Os trabalhadores brasileiros não contam
com qualquer organização política que represente os seus interesses de classe.
Encontram-se politicamente espremidos entre o bloco do governo Dilma (PT, PMDB,
PP, CUT, MST, UNE e afins) e o outro bloco da direita (PSDB, DEM, e o
fascismo). A esquerda dita marxista (PSOL, PSTU, entre outros) e a esquerda
periférica do governo (MTST, intelectuais, etc.) em nada contribuem para a
independência de classe. Os dois grandes setores burgueses têm em comum a
defesa dos planos de ajuste (MPs 664, 665, que retiram direitos dos
desempregados e das viúvas, PL
4330, que terceiriza os serviços) e de todos os pacotes de maldades contra o povo:
tarifaço, privatizações, cortes dos direitos trabalhistas, previdenciários, nos
salários dos aposentados, na saúde, educação, e contra a Petrobrás.
Esse programa comum entre governo e
oposição não impede que o PSDB, aliado ao fascismo, lidere uma virulenta
campanha contra o primeiro. Percebe a possibilidade de chegar ao poder em 2018
(que lhe escapou entre os dedos em 2014) ou mesmo antes, através de impeachment.
Parece que a sua estratégia é desgastar o governo até as eleições de 2018,
embora as circunstâncias possam abreviar esses prazos, favorecendo o
impeachment e até um improvável golpe. A ofensiva dessa direita tem dois pólos:
de um lado a Operação Lava Jato e seus vazamentos seletivos, amplificados pela
imprensa, exclusivamente, contra o PT; de outro, uma campanha nas redes
sociais, visando a desmoralização do PT, orquestrada pela direita, envolvendo ONGs
patrocinadas pelo imperialismo, a exemplo das conhecidas “revoluções
coloridas”. O fato de o PT liderar o governo, o torna aos olhos das massas o
principal responsável pela corrupção, do que se aproveita essa direita, que não
está interessada na moralização do Estado, já que é tão corrupta quanto ele.
Encurralado, o PT optou por assumir integralmente o programa
de ajuste do grande capital, como estratégia para “combater” o golpe, ou seja,
torná-lo desnecessário. Desmoraliza-se ainda mais diante das massas e afasta
alguns dos seus aliados. Essa política é sedutora para a oposição. Ao aplicar
os planos de ajuste da direita, o governo presta-lhe um grande serviço assumindo
para si o trabalho sujo que seria o seu. Entregaria-lhe o governo devidamente
“saneado” em 2018. Entretanto, existe também outro lado. As lutas podem passar
por cima da retranca do governo e dos pelegos da CUT, CTB, etc., tornando
inócua a tentativa do PT de segurar os movimentos sociais, sua especialidade.
Nesse caso, as lutas somente poderiam ser contidas pela repressão, que é uma
vocação da direita. Essa seria a conjuntura mais propícia para o impeachment.
As manifestações, os
planos de arrocho e o impeachment
Essa campanha sistemática da direita
desembocou em grandes mobilizações de massa, pela primeira vez após décadas,
levando para a rua em maior número a média burguesia e profissionais liberais,
mas também uma expressiva minoria da pequena burguesia e assalariados. A média
burguesia, embora também atingida pela crise, foi para a rua movida pelo ódio
ao PT e tudo o que ele para ela representa simbolicamente e que potencialmente
poderia levar ao comunismo, principalmente, os programas sociais. Alimenta um
medo doentio, instigada pela grande burguesia, a esse fantasioso comunismo representado
pelo PT. Mobiliza-se preventivamente. O seu combate à corrupção é uma farsa
restrita ao PT. É como se este cometesse a heresia de querer participar do
banquete reservado da corrupção burguesa. Esse setor social não tem programa,
serve apenas de marionete da grande burguesia, que está por trás dele. É atingido pela política do capital
monopolista, mas se submete a ele supondo ser a grande burguesia a guardiã da
sua sobrevivência enquanto classe. É vítima da crise capitalista, mas volta-se
contra os trabalhadores. Não é capaz de opor a mínima resistência à entrega da
economia nacional ao imperialismo.
