quarta-feira, 29 de julho de 2015

GRÉCIA: NOVA COLÔNIA DA UNIÃO EUROPEIA

       O acordo entre o governo grego (Syriza/ANEL) e a Troika (Banco Central Europeu, Comissão Européia e FMI) transforma a Grécia numa colônia. Até mesmo as propostas de lei devem ser apresentadas previamente à União Européia. Foi um golpe de Estado contra o povo grego. O Syriza passa a ser o executor desse plano. Tsipras tentou embelezar a capitulação: “um acordo difícil, mas que permite continuar a luta”. Isso contrasta com vozes do próprio imperialismo. O economista Paul Krugman afirma: “Isso é um golpe! A lista é mais do que dura, é vingança pura, destruição completa da soberania nacional e sem esperança de alívio”. Ou, como afirma a revista alemã Der Spiegel: “um catálogo de crueldades à Grécia”. A Grécia foi colocada à venda e criado um fundo de privatizações. Os impostos serão aumentados, bem como, a idade mínima para aposentadoria. Os contratos individuais se sobreporão aos coletivos.
 Alguns analistas relacionam esse acordo ao Tratado de Versalhes. Alguém o comparou ao Tratado de Brest-Litovsk (cidade polonesa) entre a Alemanha e a Rússia soviética (03.03.1918), avaliando que era um mal menor em relação à expulsão do Euro. Ao final da guerra, o exército russo estava sem condições de resistir à Alemanha. O tratado entregava a Ucrânia e a Bielo-Rússia, mas preservava o poder soviético, que ganhava tempo para consolidar-se. O acordo da Grécia com o Eurogrupo não tem qualquer relação com Brest-Litovsk. A Grécia não ganha fôlego, não cria possibilidade de recuperação e não tem uma revolução a preservar. O governo Syriza já está reprimindo as manifestações populares. Passa a governar apoiado nos partidos pró-imperialistas (Pasok, Nova Democracia, Potami), que ele mesmo havia derrotado.

O reformismo não passou na prova grega.
        Aqueles que apoiam o Syriza o ajudam a trair o povo. Entretanto, os críticos ao acordo não desempenham melhor papel. A Plataforma de Esquerda, tendência do Syriza, votou contra o acordo mas não rompeu com o partido e o governo. A Antarsya (Coalisão de Esquerda Anti-capitalista) de anti-capitalista não tem nada, é uma oposição burguesa. A maioria da esquerda mundial propõe a frente única com essa esquerda grega, que no máximo propõe o rompimento com a Eurozona. O reformismo, quando na oposição, costuma ser radical. Uma vez no governo, esquece o seu radicalismo.
         A Eurozona é uma camisa de força a serviço dos bancos, que esmaga principalmente os países periféricos, que não têm instrumentos para resistir: não tem moeda própria, o euro controlado pelo Banco Europeu, e com baixa produtividade. O rompimento com o euro somente é viável com a estatização do capital, principalmente, os bancos, e com o monopólio do comércio exterior. A nada disso se propõe essa esquerda. A unidade européia sob o capitalismo significa a escravização do mais fraco pelo mais forte.
        A esquerda internacional, após o acordo, está posando de radical, o que é uma fraude política. A maioria está contra a capitulação do Syriza, mas até a véspera o ajudou a colocar areia nos olhos dos trabalhadores. Apoiou acriticamente o referendo. Até as pedras sabiam que o governo apenas procurava respaldo para negociar outro acordo. Porque, então, a esquerda não preveniu o povo da traição anunciada? Nem sequer chamou voto crítico no não. Pelo contrário, voltou as suas baterias contra o Partido Comunista, o único que alertou contra essa traição, propondo a colocação na urna da seguinte proposta: “Não à proposta da União Européia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional; Não à proposta do governo. Saída da União Européia e classe trabalhadora no poder”. Isso foi tachado de sectarismo e divisionismo por toda a esquerda oportunista (LIT/PSTU, UIT/CST, PTS/MRT (ex-LER), etc.).
        Após o referendo, essa esquerda se fez de muito surpresa com a traição e sacou do colete o seu programa radical. Veremos apenas o programa da LIT, que é um retrato dos demais: “- Não a qualquer plano de austeridade; - Não a todas as medidas da Troika!; - Não à divida; - Pela imediata nacionalização da banca!; Por um plano de resgate dos trabalhadores e do povo!; - A vitória obtida no referendo deve ser defendida nas ruas com a mobilização!; - Fora o pacto Syriza, Pasok, ND”.
        Como se pode falar em vitória? A vitória do não no referendo respaldou a traição do Syriza que resultou no pacote de maldades da União Européia. A esquerda e a LIT se lembraram de defender “não a qualquer plano de austeridade”, apenas após o referendo. Antes disso, respaldaram o governo e o seu plano que estava na manga e todo mundo sabia.  Chamaram de sectarismo a proposta do PC de incluir no referendo exatamente isso, ou seja, não a qualquer plano de austeridade.
         A sua palavra de ordem “não à dívida” é incoerente. A dívida brasileira e argentina é tão fraudulenta quanto a grega. Aqui e na Argentina, essas correntes não fazem qualquer agitação de massa contra a dívida. Fazem apenas declarações para a vanguarda nos seus jornais. Também não fazem qualquer propaganda para as massas das tarefas do socialismo. A sua política do dia a dia é o economicismo rebaixado. A proposta de “nacionalização da banca” é ainda mais irônica. Alguém, por acaso, já leu na plataforma eleitoral do PSTU: - pela expropriação dos bancos e das multinacionais? É fácil ser radical para a Grécia, com o atlântico a nos separar.
         Após romper tardiamente com o Syriza, a esquerda passa a apostar na equivalente grega (Plataforma de Esquerda e Antarsya): “É necessário construir organismos de frente única que possam, nas ruas e locais de trabalho, combater os planos da Troika e promover toda a medida de mobilização dos trabalhadores e do povo, e com apoio internacional. Essa é a única via para derrotar o ataque imperialista e construir uma saída operária para a Grécia e Europa” (LIT). Convocam a raposa para cuidar do galinheiro. Não se pode descartar frente única eventual com alguns setores dessa esquerda contra os planos de austeridade, mas colocar nas suas mãos a tarefa de “construir uma saída operária para a Grécia” equivale a debochar dos trabalhadores, como se esta se dispusesse a romper com o capital. Os métodos devem ser coerentes com o programa.
        Mesmo que a LIT e todo o “trotskismo” estivesse à frente do proletariado grego, nem assim essa pretensa “saída operária para a Grécia” deixaria de ser demagógica. Basta lembrar que o seu programa é a revolução democrática, etapa anterior à revolução proletária. Não se pode romper com a União Européia e estatizar os bancos por via parlamentar, sem insurreição popular. A prova dos nove de uma política revolucionária não está nos discursos socialistas de dias de festa, mas no trabalho coerente pela insurreição proletária. Não propomos aventura, mas a criação de condições para a emancipação do proletariado.

