domingo, 12 de abril de 2015

O PAPEL DAS GREVES E DA GREVE GERAL

                         
        As greves têm sido uma constante desde a formação do proletariado. As greves gerais surgiram no fim do século XIX. Já os cartistas ingleses, a I Internacional e os bakuninistas (anarquistas) falaram da greve geral. Em alguns países (Argentina, Grécia, etc.) as centrais sindicais têm convocado dezenas de “greves gerais”. As greves são um método de luta importantíssimo, mas não o único, nem o principal, e não são possíveis em qualquer conjuntura. A burocracia sindical tem vulgarizado esse método, transformando-o em caminho mais curto para derrotas. Está interessada exclusivamente na sua promoção. As burocracias em geral promovem greves fora dos momentos propícios. Invariavelmente a esquerda perfila-se junto com a CUT no apoio às greves patronais, haja vista, o apoio às greves da CNTE.

Métodos adequados aos seus objetivos

         As lutas salariais visam apenas valorizar a mercadoria força de trabalho. Não abalam o capitalismo. Os socialistas as apóiam apenas como ponto de apoio da luta pela abolição do trabalho assalariado. A burocracia e a esquerda restringem as greves aos seus objetivos meramente econômicos. O socialismo se formou na luta contra esse método, que se chamou economicismo.
        O método reformista aposta no crescimento gradativo das lutas salariais, que serviriam para acumular forças e conscientizar os trabalhadores. As greves não conscientizam os trabalhadores e nem sempre servem de acúmulo de forças. Apenas as greves vitoriosas acumulariam forças. O reformismo pretende conciliar os interesses entre as classes. Não entende as greves como luta de classes, ou seja, um confronto entre a burguesia e o proletariado em que este se prepara para expropriar a primeira. Mas a burguesia as trata como luta de classes, reprimindo-as e demitindo em massa. A deflagração de uma greve exige uma análise criteriosa da situação: como estão os seus inimigos (os patrões e o governo), o ânimo geral dos trabalhadores e da categoria em questão, o seu grau de organização, o fundo de greve, o caráter das direções, a reivindicação em pauta. Isso não importa para a burocracia sindical, que não tem responsabilidade com a categoria.
         As greves operárias têm maior poder de pressão porque paralisam a produção, principalmente, em se tratando de categorias nacionais (como petroleiros, caminhoneiros, etc.) ou mesmo categorias regionais, como metalúrgicos, construção civil, obras do PAC, etc. Existem categorias, como bancários, correios, que, mesmo sendo prestadores de serviços, são também categorias nacionais. As greves de professores têm, em si, menor poder de pressão, porque ao governo a educação não importa e pode jogar a população contra a greve. A força dos trabalhadores da educação pública reside no fato de serem categorias numerosas, e pelas suas mobilizações. Estas podem ter uma grande repercussão política, se acompanhadas de uma campanha de denúncia e em grandes atos públicos.  Essa é a razão das brutais repressões policiais contra passeatas pacíficas do magistério.     
        O capitalismo está dominado por monopólios parasitários. As lutas isoladas são via de regra derrotadas. É preciso unificar as categorias, organizá-las por local de trabalho, e promover uma campanha de denúncia do capitalismo, não de forma abstrata, como fazem os doutrinários e até mesmo os reformistas, nos dias de festa. Deve-se demonstrar, com base na experiência das massas, que todos os males cotidianos decorrem do caráter retrógrado do capitalismo.
        A consciência socialista não é uma decorrência natural do movimento. A conscientização dos trabalhadores é uma tarefa da vanguarda. O movimento socialista apóia-se em todas as lutas, não apenas sindicais. É preciso promover todas as demandas populares (sindicais, dos terceirizados, que não têm sindicatos, dos camponeses, das minorias oprimidas, das mulheres, negros, gays, etc.). O reformismo aposta no crescimento paulatino das lutas econômicas. O marxismo, ao contrário, para ele somente um movimento revolucionário pode arrancar do capitalismo uma que outra conquista. A burguesia pode ceder alguma reivindicação importante quando se vê na iminência de perder tudo. E se não for derrubada, inevitavelmente, retomará com a mão direita o dobro que deu com a esquerda. Vivemos uma época de ofensiva do capital. As conquistas parciais não são impossíveis, mas estão intimamente vinculadas à luta pelo socialismo.

