por todos os principais partidos, inclusive, por Temer. Moro não foi o protagonista principal.
        As articulações de bastidores contam com a participação inclusive do PT. Isso cria uma oportunidade para ele e, ao mesmo tempo, um complicador para o bloco dos partidos burgueses. Há alguns sinais de que o PT pode aceitar uma eleição indireta, traindo a luta pelas Diretas Já e à luta contra as “reformas”, em troca quem sabe da permissão à candidatura Lula em 2018. Esse mandato tampão faria o trabalho sujo, preservando o futuro governo saído de eleições diretas.   Para a cúpula do PT, seria a solução ideal. A permissão à candidatura de Lula garantiria a sua permanência entre a confraria dos partidos burgueses. Esse seria o objetivo principal, não a eleição de Lula. O PT sabe que a eleição de Lula seria improvável e, se isso acontecer, de que tome posse. Mas essa articulação precisaria ser combinada com Moro, o que é outro complicador.
      O PT foi desmoralizado perante as massas. Mesmo assim, fala-se que Lula lidera as pesquisas eleitorais para 2018. Não é muito alentador. As intenções de voto não levam em conta a rejeição. O PT nunca mais representará uma esperança para os trabalhadores conscientes. A possível candidatura de Lula teria de passar por uma maratona. São muitos processos judiciais e parece que há um acordo prévio com o TRF da 4ª região para condená-lo rapidamente em segunda instância. Muito dificilmente o imperialismo permita a sua candidatura, menos ainda a sua vitória e a sua posse.
        O objetivo do PT não é romper com os golpistas, nem com a Lava Jato e muito menos com o imperialismo, mas conseguir uma correlação de forças que lhe permita uma acomodação dentro do sistema. Mas, não basta uma razoável votação eleitoral. É preciso mostrar serventia em relação aos interesses fundamentais da burguesia, que é o apoio às contrarreformas liberais. Isso, o PT faz à sua maneira, freando um verdadeiro movimento de massas. 


Um pouco da história do PT 

        O Movimento Pró-PT de 1979, teve alguns aspectos progressistas, expressos pela Carta de 1º de Maio desse ano: - por um partido sem patrões; - por um governo dos trabalhadores; - por um partido organizado através de núcleos de base, com poder de decisão. Tudo isso foi retirado do programa do partido já na sua fundação. Somente um setor da delegação do RS se opôs à retirada dessas bandeiras no primeiro congresso do partido realizado no Colégio Sion, em São Paulo, em 1980. Criaram-se, inicialmente, núcleos de base, mas sempre foram minoritários e jamais tiveram poder de decisão.
        Paulatinamente, o PT integrou-se ao sistema. Hoje, é um partido burguês, como qualquer outro. Herdou todos os seus vícios, inclusive, a corrupção. Jamais se disse socialista ou isso constou do seu programa. Consta que Lula costumava brincar: “eu não sou socialista, sou metalúrgico”.  E como sindicalista, traiu todas as greves do ABC (1979, 1980, 1981). Hoje não é mais metalúrgico, nem sindicalista. É um político burguês, como ele mesmo não faz segredo: “nunca os banqueiros lucraram tanto como no meu governo”. Afirma ainda que “os bancos tem que lucrar mesmo, se não a conta será paga pelos trabalhadores”. Mas o seu governo propiciou juros exorbitantes aos bancos à custa da miséria do povo.
        Segundos seus apologistas, o PT tirou milhões da miséria. Isso é uma meia verdade e não é mérito seu, mas da conjuntura, ou seja, uma época de crescimento econômico internacional.  Seu governo beneficiava o capital financeiro com juros altos, superávit primário, pagamento da dívida e, ao mesmo tempo, no varejo, realizava políticas populistas: bolsa família, minha casa minha vida, PROUNI e crédito fácil.
        A crise econômica mudou radicalmente a situação. O PT praticou no segundo governo Dilma uma dura política de ajuste fiscal como forma de evitar o golpe, sob o comando do banqueiro Joaquim Levy.  Essa política potencializou a recessão e jogou milhões no desemprego e na miséria, em número maior do que aqueles que supostamente havia tirado da pobreza. Não foi suficiente para salvar o seu governo e desagradou os trabalhadores. O PT assistencialista não existe mais. Foi substituído pelo PT do arrocho liberal. A sua diferença com os partidos tradicionais, que já não era grande, passou a ser sutil. Fomos contra o golpe de Estado parlamentar contra Dilma, não porque a mesma fosse melhor do que Aécio, mas porque o golpe implicava num mandato para a aplicação a fundo dos planos de arrocho. Ser contra o golpe não foi sinônimo de apoio ou governo Dilma.
        Os trabalhadores não precisam da Lava Jato e da manipulação da Globo para ver a corrupção do PT. Isso é evidente. O PT nem sequer a nega. O que nega é o envolvimento direto de Lula ou de Dilma. Mas, isso é irrelevante.  A aliança com a quadrilha do PMDB, cuja ficha corrida era mais do que conhecida, trazia embutida a conivência com a corrupção. Era um pacote fechado. Ninguém que nomeia um quadrilheiro contumaz pode esperar que ele se regenere com a botija à disposição. A cúpula do PT, e Lula em primeiro lugar, é a responsável política por toda essa maracutaia.  Acontece que a Lava Jato não é um tribunal dos trabalhadores. É um órgão da justiça burguesa, o qual, pelas suas próprias leis, não pode fazer julgamento político, como está fazendo. Não reconhecemos qualquer direito à Lava Jato de julgar Lula. Isso é tarefa dos trabalhadores.



Os trabalhadores estão numa encruzilhada


        Está nas ruas a campanha por Diretas Já. Como era de se esperar, o PT e aliados fizeram do movimento um Lula 2018. Até mesmo o discurso contra as “reformas” foi secundarizado. O verdadeiro objetivo da CUT e demais centrais é chegar a um acordo com o governo, fazendo mudanças cosméticas no projeto e deixando passar o principal. A correlação de forças não permite mudar o eixo desse movimento. Alguns levantam a bandeira de Assembleia Constituinte soberana, que aprove uma pauta dos trabalhadores. Isso está fora da realidade. Temos visto o contrário, as “reformas” da burguesia alterarem para pior a constituição de 88. Essa é a tendência. Seria também apostar na manutenção da institucionalidade burguesa.
        A proposta de greve geral para derrubar Temer peca também pela mesma dificuldade da Assembleia Constituinte. Quem convocaria tal greve geral? Obviamente, essa é uma reivindicação endereçada à CUT. Alimenta-se a ilusão de que a CUT, uma agência burguesa, sob pressão, possa cumprir semelhante papel revolucionário. A estratégia do PT e da CUT é chegar a um acordo com o sistema, não derrubá-lo. Mais ainda. Uma greve geral é a consequência de uma situação revolucionária, que não existe. A burguesia está na ofensiva e os trabalhadores na defensiva. Portanto, não podem ter alternativa de poder imediato. A sua luta se desloca para a criação dessas condições.
        O que está na ordem do dia é uma ampla campanha de agitação de massas contra as “reformas” liberais.  Primeiro, é preciso colocar o povo na rua, não somente a vanguarda. Qualquer greve geral deve ser consequência dessa mobilização. A burocracia sindical é um estorvo a essa mobilização. Essa é uma tarefa da vanguarda consciente, que não pode delegá-la a ninguém.