E o Partido Comunista grego?
        Um setor da esquerda alinha-se ao Partido Comunista grego (no Brasil, a LBI). Nós também consideramos que o PC teve uma posição correta no referendo: “Não às propostas da União Européia; e, não às propostas do governo”. A frente única com ele contra os planos da Troika é uma necessidade. Entretanto, diferente da LBI, não delegamos ao PC a tarefa de encabeçar a revolução socialista, porque o seu programa e métodos são contraditórios com esses objetivos. Lembramos que se trata de um partido estalinista, que não defende a soberania popular, baseada nos conselhos de trabalhadores. Também devemos desconfiar da sua amizade com a Rússia, como expressa seu secretário geral, Dimitris Koutsoumpas: “Podemos utilizar as contradições entre os centros imperialistas e alcançar acordos internacionais de benefício mútuo para a Grécia sob o poder popular, o qual estará desligado da U.E. e da NATO”. Em geral, é correto tirar proveito das divisões entre os nossos inimigos, mas não podemos achar que a Rússia é amiga do povo grego e acreditar que a Grécia possa se beneficiar de “acordos internacionais” com a Rússia e a China.
        Na nova guerra fria entre os blocos EUA/Europa, de um lado, e Rússia e China, de outro, estas últimas estão numa posição defensiva. Assim como a Rússia não pode tolerar os mísseis da OTAN em Kiev, a Europa não tolerará a tutela da Grécia pela Rússia e China, a quem não convém comprar briga com aquela. E mesmo que resolvam socorrer a Grécia, não o fariam caso esta fizesse uma revolução proletária. Uma revolução grega vitoriosa colocaria Rússia e China, não ao seu lado, mas da Europa. Então, o PC grego ficaria diante do dilema: ou de frear a revolução ou romper com os seus aliados.
        A LBI ainda levanta a sua tradicional proposta de greve geral. Tudo o que a Grécia não precisa. Em cinco anos, houve 32 “greves gerais” na Grécia. Greves gerais demonstrativas, sem continuidade, que não pretendem conquistar nada, obstáculo que a burocracia coloca entre o povo e a revolução. Essa mesma burocracia que defendeu o sim no referendo. Nos últimos 40 anos, houve uma centena de greves gerais no mundo e apenas uma greve geral revolucionária (no Uruguai, anos 80, que durou quinze dias). A proposta de uma verdadeira greve geral revolucionária é uma abstração, porque, nas condições atuais, somente a burocracia pode convocar tais greves, que servem para amortecer a luta de classes e evitar a insurreição popular.

Uma proposta para a Grécia
        Não somos pessimistas. Vivemos uma profunda crise de organização e de consciência dos trabalhadores. Fato que não é novidade e não dura para sempre. A política do capital de destruição das conquistas populares cria as condições para a retomada das lutas, como está ocorrendo na Grécia e outros países. Essa resistência trará novamente a sua indispensável organização. O momento é de luta por criar as condições para a revolução proletária. Isso passa pela derrota da burocracia sindical, pelo desmascaramento do reformismo nas suas mais diversas variantes. É de luta pela soberania popular, sinônimo de organização de base, cuja expressão máxima são os conselhos populares. Nada disso acontece espontaneamente. Somente a criação de um partido revolucionário pode tornar efetiva a luta por esses objetivos.
        Essas são as tarefas gerais para a Grécia. Combater sem tréguas o governo capitulador do Syriza, aliado da direita, em unidade com quem estiver disposto a mobilizar as massas. Combater a burocracia sindical. Não depositar confiança na esquerda reformista (Plataforma de Esquerda e Antarsya), nem mesmo no PC. Lutamos pelos Estados Unidos Socialistas da Europa, o que implica romper com a escravatura da Eurozona, o que não pode ser feito por dentro do capitalismo. A vitória do socialismo não pode acontecer por via parlamentar, mas por via insurrecional. Um governo proletário não se sustentará se não for apoiado por um amplo movimento internacional de trabalhadores. A denúncia da extorsão capitalista sobre a Grécia, apelidada de dívida externa, é uma condição para esse movimento. O imperialismo europeu tem os pés de barro. Não resistiria a um movimento consciente das massas. A Grécia não está sozinha. Os amigos do proletariado grego são os seus irmãos escravizados europeus e o proletariado internacional.



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