Existem apenas duas maneiras de explicar a história da sociedade,
a idealista e a materialista. Cada uma se define pela resposta que se dê à
pergunta: o que seria historicamente determinante, o pensamento ou o ser
social? O idealismo afirma que é o pensamento, a ideia, que determina e produz o
ser social, ou seja, a experiência da humanidade. O materialismo afirma ao
contrário que seria a realidade material, a prática social, o fator primordial
que determina o nosso pensamento, as ideias. Todos sabem que esses dois elementos
são fundamentais para a história humana e influenciam-se mutuamente. No entanto, é fundamental determinar qual
deles é o elemento determinante, quem determina o outro historicamente, porque
disso deriva duas interpretações opostas da realidade social.
O Idealismo
O idealismo filosófico é uma teoria que tem como fundamento a
explicação do mundo pelas ideias, ou pelo espírito. Para o idealismo, o “mundo
das ideias”, independente da vida material ou da experiência humana, criaria a
realidade social. As ideias seriam criadas por si mesmas. A história da
humanidade se explicaria pela evolução das idéias, dos costumes ou pela vontade
de Deus. Segundo esta argumentação a realidade é consequência do nosso
pensamento, ideias e conceitos que fazemos dela, que se manifestam em nosso
espírito e não possuem qualquer sentido fora dele.
Nos tempos modernos, seus melhores representantes foram os
pensadores dos séculos 18 e 19: Voltaire, Saint-Simon, Montesquieu, Hegel,
Schelling. Hegel considerava que a
história está sujeita a leis, mas essas leis seriam a expressão da Ideia Absoluta.
Para a escola idealista, a razão seria a expressão da natureza humana. Fora
dela o que existe é o absurdo.
As
ideias são elementos importantes da realidade. O idealismo encerra uma parte da
verdade. O seu erro não consiste em sublinhar a importância da ideia ou da
razão, mas considerá-la como causa primeira ou mais profunda da História. Não
seria a ideia governada, por sua vez, por outras causas? Na procura dessas causas,
muitos historiadores e filósofos avançaram no sentido do materialismo,
reconhecendo o papel da experiência, da economia e da luta de classes, mas sem
abandonar o idealismo. A revolução francesa, manifestação da luta de classes,
provoca uma revolução no mundo das ideias. John Locke afirma que as ideias têm
origem na experiência. Saint-Simon procura sentar as bases de uma história
científica. Elabora uma teoria da luta de classes: a luta do terceiro estado (a
burguesia) contra a aristocracia (o feudalismo), a secular entre os industriais
e os nobres. No entanto, como ideólogo burguês, via nos interesses da
burguesia, então progressivos, a culminância do desenvolvimento social: a
economia deveria estar de acordo com a natureza humana, principalmente, a
economia burguesa. Para a historiografia anterior, as massas ou
as classes não existiam. A história era obra dos grandes homens. Para o materialismo
histórico, os sistemas sociais – capitalismo, feudalismo, escravagismo – não
dependem da natureza humana, mas do nível de desenvolvimento econômico da sociedade.
O materialismo
histórico
O materialismo afirma que o ser social, a
prática social ou realidade material, cria os sistemas de pensamentos existentes,
isto é, o ser social determina o nosso pensamento, ideias e as nossas vidas.
Explica a consciência do homem pela sua existência, e não esta por sua consciência,
como quer o idealismo. Na sua luta pela existência, o homem domina a natureza,
e a modifica e modifica-se a si mesmo. O trabalho cria o próprio homem como ser
social. Ao sair da comunidade primitiva, organiza-se em torno da produção material.
O trabalho passa a ser o elemento mais determinante da experiência social. Mas
não nega a importância da ideia e não busca todas as explicações na economia.
Esta é apenas a base material sobre a qual se ergue o mundo das ideias. Mas as
ideias, uma vez criadas, assumem um papel decisivo na história da sociedade,
inclusive, sobre a base econômica.
Os homens fazem a História, mas não têm consciência
das conseqüências gerais dos seus atos individuais: “Cada
uma dessas gerações, mais ainda, quase que cada indivíduo integrante de cada
geração perseguiu seus próprios fins: cada qual lutou por sua existência ou
pela existência dos que lhe eram próximos e, no entanto, houve um movimento de
conjunto, houve aquilo que chamamos de história do gênero humano” (A concepção materialista da História - Plekhanov). A história não
é casual. Por trás desses objetivos particulares, existem forças objetivas,
das quais os homens não têm consciência, que explicam porque os fatos
históricos aconteceram deste e não de outro modo. Não são os objetivos isolados
que explicam os fenômenos históricos, mas as leis históricas objetivas. Somente
essas leis podem explicar os grandes acontecimentos e ações de massas: as
guerras, as revoluções, a queda dos impérios, etc. A consciência das massas e dos seus líderes não são a causa primeira
das grandes transformações, mas as condições materiais da sua época.
Inicialmente, muitos
pensadores criticaram os males do capitalismo e o maldisseram. Sonhavam em
superá-lo, mas não sabiam explicar a natureza da exploração assalariada, nem
descobrir as suas leis ou a força social capaz de criar a nova sociedade. Somente
puderam elaborar propostas fantasiosas, que denominamos socialismo utópico. O
anarquismo, ainda em moda, é uma das versões de socialismo utópico, pois não
leva em consideração a realidade social.
