domingo, 12 de abril de 2015

INDEPENDÊNCIA DE CLASSE CONTRA O GOVERNO E A DIREITA


        Os trabalhadores brasileiros não contam com qualquer organização política que represente os seus interesses de classe. Encontram-se politicamente espremidos entre o bloco do governo Dilma (PT, PMDB, PP, CUT, MST, UNE e afins) e o outro bloco da direita (PSDB, DEM, e o fascismo). A esquerda dita marxista (PSOL, PSTU, entre outros) e a esquerda periférica do governo (MTST, intelectuais, etc.) em nada contribuem para a independência de classe. Os dois grandes setores burgueses têm em comum a defesa dos planos de ajuste (MPs 664, 665, que retiram direitos dos desempregados e das viúvas, PL 4330, que terceiriza os serviços) e de todos os pacotes de maldades contra o povo: tarifaço, privatizações, cortes dos direitos trabalhistas, previdenciários, nos salários dos aposentados, na saúde, educação, e contra a Petrobrás.
        Esse programa comum entre governo e oposição não impede que o PSDB, aliado ao fascismo, lidere uma virulenta campanha contra o primeiro. Percebe a possibilidade de chegar ao poder em 2018 (que lhe escapou entre os dedos em 2014) ou mesmo antes, através de impeachment. Parece que a sua estratégia é desgastar o governo até as eleições de 2018, embora as circunstâncias possam abreviar esses prazos, favorecendo o impeachment e até um improvável golpe. A ofensiva dessa direita tem dois pólos: de um lado a Operação Lava Jato e seus vazamentos seletivos, amplificados pela imprensa, exclusivamente, contra o PT; de outro, uma campanha nas redes sociais, visando a desmoralização do PT, orquestrada pela direita, envolvendo ONGs patrocinadas pelo imperialismo, a exemplo das conhecidas “revoluções coloridas”. O fato de o PT liderar o governo, o torna aos olhos das massas o principal responsável pela corrupção, do que se aproveita essa direita, que não está interessada na moralização do Estado, já que é tão corrupta quanto ele.
        Encurralado, o PT optou por assumir integralmente o programa de ajuste do grande capital, como estratégia para “combater” o golpe, ou seja, torná-lo desnecessário. Desmoraliza-se ainda mais diante das massas e afasta alguns dos seus aliados. Essa política é sedutora para a oposição. Ao aplicar os planos de ajuste da direita, o governo presta-lhe um grande serviço assumindo para si o trabalho sujo que seria o seu. Entregaria-lhe o governo devidamente “saneado” em 2018. Entretanto, existe também outro lado. As lutas podem passar por cima da retranca do governo e dos pelegos da CUT, CTB, etc., tornando inócua a tentativa do PT de segurar os movimentos sociais, sua especialidade. Nesse caso, as lutas somente poderiam ser contidas pela repressão, que é uma vocação da direita. Essa seria a conjuntura mais propícia para o impeachment.

