terça-feira, 2 de dezembro de 2014

DA VITÓRIA APERTADA AO SEGUNDO GOVERNO

                                 
        Dilma venceu as eleições por pequena margem e comandará um governo fraco e de crise. As bancadas do PT e aliados diminuíram e a composição do futuro congresso é ainda mais reacionária. Os trabalhadores decepcionaram-se com o PT, que os traiu. A maior parte da pequena burguesia votou em Aécio e também o proletariado, em grande parte. Dilma perdeu em todos os redutos proletários importantes. Manteve o voto crítico de uma parte dos trabalhadores e principalmente segurou-se na população mais excluída através do Bolsa Família. Marina Silva pintou como alternativa para os descontentes, mas foi com muita sede ao pote no afago à burguesia. Aliou-se à oligarquia nordestina (Eduardo Campos) e aos banqueiros (Itaú). Defendeu a autonomia do Banco Central, os planos de arrocho e se identificou com o reacionarismo pentecostal. Foi “desconstruída” tanto por Dilma quanto por Aécio.
         Fala-se de uma onda conservadora. O avanço do conservadorismo é um fenômeno mundial e tem causas concretas. A crise econômica, os planos de arrocho, a retirada de conquistas e o desemprego levam as massas ao desespero. A polarização política abre duas possibilidades: a reação burguesa ou a revolução social. Como a última alternativa está fora de cogitação em curto prazo,  pelas derrotas do proletariado, pela ausência de uma direção revolucionária e o fim momentâneo das esperanças no socialismo, somente resta a última, a reação burguesa: a demagogia de direita e o fascismo. Na ausência de inimigos reais, a direita os fabrica. Ressuscita o fantasma do comunismo. Todos os movimentos sociais são associados a ele: as greves, o movimento da juventude, movimento gay, feminista, camponês, indígena, negro. Os imigrantes, os nordestinos e os pobres são declarados também inimigos e associados à criminalidade. Quanto a esta, a direita cria o problema e oferece a solução: a redução da maioridade penal, o fim do estatuto da criança e do adolescente, a repressão policial.
As recentes eleições representaram um caso particular desse fenômeno. O PT é indevidamente associado à esquerda e ao comunismo, ou ao bolivarianismo.  Criticam o bolsa família que induziria à acomodação. Ninguém questiona o bolsa banqueiro, dezenas de vezes maior. Esse fantasma em torno do PT não corresponde à realidade. O PT não se apõe à reação burguesa, é refém e cúmplice dela. Isso fica claro mais uma vez na provável composição do novo ministério: Armando Monteiro (ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria-CNI); Kátia Abreu (presidenta da Confederação Nacional da Agricultura-CNA); Joaquim Levy, conhecido como “mão de tesoura” (banqueiro, ex-secretário de Lula, de Pedro Malan, membro da equipe que elaborou o programa econômico de Aécio). Sua missão é clara: implementar a recessão, os juros altos, o arrocho salarial, o desemprego, a retirada de direitos sociais (cortes no seguro desemprego, nas pensões por morte e no abono salarial).  
         Dilma se diferenciou demagogicamente de Aécio pela esquerda, falando contra os banqueiros, Armínio Fraga e a recessão. Isso lhe rendeu frutos eleitorais. Dentro do PT, uma ala assalariada, pretensamente progressista, alimenta essa falsa contraposição entre PT e PSDB, atribuindo ao PT um programa desenvolvimentista. Isso não é verdade. Passadas as eleições, esse “estelionato” se evidencia na composição do ministério. O PT sempre foi um peão do liberalismo. Lula inaugurou o seu primeiro mandato com uma política escandalosamente liberal, posta em prática pelo trio: o mesmo Joaquim Levy, Antônio Palocci e o banqueiro Henrique Meirelles. Foi o paraíso dos banqueiros: a taxa Selic foi jogada para as alturas (26%, mais que o dobro da atual); 4,5% de superávit primário, cortes impiedosos de gastos. O crescimento econômico da época aconteceu apesar dessa política liberal. Ou, mais exatamente, foi a variante mais favorável do liberalismo numa conjuntura propícia. A economia mundial galopava (4,5% ao ano), puxada pela China (11%), grande consumidora de produtos primários (commodities), cujos preços estavam muito altos.
O Brasil surfou nessa onda, a qual mais do que compensou a sua política recessiva interna. Colheu o bônus circunstancial de ser uma semi-colônia, baseada na produção agrícola e mineral. É verdade que Lula aumentou o salário mínimo e ampliou o Bolsa Família. Isso somente foi possível pelas circunstâncias internacionais favoráveis, que não existem mais. A crise econômica, de marolinha virou tsunami. A economia mundial vive uma recessão prolongada. O crescimento chinês reduziu-se quase pela metade. Devemos agora encarar o lado perverso da condição de semi-colônia. Não haverá ampliação do assistencialismo, mas o contrário. Espera-nos o arrocho liberal de Joaquim Levy, sem qualquer contrapeso.
O movimento da juventude de 2013 já foi um sintoma desse mal estar social. Esse movimento foi abortado por um misto de repressão, provocação e demagogia. Os governos, tanto do PT, como do PSDB e PMDB, reprimiram selvagemente as manifestações pacíficas e deixaram correr soltas as depredações, que eles mesmos promoveram através de infiltrados, e também promovidas por alguns ingênuos úteis. O resultado foi o seu esvaziamento. A população voltou-se contra o movimento porque o identificou com o quebra-quebra. Hoje a direita colhe os frutos eleitorais do medo que plantou, elegendo pastores demagogos e a bancada da truculência.

Não haverá golpe

        Existe no mundo uma montanha de capitais ociosos, agravada pela recessão. A sua ojeriza ao risco, os leva a abrigar-se sob as saias largas do Estado. A especulação financeira, protegida pelo Estado, é o modo de existência do capital. Esse capital especulativo exige de Dilma juros altos, aperto fiscal para pagar os juros da dívida, da qual é credor, e planos de arrocho para favorecer a competição internacional. Diligentemente, Dilma colocou-se a postos para cumprir essas ordens e anunciou o trio perverso na gestão da economia, para não deixar dúvidas. Com isso, espantou as ameaças de desestabilização da direita tradicional, pronta para mostrar também os seus serviços. Essa direita não está disposta a aventuras porque a conjuntura não favorece e porque não precisa. Dilma fará o dever de casa. Não existem condições para golpe militar e nem mesmo para impeachment. Não há disposição nem unidade da direita nessa questão. O PDSB não se beneficiaria diretamente disso. Ventila-se a não aprovação das contas eleitorais de Dilma pelo TSE, que levaria à novas eleições. Isso poderia beneficiar o PSDB, mas seria uma aventura com conseqüências incertas e, portanto muito improvável.
        Não haverá golpe. A burguesia prefere guardar essa arma para melhor oportunidade. O segundo governo Dilma será de crises econômicas e sociais. As lutas sociais aumentarão. A sociedade se dividirá ainda mais entre campos opostos. Os trabalhadores enfrentarão uma maior repressão comandada pela unidade dos partidos burgueses (PT, PSDB, PMDB, etc.). O panorama internacional também é de radicalização política. O futuro é incerto, mas nada está decidido de antemão. Devemos nos preparar para ele organizando e conscientizando os trabalhadores, dizendo a verdade como ela é e declarando guerra às ilusões.