O Materialismo
Histórico, obra de Karl Marx, define as leis do desenvolvimento social:
“Minhas pesquisas
conduziram a este resultado: que as relações jurídicas, bem como as formas de
Estado, não podem ser compreendidas por si próprias, nem pela pretensa evolução
geral do espírito humano, mas, ao contrário, deitam suas raízes nas condições
materiais de existência, cujo conjunto Hegel, a exemplo dos ingleses e franceses
do século 18, compreende sob o nome de “sociedade civil”. É na economia
política que devemos buscar a anatomia da sociedade civil. Assim, é o estado
econômico de um povo que determina, por sua vez, seu estado político, religioso
e assim sucessivamente. Mas devemos perguntar, o estado econômico não tem
causa, por sua vez? Sem dúvida, como todas as coisas do mundo têm sua causa, e
esta causa, causa fundamental de toda evolução social e, portanto, de todo movimento
histórico, é a luta que o homem trava com a natureza para assegurar a sua
própria existência”.
“Na
produção social da sua existência, os homens entram em relações determinadas,
necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem
a um grau de desenvolvimento das suas forças
produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade,
a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura
jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de
consciência social. O modo de produção
da vida material condiciona o processo da vida social, política e intelectual
em geral. Não é a consciência dos homens
que determina o seu ser; é inversamente o seu ser social que determina a sua
consciência. Num certo estágio de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com
as relações de produção existentes,
ou, o que é apenas a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade no
seio das quais até então se tinham movido. De formas de desenvolvimento das
forças produtivas que eram, essas relações se transformam em entraves. Abre-se
então uma época de revolução social. A mudança da base econômica altera, mais
ou menos rapidamente, toda a enorme superestrutura. Quando se consideram tais
alterações, é preciso sempre distinguir entre
a alteração material, as condições da produção econômica e as formas
jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as
formas ideológicas sob as quais os homens tomam consciência desse conflito e o
levam ao seu termo. Do mesmo modo que não se julga um indivíduo pela idéia que
ele faz de si próprio, não se deve julgar tal época de subversão por sua
consciência de si mesma, ao contrário, é preciso explicar essa consciência
pelas contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as forças
produtivas sociais e as relações de produção”.
“As
maneiras de satisfação das necessidades do ser social e, em considerável medida,
essas próprias necessidades são determinadas pelas propriedades daqueles instrumentos
com os quais o ser social submete a Natureza, em maior ou menor grau; em outras
palavras: são determinadas pelo estado das forças produtivas. Toda modificação
importante no estado destas forças reflete-se, também, nas relações sociais
entre os homens, e, portanto, também, sobre suas relações econômicas. Para os
idealistas de todos os tipos e variedades, as relações econômicas são uma
função da natureza humana os materialistas dialéticos consideram estas
relações como uma função das forças produtivas da sociedade”.
Os homens criam espontaneamente relações de produção ou de propriedade, formando aquilo que se chama de relações sociais, ou modos de produção, caracterizados historicamente por diversas formas jurídicas: propriedade privada capitalista, propriedade feudal da terra, propriedade de escravos. Cada uma dessas formas de propriedade define um tipo de sociedade peculiar: a sociedade antiga, a sociedade feudal e o capitalismo moderno, cada qual representando etapas específicas do desenvolvimento social. Dessas relações de propriedade derivam a divisão da sociedade em classes sociais antagônicas, conforme descreve o Manifesto Comunista – escrito por Marx e Engels em 1848: “A história de qualquer sociedade até os nossos dias (excetuando a história da comunidade primitiva) foi apenas a história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos numa oposição constante desenvolveram uma guerra ininterrupta, ora aberta, ora dissimulada, uma guerra que acabava sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das classes em luta”.
As forças produtivas são a capacidade de produção da sociedade, baseada no grau de desenvolvimento da técnica e da ciência e, por conseguinte, no grau de domínio do homem sobre as forças da natureza. Resume-se na técnica e no trabalho humano. Toda produção – escreveu Marx – é apropriação da natureza pelo indivíduo. A sociedade entra num intercâmbio permanente com a natureza, utilizando as matérias primas fornecida por ela. Cada sociedade determinada desenvolve, de acordo com sua evolução científica e tecnológica, uma forma organizativa do trabalho. Por exemplo, a cooperação do trabalho desenvolvida pelo capitalismo - concentração de vários operários numa mesma fábrica – que constituiu um avanço em relação às corporações feudais. O grau de evolução científica e da técnica se mede, também, pelos meios de produção utilizados em determinada época, entendidos como as ferramentas e os “meios” para produzir: machado de pedra, bronze, ferro, terra (agricultura), arado, moinho, máquina a vapor, à combustão, à eletricidade, maquinário de tração animal, manual, mecânica, informatizada, etc.
