quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

LIÇÕES DA MORTE DE SANTIAGO

É preciso aprender com a trágica morte do cinegrafista Santiago Andrade. Não foi uma fatalidade. Essa morte lamentável ofereceu o pretexto para a grande imprensa desencadear uma cínica campanha tentando criminalizar a esquerda (Marcelo Freixo do PSOL e PSTU). Valeu-se das denúncias do suspeitíssimo advogado Jonas Tadeu e das declarações da militante Sininho. A criminalização da esquerda tem outro endereço principal, atingir o movimento da juventude e criar o clima favorável à aprovação de uma nova legislação autoritária, principalmente, o novo AI-5 que tramita no congresso, conhecido como Lei Antiterrorista, que permite  enquadrar como terrorista qualquer manifestante. Esse projeto de lei tem o apoio também do governo Dilma, que tem interesse numa copa do mundo tranquilo e nos negócios que ela representa. Essa lei Antiterrorista significa uma ameaça autoritária a qualquer movimento. As manifestações de junho/2013 surpreenderam e alarmaram a burguesia, que está agora temerosa da possibilidade do efeito contágio sobre as vilas e os trabalhadores, por isso, se precavem com essa legislação de fazer inveja à ditadura militar.
        A esse propósito serviu a morte de Santiago. A direita (Alckmin, Cabral, serviços de segurança, polícias militares e fascistas) tem enviado seus agentes provocadores às manifestações com a finalidade de criar tumulto para esvaziá-las e incompatibilizá-las com a opinião pública, no que tem sido bem sucedida. Não por acaso, são apenas as manifestações pacíficas que têm sido reprimidas brutalmente. Essa direita, paralelamente, tenta ampliar o seu poder dentro da institucionalidade e desgastar eleitoralmente a presidenta. A participação de agentes provocadores tem ficado evidente desde o início das manifestações. Muitos fatos o comprovam. Agora, a lamentável morte de Santiago, escancarou ainda mais essa realidade. O DNA da direita (no caso, Jonas Tadeu) não pode mais ser ocultado, mesmo que a Globo tente envolver a esquerda.
        PSTU e PSOL sempre foram formalmente contra as depredações e a violência gratuita. No entanto, estão pagando caro pela sua omissão política com relação a elas, porque não assumem a sua responsabilidade como parte da direção política do movimento. Não os exime a afirmação de que não se pode controlar atos de terceiros. Pelo menos, se deve desautorizar o vanguardismo, que está objetivamente de braços dados com a direita, de tal forma que não se consegue distingui-los. Não se trata de denunciar companheiros, mas de combater politicamente métodos inconsequentes e prejudiciais. Não se deve brincar com fogo. A esquerda em geral subestima o estrago do vanguardismo e tenta capitalizá-lo de forma oportunista.
        O nosso objetivo estratégico é a expropriação da burguesia através da insurreição de todos os trabalhadores. O vanguardismo e o foquismo são estranhos e perniciosos ao movimento do proletariado. A violência revolucionária só se legitima se favorece a luta e conta com o apoio popular. O atual “esquerdismo infantil” ou é obra da direita disfarçada ou leva água ao seu moinho. Oxalá a infeliz morte de Santiago sirva para abrir os olhos de quem não quer ver.