A operação Lava Jato

        Essa investigação nada tem de moralizadora. É uma briga entre facções da burguesia (PT, PP, PMDB e PSDB) e serve aos interesses do imperialismo, que pretende enfraquecer e privatizar integralmente a Petrobrás. Não lhe interessa a construção de novas refinarias, mas que o Brasil continue exportando petróleo bruto. Também chantageia e paralisa o governo e a economia. A corrupção na Petrobrás vem de longa data. A propina é uma instituição do Estado, o seu modo normal de funcionamento. Os partidos passam uns para os outros a chave do cofre. Como disse o advogado de um acusado: não existe obra sem propina. A corrupção é inerente ao capitalismo, um não vive sem o outro.
        A operação Lava Jato não visa apurar a corrupção desconhecida, mas chantagear com a já sabida. O fio da meada começou com a investigação acerca do doleiro Alberto Youssef, não por acaso também personagem de outros escândalos, como o do Banestado, nos anos 90. Apesar disso, continuava solto e praticando a mesma atividade. Esse personagem serviu a todos os governos, desde FHC. A investigação, que corria em segredo de justiça, vazou seletivamente às vésperas da eleição, apenas envolvendo o PT. Esse vazamento foi protagonizado por delegados e promotores tucanos, que por ser parcial e em vésperas de eleição caracterizou uma tentativa de golpe eleitoral, que foi denunciado por Dilma. Passada a eleição, o governo usa essa mesma operação para contra-atacar, também envolver o PSDB e subsidiariamente enfraquecer os seus aliados incômodos, o PMDB e a ala petista concorrente.
        Essas escaramuças têm limites estreitos. Não podem ir muito longe sem comprometer o conjunto do regime, do qual todos fazem parte. Existe uma centena de políticos comprometidos, de todos os principais partidos. Serão acobertados pela instituição da impunidade recíproca conhecida como foro privilegiado. A grande novidade é a prisão dos corruptores, os responsáveis pelas empreiteiras. Isso, quem sabe, interesse a quem aposta na paralisação das obras. No fundo, é mais um jogo de cena. Neste momento, provavelmente já exista um acordo para o acobertamento entre as partes (PT, PP, PSDB e PMDB), pondo limites na investigação, o que não exclui que a briga sobre certos aspectos continue.
        Na ampla mesa dos réus, está vazia a cadeira do criminoso principal, o sistema financeiro: máquina de lavagem de todo o dinheiro sujo do mundo. Não por acaso, ninguém põe a mão nos bancos suíços e nos paraísos fiscais. Quanto às empreiteiras, a maior corrupção não está nas propinas e no superfaturamento das obras, mas nas obras em si. Estas não são, como se pensa, decididas pelo governo em função de interesses sociais e econômicos, mas pelas empreiteiras, que de fato representam o verdadeiro ministério do planejamento. Elas apresentam ao Estado o seu plano de obras no qual a sua finalidade (produção de energia, petróleo, etc.) é uma questão secundária. O que importa são os custos exorbitantes da obra, que quanto mais difícil e cara melhor. Conta-se que certo ministro da ditadura recebeu o representante de determinada empreiteira que lhe apresentou uma proposta de construção de um túnel subterrâneo ligando São José do Norte a Pelotas. O ministro teria respondido: com esse dinheiro eu troco a cidade de lugar. Certamente, essa atitude foi uma exceção. Isso ilustra a relação promíscua entre empreiteiras e o governo, qualquer que seja. Serve também de retrato do capitalismo na sua fase decadente: corrupto, ineficiente, especulativo e parasitário.









        

domingo, 2 de novembro de 2014

A NOVA GUERRA FRIA DIVIDE A ESQUERDA E A DIREITA


        Os Estados Unidos entraram em decadência, embora ainda seja o principal ator da geopolítica internacional. A sua economia decresce relativamente, o seu papel na produção diminui e está afogado em dívidas. Mantém ainda uma preponderância parasitária no mercado financeiro, alicerçado no monopólio do dólar como moeda mundial, e uma grande superioridade militar. Será um processo longo e traumático. Surgem novos postulantes à hegemonia mundial: a China, coadjuvada pela Rússia e, em menor medida, pelos BRICs, pela Organização de Cooperação de Xangai e pela Aliança Euro Asiática. O PIB da China acaba de superar o dos EUA, embora ainda não lhe equivalha em tecnologia, produtividade do trabalho e muito menos no terreno militar. Especula-se sobre a criação de novas moedas em substituição ao dólar.
        Com base na sua superioridade militar, os EUA tenta abortar na casca o surgimento de novos concorrentes. Em geral, os conflitos atuais têm esse pano de fundo (Afeganistão, Geórgia, Venezuela, Iraque, Irã, Líbia, Síria e Ucrânia), ou seja, são uma tentativa de cerco militar e econômico a esses países, principalmente, estrangulando o fornecimento de matérias primas, sabotando os gasodutos e oleodutos dos concorrentes. Por exemplo, o Estado Islâmico serve a muitos objetivos: à deposição de Al Saad, à divisão do Iraque entre sunitas, xiitas e curdos, impedindo a passagem do gasoduto Irã, Iraque e Síria.   
        O enfraquecimento imperialista tem provocado um limitado movimento centrífugo de algumas das suas semi-colônias, que oscilam entre um e outro desses dois pólos (Venezuela, Bolívia, Equador, Brasil, Argentina, Irã). Os Estados Unidos expandem a OTAN para os países da antiga URSS, cercando a Rússia. O último lance foi o golpe de Estado patrocinado pela Cia na Ucrânia, provocando a Rússia, ao posicionar os seus mísseis às portas de Moscou, e afastando dela a Europa, que é o seu maior parceiro comercial. Alguns analistas caracterizam esses conflitos como o começo de uma nova guerra fria. Esse cerco à Rússia e à China tem provocado também um efeito inverso, acelerando e aprofundando o bloco comercial e político entre os dois. Rússia e China acabam de firmar um vultoso acordo comercial e planejam construir novas “rotas da seda”, por terra e por mar, ligando a China, Índia, Ásia central, Rússia e Europa.

