quinta-feira, 4 de junho de 2015

A NOVA GUERRA FRIA E A LUTA DE CLASSES


        A conjuntura internacional está determinada por uma disputa entre o imperialismo dos Estados Unidos/Europa e o bloco Rússia/China, que condiciona a política de toda a esquerda. Em geral, os “trotskistas”, disfarçando uma política marxista, levam água ao moinho de um ou outro desses blocos. Grupos como LBI, Liga Comunista (CLQI), Coletivo Lênin, seguindo o rastro dos estalinistas, apóiam politicamente o novo imperialismo Russo/chinês, como se fossem semi-colônias. Apóiam também politicamente os governos das semi-colônias que estão sendo desestabilizados pelo imperialismo. O traço característico das suas políticas é a proposta abstrata e capituladora de frente única.
        Outro setor da família “trotskista”, objetivamente alinha-se com os Estados Unidos/Europa através de políticas variadas. As suas características mais importantes são: batizar de pretensas revoluções as agressões imperialistas; maquiar a realidade para adaptá-la à sua política; colocar-se aparentemente contra os bombardeios da OTAN, mas apoiá-los na prática; abandonar o princípio leninista da defesa incondicional das nações oprimidas, sob pretexto de tratar-se de ditaduras sanguinárias; uma pretensa política de combate em duas frentes, tanto contra a OTAN como contra as ditaduras.
        Os bolcheviques propunham a defesa das semi-colônias agredidas pelo imperialismo, independentemente das suas direções, sejam ditaduras ou regimes democráticos burgueses. A vitória de uma nação oprimida debilita o domínio internacional do imperialismo, que é o inimigo principal dos povos. Não se pode igualar um ditador de uma semi-colônia, por mais sanguinário que seja, com os chefes do imperialismo. Trotsky apoiou a Abissínia contra a Itália, apesar do seu ditador sanguinário; a China contra o Japão, apensar de Chang Kai Chek. E resumiu assim a sua política: “em uma luta entre uma república civilizada, imperialista, democrática, e uma monarquia atrasada, bárbara, de um país colonial, os socialistas estão totalmente do lado do país oprimido, apesar da sua monarquia, e contra o país opressor, apesar da sua democracia” (Escritos).
        O primeiro bloco de “trotskistas” não esquece o princípio da defesa das nações oprimidas. No entanto, o faz embelezando e apoiando de fato os governos burgueses dessas nações. Sacrifica o princípio da independência de classe, caracterizando esses governos como nacionalistas, anti-imperialistas, ou seja, progressistas. Em geral, têm dado apoio eleitoral a partidos burgueses. E diante da agressão militar, têm proposto a Frente Única com eles, o que é uma abstração, porque nesses países não existe partido revolucionário e movimento independente do proletariado. Essa seria uma F.U. entre o governo nacional e o nada. E na hipótese de existência de tal partido, essas ditaduras não aceitariam qualquer frente única com o seu proletariado. As burguesias nacionais reacionárias atuais serão sempre derrotistas diante dos seus trabalhadores. A Frente Única proposta pelas Teses do Oriente em 1922 caducou como tática privilegiada. Foi ressuscitada, com um século de atraso, como cobertura para sua capitulação. Hoje, como então, não é a FU o método principal de defesa das nações oprimidas. O proletariado deve defendê-las com seus próprios métodos: manifestações, greves, boicotes, denúncias, agitação, e, se possível, de armas na mão.
        O segundo bloco de “trotskistas”, abandona completamente o método da defesa das nações oprimidas, embora se digam contra os bombardeios da OTAN. Toda a sua política é de apoio à intervenção imperialista, inclusive, pedindo armas para os “rebeldes”, ou seja, para os prepostos do imperialismo. Essa esquerda alega a existência de uma suposta revolução nesses países, concomitante com a intervenção externa, como forma de cobertura para a sua capitulação. Para uns (LIT, UIT, etc), seria uma revolução democrática. Os supostos agentes da “revolução democrática” têm sido organizações islâmicas ou fascistas (Ucrânia). Isso é uma maquiagem vergonhosa da realidade.
Existem também aqueles que defendem a luta em duas frentes: contra as ditaduras e os bombardeios da OTAN. Essa suposta terceira via, transforma-se numa variante da política pró-imperialista dos demais. Todo o centro da sua política está na pretensa “revolução” e não no combate ao imperialismo, que é colocado em pé de igualdade com as ditaduras de terceiro mundo. Trotsky combateu, na IV Internacional, as frações internas que defendiam esse tipo de combate em duas frentes. A luta política é realmente em duas frentes, contra a burguesia nacional e o imperialismo. A luta de classes não pára durante a defesa nacional. Em termos militares, o combate em duas frentes é uma capitulação. Os marxistas perfilam-se ao lado das nações oprimidas, como o fizeram na China contra o Japão, por exemplo.