O conjunto das forças produtivas e das relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade ou infraestrutura econômica. Sobre essa infraestrutura, e dependente dela, surge à superestrutura ideológica, o mundo das idéias: o direito, a filosofia, as religiões, a moral, o Estado, as ideologias em geral. É por isso que a cada tipo de sociedade, caracterizada por determinadas relações de produção – escravismo, feudalismo, capitalismo – correspondem formas diferentes de pensamentos de moral, de hábitos, de leis, de filosofia, de Estado. As formas de produção e de propriedade determinam o pensamento de uma época.
Os homens criam espontaneamente relações de produção ou de propriedade, formando aquilo que se chama de relações sociais, ou modos de produção, caracterizados historicamente por diversas formas jurídicas: propriedade privada capitalista, propriedade feudal da terra, propriedade de escravos. Cada uma dessas formas de propriedade define um tipo de sociedade peculiar: a sociedade antiga, a sociedade feudal e o capitalismo moderno, cada qual representando etapas específicas do desenvolvimento social. Dessas relações de propriedade derivam a divisão da sociedade em classes sociais antagônicas, conforme descreve o Manifesto Comunista – escrito por Marx e Engels em 1848: “A história de qualquer sociedade até os nossos dias (excetuando a história da comunidade primitiva) foi apenas a história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos numa oposição constante desenvolveram uma guerra ininterrupta, ora aberta, ora dissimulada, uma guerra que acabava sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das classes em luta”.
As forças produtivas são a capacidade de produção da sociedade, baseada no grau de desenvolvimento da técnica e da ciência e, por conseguinte, no grau de domínio do homem sobre as forças da natureza. Resume-se na técnica e no trabalho humano. Toda produção – escreveu Marx – é apropriação da natureza pelo indivíduo. A sociedade entra num intercâmbio permanente com a natureza, utilizando as matérias primas fornecida por ela. Cada sociedade determinada desenvolve, de acordo com sua evolução científica e tecnológica, uma forma organizativa do trabalho. Por exemplo, a cooperação do trabalho desenvolvida pelo capitalismo - concentração de vários operários numa mesma fábrica – que constituiu um avanço em relação às corporações feudais. O grau de evolução científica e da técnica se mede, também, pelos meios de produção utilizados em determinada época, entendidos como as ferramentas e os “meios” para produzir: machado de pedra, bronze, ferro, terra (agricultura), arado, moinho, máquina a vapor, à combustão, à eletricidade, maquinário de tração animal, manual, mecânica, informatizada, etc.
O conjunto das forças produtivas e das relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade ou infraestrutura econômica. Sobre essa infraestrutura, e dependente dela, surge à superestrutura ideológica, o mundo das idéias: o direito, a filosofia, as religiões, a moral, o Estado, as ideologias em geral. É por isso que a cada tipo de sociedade, caracterizada por determinadas relações de produção – escravismo, feudalismo, capitalismo – correspondem formas diferentes de pensamentos de moral, de hábitos, de leis, de filosofia, de Estado. As formas de produção e de propriedade determinam o pensamento de uma época.
Selvagismo
e comunidade primitiva
A
humanidade passou por longos períodos antes de chegar às sociedades dividas em
classes sociais. Passou pelo selvagismo, após evoluir de alguma espécie de
hominídeos primitivos, parentes do Homem de Neanderthal, Homo Erectus, etc.
Para chegar à sua forma atual, a nossa espécie sofreu transformações biológicas,
passando a andar de forma ereta e liberando a mão para o trabalho. A partir daí, o homem pode evoluir rapidamente, como resultado do seu próprio trabalho,
desenvolvendo instrumentos de trabalho para a caça e a pesca. Nessa fase, o
homem extraía diretamente o seu sustento da natureza. Não havia modo de
produção, propriedade ou Estado.
A descoberta da agricultura, a
domesticação de animais, a produção de cerâmica e de metais representou a
transição para as sociedades modernas. Essa sociedade de transição foi a
Comunidade Primitiva. A terra e os instrumentos de trabalho eram propriedade
coletiva da gens, forma de família consanguíneo Havia já uma divisão
espontânea de trabalho que dava à mulher um papel destacado, vigorando o
direito materno. Era ainda uma sociedade sem classes e onde o Estado não
existia.
O desenvolvimento da criação de gado, a elaboração dos metais, a tecelagem
e a agricultura mudou radicalmente a situação. O surgimento de um excedente de produção conferiu ao homem
uma maior importância social e destruiu a família de direito materno,
substituindo-a pela de direito paterno. Estabeleceu a divisão do trabalho entre
homem e mulher e o antagonismo entre os sexos. A monogamia masculina nasceu da
concentração de riqueza nas mãos do homem e da necessidade de transferi-la, por
herança, aos filhos. O direito paterno facilitava a acumulação das riquezas na
família restrita e tornava esta um poder contrário à gens, que é
progressivamente destruída. A acumulação de riquezas dava-se também através do
roubo e da violência, principalmente, pelas guerras. Para isso, tornou-se
necessária uma nova instituição social, a escravatura, o que implicava o
nascimento também do Estado, organismo necessário para impor os interesses dos
escravagistas sobre os escravos.