O Brasil na nova guerra fria

        O bloco dirigido pelo PT já não se alinha de forma tão automática aos Estados Unidos e passa a fazer parte dos BRICs. Essa política desagrada ao imperialismo dominante e parte da burguesia mais alinhada ao mesmo. Outra parte da grande burguesia mantém o apoio à Dilma. A candidatura de Aécio Neves representa a subserviência total aos Estados Unidos, contra a aproximação ao bloco China/Rússia. Essas diferenças não são qualitativas e não justifica o apoio a Dilma. Os EUA tentam enquadrar as “ovelhas rebeldes”. Em alguns casos, procuram abertamente desestabilizar os seus governos, como na Venezuela.
        A aproximação do PT e aliados aos BRICs, não significa rompimento com o imperialismo, embora seja para este inaceitável, e não representa uma política externa mais progressista, como supõe parte da esquerda, que caracteriza o governo erroneamente como de centro esquerda. O governo Dilma difere de governos tipo o do Peru e Colômbia, e um possível governo Aécio, por um maior populismo e um tímido distanciamento dos EUA, mas também é pró-imperialista e praticante do liberalismo econômico. A aproximação ao bloco Rússia/China não significa anti-imperialismo porque não representa rompimento com os EUA/Europa e esses países também são candidatos à condição de imperialistas, e em alguns casos já agem como tais (Ucrânia, por exemplo).

A esquerda e a nova guerra fria

        O conflito entre Rússia e Estados Unidos em torno da Ucrânia é um conflito inter-imperialista. Coloca-se na Ucrânia a luta dos trabalhadores pela independência de classe, contra o conjunto do capital internacional e seus agentes americanos ou russos. Isso não significa ignorar a realidade e as contradições inter-imperialistas. Na prática, o proletariado deve enfrentar o inimigo mais perigoso de cada vez. O inimigo mais agressivo são os EUA, que patrocina as bandas fascistas de Kiev. Essa política prática, que admite acordos pontuais, não justifica o apoio à Rússia, como o mal menor. A proposta de frente única permanente com a Rússia é uma capitulação. O proletariado da Criméia, Donetsk e Lugansk deve manter total independência da Rússia.  A esquerda capitula a um ou outro imperialismo. Uma parte coloca-se à reboque do imperialismo hegemônico EUA/Europa (morenistas) e outra parte (estalinistas e “trotskistas” afins ao estalinismo) à reboque dos pretendentes China/Rússia, tomando a sua oposição aos EUA como progressista.
        Essa capitulação no plano externo se transfere para o plano interno. Parte da esquerda declara o voto nulo (PSTU) e outra parte o voto em Dilma (PSOL e grupos menores). O PSTU, que costumava alinhar-se à Frente Popular, agora chama o voto nulo. Isso é coerente com a sua capitulação ao imperialismo EUA/Europa (Líbia, Síria, Ucrânia), onde deu apoio a agressão imperialista a esses regimes. Pelo mesmo motivo, não cairia bem votar em Dilma.  Em sentido inverso, parte da esquerda que costumava propor o voto nulo, agora vai de Dilma. Isso está de acordo com o seu apoio à Rússia na Ucrânia, por exemplo. A tomam como progressista pelo seu alinhamento aos BRICs. Alegam que não estão optando pelo mal menor, mas combatendo na prática o inimigo mais perigoso. Mas as eleições não são uma questão prática, mas uma luta de programas. Portanto, o voto em Dilma é sim um voto num suposto mal menor, que não existe. Genericamente, Aécio não é o inimigo principal. Programaticamente, ambos se equivalem. As diferenças entre eles se verão ou não na prática, o que não justifica o voto em Dilma.  A política da esquerda reflete essa nova guerra fria, onde ninguém preserva a independência de classe. Apenas o voto nulo corresponde aos interesses do proletariado, de aposta na sua organização e luta pelo socialismo.



       



        

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

VOTO NULO CONTRA AÉCIO E DILMA

    Neste segundo turno, reafirmamos nossa defesa do voto nulo. Não existem diferenças fundamentais entre os dois candidatos. Ambos são serviçais do imperialismo e representam igual arrocho salarial, planos neoliberais, privatizações, repressão brutal e corrupção. Existem certamente diferenças entre PT e PSDB, mas não diferem na essência. Ambos atacarão as condições de vida das massas. O PT teria maior dificuldade para privatizar o BB e a CEF, mas não está descartado que também o faça, a depender da pressão do capital. Não é menos privatista. O PSDB é mais honesto, assume mais claramente a sua política antissocial. O PT é mais dissimulado, prefere dourar a pílula, aplicando a conta gotas os planos de arrocho. É uma diferença de método, não de conteúdo.
        Delfin Neto e Henrique Meireles, pupilos de Lula, não são menos liberais do que Armínio Fraga, anunciado ministro de Aécio. FHC privatizou tudo que pôde Lula e Dilma deram continuidade privatizando as reservas de petróleo. Aécio ameaça privatizar o BB e a CEF. Dilma é contra, mas não existe garantia que também não os privatize.  O valor da bolsa família não representa dez por cento da “bolsa banqueiro”. Dilma nada fez contra a opressão dos negros, mulheres e homossexuais. A sua campanha também é apoiada por uma parte do fundamentalismo religioso. A polícia de Alckmin promove uma repressão brutal. No Rio de Janeiro, Cabral, aliado de Dilma, consegue ser ainda mais truculento. Dilma reprimiu o movimento da juventude em santa aliança com Alckmin. A Força Nacional de Segurança de Dilma percorre o território nacional semeando o terror, como fez com a greve dos operários das obras do PAC (Santo Antônio, Jirau e Belo Monte), onde bombardeou operários grevistas (escondendo a morte de dezenas), que cometeram o crime de lutar contra condições de trabalho semiescravas. A corrupção tucana se equivale à sua equivalente petista. O cartel do metrô de Alckmin, os escândalos de FHC, o mensalão tucano, o aeroporto de Aécio, não são piores do que o mensalão do José Dirceu, a corrupção na Petrobrás e toda sorte de maracutaias petistas.
        A aproximação do governo petista ao bloco Rússia/China não o torna antiimperialista, menos neoliberal, de “centro esquerda” e preferível ao do PSDB, que se alinha ao imperialismo americano. Apenas o distancia relativamente do imperialismo hegemônico em benefício do novo proto-imperialismo russo-chinês. A fonte inspiradora dos planos de arrocho liberais é a China, que regrediu às condições de trabalho do século XIX e promove uma brutal repressão ao nascente e combativo movimento operário. O mundo tende a adaptar-se a esse novo escravagismo chinês. Putin reprime toda oposição e os direitos sociais das minorias. O seu regime se apóia numa oligarquia corrupta, que se apropriou fraudulentamente das estatais da extinta URSS.  
        Não existe mal menor, mas podemos tirar proveito das diferenças práticas entre eles. Por exemplo, faríamos frente única com a CUT numa hipotética greve em defesa do BB e CEF, onde esta, em função da sua base social, seja obrigada a participar. Entretanto, essas questões de ordem prática não torna Dilma genericamente preferível a Aécio e não justifica o voto nela. A disputa eleitoral não é um problema prático, é uma disputa de programas. Não se faz frente única eleitoral.  Na essência, os programas de Aécio e Dilma são os mesmos. O voto crítico pressuporia, não apenas acordos práticos, mas a existência de uma candidatura progressista em relação à outra, o que não é o caso. É por isso que o apoio à Dilma, por uma parte da esquerda, é uma capitulação, uma venda de ilusões.
        Existem evidências de manipulação do voto eletrônico, o que configuraria um golpe branco. Devemos denunciar o golpe, caso aconteça. Isso também não justifica o voto em Dilma, por duas razões principais: Dilma seria conivente com um possível golpe contra ela; e o método de combate a qualquer golpe é a luta direta, denúncia e agitação, não o voto.
        Parte da esquerda, que costumava votar nulo, declara o voto em Dilma e capitula a ela. Outra parte (PSTU) rompe com a sua tradição de apoio à frente popular e propõe o voto nulo. Inverteram as posições. Esses zig-zagues políticos não são por acaso, refletem a geopolítica internacional. Os primeiros apoiam o bloco russo-chinês, em nome de um suposto antiimperialismo. Mas Rússia e China são candidatos à condição de imperialistas e em certos casos já agem como tais. Essa posição implica em capitular aos regimes dos BRICs e explica o voto em Dilma. Os segundos (PSTU) estão alinhados ao imperialismo dominante (Líbia, Síria, Ucrânia), em nome de uma fantasiosa revolução democrática. Isso requer diferenciar-se dos BRICs. Por isso, o voto nulo contra Dilma.     
        Reafirmamos o voto nulo como única forma de independência de classe nestas eleições, de combate aos dois blocos burgueses PT e PSDB, de combate ao imperialismo de conjunto, tanto aos EUA/Europa como aos aspirantes, Rússia e China. Combatemos as ilusões nessas alternativas burguesas, buscamos preparar as condições para a emancipação futura do proletariado da dominação capitalista, com vistas à construção do socialismo.