domingo, 23 de fevereiro de 2014

BREVE BALANÇO DA GREVE DOS RODOVIÁRIOS

       
            O julgamento do TRT concedendo 7,5% aos rodoviários, mesmo percentual já oferecido antes pelos empresários, significou a derrota da greve e demonstrou mais uma vez o caráter patronal desse tribunal. Por falta de uma direção independente, os rodoviários não tiveram forças para vencer a aliança entre os patrões, o sindicato (Força Sindical), a oposição (CUT) e os governos estadual e municipal. Bem que a categoria tentou apropriar-se do movimento, rejeitando nos primeiros dias o acordo firmado pelo Comando de Greve (dirigido pela oposição cutista) que havia aceitado os mesmos 7,5%. A categoria pagou um alto preço pelas suas ilusões na oposição da CUT. Esta recuou do acordo na assembléia, apostando no desgaste natural da greve. A oposição alardeia que foi uma vitória a decisão do tribunal, os míseros 7,5%.
        Nessa greve, os rodoviários foram usados, como sempre, pelos patrões (que forneceram, inclusive, transporte para as assembléias), visando o aumento das passagens, e pelo sindicato (Força Sindical e CUT), que participou do jogo dispondo-se a voltar ao trabalho de mãos vazias e não tomando as medidas necessárias para a sua vitória, como a decretação do passe livre pelos grevistas, apresentando demagogicamente essa reivindicação a Fortunati.  A greve foi também apoiada veladamente pelo governo Tarso, que orientou a Brigada Militar a não reprimir os piquetes com o objetivo de desgastar o prefeito.
        A greve não convinha ao prefeito Fortunati porque o desgastava politicamente. Por isso, tentou reprimi-la, mas não o conseguiu pelo “corpo mole” do governo estadual. O prefeito também é aliado dos patrões. Não tomou as medidas de enfrentamento necessárias: o passe livre ou a intervenção nas empresas, aceitando passivamente o desgaste. Agora, com a derrota da greve, prepara-se para premiar o patronato com generoso aumento da tarifa. Pressionado pelo tribunal, anuncia uma licitação previsivelmente viciada.
        A oposição da CUT, para encobrir a sua omissão, intimidou a categoria com o fantasma da demissão por justa causa, caso pusesse em prática o passe livre. Sabemos dos riscos dessa atitude, mas uma greve por tempo indeterminado num serviço essencial é, por natureza, arriscada. Com a rejeição do acordo na primeira semana, foi decretada a ilegalidade da greve e, portanto, desde então, os rodoviários já estavam expostos às represálias patronais. Os patrões mudaram de atitude e passaram a pressionar os rodoviários a furar a greve. Esta não poderia ser vitoriosa sem que os rodoviários também não dessem um passo em frente através do passe livre unilateral. A vitória não seria possível sem um enfrentamento radical. Para tanto, seria necessário a solidariedade dos demais trabalhadores e da opinião pública. Esta última seria ganha pelo passe livre e o apoio das outras categorias dependeria de uma central combativa, coisa que não se pode esperar da CUT ou da Força Sindical. Apenas a vitória da greve poderia evitar as represálias, inclusive, as demissões. Ao levantar o fantasma das demissões por justa causa, a oposição cutista reconheceu que não estava disposta a apostar na vitória.
        Essa greve deixa duas lições principais. A primeira: diante da unidade entre todos os patrões, governos municipal e estadual, pelegos sindicais, justiça do trabalho, é indispensável contrapor a unidade de todos os trabalhadores e uma radicalização dos métodos de luta: ocupação dos locais de trabalho, piquetes, fundos de greve. Nunca foi tão atual a poesia de Jorge Fischer: “greve é quase a revolução” (1). As greves tradicionais e bem comportadas estão fadadas ao fracasso. A segunda: a necessidade da criação de oposições revolucionárias e de uma ampla organização de base. É preciso derrotar os atuais pelegos sindicais (CUT, Força Sindical, CTB, etc.)

O Bloco de Oposição de Esquerda
        Como apoio externo à greve, foi criado o Bloco de Oposição de Esquerda (Conlutas, Intersindical, CUT Pode Mais, PSOL e PSTU). Esse bloco apoiou a oposição cutista dos rodoviários e com isso foi conivente com a sua política e com a derrota da greve. Hoje, o Bloco de Luta pelo Transporte Público, composto pelas mesmas forças mais os anarquistas, apresenta a proposta vazia de um “transporte 100% público” e combate a licitação a ser realizada pela prefeitura: “por isso, queremos barrar essa licitação e construir um projeto consultando a população”.
        Certamente, a licitação de Fortunati será viciada e nada resolve. Não pode ser a alternativa dos trabalhadores. A alternativa é a estatização do transporte (não a abstração “por um transporte 100% público”, que não se sabe o que é). A defesa da estatização do transporte é a única forma coerente de sermos contra a licitação. Propor “barrar a licitação” em nome de uma vaga “consulta à população”, significa colocar-se inteiramente a serviço dos atuais empresários do transporte. Uma vergonha. A categoria dos rodoviários deve rechaçar também esses supostos apoiadores de esquerda.

(1)                “Greve é pedra. Greve é fogo. Greve é terra. É uma esperança que medra e cresce em gritos de guerra. É o sangue estuando na fronte. É o homem a estender a mão até o cordão do horizonte. Greve é quase a revolução”.



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

GREVE DOS RODOVIÁRIOS MANIPULADA PELAS BUROCRACIAS E PATRÕES


        A categoria dos rodoviários desempenha um trabalho estressante e fundamental para a sociedade. Apesar disso, é uma das mais exploradas. Os empresários do transporte acumulam fortunas e anualmente conseguem aumentos abusivos de tarifas a pretexto dos reajustes salariais. Isso só é possível pelo conluio com o governo, o judiciário e os pelegos sindicais. A planilha de custos é uma fraude sob medida para justificar aumentos de tarifa acima da inflação. Os serviços prestados são de péssima qualidade. Um exemplo de capitalismo predatório e irresponsável.
        Os reajustes salariais costumam ser o pretexto para os aumentos exorbitantes da tarifa. Os salários dos trabalhadores continuam arrochados, enquanto o lucro dos patrões engorda. Tanto é assim que, num período de vinte anos, os salários foram reduzidos à metade em relação à tarifa. Mesmo na hipótese de um reajuste igual entre salários e tarifa, os patrões ganharão muitas vezes mais que os trabalhadores, porque a massa salarial representa uma parte mínima da planilha de custos, e não os 40% como alegam os patrões. Toda a planilha é fraudada sob a vista grossa do governo, porque os empresários financiam as suas campanhas eleitorais. Não fosse também a cumplicidade dos pelegos sindicais, (no caso, a Força Sindical, que dirige o sindicato, e a oposição sindical, pertencente à CUT), essa maracutaia não seria possível.

