Dia
04 de março, Sérgio Moro deu novo bote contra o PT, prendendo Lula por algumas
horas, o que se chamou de “condução coercitiva”. Lula, mais do que Dilma, vira
alvo do “golpe legal”, patrocinado por parte do Ministério Público, Polícia
Federal, Justiça Federal, Globo, Veja, IstoÉ e parte do STF, através do que se
convencionou chamar de Operação Lava Jato. Dizem que ninguém está acima da lei.
No caso de Sérgio Moro e da Lava Jato, a “lei é ele” e seus interesses. A
“condução coercitiva” de Lula (bem como, a de outros indiciados) foi uma
arbitrariedade, segundo as leis vigentes, porque ele não foi sequer intimado
previamente. Fez parte do estardalhaço midiático com finalidades escusas, ou
seja, desmoralizar Lula e o PT e impedir sua candidatura em 2018. Ninguém
explica porque a Globo estava a postos desde a madrugada para transmitir aquilo
que devia ser sigiloso.
A
Lava Jato não é uma investigação contra a corrupção, é um complô contra o PT,
tendo como finalidade depor Dilma, impedir a candidatura de Lula em 2018,
destruir a Petrobrás e entregar o Pré-sal às multinacionais. Isso fica
cristalino pelos seus métodos (a prisão de Lula é apenas um exemplo) e pelo seu
alvo exclusivo. O PSDB e seus caciques estão acima de qualquer suspeita. A
investigação visa apenas arranjar provas ou pretextos exclusivamente contra o
PT e o governo. A prisão dos grandes empreiteiros e de alguns políticos
pretende apenas chantageá-los para que delatem o PT sob encomenda, e ao mesmo
tempo, enfraquecer essas empresas nacionais, abrindo espaço para as multinacionais,
enfraquecendo a Petrobrás, pela paralisação das suas obras (a construção das
refinarias). Muitos dos chefes da Lava Jato (Sérgio Moro, Fernando dos Santos
Lima) são os mesmos que conduziram e abafaram a investigação do escândalo do Banestado.
O conluio com a Globo, Veja e IstoÉ fica evidente nos vazamentos seletivos, e
que ficam por isso mesmo.
A Lava Jato não combate a corrupção e
não se restringe à legalidade vigente. O conjunto dos fatos e os seus métodos
não deixam dúvida quanto à orquestração golpista. Procura-se moldar a opinião
pública, sem o que o golpe seria impossível.
O PAPEL DO PT
O
PT não se defende seriamente dos ataques da Lava Jato porque tem os mesmos
compromissos com o grande capital que os seus inimigos golpistas. Não pode
denunciá-los com clareza porque implicaria em denunciar si mesmo, já que
participa do mesmo esquema. Não pode apelar às massas porque isso contraria os
seus interesses e o dos seus patrocinadores. A sua resistência ao golpe
consiste em ceder aos planos liberais. PT, PSDB e PMDB, entre outros, estão
unidos no ajuste fiscal, reforma da previdência, lei antiterrorista, entrega do
Pré-sal às multinacionais.
O PT é mais um partido da ordem
capitalista, agente do imperialismo e tão corrupto quanto os outros. O
“projeto” que diz defender é uma farsa. Não foi tal “projeto” que tirou milhões
da miséria. Foi a conjuntura internacional favorável (alto preço das matérias
primas e crédito farto). O Brasil se beneficiou do seu papel de exportador de
produtos primários. Colheu os frutos de ser semi-colônia. Tais condições não
existem mais. Hoje, colhe o ônus da crise internacional. O seu “projeto” consiste num assistencialismo
mesquinho, e no patrocínio dos interesses do grande capital, no atacado.
O PT serve ao capital à sua maneira.
Nisso se diferencia do PSDB. Nasceu vinculado ao movimento sindical e popular.
Esse movimento, mesmo apelegado, aspira recolher as migalhas que caem da mesa
da burguesia, com a sua intermediação. A crise econômica, cada vez mais
permanente, exige da burguesia ataques cada vez mais brutais. Não há mais
espaço para concessões, nem sequer de migalhas. O momento é de ofensiva da
burguesia e defensiva dos trabalhadores. A burguesia não precisa mais dos seus
préstimos, embora ainda se divida quanto ao golpe.