  

domingo, 5 de outubro de 2014

CADERNO DE FORMAÇÃO Nº 1 – OUTUBRO DE 2014

A QUESTÃO DO PARTIDO
Vivemos um momento de profundo questionamento sobre a viabilidade do socialismo e, como consequência, da construção de um partido revolucionário. Dizer que todos os partidos anteriores fracassaram e isso seria uma lei da história, é uma meia verdade. Esse determinismo desconhece que os partidos proletários não são um fim em si mesmo, mas um instrumento da luta de classes. O seu destino depende dessa luta. Os grandes partidos mundiais do proletariado, a Primeira, a Segunda e a Terceira internacionais, antes de sucumbirem, cumpriram os seus papéis. A história demonstrou que nenhum partido revolucionário sobrevive às grandes derrotas. A Primeira Internacional não sobreviveu à derrota da Comuna de Paris, a Segunda, ao longo período de parlamentarismo e crescimento capitalista, e a Terceira, à derrota da revolução na Europa, principalmente na Alemanha (1919, 1921, 1923).
A história demonstra que nenhuma luta do proletariado jamais se elevou acima das tarefas imediatas sem um partido revolucionário. Todos os melhores momentos dessa luta teve um partido em sua direção. As incontáveis derrotas explicam-se pela sua ausência ou pela traição das direções existentes.
Afirmar que o socialismo faliu é uma inverdade, porque nunca existiu socialismo. Existiram estados operários burocratizados, que voltaram paulatinamente ao capitalismo. Este, sim, é que faliu e está levando a humanidade para a barbárie: bilhões de seres humanos vivendo na mais absoluta degradação: miséria, desemprego e guerras de rapina. Somente o socialismo pode tirar a humanidade desse atoleiro.  As derrotas do proletariado não duram para sempre. As futuras vitórias serão impossíveis sem a construção de um partido revolucionário.  Assim como foram possíveis os partidos anteriores, as condições objetivas atuais os tornam ainda mais prováveis. Não existe perspectiva sem ele. Criá-lo é a tarefa primeira, segunda e terceira de todo trabalhador consciente.



MAS QUEM É O PARTIDO?

Mas quem é o partido?
Ele fica sentado em uma casa com telefones?
Seus pensamentos são secretos,
Suas decisões desconhecidas?
Quem é ele?

Nós somos ele!
Você, eu, vocês – nós todos.
Ele veste sua roupa, camarada, e pensa com a sua cabeça.
Onde moro é a casa dele, e quando você é atacado ele luta.

Mostre-nos o caminho que devemos seguir, e nós o seguiremos, como você, mas não siga sem nós o caminho correto.
Ele é, sem nós, o mais errado!
Não se afaste de nós!
Podemos errar, e você pode ter razão, portanto, não se afaste de nós!

Que o caminho mais curto é melhor que o longo, ninguém nega.
Mas quando alguém o conhece e não é capaz de mostrá-lo a nós, de que nos ser a sua sabedoria?
Seja sábio conosco!
Não se afaste de nós!

