A conjuntura internacional está determinada
por uma disputa entre o imperialismo dos Estados Unidos/Europa e o bloco
Rússia/China, que condiciona a política de toda a esquerda. Em geral, os “trotskistas”,
disfarçando uma política marxista, levam água ao moinho de um ou outro desses
blocos. Grupos como LBI, Liga Comunista (CLQI), Coletivo Lênin, seguindo o
rastro dos estalinistas, apóiam politicamente o novo imperialismo Russo/chinês,
como se fossem semi-colônias. Apóiam também politicamente os governos das
semi-colônias que estão sendo desestabilizados pelo imperialismo. O traço
característico das suas políticas é a proposta abstrata e capituladora de
frente única.
Outro setor da família “trotskista”,
objetivamente alinha-se com os Estados Unidos/Europa através de políticas
variadas. As suas características mais importantes são: batizar de pretensas
revoluções as agressões imperialistas; maquiar a realidade para adaptá-la à sua
política; colocar-se aparentemente contra os bombardeios da OTAN, mas apoiá-los
na prática; abandonar o princípio leninista da defesa incondicional das nações
oprimidas, sob pretexto de tratar-se de ditaduras sanguinárias; uma pretensa
política de combate em duas frentes, tanto contra a OTAN como contra as
ditaduras.
Os bolcheviques propunham a defesa das
semi-colônias agredidas pelo imperialismo, independentemente das suas direções,
sejam ditaduras ou regimes democráticos burgueses. A vitória de uma nação
oprimida debilita o domínio internacional do imperialismo, que é o inimigo
principal dos povos. Não se pode igualar um ditador de uma semi-colônia, por
mais sanguinário que seja, com os chefes do imperialismo. Trotsky apoiou a
Abissínia contra a Itália, apesar do seu ditador sanguinário; a China contra o
Japão, apensar de Chang Kai Chek. E resumiu assim a sua política: “em uma luta
entre uma república civilizada, imperialista, democrática, e uma monarquia
atrasada, bárbara, de um país colonial, os socialistas estão totalmente do lado
do país oprimido, apesar da sua monarquia, e contra o país opressor, apesar da
sua democracia” (Escritos).
O primeiro bloco de “trotskistas” não
esquece o princípio da defesa das nações oprimidas. No entanto, o faz embelezando
e apoiando de fato os governos burgueses dessas nações. Sacrifica o princípio
da independência de classe, caracterizando esses governos como nacionalistas,
anti-imperialistas, ou seja, progressistas. Em geral, têm dado apoio eleitoral
a partidos burgueses. E diante da agressão militar, têm proposto a Frente Única
com eles, o que é uma abstração, porque nesses países não existe partido revolucionário
e movimento independente do proletariado. Essa seria uma F.U. entre o governo
nacional e o nada. E na hipótese de existência de tal partido, essas ditaduras
não aceitariam qualquer frente única com o seu proletariado. As burguesias
nacionais reacionárias atuais serão sempre derrotistas diante dos seus
trabalhadores. A Frente Única proposta pelas Teses do Oriente em 1922 caducou
como tática privilegiada. Foi ressuscitada, com um século de atraso, como
cobertura para sua capitulação. Hoje, como então, não é a FU o método principal
de defesa das nações oprimidas. O proletariado deve defendê-las com seus
próprios métodos: manifestações, greves, boicotes, denúncias, agitação, e, se
possível, de armas na mão.
O segundo bloco de “trotskistas”,
abandona completamente o método da defesa das nações oprimidas, embora se digam
contra os bombardeios da OTAN. Toda a sua política é de apoio à intervenção
imperialista, inclusive, pedindo armas para os “rebeldes”, ou seja, para os
prepostos do imperialismo. Essa esquerda alega a existência de uma suposta
revolução nesses países, concomitante com a intervenção externa, como forma de
cobertura para a sua capitulação. Para uns (LIT, UIT, etc), seria uma revolução
democrática. Os supostos agentes da “revolução democrática” têm sido organizações
islâmicas ou fascistas (Ucrânia). Isso é uma maquiagem vergonhosa da realidade.
Existem também aqueles que defendem a luta
em duas frentes: contra as ditaduras e os bombardeios da OTAN. Essa suposta
terceira via, transforma-se numa variante da política pró-imperialista dos
demais. Todo o centro da sua política está na pretensa “revolução” e não no
combate ao imperialismo, que é colocado em pé de igualdade com as ditaduras de
terceiro mundo. Trotsky combateu, na IV Internacional, as frações internas que
defendiam esse tipo de combate em duas frentes. A luta política é realmente em
duas frentes, contra a burguesia nacional e o imperialismo. A luta de classes
não pára durante a defesa nacional. Em termos militares, o combate em duas
frentes é uma capitulação. Os marxistas perfilam-se ao lado das nações
oprimidas, como o fizeram na China contra o Japão, por exemplo.