A greve geral

        As greves gerais desempenharam um papel muito importante na história. Atualmente, as burocracias sindicais de diversos países têm recorrido com freqüência a “greves gerais”. A esquerda tem proposto greves gerais de forma artificial. Não analisa a conjuntura, se é ou não propícia. Ao agitar essa proposta, delega a sua convocação às burocracias sindicais. As burocracias têm realizado dois tipos de “greve gerais”: 1 - nos momentos revolucionários, para esvaziar o descontentamento popular. A Grécia tem sido palco de dezenas de greves desse tipo. 2 – em momentos não revolucionários para defender ou desestabilizar governos burgueses. A Argentina é o exemplo principal. Podemos incluir nessa categoria os dias nacionais de luta.
        Em países, como a Grécia, os trabalhadores aderem a essas greves como única forma de manifestar o seu desespero diante dos planos de austeridade. Entretanto, à burocracia interessa apenas esvaziar a panela de pressão popular, e não colocar a burguesia contra a parede. São greves demonstrativas de um ou dois dias. Somente greves por tempo indeterminado, que paralisem o poder e ameacem tomá-lo, poderiam arrancar reivindicações importantes. No caso da Argentina, as burocracias sindicais (as três CGTs e a CTA) têm promovido “greves gerais” para desestabilizar o governo de Cristina Kirchner, a serviço da direita golpista. A reivindicação da greve recente (contra o imposto sobre o capital e sobre os altos salários), parcialmente justa, serviu apenas de cortina de fumaça para os interesses da direita e do imperialismo.
        Os dias de luta convocados pela CUT brasileira, (inclusive, Intersindical e CSP  Conlutas), têm tido o objetivo de apoiar ou disputar o governo. São atos de vanguarda e greves artificiais com uma pauta ambígua. Inclui aparentemente reivindicações dos trabalhadores, tais como, a luta contra o desemprego, mas os seus eixos principais são próprios de um programa burguês desenvolvimentista: contra o superávit primário, por uma nova política econômica. Supõe que o governo esteja em disputa. Mesmo a bandeira contra o desemprego, transforma-se em farsa quando se traduz por reivindicações de desoneração fiscal das indústrias, empréstimos oficiais, etc.
        Os grupos reformistas (PSTU, PSOL) e outros grupos “radicais” (doutrinários de esquerda), ao propor greves gerais, estão apoiando esse tipo de greve. Dada a correlação de forças, não é possível disputar com a CUT a direção dessas “greves”. O doutrinarismo de esquerda propõe greve geral para qualquer conjuntura. Obviamente, está delegando essa tarefa à CUT.
        Rosa Luxemburgo e Trotsky estudaram as principais greves gerais da história (Rússia, França e Inglaterra) e nos deixaram algumas lições. As greves gerais somente são possíveis em momentos revolucionários. São manifestações por excelência da luta de classes. Não são as greves gerais que levam à revolução socialista, mas a situação revolucionária é que torna possível a greve geral. Nem toda revolução deve passar por uma greve geral. Nas greves de categorias, os sindicatos assumem o papel principal. Nas greves gerais, o principal ator é o partido revolucionário, coisa que não existe hoje em nenhum lugar. A greve geral não pode ser convocada arbitrariamente, nem se pode criar as condições para ela mediante a propaganda. Propagandear a necessidade da greve geral é tão inócuo como a da revolução. Nem mesmo o maior partido proletário, nem a maior central sindical, podem realizar uma greve geral ao seu arbítrio. A greve geral é um fenômeno histórico, fruto de uma conjunção de inúmeros fatores. Fatores objetivos: econômicos, políticos, sociais, materiais; e subjetivos: o partido, os sindicatos, as organizações de base, a psicologia das massas.
        Numa conjuntura não revolucionária, o eixo da nossa política se desloca da ofensiva para a defensiva; de questões como a organização da insurreição, da greve geral, para os métodos e tarefas que os preparam: a construção do partido revolucionário, a organização de base, a autodefesa, a unificação das lutas, a propaganda do socialismo, a denúncia da burocracia, do centrismo e do governo. As propostas abstratas de greve geral são perniciosas, da mesma forma que qualquer política deslocada da realidade.



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