Bertold Brecht



BREVE HISTÓRIA DOS PARTIDOS PROLETÁRIOS
          
  Existe um preconceito contra partidos, alimentado, inclusive, por parte da esquerda, que fala da suposta independência dos sindicatos dos partidos em geral. Essa independência é uma necessidade apenas em relação aos partidos burgueses (PMDB, PSDB, PT, PDT, PP etc.), e aos partidos proletários traidores. Esse preconceito é extremamente nefasto quando se trata da construção de um partido revolucionário. A suposta independência dos sindicatos em relação aos partidos é uma ilusão reacionária. Nunca houve e nunca haverá tal independência: ou os sindicatos estão sob a influência dos partidos burgueses ou dos partidos proletários.
                A burguesia sempre tentou impedir que os sindicatos se ocupassem de política, da organização da sociedade, ou seja, da questão do poder. Quando muito, lhes seria facultado ocupar-se das reivindicações imediatas, enquanto a política ficaria a cargo da burguesia. A prédica do apoliticismo para os trabalhadores é um discurso próprio da burocracia sindical (secundado pelo anarquismo e por certos “marxistas”), mas ela mesma domina os sindicatos a serviço da política burguesa. O preconceito apoliticista, além de nefasto, reflete uma ignorância histórica. Em alguns países os sindicatos foram criados pelos partidos operários e noutros esses partidos foram criados pelos sindicatos.
                O movimento sindical surgiu na Inglaterra no século dezenove, na luta pela melhoria das condições degradantes de trabalho, e obteve muitas conquistas: a redução da jornada de trabalho, a proibição do trabalho das crianças, do trabalho noturno das mulheres, e tantas outras. Se não houvesse essas lutas, hoje ainda estaríamos naquelas condições. Atualmente, a restauração capitalista na China, entre outros países, fez retroceder as condições de trabalho ao século dezenove. Isso desencadeou um processo de retirada de direitos históricos conquistados em todos os países, através dos famosos planos de ajuste. Portanto, essas conquistas somente poderão ser preservadas pela luta. Sempre estarão sob ameaça enquanto houver capitalismo. Não foram apenas os sindicatos os instrumentos dessas vitórias, mas a sua unidade com o movimento político do proletariado.
                A Inglaterra foi sacudida pelo Movimento Cartista (1838 a 1848), que lutava pela Carta do Povo e pelo voto secreto. Em 1847, conquistou a aprovação de uma lei que limitava a 10 horas diárias a jornada de trabalho. Em 1824, já havia sido conquistada a legalidade dos sindicatos. Inglaterra, França e Alemanha, nas décadas de 30 e 40 do século XIX, foram palco de movimentos revolucionários. Marx e Engels antes de conhecerem-se em Paris, em 1844, desenvolveram, cada um por si, os princípios gerais de uma nova teoria da história, o materialismo histórico: a economia é a força motriz da história, sobre a qual surgem as ideias e os antagonismos de classe. Apenas em determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais podem surgir as doutrinas e a organização do proletariado.
                Londres, Paris e Bruxelas estavam cheias de emigrados políticos.  Marx e Engels mantinham estreito contato com os movimentos revolucionários europeus: cartistas ingleses, franceses (adeptos de Babeuf e de Blanqui) e alemães (da Liga dos Justos). Aos poucos, convenceram os principais dirigentes dessa liga da correção da sua nova doutrina e foram convidados a nela ingressarem. Realizou-se, então, um congresso em Londres, no verão de 1847, onde foi fundada a Liga dos Comunistas, que os encarregou de redigir o seu programa, o que veio a ser o Manifesto do Partido Comunista, que até hoje serve de guia para o proletariado internacional, com o seu lema: “Proletários de todos os países, uni-vos”. A Liga Comunista acabou liquidada pela repressão burguesa.
                Marx e Engels continuaram a sua luta pela organização do proletariado e em 28 de setembro de 1864 fundaram, em Londres, a Associação Internacional dos Trabalhadores ou Primeira Internacional, reunindo a vanguarda do proletariado europeu, inclusive, adeptos de Miguel Bakunin, um dos principais criadores do anarquismo. Bakunin fundou, no interior da internacional, a Aliança da Democracia Socialista, que foi expulsa no Congresso de Haia, em 1872. A I Internacional cumpriu o seu papel de apoio a todos os movimentos operários, mas sucumbiu à derrota da Comuna de Paris, de 1871.
                Em 1889, foi fundada a II Internacional, reunindo os partidos socialdemocratas europeus, sendo o principal deles o alemão. A socialdemocracia construiu uma ampla organização sindical e teve grande participação parlamentar. Mas, ao mesmo tempo em que conquistou muitos direitos sociais (férias, 13º salário, etc.) transformou o sindicalismo e parlamentarismo, daquilo que deveria ser apenas um meio para a revolução social, num fim em si mesmo, adaptando-se ao capitalismo. Como expressão dessa adaptação, surgiu uma corrente revisionista dos princípios do marxismo, liderada por Eduardo Berstein, que questionava a luta de classes e o poder do proletariado. Embora Berstein tenha sido derrotado, a socialdemocracia acabou adaptando-se à democracia burguesa. Ao troar os canhões da Primeira Guerra Mundial, os partidos socialdemocratas europeus apoiaram a guerra imperialista e os seus respectivos países, rompendo com o internacionalismo proletário e se passando de armas e bagagem para o campo da burguesia.
                Poucos grupos e partidos salvaram-se dessa grande traição. O principal deles foi o Partido Bolchevique russo, que acabou, em 1917, encabeçando a Revolução Russa, conhecida como Revolução de Outubro. Com base nessa vitória, fundou-se, em 1919, a III Internacional, reunindo os partidos comunistas europeus. Após a revolução, a Rússia, o país mais atrasado da Europa, foi devastado pela I Guerra Mundial e pela guerra civil. Seguiu-se a isso o seu isolamento com a derrota da revolução em outros países, principalmente, na Alemanha. Como resultado dessas derrotas, subiu ao poder na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas uma casta de arrivistas, dirigida pelo secretário geral do Partido Comunista, José Stálin. O estalinismo cultuou a figura de Lênin para melhor trair os seus princípios: - o internacionalismo foi substituído pela teoria do “socialismo em um só país”; a independência de classe, pela participação nas frentes populares; a democracia proletária, pela ditadura da casta parasitária sobre o proletariado. Desde então, o regime estalinista sofreu um longo processo de degeneração, terminando por restaurar ele mesmo o capitalismo.
                A burocratização do Estado soviético deu-se aceleradamente. No fim de 1922, Lênin, já enfermo, propunha a Trotsky o combate à burocracia. Em quatro de janeiro de 1923, ditou às suas secretárias o seu “testamento” político, no qual propunha a destituição de Stálin da Secretaria Geral. Em 15/10/1923, 46 dirigentes do partido bolchevique publicaram um manifesto criticando a burocratização e exigindo a restauração da democracia soviética e recebendo a solidariedade de Trotsky. Isso deu origem à Oposição de Esquerda. Já era tarde demais. Stálin já tinha o controle do Estado. Esmagou a oposição e terminou assassinando os seus dirigentes e dezenas de milhares de bolcheviques.
                A Oposição de Esquerda conquistou adeptos e formou seções em dezenas de países, vindo a formar, em 1938, a IV Internacional. Com a morte de Trotsky, A IV Internacional também degenerou e dividiu-se na década de 50, quando o setor majoritário, dirigido por Michel Pablo, capitulou ao estalinismo. Entretanto, mesmo não conseguindo se firmar como partido mundial do proletariado, a IV Internacional nos legou conquistas políticas e teóricas fundamentais, a saber: - o Programa de Transição, de inteira atualidade; - o combate à participação em Frentes Populares e à teoria estalinista de “socialismo em um só país”; - a melhor análise da degeneração da Revolução Russa, principalmente, exposta no livre de Trotsky A Revolução Traída; - uma política de princípio para a Segunda Guerra mundial, através do Manifesto da IV Internacional sobre a Guerra Imperialista e a Revolução Proletária: o defensismo em relação ao Estado soviético e o derrotismo em relação aos dois blocos imperialistas.
                Finalmente, na década de 80 e 90, a restauração capitalista nesses estados, mesmo burocratizados, representou uma profunda derrota do proletariado. Sobreveio uma brutal ofensiva ideológica, política, econômica e militar do imperialismo. O ideal socialista foi declarado extinto. Os trabalhadores perderam a esperança no socialismo. Alguns grupos “trotskistas” saudaram essa restauração capitalista como “a mais formidável vitória do proletariado”. Tomaram a derrota como vitória e aplaudiram o ascenso da democracia burguesa nesses países. 
                Não nos resta alternativa que não seja a barbárie capitalista. A restauração do capitalismo não deixou pedra sobre pedra das principais organizações proletárias. Passada a tormenta, novos ventos frescos começam a soprar. É preciso reconstruir o edifício da independência de classe, resgatar a teoria marxista e construir o partido revolucionário. A isso se propõe Luta Marxista, ombro a ombro com todos os trabalhadores conscientes e honestos. 


