domingo, 23 de fevereiro de 2014

BREVE BALANÇO DA GREVE DOS RODOVIÁRIOS

       
            O julgamento do TRT concedendo 7,5% aos rodoviários, mesmo percentual já oferecido antes pelos empresários, significou a derrota da greve e demonstrou mais uma vez o caráter patronal desse tribunal. Por falta de uma direção independente, os rodoviários não tiveram forças para vencer a aliança entre os patrões, o sindicato (Força Sindical), a oposição (CUT) e os governos estadual e municipal. Bem que a categoria tentou apropriar-se do movimento, rejeitando nos primeiros dias o acordo firmado pelo Comando de Greve (dirigido pela oposição cutista) que havia aceitado os mesmos 7,5%. A categoria pagou um alto preço pelas suas ilusões na oposição da CUT. Esta recuou do acordo na assembléia, apostando no desgaste natural da greve. A oposição alardeia que foi uma vitória a decisão do tribunal, os míseros 7,5%.
        Nessa greve, os rodoviários foram usados, como sempre, pelos patrões (que forneceram, inclusive, transporte para as assembléias), visando o aumento das passagens, e pelo sindicato (Força Sindical e CUT), que participou do jogo dispondo-se a voltar ao trabalho de mãos vazias e não tomando as medidas necessárias para a sua vitória, como a decretação do passe livre pelos grevistas, apresentando demagogicamente essa reivindicação a Fortunati.  A greve foi também apoiada veladamente pelo governo Tarso, que orientou a Brigada Militar a não reprimir os piquetes com o objetivo de desgastar o prefeito.
        A greve não convinha ao prefeito Fortunati porque o desgastava politicamente. Por isso, tentou reprimi-la, mas não o conseguiu pelo “corpo mole” do governo estadual. O prefeito também é aliado dos patrões. Não tomou as medidas de enfrentamento necessárias: o passe livre ou a intervenção nas empresas, aceitando passivamente o desgaste. Agora, com a derrota da greve, prepara-se para premiar o patronato com generoso aumento da tarifa. Pressionado pelo tribunal, anuncia uma licitação previsivelmente viciada.
        A oposição da CUT, para encobrir a sua omissão, intimidou a categoria com o fantasma da demissão por justa causa, caso pusesse em prática o passe livre. Sabemos dos riscos dessa atitude, mas uma greve por tempo indeterminado num serviço essencial é, por natureza, arriscada. Com a rejeição do acordo na primeira semana, foi decretada a ilegalidade da greve e, portanto, desde então, os rodoviários já estavam expostos às represálias patronais. Os patrões mudaram de atitude e passaram a pressionar os rodoviários a furar a greve. Esta não poderia ser vitoriosa sem que os rodoviários também não dessem um passo em frente através do passe livre unilateral. A vitória não seria possível sem um enfrentamento radical. Para tanto, seria necessário a solidariedade dos demais trabalhadores e da opinião pública. Esta última seria ganha pelo passe livre e o apoio das outras categorias dependeria de uma central combativa, coisa que não se pode esperar da CUT ou da Força Sindical. Apenas a vitória da greve poderia evitar as represálias, inclusive, as demissões. Ao levantar o fantasma das demissões por justa causa, a oposição cutista reconheceu que não estava disposta a apostar na vitória.
        Essa greve deixa duas lições principais. A primeira: diante da unidade entre todos os patrões, governos municipal e estadual, pelegos sindicais, justiça do trabalho, é indispensável contrapor a unidade de todos os trabalhadores e uma radicalização dos métodos de luta: ocupação dos locais de trabalho, piquetes, fundos de greve. Nunca foi tão atual a poesia de Jorge Fischer: “greve é quase a revolução” (1). As greves tradicionais e bem comportadas estão fadadas ao fracasso. A segunda: a necessidade da criação de oposições revolucionárias e de uma ampla organização de base. É preciso derrotar os atuais pelegos sindicais (CUT, Força Sindical, CTB, etc.)

O Bloco de Oposição de Esquerda
        Como apoio externo à greve, foi criado o Bloco de Oposição de Esquerda (Conlutas, Intersindical, CUT Pode Mais, PSOL e PSTU). Esse bloco apoiou a oposição cutista dos rodoviários e com isso foi conivente com a sua política e com a derrota da greve. Hoje, o Bloco de Luta pelo Transporte Público, composto pelas mesmas forças mais os anarquistas, apresenta a proposta vazia de um “transporte 100% público” e combate a licitação a ser realizada pela prefeitura: “por isso, queremos barrar essa licitação e construir um projeto consultando a população”.
        Certamente, a licitação de Fortunati será viciada e nada resolve. Não pode ser a alternativa dos trabalhadores. A alternativa é a estatização do transporte (não a abstração “por um transporte 100% público”, que não se sabe o que é). A defesa da estatização do transporte é a única forma coerente de sermos contra a licitação. Propor “barrar a licitação” em nome de uma vaga “consulta à população”, significa colocar-se inteiramente a serviço dos atuais empresários do transporte. Uma vergonha. A categoria dos rodoviários deve rechaçar também esses supostos apoiadores de esquerda.

(1)                “Greve é pedra. Greve é fogo. Greve é terra. É uma esperança que medra e cresce em gritos de guerra. É o sangue estuando na fronte. É o homem a estender a mão até o cordão do horizonte. Greve é quase a revolução”.



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