A ASCENSÃO RUSSO/CHINESA E A NOVA GUERRA FRIA
        Após a restauração do capitalismo nos ex-Estados Operários burocratizados, o imperialismo americano/europeu tenta submeter a Rússia e a China. Nesses países, a restauração assumiu formas diferentes. Na Rússia, a restauração foi caótica. A economia estatal foi entregue à pilhagem das máfias, ligadas aos Estados Unidos e Europa. Abriu-se uma enorme crise social e econômica. A economia regrediu a nível impensável. A União Soviética foi desintegrada e extinto o Partido Comunista, que se dividiu em muitas frações. Com o tempo, a economia se estabilizou e voltou a crescer com base nos enormes recursos naturais do país e nos seus altos preços.
        Não tardou a fechar-se o cerco dos Estados Unidos, que descumpriu a sua promessa a Gorbatchev de não expandir as bases da OTAN às ex-repúblicas soviéticas. A camarilha entreguista de Yeltsin foi substituída pela de Vladimir Putin, que tentou uma convivência pacífica com o imperalismo, apostando no bloco comercial Rússia/Europa. Tolerou o estreitamento do cerco da OTAN sobre o seu quintal. Avalizou o bombardeio sobre a Líbia. Em 2008, Putin pela primeira vez tentou demarcar limites à expansão dos Estados Unidos, que se assanhavam sobre a Geórgia e a Chechênia, bombardeando essas repúblicas e mantendo-as sob a sua órbita.  Em 2014, o imperialismo promoveu mais uma das suas “revoluções coloridas”, promovendo uma “insurreição popular” e derrubando o governo da Ucrânia, sob a direção de grupos fascistas. A OTAN, após instalar-se na Polônia, repúblicas bálticas, etc, agora pretende por um pé na Ucrânia, às portas de Moscou. Putin retaliou anexando a Criméia e promovendo o separatismo no leste da Ucrânia. Em resposta, a Rússia acercou-se da China, com quem assinou vultosos acordos comerciais, e criou a União Comercial Euro-asiática.
A atitude da Rússia sobre as repúblicas não russas no seu interior e nas imediações é típica de um novo imperialismo nascente. Esse fato somente foi possível pelas características especiais da Rússia (um território gigantesco com abundantes recursos naturais, como gás e petróleo) e por ser herdeira da antiga União Soviética, dona do segundo maior poderio militar do planeta, uma alta tecnologia militar, uma indústria armamentista forte e exportadora. O velho aparato do Estado burocratizado foi desmembrado, mas não desfeito completamente. O imperialismo pôs a seu serviço apenas um setor deste e parte dos novos magnatas. A Rússia nunca sucumbiu integralmente à condição de semi-colônia. A fração Putin, sob pressão imperialista, foi obrigada a reagir e não apenas defender-se.
        A restauração na China deu-se de forma diversa, sob estrito controle do Partido Comunista, sob a liderança de Deng Xiau Ping. Desfez o monopólio sobre a economia, abriu o país ao capital estrangeiro. Manteve entretanto o controle político, bem como, as grandes empresas estatais. A ditadura burocrática sobre a gigantesca mão de obra chinesa criou as condições ideais para os investimentos internacionais. A China transformou-se na grande fábrica do mundo, com base em condições de trabalho semi-escravas, que o capital não poderia impor imediatamente nas metrópoles. A China beneficiava-se dos investimentos estrangeiros, acumulava capital e tecnologia e financiava na outra ponta a dívida pública americana, investindo em títulos do tesouro. Esse fato trazia incubado muitas contradições. Os investimentos na China eram o paraíso para o capital, mas tornavam as metrópoles ainda mais parasitárias e deficitárias.

        Armou-se uma bomba relógio, expressa pela decadência americana e a ascensão chinesa.  Os Estados Unidos promoveram o cerco político e militar à China. Rodearam-na de bases militares e instigaram contra ela Japão, Coréia do Sul e Vietnã. Tentam desestabilizá-la e desmembrá-la fomentando separatismos em algumas regiões (Iugures, Hong Kong, Tibete). Recentemente fracassaram na tentativa de criação de um acordo de livre comércio Ásia-pacífico, sem a China. Esta criou o seu banco de investimentos e atraiu a ele dezenas de países, inclusive, grande parte da Europa. A sua ofensiva contra a Rússia fortaleceu a aliança russo-chinesa. A China, na condição de grande exportadora de capitais, exerce uma influência imperialista ainda difusa.

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