A greve atual
        Mais uma vez, a categoria está sendo manipulada para justificar aumento de tarifa ou novas isenções fiscais. Os patrões são apoiados pelos pelegos (Força Sindical e CUT), pela prefeitura e pelo governo estadual, principalmente, para o aumento da tarifa. Todos são cúmplices dos empresários, mas também têm os seus interesses próprios. Por isso, as vezes, brigam entre si. O governo do Estado tem interesse na greve para favorecer os seus aliados, no caso a oposição da CUT, que tem dirigido as assembléias e o comando de greve. Também usa a greve para desgastar eleitoralmente Fortunati e o PDT. O possível aumento da tarifa serve a esse propósito, porque será debitado na conta do prefeito. Não por acaso, a Brigada Militar desempenha um papel “civilizado” com relação aos piquetes, como não é do seu costume. Assim, o governo Tarso faz “dobradinha” com os empresários, que também não pretendem colocar os ônibus na rua. Tarso assume pessoalmente a responsabilidade por esse papel da Brigada. Pelo mesmo motivo, desautorizou Fortunati quando o mesmo pediu a convocação da Força Nacional de Segurança.
         Fortunati não tem interesse na greve porque todos os seus ônus caem inteiramente nos seus ombros. Desta vez, não lhe interessa o aumento das passagens porque ainda não se apagaram as brasas do movimento de 2013. Solicitou repressão aos piquetes, denunciou a greve como patronal e exigiu do governo Tarso a isenção do ICMS aos empresários. Fortunati, como amigo dos patrões, não pensa em intervir no sistema de transporte ou conceder os 14% de reajuste para os trabalhadoresda Carris.
        A Força Sindical, direção do sindicato, faz o costumeiro jogo dos patrões. Propõe a reivindicação de 14% de reajuste como forma de iludir a categoria, porque está disposta a fechar acordo miserável. Transforma a categoria em massa de manobra dos empresários para o aumento da passagem. A oposição cutista, aparentemente radical, também serve ao aumento da passagem. Não denuncia essa intenção da diretoria. Também está disposta a um acordo fajuto com os empresários. Apenas protela esse acordo para se diferenciar e bajular a categoria. Seu objetivo principal é a disputa do aparelho sindical. Também faz demagogia com a exigência ao prefeito para que decrete a tarifa livre. Não cabe semear ilusão no prefeito patronal, quando a oposição encabeça uma greve “unânime” e radicalizada. Nessas condições, a implantação da tarifa livre durante a greve torna-se uma tarefa sua, porque está inteiramente ao seu alcance, mas se omite. Somente assim poderia transformar a greve de cavalheiros em luta efetiva. Colocaria o governo e os patrões na parede e ganharia os usuários do transporte. Em vez disso, transfere essa responsabilidade ao prefeito, demonstrando o seu compromisso com o patronato. Deveria exigir do prefeito, isto sim, a intervenção nas empresas de ônibus, como forma de desmascará-lo.
        A Conlutas, intersindical, CUT Pode Mais, PSOL e PSTU, formaram o Bloco de Oposição de Esquerda. Esse Bloco, mesmo se dizendo contra o aumento das passagens, apóia a oposição da CUT que é conivente com esse possível aumento. Os patrões apóiam veladamente a greve porque tem interesse no aumento da tarifa. O Bloco de Esquerda faz que não vê a manipulação da categoria. Também apóia a exigência da CUT a Fortunati para que decrete a tarifa livre durante a greve. Não defende a intervenção no transporte coletivo. Em vez disso, defende a proposta ambígua de um transporte 100% público. Nas condições atuais, em que o povo não está ainda em condições de administrar os serviços públicos, o transporte 100% público é sinônimo de estatização do transporte.
        Os rodoviários devem romper com as direções burocráticas (Força Sindical e CUT), assumir as rédeas do comando de greve a partir da organização de base, construir uma oposição às burocracias sindicais que estão a serviço dos patrões, e ocupar as garagens colocando a frota de ônibus na rua com catraca livre para a população, construindo a luta efetiva pelo Passe Livre no transporte coletivo.

- POR UMA POLÍTICA INDEPENDENTE DOS PATRÕES E SEUS REPRESENTANTES: PREFEITURA, GOVERNO ESTADUAL E PELEGOS SINDICAIS (FORÇA SINDICAL E CUT)!
- QUE O COMANDO DE GREVE PONHA OS ÔNIBUS NA RUA COM CATRACA LIVRE!
- PELA ESTATIZAÇÃO DO TRANSPORTE COLETIVO!

- NENHUMA CONFIANÇA NA FORÇA SINDICAL E CUT!