Escravismo
e servidão coletiva
O
trabalho escravo vigorou na Grécia antiga (Atenas e Esparta) e no Império
Romano. Existiram distintas classes: aristocratas, senhores (ou patrícios) e
um corpo dos funcionários (escribas, juristas magistrados, sacerdotes, etc.),
plebeus e escravos, base econômica da sociedade. O escravo é ele mesmo uma mercadoria.
A
servidão coletiva (ou “modo de produção asiático”) é a transformação de uma
massa de trabalhadores em servidores de um rei. Não eram escravos, embora sua
situação social fosse semelhante Este tipo de “modo de produção”, onde o rei
revestia-se de autoridade divina, vigorou no antigo Egito, Mesopotâmia,
Babilônia, Pérsia, China e Índia.
O
Império Romano foi o maior exemplo de sociedade escravista (a maior
“contribuição” do escravismo está na filosofia e na arte grega). Ao longo dos séculos, as forças produtivas
estancaram-se com a conquista de quase todo o mundo antigo. O cristianismo em
apenas 250 anos erigiu-se em religião de Estado, adequando-se às circunstâncias
da época, como também se adequou ao feudalismo e ao capitalismo. Em todas as
partes, onde não houve resistência do idioma grego, as línguas nacionais cederam lugar ao latim; desapareceram as diferenças de “nações”; já não havia
gauleses, iberos, lígures, nórdicos: todos se tinham convertido em romanos. A
administração e o direito romanos tinham dissolvido em toda parte as antigas
uniões gentílicas. O Estado romano era o único vínculo de coesão do império e ao
mesmo tempo seu pior opressor. As províncias tinham arruinado Roma. A própria
Roma tinha se transformado em cidade de província, já não era o centro do
império, nem sede dos imperadores e governadores, que residiam em
Constantinopla, Treves e Milão. O Estado romano se tinha tornado uma máquina de
arrecadação de impostos, prestações pessoais ao Estado e gravames de todas as
espécies.
Não
eram melhores as condições nos tempos de república: empobrecimento geral,
declínio do comércio, decadência dos ofícios manuais e das artes, diminuição da
população, decadência das cidades retrocesso da agricultura. Os latifúndios
foram divididos em lotes. Os colonos ficavam sujeitos à terra e podiam ser
vendidos juntamente com ela; não eram escravos, mas tampouco livres, precursores
dos servos medievais. Todo trabalho produtivo era considerado indigno,
próprio de escravos. Havia um crescente número de escravos supérfluos alforriados
e um aumento de homens livres empobrecidos. A escravidão tornou-se economicamente
inviável e o trabalho dos homens livres estava moralmente proscrito. Só uma
revolução, que não houve, poderia solucionar o problema. A sociedade foi à
ruína. A única instituição que se manteve foi a Igreja Católica. Da fusão do
mundo romano, bárbaro, germânico e cristão nasceu a sociedade feudal.
Feudalismo
A Europa dividiu-se em pequenos reinados e
ducados, e estes em feudos, sob o poder dos senhores feudais. Com as invasões
bárbaras e os saques das cidades, houve uma fuga para o campo. A vassalagem
obrigou os despossuídos a pedir proteção a um senhor feudal em troca de um
pedacinho de terra, tornando-se servos (donos apenas dos seus instrumentos de
trabalho). O servo pertencia à terra e trabalhava parte do seu tempo para o
senhor. Os reinos europeus não contavam com um governo centralizado, embora os
reis continuassem existindo simbolicamente. A grande “senhora feudal” era a
Igreja Católica, possuidora de grandes extensões de terra, administradas pelo
alto clero. O clero, ao lado dos senhores feudais, formava a nobreza feudal.
Apesar
do predomínio do campo, algumas cidades mantiveram-se politicamente
independentes e pólos de produção de mercadorias. Valendo-se dessa relativa
independência, desenvolveu-se a classe burguesa e com ela, posteriormente, o
capitalismo industrial (no oriente, a cidade foi uma criação artificial do Estado,
um “acampamento principesco”). O crescimento da burguesia expressou-se na
heresia protestante. Todo movimento social era obrigado a revestir-se de
um disfarce religioso. Surge também nas cidades uma classe de plebeus sem
posses: jornaleiros, servidores diversos, precursores do proletariado moderno.
A
luta da burguesia contra a nobreza tomou proporções “nacionais”. A Reforma, liderada por Martinho Lutero, na
Alemanha, foi a primeira grande revolta da burguesia, derrotada por esta não
estar ainda suficientemente desenvolvida. A bandeira da “reforma” da Igreja
espalhou-se para outras regiões. Na Inglaterra, surgiu o calvinismo. A
revolução “gloriosa” de 1689 se encerrou com um acordo de uma parte da nobreza
com os burgueses Na França, a minoria calvinista foi reprimida em 1685. A
violência de Luís XIV só serviu para a burguesia francesa fazer sua revolução
de forma irreligiosa. Muitos pensadores, filósofos, cientistas e pessoas comuns
morreram nas fogueiras da Santa Inquisição. A Igreja tratava de liquidar todos
os seus oponentes. Contudo, a impossibilidade de exterminar a “heresia
protestante” correspondia à invencibilidade da burguesia em ascensão.
