O julgamento do TRT
concedendo 7,5% aos rodoviários, mesmo percentual já oferecido antes pelos
empresários, significou a derrota da greve e demonstrou mais uma vez o caráter
patronal desse tribunal. Por falta de uma direção independente, os rodoviários
não tiveram forças para vencer a aliança entre os patrões, o sindicato (Força
Sindical), a oposição (CUT) e os governos estadual e municipal. Bem que a categoria
tentou apropriar-se do movimento, rejeitando nos primeiros dias o acordo
firmado pelo Comando de Greve (dirigido pela oposição cutista) que havia
aceitado os mesmos 7,5%. A categoria pagou um alto preço pelas suas ilusões na
oposição da CUT. Esta recuou do acordo na assembléia, apostando no desgaste
natural da greve. A oposição alardeia que foi uma vitória a decisão do tribunal,
os míseros 7,5%.
Nessa
greve, os rodoviários foram usados, como sempre, pelos patrões (que forneceram,
inclusive, transporte para as assembléias), visando o aumento das passagens, e
pelo sindicato (Força Sindical e CUT), que participou do jogo dispondo-se a
voltar ao trabalho de mãos vazias e não tomando as medidas necessárias para a
sua vitória, como a decretação do passe livre pelos grevistas, apresentando
demagogicamente essa reivindicação a Fortunati.
A greve foi também apoiada veladamente pelo governo Tarso, que orientou
a Brigada Militar a não reprimir os piquetes com o objetivo de desgastar o
prefeito.
A greve não convinha ao prefeito
Fortunati porque o desgastava politicamente. Por isso, tentou reprimi-la, mas
não o conseguiu pelo “corpo mole” do governo estadual. O prefeito também é
aliado dos patrões. Não tomou as medidas de enfrentamento necessárias: o passe
livre ou a intervenção nas empresas, aceitando passivamente o desgaste. Agora,
com a derrota da greve, prepara-se para premiar o patronato com generoso
aumento da tarifa. Pressionado pelo tribunal, anuncia uma licitação
previsivelmente viciada.
A
oposição da CUT, para encobrir a sua omissão, intimidou a categoria com o fantasma
da demissão por justa causa, caso pusesse em prática o passe livre. Sabemos dos
riscos dessa atitude, mas uma greve por tempo indeterminado num serviço
essencial é, por natureza, arriscada. Com a rejeição do acordo na primeira
semana, foi decretada a ilegalidade da greve e, portanto, desde então, os
rodoviários já estavam expostos às represálias patronais. Os patrões mudaram de
atitude e passaram a pressionar os rodoviários a furar a greve. Esta não
poderia ser vitoriosa sem que os rodoviários também não dessem um passo em
frente através do passe livre unilateral. A vitória não seria possível sem um
enfrentamento radical. Para tanto, seria necessário a solidariedade dos demais
trabalhadores e da opinião pública. Esta última seria ganha pelo passe livre e
o apoio das outras categorias dependeria de uma central combativa, coisa que
não se pode esperar da CUT ou da Força Sindical. Apenas a vitória da greve
poderia evitar as represálias, inclusive, as demissões. Ao levantar o fantasma
das demissões por justa causa, a oposição cutista reconheceu que não estava
disposta a apostar na vitória.
Essa
greve deixa duas lições principais. A primeira: diante da unidade entre todos
os patrões, governos municipal e estadual, pelegos sindicais, justiça do
trabalho, é indispensável contrapor a unidade de todos os trabalhadores e uma
radicalização dos métodos de luta: ocupação dos locais de trabalho, piquetes,
fundos de greve. Nunca foi tão atual a poesia de Jorge Fischer: “greve é quase
a revolução” (1). As greves tradicionais e bem comportadas estão fadadas ao
fracasso. A segunda: a necessidade da criação de oposições revolucionárias e de
uma ampla organização de base. É preciso derrotar os atuais pelegos sindicais
(CUT, Força Sindical, CTB, etc.)
O
Bloco de Oposição de Esquerda
Como apoio externo à greve, foi criado o Bloco
de Oposição de Esquerda (Conlutas, Intersindical, CUT Pode Mais, PSOL e PSTU).
Esse bloco apoiou a oposição cutista dos rodoviários e com isso foi conivente
com a sua política e com a derrota da greve. Hoje, o Bloco de Luta pelo
Transporte Público, composto pelas mesmas forças mais os anarquistas, apresenta
a proposta vazia de um “transporte 100% público” e combate a licitação a ser
realizada pela prefeitura: “por isso, queremos barrar essa licitação e
construir um projeto consultando a população”.
Certamente,
a licitação de Fortunati será viciada e nada resolve. Não pode ser a alternativa
dos trabalhadores. A alternativa é a estatização do transporte (não a abstração
“por um transporte 100% público”, que não se sabe o que é). A defesa da
estatização do transporte é a única forma coerente de sermos contra a
licitação. Propor “barrar a licitação” em nome de uma vaga “consulta à
população”, significa colocar-se inteiramente a serviço dos atuais empresários
do transporte. Uma vergonha. A categoria dos rodoviários deve rechaçar também
esses supostos apoiadores de esquerda.
(1)
“Greve é pedra. Greve é fogo. Greve é terra. É
uma esperança que medra e cresce em gritos de guerra. É o sangue estuando na
fronte. É o homem a estender a mão até o cordão do horizonte. Greve é quase a
revolução”.
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