O aparato repressor do Estado burguês está em
ampla ofensiva contra os movimentos sociais e sua vanguarda: bombas, armas
químicas, mortes, prisões, torturas, indiciamentos, invasões de residências, e
a utilização da Lei de Segurança Nacional (LSN), têm sido os métodos
ditatoriais dos governos na atual conjuntura. A “democracia” burguesa nunca
deixou de ser uma ditadura disfarçada.
As
mobilizações de junho injetaram novo ânimo na população após longo período de
calmaria e de investidas da classe dominante contra os trabalhadores. A
explosão semi-espontânea da juventude despertou a simpatia dos trabalhadores,
mas estes por conta de suas direções sindicais burocráticas e governistas não
se engajaram organizadamente nas mobilizações. Os governos, pegos de surpresa,
apelaram para a repressão ao estilo das ditaduras fascistas. Em resposta, as
mobilizações se multiplicaram.
Nessas condições, num primeiro momento,
o Estado tornou a repressão mais seletiva. As televisões passaram a exaltar a
legitimidade do movimento pacífico e criminalizar o vandalismo para ganhar a
opinião pública. A burguesia tentou dirigi-lo. Dilma, com a sua proposta de
reforma política; a direita fascista, com a bandeira contra a corrupção e uma
cruzada contra a esquerda, sob o pretexto de combate aos partidos em geral. Ao mesmo tempo em que a imprensa denunciava o
vandalismo, os aparatos repressivos os promoviam com seus agentes infiltrados,
que passaram a ser seu monopólio. Isso ficou cada vez mais evidente nos atos de
rua.
A nova brisa de junho não
alterou o rumo geral da conjuntura, ou seja, a burguesia continua na ofensiva
política e os trabalhadores na defensiva. Nessas condições, mais que em outras,
são injustificáveis métodos ofensivos que servem para provocar o inimigo.
Nossas ações, ao contrário do vanguardismo, devem ser planejadas e com objetivo
de acumular forças para destruí-lo. O grande medo da burguesia é que essa
relação de forças se inverta, que a juventude contagie os trabalhadores e as
vilas, o que, em pequena escala, começou a acontecer. O massacre na favela da
Maré não foi casual, mas um recado às vilas do Rio de Janeiro e do Brasil.
A atual criminalização dos movimentos
sociais e da esquerda tem a finalidade de prevenir a entrada em cena dos
trabalhadores organizados (a exemplo dos atos em solidariedade aos professores
do RJ), destruindo e intimidando a sua vanguarda. Essa repressão ostensiva
precisa de pretextos para justificar à opinião pública as prisões, as torturas,
as mortes e bombas jogadas contra os movimentos sociais, como é tradicional por
parte da classe dominante. Hitler, para dar o golpe de Estado, incendiou o
parlamento (Reichstag) e culpou os comunistas. A ditadura militar planejou o
atentado do Rio Centro e a Operação Parasar, entre outros. O atual vandalismo
tem a mesma lógica. Somente os ingênuos e os movimentistas não vêem essa
intenção. A escalada da criminalização explica-se por esse medo da burguesia.
As provocações são proporcionais à necessidade da repressão. A necessidade de
intimidação com a LSN levou a atentados maiores como aquele à Escola Militar
(RJ) ou ao museu e à Igreja Matriz (Porto Alegre).
O TABU VANGUARDISTA
Tornou-se um tabu a crítica a esses
métodos (jogar pedras, quebrar as vidraças dos bancos, etc.) atribuída a uma
suposta cumplicidade com a repressão. Crime seria denunciar companheiros, mesmo
que equivocados ou invocar a repressão sobre eles. Esses companheiros devem ser
defendidos da repressão. Vandalismo pratica a burguesia, que depreda o
ambiente, as moradias populares e os recursos nacionais (Pinheirinho, Belo
Monte e o leilão de Libra). Mas a crítica pública ao vanguardismo é necessária,
porque a sua defesa também é feita publicamente por justificadores. É um debate
político legítimo. A defesa acrítica do vanguardismo, isso sim, é conluio de
fato com a repressão (que os pratica em larga escala), porque os seus
defensores deviam saber que estão mal acompanhados.
Existem muitos justificadores do
vanguardismo (semelhante ao foquismo, que tanto estrago já causou aos
trabalhadores). Parece que se negam a aprender com história. Alguns anarquistas
são coerentes com a sua doutrina, que é contra qualquer forma de poder,
inclusive o poder dos trabalhadores. O seu método consiste apenas em incomodar
ou neutralizar a burguesia, utopia liberal, como se a auto-organização popular
fosse possível com a manutenção do poder burguês. Quem não luta pelo próprio
poder é conivente com o poder dominante. Dizem que todo poder é uma ditadura
sobre os próprios trabalhadores. Não necessariamente. Foi assim com o
estalinismo. É uma utopia pretender uma sociedade sem poder (ou sem Estado),
enquanto houver luta de classes. A luta de classes implica o poder de uma
classe sobre outra. Não pode haver anarquia (ausência de Estado ou de poder,
que também é o objetivo dos marxistas) na vigência da luta de classes. Pela sua
ótica, o vanguardismo seria uma forma de auto-exemplo, de acumulação de forças
ou, como dizem, “empoderamento” das massas. Isso, para ser verdadeiro, seria
necessário que não houvesse luta de classes. Esquecem que a burguesia não está
dormindo. Toda luta de classes termina em vitória ou derrota. Não se acumula
forças com as derrotas. Existem também os justificadores ditos “marxistas”.
Estes são os oportunistas que querem contentar a todos, porque o marxismo se
forjou no combate a todo tipo de vanguardismo, o blanquismo em particular.
Os justificadores dos métodos
vanguardistas corretamente argumentam que o verdadeiro vandalismo é praticado
pela burguesia, que toda depredação nada representa diante disso. Mas o
problema não é esse, não é uma questão de contabilidade, ou seja, sobre qual a
relação entre os prejuízos causados por uns e outros. A questão é política, a
luta ideológica contra o poder da burguesia: qual a utilidade de semelhantes
métodos? O que está em jogo é a luta pela opinião pública, que os vanguardistas
desprezam e a burguesia tem em alta conta. Os nossos argumentos pouco
representam diante do enorme poder de distorção e amplificação dos fatos pela
grande imprensa. Dizer que devemos saber nos opor á opinião pública, é uma meia
verdade. Por exemplo: não nos guiamos pela opinião pública para apoiar uma
greve. Entretanto, isso não significa que a conquista do apoio à mesma deixe de
ser um objetivo. Não tem qualquer sentido afrontá-la gratuitamente. Somente os
ingênuos, os equivocados e os agentes provocadores aplaudem esses métodos
inconseqüentes, infantis, nuns casos, e muito propositais em outros, enquanto a
burguesia agradece.
A
maior necessidade do movimento é a organização de grupos de autodefesa, para
que a repressão encontre resistência organizada, não cause dispersão e
desmoralização da massa despreparada. Esses métodos vanguardistas nada têm a
ver com a necessidade de autodefesa, são atitudes individuais, sem nenhuma
consulta aos manifestantes e opostas aos seus interesses. Ao invés de conter a
repressão a justifica.
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