A
sociedade feudal se caracteriza pela pequena produção individual para o consumo.
Apenas o excedente é vendido. A produção artesanal foi substituída pela
manufatura e esta pela grande indústria, primeiramente na Inglaterra, que
produz exclusivamente para o mercado. Começa a hegemonia capitalista. As forças produtivas burguesas rebelaram-se
contra o regime de produção feudal, os privilégios corporativos. As barreiras
feudais foram rompidas na Inglaterra e na França . A
Revolução Francesa de 1789 foi a primeira abertamente política. Destruiu a
aristocracia feudal e levou ao triunfo completo da burguesia, significou o
triunfo da massa popular sobre as classes sociais ociosas e privilegiadas a nobreza
e o clero. Mas o triunfo do “terceiro estado” (do qual faziam parte indistintamente
a burguesia e o proletariado) não era mais que o triunfo de uma parte muito
pequena dele, a burguesia.
O Capitalismo
As classes antigas, senhores feudais e
servos, foram substituídas por novas classes e novas condições de opressão.
Surgem duas classes opostas: a burguesia e o proletariado. A burguesia é a
classe dos capitalistas, proprietários dos meios de produção social (fábricas,
latifúndios, bancos, etc.), que empregam trabalho assalariado. O proletariado é
a classe dos trabalhadores assalariados que, não tendo meios de produção
próprios, são obrigados a vender sua força de trabalho. O aparecimento do capital
implica condições históricas prévias: 1) a acumulação de certa soma de moeda nas
mãos da burguesia num estágio já relativamente elevado da produção mercantil;
2) a existência de trabalhadores “livres” de qualquer restrição à venda da sua
força de trabalho, e livres também porque, despojados dos meios de produção, só
podem subsistir vendendo a sua força de trabalho – dez, doze, quinze horas por
dia - em troca de um salário aos proprietários das matérias primas, dos
instrumentos de trabalho, isto é, aos capitalistas. O operário não pertence a
nenhum proprietário nem está preso à terra. Pode deixar o capitalista para quem
trabalha e este pode despedi-lo quando achar necessário, mas não pode
desligar-se de toda a classe capitalista sem renunciar à existência. Ele não
pertence a este ou aquele patrão, mas à classe capitalista e compete-lhe
encontrar um comprador da sua força de trabalho.
De
todas as classes que se opõem à burguesia, só o proletariado é uma classe
objetivamente revolucionária. As outras classes (pequena-burguesia e
lumpesinato) perecem com a grande indústria: o proletariado, pelo contrário, é
o seu produto mais autêntico. As classes médias, pequenos fabricantes retalhistas,
artesãos, camponeses, todos combatem a burguesia porque ela é uma ameaça para a
sua existência como classes médias. Essas classes são em geral conservadoras.
Quando são revolucionárias, é devido à sua iminente passagem para o proletariado.
A
grande indústria levou à miséria as massas trabalhadoras. O desenvolvimento
tecnológico não se traduz em bem estar social, mas em desemprego. A indústria,
ao atingir determinada fase de desenvolvimento, se chocou com o regime de
produção feudal. Hoje se choca com a propriedade privada Coibida pelos
limites estreitos do modo de produção capitalista, a grande indústria proletariza
as grandes massas e cria uma crescente massa de produtos que não encontram
saídas. Superprodução e miséria das massas – cada uma delas sendo causa da
outra – eis a contradição absurda da grande indústria e que reclama imperiosamente
a libertação das forças produtivas mediante uma mudança do modo de produção.
Sob o capitalismo, o desenvolvimento das forças produtivas chega a seu limite,
expresso pelo excesso da oferta sobre a procura e pelas crises econômicas, que
ocorrem, em média a cada dez anos. Entra-se num círculo vicioso:
superabundância de meios de produção e de produtos de um lado e, de outro, operários
sem trabalho. Essa contradição converte-se em contrassenso: o modo de produção
revolta-se contra a forma de propriedade. A burguesia torna-se supérflua como,
então, a nobreza feudal.
A revolução socialista
As numerosas revoluções dos séculos 18 e 19 demonstraram que a luta de
classes é a força motriz do desenvolvimento social. Nem uma só liberdade política
foi conquistada à classe dos senhores feudal sem que esta oferecesse uma resistência
encarniçada. O mesmo acontece no capitalismo. O proletariado conquistou os seus
direitos sociais – que estão sendo retirados – com muita luta. A burguesia não
cede espontaneamente nenhum dos seus privilégios. O capitalismo se encontra em decadência Suas contradições são insolúveis. Os trabalhadores de todo o mundo
somente podem esperar mais exploração, miséria e guerras. O prolongamento da sua existência significa
uma agonia econômica e social sem precedentes: a barbárie.
Os trabalhadores sempre serão enganados
enquanto não tiverem aprendido que, por detrás das declarações e das promessas,
devem discernir os interesses de determinada classe e que as instituições servem às classes dominantes. E, para quebrar a resistência dessas classes,
devem organizar- se para a luta. Não basta a vontade de abolir o capitalismo.