As manifestações, os planos de arrocho e o impeachment

        Essa campanha sistemática da direita desembocou em grandes mobilizações de massa, pela primeira vez após décadas, levando para a rua em maior número a média burguesia e profissionais liberais, mas também uma expressiva minoria da pequena burguesia e assalariados. A média burguesia, embora também atingida pela crise, foi para a rua movida pelo ódio ao PT e tudo o que ele para ela representa simbolicamente e que potencialmente poderia levar ao comunismo, principalmente, os programas sociais. Alimenta um medo doentio, instigada pela grande burguesia, a esse fantasioso comunismo representado pelo PT. Mobiliza-se preventivamente. O seu combate à corrupção é uma farsa restrita ao PT. É como se este cometesse a heresia de querer participar do banquete reservado da corrupção burguesa. Esse setor social não tem programa, serve apenas de marionete da grande burguesia, que está por trás dele.  É atingido pela política do capital monopolista, mas se submete a ele supondo ser a grande burguesia a guardiã da sua sobrevivência enquanto classe. É vítima da crise capitalista, mas volta-se contra os trabalhadores. Não é capaz de opor a mínima resistência à entrega da economia nacional ao imperialismo.
        Os pequenos burgueses e assalariados presentes nas manifestações, foram movidos por interesses legítimos: os ajustes, tarifaços, cortes sociais, inflação. Entretanto, também não apresentaram as suas reivindicações próprias, apenas engrossaram o coro da burguesia e assumiram o seu conteúdo. Esses atos foram dominados integralmente pelas bandeiras da direita e do fascismo. Nenhuma reivindicação progressista foi levantada. Não foram mobilizações legítimas dirigidas pela reação, como caracteriza parte da esquerda, atribuindo-lhes algum caráter progressista. Não. Tratou-se de mobilizações reacionárias.
        Os atos convocados pelo governismo (CUT, MST, UNE, etc.) se caracterizaram por serem de apoio ao governo, mesmo que alegassem defender os direitos trabalhistas, a Petrobrás e combater a corrupção. Não se pode combater os “ajustes” liberais defendendo o governo que os patrocina. Não se pode combater a corrupção e defender a Petrobrás, eximindo o governo de responsabilidade em relação a elas. Somente os trabalhadores têm interesses no combate à corrupção e devem denunciar a corrupção do conjunto da burguesia, quer seja do PT ou PSDB. A CUT, se não fosse governista, teria condições de realizar uma investigação independente, retirando da burguesia essa bandeira. Prefere lavar a cara do PT. Quando a CUT fala “nenhum direito a menos”, não se deve entender que esteja contra os planos de ajuste. Não moverá um dedo contra eles. Aposta na negociação com o congresso, apenas para “dourar a pílula” desses planos. Essa central pelega é irrecuperável. Por isso, o PSTU vende ilusão quando exige que a CUT e o MST rompam com o governo.
          Algumas organizações de esquerda, como o PCO, entre outros, chamaram a participação nesses atos governistas em nome da unidade contra o golpe. Não se combate o golpe defendendo o governo, porque a sua defesa reforça a bandeira da direita de campeã da moralidade pública. Somente com uma denúncia contundente do governo, da sua corrupção, dos seus pacotes de ajuste, podemos disputar à direita a consciência das massas. Essa é a única política coerente contra um possível golpe ou impeachment. A luta contra este não é uma declaração vazia de intenções, mas uma disputa política contra a direita pela influência sobre as massas. Não se faz isso apoiando o governo.
 A Frente Única é uma ação prática de massas em torno de um objetivo preciso. Os atos convocados pela CUT não são contra um possível golpe de direita, são de apoio ao governo. Apoiar o governo não se confunde com a luta contra o golpe. O governo procura evitar o impeachment implementando os planos do capital, e a CUT está alinhada com essa política, mesmo que disfarçadamente.  A frente com a CUT neste momento significa apoio ao governo e aos seus pacotes. Essa Frente Única somente se justificaria no caso em que a mesma estivesse efetivamente levando uma luta progressista e não de aparência. Não é o caso da pretensa luta contra o golpe. A CUT é um braço inseparável do PT. A nossa política em relação a ela deve ser de denúncia implacável do seu caráter burguês, ao invés de participar dos seus atos governistas ou exigir que rompa com o governo.
        Também não se pode combater a corrupção através de investigações do congresso em unidade com os partidos de direita, como faz o PSOL. Esses partidos abstratamente podem comprometer-se em investigar todos os envolvidos na corrupção da Petrobrás. Na prática, isso somente valerá para o PT. Não se pode dar esse crédito de confiança a eles, sabidamente demagogos e corruptos. Nenhuma ilusão nos partidos patronais. Devemos denunciá-los sumariamente, baseados na sua história, ao invés de fazer frente parlamentar com eles.
        Entendemos que o impeachment ou o golpe é uma possibilidade que não está colocada para o momento imediato. Mesmo assim, nos colocamos contra o movimento golpista e desestabilizador do governo, promovido pelo PSDB e o fascismo. O impeachment, para nós, também é uma forma de golpe e não apenas uma alternativa constitucional, como diz o PSTU, para quem seria trocar seis por meia dúzia. Não. Seria um golpe porque é um casuísmo contra o PT. E seria também um golpe porque se voltaria principalmente contra os trabalhadores e suas organizações. É o movimento dos trabalhadores que a direita odeia e quer destruir. Para ela, nós somos o inimigo e não o PT. O seu ódio ao PT é apenas uma manifestação distorcida da sua ojeriza ao movimento independente do proletariado.




  

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