Os pequenos burgueses e assalariados presentes
nas manifestações, foram movidos por interesses legítimos: os ajustes,
tarifaços, cortes sociais, inflação. Entretanto, também não apresentaram as
suas reivindicações próprias, apenas engrossaram o coro da burguesia e
assumiram o seu conteúdo. Esses atos foram dominados integralmente pelas
bandeiras da direita e do fascismo. Nenhuma reivindicação progressista foi
levantada. Não foram mobilizações legítimas dirigidas pela reação, como
caracteriza parte da esquerda, atribuindo-lhes algum caráter progressista. Não.
Tratou-se de mobilizações reacionárias.
Os atos convocados pelo governismo (CUT,
MST, UNE, etc.) se caracterizaram por serem de apoio ao governo, mesmo que
alegassem defender os direitos trabalhistas, a Petrobrás e combater a
corrupção. Não se pode combater os “ajustes” liberais defendendo o governo que
os patrocina. Não se pode combater a corrupção e defender a Petrobrás, eximindo
o governo de responsabilidade em relação a elas. Somente os trabalhadores têm
interesses no combate à corrupção e devem denunciar a corrupção do conjunto da
burguesia, quer seja do PT ou PSDB. A CUT, se não fosse governista, teria
condições de realizar uma investigação independente, retirando da burguesia
essa bandeira. Prefere lavar a cara do PT. Quando a CUT fala “nenhum direito a
menos”, não se deve entender que esteja contra os planos de ajuste. Não moverá
um dedo contra eles. Aposta na negociação com o congresso, apenas para “dourar
a pílula” desses planos. Essa central pelega é irrecuperável. Por isso, o PSTU
vende ilusão quando exige que a CUT e o MST rompam com o governo.
Algumas organizações de esquerda, como o PCO,
entre outros, chamaram a participação nesses atos governistas em nome da
unidade contra o golpe. Não se combate o golpe defendendo o governo, porque a
sua defesa reforça a bandeira da direita de campeã da moralidade pública.
Somente com uma denúncia contundente do governo, da sua corrupção, dos seus
pacotes de ajuste, podemos disputar à direita a consciência das massas. Essa é
a única política coerente contra um possível golpe ou impeachment. A luta
contra este não é uma declaração vazia de intenções, mas uma disputa política
contra a direita pela influência sobre as massas. Não se faz isso apoiando o
governo.
A
Frente Única é uma ação prática de massas em torno de um objetivo preciso. Os
atos convocados pela CUT não são contra um possível golpe de direita, são de
apoio ao governo. Apoiar o governo não se confunde com a luta contra o golpe. O
governo procura evitar o impeachment implementando os planos do capital, e a
CUT está alinhada com essa política, mesmo que disfarçadamente. A frente com a CUT neste momento significa
apoio ao governo e aos seus pacotes. Essa Frente Única somente se justificaria
no caso em que a mesma estivesse efetivamente levando uma luta progressista e
não de aparência. Não é o caso da pretensa luta contra o golpe. A CUT é um
braço inseparável do PT. A nossa política em relação a ela deve ser de denúncia
implacável do seu caráter burguês, ao invés de participar dos seus atos
governistas ou exigir que rompa com o governo.
Também
não se pode combater a corrupção através de investigações do congresso em
unidade com os partidos de direita, como faz o PSOL. Esses partidos abstratamente
podem comprometer-se em investigar todos os envolvidos na corrupção da
Petrobrás. Na prática, isso somente valerá para o PT. Não se pode dar esse
crédito de confiança a eles, sabidamente demagogos e corruptos. Nenhuma ilusão
nos partidos patronais. Devemos denunciá-los sumariamente, baseados na sua
história, ao invés de fazer frente parlamentar com eles.
Entendemos que o impeachment ou o golpe
é uma possibilidade que não está colocada para o momento imediato. Mesmo assim,
nos colocamos contra o movimento golpista e desestabilizador do governo,
promovido pelo PSDB e o fascismo. O impeachment, para nós, também é uma forma
de golpe e não apenas uma alternativa constitucional, como diz o PSTU, para
quem seria trocar seis por meia dúzia. Não. Seria um golpe porque é um casuísmo
contra o PT. E seria também um golpe porque se voltaria principalmente contra
os trabalhadores e suas organizações. É o movimento dos trabalhadores que a
direita odeia e quer destruir. Para ela, nós somos o inimigo e não o PT. O seu
ódio ao PT é apenas uma manifestação distorcida da sua ojeriza ao movimento
independente do proletariado.
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