As
greves têm sido uma constante desde a formação do proletariado. As greves
gerais surgiram no fim do século XIX. Já os cartistas ingleses, a I Internacional
e os bakuninistas (anarquistas) falaram da greve geral. Em alguns países
(Argentina, Grécia, etc.) as centrais sindicais têm convocado dezenas de
“greves gerais”. As greves são um método de luta importantíssimo, mas não o
único, nem o principal, e não são possíveis em qualquer conjuntura. A
burocracia sindical tem vulgarizado esse método, transformando-o em caminho
mais curto para derrotas. Está interessada exclusivamente na sua promoção. As burocracias
em geral promovem greves fora dos momentos propícios. Invariavelmente a esquerda
perfila-se junto com a CUT no apoio às greves patronais, haja vista, o apoio às
greves da CNTE.
Métodos adequados aos seus
objetivos
As lutas salariais visam apenas
valorizar a mercadoria força de trabalho. Não abalam o capitalismo. Os
socialistas as apóiam apenas como ponto de apoio da luta pela abolição do trabalho
assalariado. A burocracia e a esquerda restringem as greves aos seus objetivos
meramente econômicos. O socialismo se formou na luta contra esse método, que se
chamou economicismo.
O método reformista aposta no
crescimento gradativo das lutas salariais, que serviriam para acumular forças e
conscientizar os trabalhadores. As greves não conscientizam os trabalhadores e
nem sempre servem de acúmulo de forças. Apenas as greves vitoriosas acumulariam
forças. O reformismo pretende conciliar os interesses entre as classes. Não
entende as greves como luta de classes, ou seja, um confronto entre a burguesia
e o proletariado em que este se prepara para expropriar a primeira. Mas a
burguesia as trata como luta de classes, reprimindo-as e demitindo em massa. A
deflagração de uma greve exige uma análise criteriosa da situação: como estão
os seus inimigos (os patrões e o governo), o ânimo geral dos trabalhadores e da
categoria em questão, o seu grau de organização, o fundo de greve, o caráter
das direções, a reivindicação em pauta. Isso não importa para a burocracia
sindical, que não tem responsabilidade com a categoria.
As greves operárias têm maior poder de pressão
porque paralisam a produção, principalmente, em se tratando de categorias
nacionais (como petroleiros, caminhoneiros, etc.) ou mesmo categorias
regionais, como metalúrgicos, construção civil, obras do PAC, etc. Existem
categorias, como bancários, correios, que, mesmo sendo prestadores de serviços,
são também categorias nacionais. As greves de professores têm, em si, menor
poder de pressão, porque ao governo a educação não importa e pode jogar a
população contra a greve. A força dos trabalhadores da educação pública reside
no fato de serem categorias numerosas, e pelas suas mobilizações. Estas podem
ter uma grande repercussão política, se acompanhadas de uma campanha de
denúncia e em grandes atos públicos. Essa
é a razão das brutais repressões policiais contra passeatas pacíficas do
magistério.
O capitalismo está dominado por
monopólios parasitários. As lutas isoladas são via de regra derrotadas. É
preciso unificar as categorias, organizá-las por local de trabalho, e promover
uma campanha de denúncia do capitalismo, não de forma abstrata, como fazem os
doutrinários e até mesmo os reformistas, nos dias de festa. Deve-se demonstrar,
com base na experiência das massas, que todos os males cotidianos decorrem do
caráter retrógrado do capitalismo.
A
consciência socialista não é uma decorrência natural do movimento. A
conscientização dos trabalhadores é uma tarefa da vanguarda. O movimento
socialista apóia-se em todas as lutas, não apenas sindicais. É preciso promover
todas as demandas populares (sindicais, dos terceirizados, que não têm
sindicatos, dos camponeses, das minorias oprimidas, das mulheres, negros, gays,
etc.). O reformismo aposta no crescimento paulatino das lutas econômicas. O
marxismo, ao contrário, para ele somente um movimento revolucionário pode
arrancar do capitalismo uma que outra conquista. A burguesia pode ceder alguma
reivindicação importante quando se vê na iminência de perder tudo. E se não for
derrubada, inevitavelmente, retomará com a mão direita o dobro que deu com a
esquerda. Vivemos uma época de ofensiva do capital. As conquistas parciais não
são impossíveis, mas estão intimamente vinculadas à luta pelo socialismo.