O VENDAVAL OPORTUNISTA
          Um vendaval oportunista atinge as organizações atuais do proletariado. O estalinismo transformou a sua maior vitória, a Revolução Russa, na maior derrota, restaurando o capitalismo, como já havia traído as revoluções do século XX. A maioria dos partidos estalinistas abandonou qualquer referência no marxismo, virando partidos burgueses (vide PPS). Outros mantêm apenas o rótulo marxista por cima da pele de lobo burguês, como o PC do B. O PCB, antigo “partidão”, virou um partidinho que tenta apresentar-se como revolucionário, mas não abandonou o antigo vício oportunista.  No Brasil, o PT transformou-se num agente do imperialismo executando as suas reformas liberais. Os “trotskistas” sucumbiram também aos encantos da burguesia.
                Essa crise de direção atual não aconteceu por acaso, mas pela derrota que representou a restauração do capitalismo no leste europeu e na China e a degeneração do próprio capitalismo. O desemprego estrutural coloca limites estreitos à luta econômica e os sindicatos transformam-se em instituições do Estado. A classe operária industrial diminuiu em muitos países. Tanto a degeneração capitalista como as derrotas não aplastaram o proletariado. Este diminuiu em alguns países, mas aumentou nos novos parques industriais (China, Índia, Vietnã, etc.) e surgiram, ao mesmo tempo, novas categorias assalariadas (Cals Centers, etc.). Apesar das derrotas, esse novo proletariado começa a levantar a cabeça. O seu exemplo levantará novamente o proletariado mundial, cujas conquistas históricas estão sendo extintas. O oportunismo reflete o peso dessas derrotas e a descrença nas lutas. Não vemos razões para pessimismo. O proletariado tem protagonizado inúmeras lutas, mostra que está vivo. As condições adversas não durarão para sempre. O seu despertar é inevitável.  
           
O oportunismo “trotskista”
            O vendaval oportunista entre os pseudotrotskistas se transformou em epidemia após a restauração do capitalismo nos estados ditos “socialistas”. Michel Pablo já havia levado a maioria da IV Internacional à capitulação ao estalinismo, em 1952. O seu discípulo, Ernest Mandel, continuou a sua obra liquidacionista comando o Secretariado Unificado. Hoje, a sua corrente no Brasil, a Democracia Socialista (DS), virou um braço burguês do PT, abandonando qualquer relação com o marxismo.
                O pior inimigo é o disfarçado, os que ainda se dizem trotskistas: os discípulos de Pierre Lambert, Nahuel Moreno, Guilhermo Lora, Jorge Altamira e seus equivalentes europeus e norte-americanos. Pierre Lambert, que se opôs ao pablismo, acabou capitulando à Frente Popular de François Mitterrand, na década de 80. No nosso país, a sua corrente, O Trabalho, está adaptada ao PT. Lambert requentou de forma oportunista a palavra de ordem de Assembleia Constituinte e de Frente Única Anti-imperialista (FUA), e fez escola entre o “trotskismo” sul-americano. Guilhermo Lora, dirigente do POR boliviano, transformou essas palavras de ordem no carro chefe da sua política. Traiu todas as revoluções bolivianas (1952, 1970/71, 1985). Outras correntes também aderiram a essa moda: o Partido Obrero argentino (PO), o PTS argentino (LER no Brasil), entre outros menos cotados. A crise insurrecional argentina de 2001 foi canalizada para a democracia burguesa por essas correntes através da palavra de ordem de Assembleia Constituinte.
                Nahuel Moreno (LIT-PSTU) tem uma longa “ficha corrida” de desvios oportunistas. É autor de uma teoria revisionista: - criou uma versão da revolução por etapas, aparentada com o estalinismo: antes da revolução socialista existiria uma revolução democrática, que já seria objetivamente socialista. Esse objetivismo significa que a revolução democrática se transformaria espontaneamente, sem necessidade de insurreição, em socialista, como se a burguesia pudesse ceder o poder ao proletariado pacificamente. Em 1982, caracterizou a subida ao poder na Argentina do general Reinaldo Bignone (o mesmo que foi a pouco condenado à prisão perpétua por crimes de lesa-humanidade) como uma “revolução democrática triunfante”. Admite, inclusive, Frente Única com o imperialismo. Assim, o morenismo (LIT/PSTU, CST, LER, etc.) apoiou os bombardeios da OTAN na Líbia e a intervenção imperialista na Síria e na Ucrânia; - segundo essa teoria, a revolução democrática dispensaria a existência de um partido revolucionário; - Moreno também criou uma teoria oportunista de Frente Única: existiriam, segundo ele, dois tipos de frentes, unidade na ação e Frente Única propriamente dita. Esta última permitiria a unidade programática com a burocracia e a participação em Frentes Populares.
                  Para o marxismo, não existe essa separação. Frente Única é sinônimo de unidade na ação. Qualquer programa comum com os inimigos de classe é uma traição, como também o é a participação em frentes populares. O PSTU participa de frentes populares de esquerda com o PSOL e apoiou a Frente Popular do PT. A CSP-Conlutas, dirigida pelo PSTU, tem uma política de unidade permanente com a CUT. Moreno também criou uma tática oportunista chamada de exigências e denúncias, que serve para pressionar partidos e governos burgueses ou burocráticos a fazerem aquilo que não é da sua natureza, inclusive, tomar o poder em nome dos trabalhadores.
                Diversas correntes do PSOL (CST, MES) têm a mesma origem morenista e padecem do mesmo mal. As demais correntes do PSOL ainda estão mais à direita. O seu senador, Randolfo Rodrigues, é um aliado de José Sarney. O PSOL é uma frente eleitoral a serviço da burguesia, por quem é financiado.