A ASCENSÃO RUSSO/CHINESA E
A NOVA GUERRA FRIA
Após a restauração do capitalismo nos
ex-Estados Operários burocratizados, o imperialismo americano/europeu tenta submeter
a Rússia e a China. Nesses países, a restauração assumiu formas diferentes. Na
Rússia, a restauração foi caótica. A economia estatal foi entregue à pilhagem
das máfias, ligadas aos Estados Unidos e Europa. Abriu-se uma enorme crise
social e econômica. A economia regrediu a nível impensável. A União Soviética
foi desintegrada e extinto o Partido Comunista, que se dividiu em muitas
frações. Com o tempo, a economia se estabilizou e voltou a crescer com base nos
enormes recursos naturais do país e nos seus altos preços.
Não tardou a fechar-se o cerco dos
Estados Unidos, que descumpriu a sua promessa a Gorbatchev de não expandir as
bases da OTAN às ex-repúblicas soviéticas. A camarilha entreguista de Yeltsin
foi substituída pela de Vladimir Putin, que tentou uma convivência pacífica com
o imperalismo, apostando no bloco comercial Rússia/Europa. Tolerou o
estreitamento do cerco da OTAN sobre o seu quintal. Avalizou o bombardeio sobre
a Líbia. Em 2008, Putin pela primeira vez tentou demarcar limites à expansão dos
Estados Unidos, que se assanhavam sobre a Geórgia e a Chechênia, bombardeando
essas repúblicas e mantendo-as sob a sua órbita. Em 2014, o imperialismo promoveu mais uma das
suas “revoluções coloridas”, promovendo uma “insurreição popular” e derrubando
o governo da Ucrânia, sob a direção de grupos fascistas. A OTAN, após
instalar-se na Polônia, repúblicas bálticas, etc, agora pretende por um pé na Ucrânia,
às portas de Moscou. Putin retaliou anexando a Criméia e promovendo o
separatismo no leste da Ucrânia. Em resposta, a Rússia acercou-se da China, com
quem assinou vultosos acordos comerciais, e criou a União Comercial
Euro-asiática.
A atitude da Rússia sobre as repúblicas não
russas no seu interior e nas imediações é típica de um novo imperialismo
nascente. Esse fato somente foi possível pelas características especiais da
Rússia (um território gigantesco com abundantes recursos naturais, como gás e
petróleo) e por ser herdeira da antiga União Soviética, dona do segundo maior
poderio militar do planeta, uma alta tecnologia militar, uma indústria
armamentista forte e exportadora. O velho aparato do Estado burocratizado foi
desmembrado, mas não desfeito completamente. O imperialismo pôs a seu serviço
apenas um setor deste e parte dos novos magnatas. A Rússia nunca sucumbiu
integralmente à condição de semi-colônia. A fração Putin, sob pressão
imperialista, foi obrigada a reagir e não apenas defender-se.
A
restauração na China deu-se de forma diversa, sob estrito controle do Partido
Comunista, sob a liderança de Deng Xiau Ping. Desfez o monopólio sobre a
economia, abriu o país ao capital estrangeiro. Manteve entretanto o controle
político, bem como, as grandes empresas estatais. A ditadura burocrática sobre
a gigantesca mão de obra chinesa criou as condições ideais para os
investimentos internacionais. A China transformou-se na grande fábrica do mundo,
com base em condições de trabalho semi-escravas, que o capital não poderia impor
imediatamente nas metrópoles. A China beneficiava-se dos investimentos
estrangeiros, acumulava capital e tecnologia e financiava na outra ponta a
dívida pública americana, investindo em títulos do tesouro. Esse fato trazia incubado
muitas contradições. Os investimentos na China eram o paraíso para o capital,
mas tornavam as metrópoles ainda mais parasitárias e deficitárias.
Armou-se uma bomba relógio, expressa
pela decadência americana e a ascensão chinesa. Os Estados Unidos promoveram o cerco político
e militar à China. Rodearam-na de bases militares e instigaram contra ela
Japão, Coréia do Sul e Vietnã. Tentam desestabilizá-la e desmembrá-la
fomentando separatismos em algumas regiões (Iugures, Hong Kong, Tibete).
Recentemente fracassaram na tentativa de criação de um acordo de livre comércio
Ásia-pacífico, sem a China. Esta criou o seu banco de investimentos e atraiu a
ele dezenas de países, inclusive, grande parte da Europa. A sua ofensiva contra
a Rússia fortaleceu a aliança russo-chinesa. A China, na condição de grande
exportadora de capitais, exerce uma influência imperialista ainda difusa.
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