A greve geral
As greves gerais desempenharam um papel
muito importante na história. Atualmente, as burocracias sindicais de diversos
países têm recorrido com freqüência a “greves gerais”. A esquerda tem proposto
greves gerais de forma artificial. Não analisa a conjuntura, se é ou não
propícia. Ao agitar essa proposta, delega a sua convocação às burocracias
sindicais. As burocracias têm realizado dois tipos de “greve gerais”: 1 - nos
momentos revolucionários, para esvaziar o descontentamento popular. A Grécia
tem sido palco de dezenas de greves desse tipo. 2 – em momentos não
revolucionários para defender ou desestabilizar governos burgueses. A Argentina
é o exemplo principal. Podemos incluir nessa categoria os dias nacionais de
luta.
Em
países, como a Grécia, os trabalhadores aderem a essas greves como única forma
de manifestar o seu desespero diante dos planos de austeridade. Entretanto, à
burocracia interessa apenas esvaziar a panela de pressão popular, e não colocar
a burguesia contra a parede. São greves demonstrativas de um ou dois dias. Somente
greves por tempo indeterminado, que paralisem o poder e ameacem tomá-lo,
poderiam arrancar reivindicações importantes. No caso da Argentina, as
burocracias sindicais (as três CGTs e a CTA) têm promovido “greves gerais” para
desestabilizar o governo de Cristina Kirchner, a serviço da direita golpista. A
reivindicação da greve recente (contra o imposto sobre o capital e sobre os
altos salários), parcialmente justa, serviu apenas de cortina de fumaça para os
interesses da direita e do imperialismo.
Os
dias de luta convocados pela CUT brasileira, (inclusive, Intersindical e CSP Conlutas), têm tido o objetivo de apoiar ou
disputar o governo. São atos de vanguarda e greves artificiais com uma pauta
ambígua. Inclui aparentemente reivindicações dos trabalhadores, tais como, a
luta contra o desemprego, mas os seus eixos principais são próprios de um
programa burguês desenvolvimentista: contra o superávit primário, por uma nova
política econômica. Supõe que o governo esteja em disputa. Mesmo a bandeira
contra o desemprego, transforma-se em farsa quando se traduz por reivindicações
de desoneração fiscal das indústrias, empréstimos oficiais, etc.
Os grupos reformistas (PSTU, PSOL) e
outros grupos “radicais” (doutrinários de esquerda), ao propor greves gerais,
estão apoiando esse tipo de greve. Dada a correlação de forças, não é possível
disputar com a CUT a direção dessas “greves”. O doutrinarismo de esquerda
propõe greve geral para qualquer conjuntura. Obviamente, está delegando essa
tarefa à CUT.
Rosa Luxemburgo e Trotsky estudaram as
principais greves gerais da história (Rússia, França e Inglaterra) e nos
deixaram algumas lições. As greves gerais somente são possíveis em momentos
revolucionários. São manifestações por excelência da luta de classes. Não são
as greves gerais que levam à revolução socialista, mas a situação
revolucionária é que torna possível a greve geral. Nem toda revolução deve
passar por uma greve geral. Nas greves de categorias, os sindicatos assumem o
papel principal. Nas greves gerais, o principal ator é o partido
revolucionário, coisa que não existe hoje em nenhum lugar. A greve geral não
pode ser convocada arbitrariamente, nem se pode criar as condições para ela
mediante a propaganda. Propagandear a necessidade da greve geral é tão inócuo
como a da revolução. Nem mesmo o maior partido proletário, nem a maior central
sindical, podem realizar uma greve geral ao seu arbítrio. A greve geral é um
fenômeno histórico, fruto de uma conjunção de inúmeros fatores. Fatores
objetivos: econômicos, políticos, sociais, materiais; e subjetivos: o partido,
os sindicatos, as organizações de base, a psicologia das massas.
Numa conjuntura não revolucionária, o
eixo da nossa política se desloca da ofensiva para a defensiva; de questões
como a organização da insurreição, da greve geral, para os métodos e tarefas
que os preparam: a construção do partido revolucionário, a organização de base,
a autodefesa, a unificação das lutas, a propaganda do socialismo, a denúncia da
burocracia, do centrismo e do governo. As propostas abstratas de greve geral
são perniciosas, da mesma forma que qualquer política deslocada da realidade.
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