O Programa e o Método oportunista
            A grande família oportunista tem mais semelhanças entre si do que diferenças: o seu objetivo comum é a manutenção do capitalismo através da revolução democrática e do parlamentarismo. Fala de socialismo apenas nos dias de festa. Opõem-se à propaganda do socialismo com a alegação de que as massas não a entenderiam e chamam de ultraesquerdistas quem o faz. O marxismo não faz propaganda abstrata do socialismo, o seu método é concreto: utiliza os fatos da realidade para mostrar o caráter retrógrado do capitalismo. A nossa tarefa não é adaptar-nos ao nível de consciência das massas, mas elevá-lo. As lutas econômicas são apenas o ponto de partida para a propaganda socialista: conscientizar pela propaganda concreta, explicar pela teoria a realidade. Ao não cumprir com essa tarefa a esquerda abdica do seu papel. 
       Além do parlamentarismo burguês, o outro método preferido dos pseudotrotskistas é o economicismo. Não vão além das lutas por melhores salários e condições de trabalho. Lênin combateu o economicismo da sua época, que hoje se vinga dominando a política da esquerda. O economicismo alimenta a ilusão de que as lutas sindicais possam transformar-se espontaneamente na luta pelo socialismo. O método marxista é inverso: somente na luta pelo socialismo podemos arrancar à burguesia uma ou outra conquista, porque a mesma somente cede alguma coisa na iminência de perder tudo. Se não temos condições de empreender a luta direta pelo poder, a nossa política se desloca para as tarefas que visem criar essas condições, que não se resumem às lutas econômicas, mas implicam a denúncia do capitalismo, a organização de base e a autodefesa.
 O morenismo (PSTU, CST, MES, etc.) considera que a queda de uma ditadura seria uma revolução democrática, mesmo que dirigida pela burguesia ou até pelo imperialismo. Chamou de revolução democrática a queda de Mubarak (Egito), Ben Ali (Tunísia), Kadafi (Líbia), e a possível queda de Al Assad (Síria). A restauração capitalista na antiga URSS foi chamada de “revolução política”. Na crise argentina de 2001, a bandeira de Assembleia Constituinte foi o canal para a democracia burguesa. Na Bolívia, Guilhermo Lora desviou as revoluções proletárias com a palavra de ordem de Frente Única Anti-imperialista. É fácil identificar o oportunismo através das suas receitas políticas preferidas: revolução democrática, governo operário e camponês, Assembleia Constituinte, Frente Única Anti-imperialista.
                O oportunismo inclui alguns anarquistas. Existe um setor (no caso, a FAG) que é um apêndice do governo, sempre aliado à CUT e ao MST. Existem outros setores que despontaram no movimento da juventude e apoiaram os métodos vanguardistas de atentar contra os “símbolos da burguesia”, provocando o seu esvaziamento. Não somos pacifistas. Defendemos a autodefesa, mas como uma delegação das mobilizações. Criticamos as atitudes isoladas por fora do movimento real. 
                O lado inverso do oportunismo é o doutrinarismo.  Faz uma propaganda abstrata do socialismo. Faz também uma propaganda abstrata da greve geral. Com facilidade, também propõe: “abaixo este ou aquele governo”, mesmo que isso não corresponda à correlação de forças. À correta defesa das nações agredidas pelo imperialismo, sempre inclui a abstrata palavra de ordem: pela frente única militar com Kadafi, Assad, etc. O doutrinarismo facilmente se transforma em oportunismo.


 O QUE É UM PARTIDO REVOLUCIONÁRIO?
           Queremos definir as características gerais de um partido revolucionário (que não existe e deve ser construído), sem o qual o movimento dos trabalhadores estará sempre fadado ao fracasso. O seu objetivo deve ser a conquista do poder pelo proletariado à burguesia dominante, através de uma revolução proletária. Não existe solução para os problemas sociais dentro do capitalismo. A humanidade está diante da alternativa: socialismo ou barbárie.


Classe em si e classe para si           
A revolução socialista será feita pelo proletariado, a classe dos assalariados (numerosa, concentrada e com capacidade de organização) e não pelo partido. O proletariado não é homogêneo. Existem diversos graus de consciência. O domínio ideológico da burguesia o mantém fragmentado e alienado, através dos partidos burgueses, das igrejas, das universidades, dos burocratas, etc. No capitalismo, a ideologia dominante é aquela da classe dominante. O proletariado não chega espontaneamente à consciência da necessidade do socialismo. As suas lutas econômicas não levam à derrubada do capitalismo. O sindicalismo é uma luta mercantil pela valorização da força de trabalho. Os marxistas tomam as lutas imediatas apenas como ponto de partida da luta pelo socialismo. Partem da consciência elementar dos trabalhadores para elevá-la. Os ajudam a compreender, a partir da sua situação concreta, que o capitalismo é o responsável por todas as suas misérias, que precisa ser derrubado.
                O partido revolucionário faz a vinculação entre as lutas imediatas e a luta pelo socialismo. É parte do proletariado, a sua parte mais consciente, aquela que compreende a necessidade de por fim ao capitalismo. Representa as suas necessidades históricas.  A sua existência, posta a serviço do proletariado, o transforma de classe em si, em classe para si. Essa consciência não é algo evidente, demanda um estudo da história e da economia capitalista. Esse estudo foi feito por Marx, expresso na sua teoria da história, o Materialismo Histórico, uma ciência social.
                Para os economicistas, as lutas econômicas se bastariam a si mesmas, não fazem a sua vinculação com o socialismo. O economicismo é a política burguesa do proletariado. Esse desvio oportunista é muito antigo, mas hoje domina a política de todos os principais grupos ditos marxistas. Para eles, a luta por melhores salários se transformaria espontaneamente em luta pelo socialismo. O método marxista é inverso: na luta pelo socialismo podemos arrancar à burguesia uma ou outra conquista, que somente cede alguma reivindicação importante quando se vê na iminência de perder tudo. Os marxistas não fazem propaganda abstrata, partem da sua experiência diária para elevar o seu nível de consciência.  Os doutrinários pregam os princípios gerais do socialismo e praticam o sindicalismo vulgar.

O partido não representa automaticamente o proletariado. Precisa ganhar a sua confiança. É o oposto dos partidos autoritários que dão ordens aos trabalhadores (estalinistas, “trotskistas”, entre outros). O partido revolucionário não dá ordens, houve, consulta, analisa e faz as suas propostas democraticamente. Uma de suas tarefas é a conscientização por meio da propaganda e da agitação. Põe-se à frente de todas as reivindicações do povo, por mínimas que sejam.

Método de construção do Partido Revolucionário           
O partido se constrói pela seleção dos elementos mais conscientes e combativos. Não tem interesses diferentes do proletariado. É parte dele. Apenas se diferencia do conjunto da classe porque organiza à parte os trabalhadores mais conscientes. Representa os interesses gerais do proletariado. Luta contra as divisões e a concorrência entre trabalhadores. É inimigo do corporativismo. Procura unificar toda a classe proletária contra os capitalistas, porque estes também estão unificados. O partido é a garantia da independência de classe. A distinção orgânica entre partido e classe é fundamental para o partido manter a sua clareza de princípios contra as influências dos setores mais atrasados da sua própria classe e da burguesia. Em todos os outros sentidos, o partido não se distingue do proletariado, mantém uma vinculação estreita com ele.

                O partido somente pode manter o seu caráter democrático, enquanto estiver sob a influência de um movimento revolucionário. Sem essa condição todos os partidos revolucionários degeneram. A falência histórica dos partidos proletários foi consequência das suas derrotas. O partido deve ser necessariamente internacional, porque as duas classes fundamentais, antagônicas entre si, burguesias e proletariado, também são internacionais. Os interesses principais do proletariado mundial são os mesmos. O capitalismo de livre concorrência não existe mais. O mundo é dominado hoje pelos monopólios, o que se chama imperialismo e que é o inimigo principal dos povos.