São necessárias condições materiais: grande desenvolvimento das forças
produtivas e a socialização do trabalho, através da grande indústria e dos
cartéis capitalistas. O agente dessa transformação é o proletariado moderno,
criado e agrupado por essa indústria. Essas condições objetivas estão mais do
que maduras. Faltam apenas as condições subjetivas: a consciência, a
organização e um partido revolucionário. A luta torna-se inevitavelmente uma luta
política pela instauração da ditadura do proletariado, que é a forma de impedir
a burguesia de retomar o poder perdido. É uma ditadura dos trabalhadores sobre
a burguesia e uma democracia para os trabalhadores baseada nos Conselhos
Populares.
O socialismo também cria uma nova forma de
família, sem patriarcalismo, suprime a opressão da mulher, dos negros, dos
homossexuais, elimina a opressão do homem e, ao mesmo tempo, a opressão
imperialista sobre as nações. O capitalismo, ao criar o mercado mundial,
destrói incessantemente às barreiras econômicas nacionais, mas mantém a
dominação das nações imperialistas sobre as colônias e semicolônias. As classes
sociais – burguesia e proletariado - são internacionais. É por isso que os operários “não têm pátria”.
A luta internacional é uma das primeiras condições para a sua emancipação.
O que
é e para que serve o Estado?
As
sociedades primitivas não conheciam Estado, que surgiu a certo grau de desenvolvimento
econômico. O Estado delimita um território, coisa que as gens não faziam. Não é
criado propositalmente, desenvolve-se sem ser notado. Os ideólogos burgueses
dizem que o Estado é o conjunto das instituições públicas para administrar um
país em prol de toda a sociedade. Seria neutro, nem dos ricos, nem dos pobres,
um organismo de conciliação de classes.
Essa definição dissimula a real função do Estado. Para o marxismo, o Estado não é “a realização
da Ideia Moral”, “a imagem e a realização da razão”, como pretendia Hegel.
Também não é neutro. É um produto da sociedade numa certa fase do seu desenvolvimento.
É a confissão de que essa sociedade se embaraçou numa insolúvel contradição
interna, se dividiu em antagonismos de classe irreconciliáveis. Para que esses
conflitos não devorassem a sociedade, institui-se uma força colocada aparentemente
acima dela, com o fim de atenuá-los. Essa força, que sai da sociedade, ficando,
porém, por cima dela e dela se afastando cada vez mais, é o Estado.
O Estado é um órgão de dominação de
classe, de submissão de uma classe por outra, que legaliza e consolida essa
submissão, amortecendo a colisão entre as classes. Na sociedade atual, é uma
organização para a defesa do capitalismo, qualquer que seja a sua forma. É o
Estado dos capitalistas, violência organizada contra o proletariado. O
Estado necessita de um poder público, não somente homens armados, como também
prisões e instituições coercitivas de toda a espécie, um corpo de funcionários.
O exército e a polícia são os seus principais instrumentos. O Estado antigo (escravista) e o Estado
feudal eram órgãos de exploração dos escravos e dos servos. O Estado moderno é
um instrumento de exploração do trabalhado assalariado pelo capital. Há, no
entanto, períodos excepcionais em que as classes em luta atingem tal equilíbrio
de forças, em que o poder adquire momentaneamente certa independência em relação
às classes: a monarquia absoluta dos Séculos 17 e 18, o bonapartismo do
primeiro e do segundo Império na França, Bismarck na Alemanha e as ditaduras
modernas.
O Estado burguês pode ter diversos regimes:
governo monárquico constitucional, ditadura militar e democrático-burguês presidencialista
ou parlamentarista. O Estado se define pelo tipo de propriedade que defende,
se defende a propriedade privada, é um Estado burguês. Também o Estado “democrático”
é uma democracia para os exploradores e uma ditadura para os explorados: “só um reacionário, um inimigo da
classe operária, um lacaio da burguesia, pode pintar agora os encantos da
democracia burguesa e tagarelar sobre a democracia pura, voltando-se para um
passado já caduco. A democracia burguesa foi progressista em relação à Idade
Média, e era preciso utilizá-la. Mas agora é insuficiente para a classe
operária. Agora é preciso olhar não para trás, mas para frente, para a substituição
da democracia burguesa pela democracia proletária. E se o trabalho preparatório
da revolução proletária, a educação e a formação do exército proletário foram
possíveis no quadro do Estado democrático-burguês, limitar o proletariado
nesse quadro, uma vez que se chegou às ‘batalhas decisivas’, é trair a causa
proletária, é ser um renegado” (Lênin).
A burguesia administra o Estado através dos
seus partidos. A “liberdade de voto” é uma farsa, somente serve para decidir
periodicamente qual o membro da classe dominante há de oprimir o povo. Não
é possível mudar a vida dos trabalhadores através do voto, mas somente através
da revolução socialista. O partido revolucionário é fundamental para organizar
a luta do proletariado. Os anarquistas,
ao subestimarem a necessidade do partido, prestam um serviço à burguesia. Os
partidos oportunistas se sentem muito confortáveis no capitalismo e vendem os
interesses dos explorados.
