sábado, 19 de outubro de 2013

A CRIMINALIZAÇÃO DA ESQUERDA


            O aparato repressor do Estado burguês está em ampla ofensiva contra os movimentos sociais e sua vanguarda: bombas, armas químicas, mortes, prisões, torturas, indiciamentos, invasões de residências, e a utilização da Lei de Segurança Nacional (LSN), têm sido os métodos ditatoriais dos governos na atual conjuntura. A “democracia” burguesa nunca deixou de ser uma ditadura disfarçada.
        As mobilizações de junho injetaram novo ânimo na população após longo período de calmaria e de investidas da classe dominante contra os trabalhadores. A explosão semi-espontânea da juventude despertou a simpatia dos trabalhadores, mas estes por conta de suas direções sindicais burocráticas e governistas não se engajaram organizadamente nas mobilizações. Os governos, pegos de surpresa, apelaram para a repressão ao estilo das ditaduras fascistas. Em resposta, as mobilizações se multiplicaram.
        Nessas condições, num primeiro momento, o Estado tornou a repressão mais seletiva. As televisões passaram a exaltar a legitimidade do movimento pacífico e criminalizar o vandalismo para ganhar a opinião pública. A burguesia tentou dirigi-lo. Dilma, com a sua proposta de reforma política; a direita fascista, com a bandeira contra a corrupção e uma cruzada contra a esquerda, sob o pretexto de combate aos partidos em geral.  Ao mesmo tempo em que a imprensa denunciava o vandalismo, os aparatos repressivos os promoviam com seus agentes infiltrados, que passaram a ser seu monopólio. Isso ficou cada vez mais evidente nos atos de rua.
        A nova brisa de junho não alterou o rumo geral da conjuntura, ou seja, a burguesia continua na ofensiva política e os trabalhadores na defensiva. Nessas condições, mais que em outras, são injustificáveis métodos ofensivos que servem para provocar o inimigo. Nossas ações, ao contrário do vanguardismo, devem ser planejadas e com objetivo de acumular forças para destruí-lo. O grande medo da burguesia é que essa relação de forças se inverta, que a juventude contagie os trabalhadores e as vilas, o que, em pequena escala, começou a acontecer. O massacre na favela da Maré não foi casual, mas um recado às vilas do Rio de Janeiro e do Brasil.
        A atual criminalização dos movimentos sociais e da esquerda tem a finalidade de prevenir a entrada em cena dos trabalhadores organizados (a exemplo dos atos em solidariedade aos professores do RJ), destruindo e intimidando a sua vanguarda. Essa repressão ostensiva precisa de pretextos para justificar à opinião pública as prisões, as torturas, as mortes e bombas jogadas contra os movimentos sociais, como é tradicional por parte da classe dominante. Hitler, para dar o golpe de Estado, incendiou o parlamento (Reichstag) e culpou os comunistas. A ditadura militar planejou o atentado do Rio Centro e a Operação Parasar, entre outros. O atual vandalismo tem a mesma lógica. Somente os ingênuos e os movimentistas não vêem essa intenção. A escalada da criminalização explica-se por esse medo da burguesia. As provocações são proporcionais à necessidade da repressão. A necessidade de intimidação com a LSN levou a atentados maiores como aquele à Escola Militar (RJ) ou ao museu e à Igreja Matriz (Porto Alegre).

O TABU VANGUARDISTA
        Tornou-se um tabu a crítica a esses métodos (jogar pedras, quebrar as vidraças dos bancos, etc.) atribuída a uma suposta cumplicidade com a repressão. Crime seria denunciar companheiros, mesmo que equivocados ou invocar a repressão sobre eles. Esses companheiros devem ser defendidos da repressão. Vandalismo pratica a burguesia, que depreda o ambiente, as moradias populares e os recursos nacionais (Pinheirinho, Belo Monte e o leilão de Libra). Mas a crítica pública ao vanguardismo é necessária, porque a sua defesa também é feita publicamente por justificadores. É um debate político legítimo. A defesa acrítica do vanguardismo, isso sim, é conluio de fato com a repressão (que os pratica em larga escala), porque os seus defensores deviam saber que estão mal acompanhados.
        Existem muitos justificadores do vanguardismo (semelhante ao foquismo, que tanto estrago já causou aos trabalhadores). Parece que se negam a aprender com história. Alguns anarquistas são coerentes com a sua doutrina, que é contra qualquer forma de poder, inclusive o poder dos trabalhadores. O seu método consiste apenas em incomodar ou neutralizar a burguesia, utopia liberal, como se a auto-organização popular fosse possível com a manutenção do poder burguês. Quem não luta pelo próprio poder é conivente com o poder dominante. Dizem que todo poder é uma ditadura sobre os próprios trabalhadores. Não necessariamente. Foi assim com o estalinismo. É uma utopia pretender uma sociedade sem poder (ou sem Estado), enquanto houver luta de classes. A luta de classes implica o poder de uma classe sobre outra. Não pode haver anarquia (ausência de Estado ou de poder, que também é o objetivo dos marxistas) na vigência da luta de classes. Pela sua ótica, o vanguardismo seria uma forma de auto-exemplo, de acumulação de forças ou, como dizem, “empoderamento” das massas. Isso, para ser verdadeiro, seria necessário que não houvesse luta de classes. Esquecem que a burguesia não está dormindo. Toda luta de classes termina em vitória ou derrota. Não se acumula forças com as derrotas. Existem também os justificadores ditos “marxistas”. Estes são os oportunistas que querem contentar a todos, porque o marxismo se forjou no combate a todo tipo de vanguardismo, o blanquismo em particular.
        Os justificadores dos métodos vanguardistas corretamente argumentam que o verdadeiro vandalismo é praticado pela burguesia, que toda depredação nada representa diante disso. Mas o problema não é esse, não é uma questão de contabilidade, ou seja, sobre qual a relação entre os prejuízos causados por uns e outros. A questão é política, a luta ideológica contra o poder da burguesia: qual a utilidade de semelhantes métodos? O que está em jogo é a luta pela opinião pública, que os vanguardistas desprezam e a burguesia tem em alta conta. Os nossos argumentos pouco representam diante do enorme poder de distorção e amplificação dos fatos pela grande imprensa. Dizer que devemos saber nos opor á opinião pública, é uma meia verdade. Por exemplo: não nos guiamos pela opinião pública para apoiar uma greve. Entretanto, isso não significa que a conquista do apoio à mesma deixe de ser um objetivo. Não tem qualquer sentido afrontá-la gratuitamente. Somente os ingênuos, os equivocados e os agentes provocadores aplaudem esses métodos inconseqüentes, infantis, nuns casos, e muito propositais em outros, enquanto a burguesia agradece.
        A maior necessidade do movimento é a organização de grupos de autodefesa, para que a repressão encontre resistência organizada, não cause dispersão e desmoralização da massa despreparada. Esses métodos vanguardistas nada têm a ver com a necessidade de autodefesa, são atitudes individuais, sem nenhuma consulta aos manifestantes e opostas aos seus interesses. Ao invés de conter a repressão a justifica.


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