Princípios de organização           
O partido deve ser uma organização de combate, unificada e centralizada, não um clube de discussão. As discussões e a teoria são fundamentais, mas entendidas como instrumentos de combate ao capitalismo. O partido unifica a teoria com a prática. Rege-se pelo princípio do centralismo democrático: inteira liberdade de discussão e absoluta unidade na ação. A burguesia age contra o proletariado como um bloco coeso. Somente pode ser vencida pela correspondente unidade dos trabalhadores. É por isso que, na luta de classes, o partido deve atuar unido e procurar a unidade também da própria classe. É impossível vencer de outra maneira. As divergências internas devem ser amplamente debatidas antes da ação. Esgotada a discussão, decide-se por maioria a política a adotar, que é obrigatória para todos. É o mesmo princípio usado numa greve de categoria. As decisões da assembleia geral são válidas para todos, mesmo para quem discorda. Não se admite fura-greves.
O centralismo democrático deve ser uma síntese, uma fusão da centralização e da democracia. Uma centralização formal representa o poder de uma burocracia. Somente uma política correta, pode viabilizar o centralismo democrático. Uma política incorreta é fonte permanente de burocratização. A disciplina revolucionária em nada se assemelha à obediência cega, a falta de iniciativa individual ou ausência de espírito crítico. A primeira virtude de um militante revolucionário é criticar os seus dirigentes, quando necessário. A crítica e a autocrítica são indispensáveis. 
A vontade coletiva se expressa através dos organismos do partido: por dentro dos organismos tudo, por fora deles, nada. Os organismos devem ser grupos de trabalho, equipes de intervenção nas mais variadas frentes. Cada militante deve estar vinculado a uma equipe, que deve corresponder à especialização do seu trabalho. Existem militantes mais vocacionados a uma ou outra atividade. O partido deverá adequar o militante à melhor função a que se adapte, dentro das suas possibilidades. O organismo máximo do partido é o congresso, que é o representante maior da vontade coletiva. A democracia direta é impossível nos partidos amplos. O congresso deve ser o mais democrático e representativo possível. Nos partidos burocráticos, os congressos expressam a vontade da burocracia dirigente, que controla a indicação dos delegados, dos seus testas de ferro. Os organismos são correias de transmissão dos interesses da camarilha dirigente. Particularmente, o morenismo (LIT-PSTU, UIT-CST, etc.) criou a figura do “dirigente político”, que se coloca acima dos organismos e é uma espécie de tutor de cada militante.
O partido precisa também de uma direção para encaminhar as tarefas práticas e cumprir a política decidida pelo congresso, sem o que seria impossível a sua unidade. Estabelece uma via de duas mãos entre a direção e os organismos de base. As informações são socializadas, com exceção das questões de segurança. Todo militante ou organismo de base pode dirigir-se diretamente à direção, dentro da realidade do partido. Os organismos dirigentes devem contemplar no seu seio todas as diferentes opiniões internas importantes, através dos seus melhores representantes. Os princípios da camaradagem devem presidir as relações pessoais e políticas de todos os militantes, sem prejuízo do debate franco das suas divergências. São incompatíveis as ofensas e disputas pessoais, o carreirismo, as mentiras e as intrigas. A honestidade deve ser uma característica de todo militante. O partido não pode conviver com qualquer forma de discriminação social: machismo, racismo, homofobia, xenofobia. A nova sociedade somente será possível com o surgimento de um novo homem, livre de todas as mesquinharias sociais. O partido é a escola de criação desse novo homem, ainda dentro da atual sociedade. 


POR QUE CONSTRUIR LUTA MARXISTA?
          Luta Marxista é um núcleo político que luta pela transformação da sociedade, pelo fim do capitalismo. Dizem que o socialismo faliu, mas um verdadeiro socialismo nunca existiu. Os países chamados “socialistas” constituíram-se inicialmente apenas no primeiro passo no sentido do socialismo. Essa experiência foi logo burocratizada e destruída. Não foi o socialismo que demonstrou a sua incompetência. Foi o capital internacional que corrompeu e pôs a seu serviço uma casta parasitária no interior desses estados, que se chamou estalinismo. Dessa forma, abortou o processo de construção do socialismo.  O capitalismo é que está falido e está levando a sociedade para a barbárie: miséria, desemprego, guerras de rapina. Faltam recursos para os serviços sociais – saúde, educação, saneamento, transporte – mas sobra dinheiro público para o capital. Este não tem qualquer responsabilidade social, o seu único objetivo é o lucro privado.  O capitalismo não cairá de maduro, precisará ser derrubado através de uma revolução proletária.
Os políticos burgueses iludem os trabalhadores com a possibilidade de mudanças através de eleições. Essa alternativa não existe. As eleições são um jogo de cartas marcadas, dominadas pelo poder do dinheiro, onde em geral os partidos eleitorais servem aos interesses do capital. Passadas as eleições coligam-se para governar conjuntamente contra o povo. Em certas circunstâncias, um partido revolucionário poderia participar de uma eleição burguesa apenas para desmascará-la, jamais para iludir os trabalhadores nesse processo. Os pequenos grupos que participam de eleições são oportunistas.  Uma revolução deve instaurar um governo proletário baseado nos Conselhos Populares, eleitos pelos trabalhadores nos locais de trabalho. O socialismo não é uma utopia, fruto de um desejo humanista. É uma necessidade que se apoia nas condições materiais da sociedade: a socialização da produção em grandes fábricas e uma enorme classe de assalariados, que nada têm a perder no capitalismo “a não ser as suas amarras”.
            Para a revolução socialista, é necessária uma ampla organização dos trabalhadores: sindicatos, associações comunitárias, camponesas e por local de trabalho (comitês de fábrica e de empresa). Mas essas organizações são insuficientes. Ao lado delas, é preciso uma organização especial, um partido revolucionário, que tenha plena consciência das tarefas para a tomada do poder e para a construção da nova sociedade, ou seja, que domine a teoria revolucionária. Aqueles que subestimam a importância do elemento consciente prestam um serviço à burguesia. Uma das principais tarefas do nosso grupo é resgatar o marxismo das mãos dos impostores “marxistas” atuais. É preciso identificar, combater e destruir os partidos traidores, ou seja, todos aqueles que fazem o jogo da burguesia (estalinistas, “trotskistas”, etc.). 
            Vivemos uma profunda crise de direção (melhor explicada no texto anterior “O vendaval oportunista”) consequência das profundas derrotas do proletariado, principalmente, da restauração do capitalismo nos ex-Estados “socialistas” burocratizados, a URSS e a China. A restauração do capitalismo nesses estados trouxe de volta todos os antigos males do capitalismo: miséria, desemprego, jornadas de trabalho exaustivas, baixos salários, prostituição.  Infelizmente, as principais correntes políticas “marxistas” se passaram para o lado da burguesia. No passado, existiram muitos partidos proletários revolucionários, o que demonstra que é possível construí-los novamente. As derrotas do proletariado no último século mostra, pela negativa, que não existe possibilidade de vitória sem um partido revolucionário. A sua construção não é uma tarefa apenas para Luta Marxista, mas para todos os trabalhadores honestos e conscientes. Aqueles que surgirão das lutas atuais e futuras, todos os que acreditam na potencialidade do proletariado. Caso possamos contribuir para a formação de uma pequena parcela dessa vanguarda, teremos cumprido a nossa missão. É preciso reconstruir o edifício da consciência socialista pedra por pedra. A luta dos trabalhadores não pára. A história é longa e nos dará todas as oportunidades. Construir Luta Marxista significa colocar um tijolo no edifício do futuro partido revolucionário, contribuir para o combate a todos os traidores do socialismo e para a construção de um movimento revolucionário do proletariado.