A
extinção do Estado e o Comunismo
Ao se apoderar do Estado, o proletariado
transformará os meios de produção em propriedade pública, dirigidos segundo um
plano previamente elaborado. O fim da propriedade privada desamarra a economia,
criando as condições para o aumento da produção e um regime de bem estar social
para todos. O fato de o Estado se tornar, finalmente, representante efetivo da
sociedade inteira – com a posse dos meios de produção – marca o começo da sua
extinção, vai se tornando supérfluo. Deixa de ser um Estado tradicional. Uma
vez que vá sendo superada a luta pela existência, em que vão sendo atenuados os
conflitos sociais, o Estado, como força repressora, vai deixando aos poucos de
ser necessário por não haver classe a oprimir. O governo das pessoas é substituído pela
administração das coisas e pela direção da produção. O Estado não é abolido,
morre. A idéia anarquista de abolição do Estado de um dia para outro é uma
pretensão utópica. Desconsidera que as classes sociais não podem ser abolidas
imediatamente, que a burguesia subsistirá por certo tempo e que é preciso que a
nova sociedade se defenda dela através do poder estatal. Ao negar-se a criar um
Estado transitório dos trabalhadores, deixa as portas abertas para a reação
burguesa.
O
fim do Estado demandará um longo processo de criação das condições materiais
necessárias. A libertação das forças produtivas das amaras da propriedade
privada, um regime de abundância para todos e o fim da luta pela sobrevivência
são as condições para o advento do comunismo e o fim das classes sociais. Não
pode existir socialismo na miséria. Na medida em que as forças produtivas se desenvolverem
e com elas o bem estar social e, ao mesmo tempo, forem derrotando a resistência
da contrarrevolução burguesa, tanto a nível nacional quanto internacional, a
intervenção da autoridade do Estado nas relações sociais se tornará supérflua
num campo após o outro da vida social e cessará por si mesma. Então, o homem
sairá finalmente do reino animal e se elevará às condições de vida verdadeiramente
humanas, senhor das relações sociais e da natureza. “Traçará a sua história com plena
consciência, sairá do reino da necessidade para o reino da liberdade.” Em uma fase superior da sociedade
comunista – escreveu Marx –,
quando houver desaparecido a escravizante subordinação dos indivíduos à
divisão do trabalho e, com ela, os antagonismos entre o trabalho manual e o
trabalho intelectual; quando o trabalho tiver se tornado não só o meio de vida,
mas também a primeira necessidade da existência; quando, com o desenvolvimento
dos indivíduos, em todos os sentidos, as forças produtivas forem crescendo, e
todas as fontes da riqueza pública jorrarem abundantemente, só então, o
estreito horizonte do direito burguês será completamente ultrapassado e a
sociedade poderá inscrever na sua bandeira: "de cada um conforme a sua capacidade,
a cada um segundo as suas necessidades". A sociedade
reorganizará a produção na base de uma associação livre e igualitária dos
produtores, relegará toda a máquina do Estado para onde será, a partir daí, o
seu lugar: o museu de antiguidades, ao lado da roda e do machado de bronze.
As lições da História
A
revolução russa inaugurou o primeiro Estado Operário da História. Mas o poder
do Estado, longe de diminuir, aumentou sobremaneira, levado a limites extremos
pelo estalinismo, casta usurpadora parasitária. Mesmo nos anos de soberania
dos sovietes (1917 – 1924) o poder do Estado não diminuiu. O marxismo deve
incorporar essas lições. Os clássicos marxistas jamais imaginaram uma revolução
proletária vitoriosa num país atrasado, como a Rússia. Era unanimidade que a
revolução deveria começar pelos países capitalistas adiantados: Inglaterra,
França, Alemanha, Estados Unidos, como previa a sua teoria. A revolução socialista,
começando nesses países desenvolvidos, somente poderia se completar no âmbito
internacional, ou seja, com a vitória nos demais países. Trotsky, com a teoria da Revolução Permanente
(1905), pela primeira vez, previu que a revolução proletária, apoiada nos
camponeses, poderia começar num país atrasado, instalando a ditadura do
proletariado, que cumpriria com as tarefas democráticas pendentes e
imediatamente começaria a realizar as primeiras tarefas socialistas. Essa
revolução ou se estenderia para os países desenvolvidos ou seria derrotada.
A revolução proletária, tendo começado
num país atrasado, tornou-se ainda mais dependente da revolução internacional.
A estabilização do capitalismo e a derrota das revoluções européias, principalmente,
a alemã de 1918, selou o destino da revolução russa. A burocratização
estalinista foi o resultado dessa derrota internacional. O aumento do poder no
Estado soviético, ao invés da sua diminuição, se deveu ao estalinismo, ao
atraso russo e à derrota internacional, agravado pela guerra mundial e a guerra
civil. O marxismo sempre considerou que o socialismo dependeria de um alto grau
de desenvolvimento das forças produtivas. Afirmava que a expropriação da
propriedade privada representaria um enfraquecimento do poder do Estado. Isso
não aconteceu por essas razões citadas. Em 1921, com o fim da guerra civil, a
indústria russa estava reduzida a 13% da sua capacidade. Grassava entre as
massas fome e miséria generalizada. Havia descontentamento geral. Isso obrigou
o poder soviético a promover a Nova Política Econômica (NEP), um recuo
provisório em direção ao comércio privado, principalmente, no campo, e a
proibir pela primeira vez as tendências internas. Não existiam condições favoráveis
ao enfraquecimento do Estado. O estalinismo transformou essas políticas excepcionais
em princípio permanentes e as levou a extremos absurdos.
As condições para o fim do Estado foram
estudadas por Marx, Lênin e Trotsky. Este as analisou detalhadamente no seu livro A Revolução Traída. Marx
fala no direito burguês que subsiste no Estado Operário. Lênin assim se refere:
“O direito burguês, em
matéria de repartição dos artigos de consumo, supõe naturalmente o Estado
burguês, pois o direito não é nada sem um aparelho de coação que impõe as suas
normas. Surge-nos assim o direito burguês a subsistir durante certo tempo no
seio do comunismo, e até mesmo o Estado burguês a subsistir sem burguesia”. Segundo Trotsky: “O Estado adquire imediatamente um
duplo caráter: socialista, na medida em que defende a propriedade coletiva dos
meios de produção; burguês, na medida em que a repartição dos bens tem lugar
segundo padrões de repartição capitalistas”. Esse direito burguês
significa que o Estado Operário precisa manter ainda o trabalho assalariado,
que representa uma injustiça social. Primeiro, pelas diferenças salariais
entre os tipos de trabalho; segundo, porque mesmo salários iguais representam
uma injustiça: as necessidades dos trabalhadores e suas famílias não são as mesmas.
Nessa primeira fase, o Estado Operário não pode retribuir o trabalhador segundo
as suas necessidades, mas segundo o seu trabalho. Isso é uma fonte permanente
de conflito e de privilégios. Esses privilégios, na medida em que sejam inevitáveis,
mas que sirvam para estimular a produção servem a fins socialistas. Portanto, o
Estado Operário, mesmo o mais saudável, é um guardião de privilégios: “O Estado, que toma por tarefa a
transformação socialista da sociedade, sendo obrigado a defender pela coação a
desigualdade, isto é, privilégios da minoria, torna-se, em certa medida, um
Estado ‘burguês’, embora sem burguesia” (Trotsky).
A experiência russa, chinesa, cubana, etc.,
demonstra que a estatização dos meios de produção, mesmo sendo uma condição
necessária para o começo do fim do Estado, não é suficiente: “a transformação das formas de
propriedade, longe de decidir a questão do socialismo, não faz senão colocá-la”
(idem). O elemento mais importante, não apenas para o socialismo
realizado, mas também para que o Estado comece a definhar, é o desenvolvimento
da base econômica, um regime de abundância. Um indicador de que um Estado
operário se encaminha para o socialismo é o aumento da produtividade do
trabalho: “Uma fraca
produção de mercadorias forma inevitavelmente exploradores” (idem).
Existe
também um elemento político, o caráter da direção à testa do Estado. Num país
atrasado, e na ausência da revolução noutros países, a pressão burocrática é
inevitável. A burocracia é um entrave ao desenvolvimento. Em toda revolução
começa uma corrida contra o tempo pela revolução internacional. A direção
revolucionária deve ser uma barreira contra privilégios injustificáveis. Existe
um limite além do qual os desníveis de renda se transformam em degeneração.
O destino da revolução não depende apenas
da direção, depende também da luta de classes internacional. Inicia-se um luta
contra as tendências burocráticas. Os direitos do proletariado devem ser permanentemente
defendidos, mesmo eventualmente contra a sua direção. Os seus limites se definem
pela luta. Nenhuma direção revolucionária os delimitará sozinha. Após a
revolução, o proletariado continua a sua luta em duas frentes: contra a
burguesia internacional e contra as tendências burocráticas. Em maior medida
nos países atrasados. A democracia operária é o bem mais precioso da revolução,
que se vê diante de duas tendências: uma para o socialismo e outra para o
regresso ao capitalismo. O progresso econômico reforça a tendência socialista,
até torná-la inevitável. O melhor indicador do reforço da tendência socialista
é quando o desnível de renda começa a diminuir e aumentar o bem estar geral.
A História ainda não nos brindou com uma
revolução vitoriosa num país avançado, o que atenuaria muito as tendências
burocráticas. Hoje o nível da técnica é muitas vezes maior do que aquele do
início do Século 20. Aquelas revoluções, apesar de derrotadas, não foram em
vão. Hoje, a base material, principalmente, no leste europeu e na China, é
muito maior do que antes. Nesses países uma nova revolução, certamente, não
enfrentaria as mesmas dificuldades de então. Com maior razão, se diga dos
países desenvolvidos. Devemos aprender com as derrotas. Elas aplainam o caminho
das futuras vitórias. A crise do capitalismo demonstra a sua agonia. O
proletariado não tem razões para pessimismo. O futuro lhe pertence.
Bibliografia e citações
A concepção materialista da História.
Plekhanov.
A
revolução proletária e o Kautsky. Lênin.
Nenhum comentário:
Postar um comentário