A
participação do Brasil nos BRICS descontenta também o imperialismo dominante (Estados
Unidos e Europa). Este está na ofensiva na América Latina para enfrentar a
influência da Rússia e China. Desestabiliza a Argentina, Bolívia, Equador,
Venezuela e Brasil. A Lava Jato é parte dessa ofensiva. O PT não é melhor nem
pior que o PSDB. É diferente, pelas suas origens e seus métodos. O seu vínculo
com os movimentos condiciona a forma da sua política e não a essência. Também é
capaz de atacar brutalmente os trabalhadores.
O GOLPE E AS
ESQUERDAS
A esquerda divide-se em dois campos
opostos diante do movimento golpista. Um setor flerta disfarçadamente com o
golpe (PSTU, setores do PSOL, no caso, MES, CST, etc.), e outro setor apóia o
governo (PCO, entre outros), sob pretexto do combate ao golpe. Os primeiros
inclinam-se diante da opinião pública influenciada pela Lava Jato. Não
denunciam o golpe, nem o definem como tal. Inclusive, o PSOL defende “a
investigação até o final, pois ninguém está acima da lei”.
O PSTU tem a seguinte política: “Fora
todos. Eleições gerais já. Construir na luta um governo dos trabalhadores
formado por Conselhos Populares”. Portanto, defende o Fora Dilma, da mesma
forma que a direita, apenas com a diferença que isso seria feito pelos
trabalhadores. Acontece que os trabalhadores estão na defensiva. O seu governo
não está colocado na ordem do dia. Somente a direita está em condições de depor
Dilma. Na prática, o Fora Dilma do PSTU leva água ao moinho da direita.
A sua política alternativa de eleições
gerais não melhora a situação: “Enquanto não temos os Conselhos Populares,
defendemos eleições gerais já, não só para presidente, mas para todo mundo”. Essa
proposta também é parecida com a do PSDB, que propõe a renúncia de Dilma e
novas eleições para presidente. As tais eleições gerais preconizadas pelos PSTU
não teriam a participação desses “corruptos envolvidos na Lava Jato, e mudariam
não apenas a presidenta mas “todo esse congresso de picaretas”. Mas uma vez,
vende ilusões brincando de radical. A mesma conjuntura defensiva que não é
propícia ao governo dos trabalhadores também não o é a tais eleições gerais
revolucionárias. Qualquer eleição hoje será amplamente hegemonizada pela
direita. Somente uma criança de colo e o PSTU não vêem.
O
MRT, ex-LER, apresenta a proposta de Constituinte soberana. Tal proposta
claudica da mesma perna que as eleições gerais do PSTU. Quem convocaria essa Assembléia
Constituinte soberana? Quem teria maioria nela? Pode-se esperar que tal
Assembléia sirva aos trabalhadores contra a burguesia? Não seria mais lógico
supor que seria mais uma arma desta contra o proletariado? No campo das
abstrações a esquerda é campeã.
Outro setor da esquerda, mais minoritário,
participa das manifestações governistas, como se isso fosse uma espécie de
frente única contra o golpe, quando, na verdade, são de defesa do governo. A
CUT, e outras entidades, fingem divergir de alguns aspectos da política
governamental, mas a apóiam integralmente, de fato. Não é possível lutar contra
o golpe apoiando a política de ajustes liberais. Participar desses atos
significa apoiar o governo e sua política, porque os mesmos são hegemonizados
pelo governismo. Somente se pode derrotar o golpe enfrentando a política de
austeridade da burguesia, patrocinada pelos dois blocos burgueses, o do governo
e o da oposição (o arrocho fiscal, a reforma da previdência, a destruição da
Petrobrás, etc.). Somente essa denúncia pode desmascarar a direita e
enfraquecê-la, retirando dela o monopólio da crítica ao governo e mostrando a
sua unidade contra o povo por trás da briga pelo poder.
Lutar
contra o golpe não se confunde com o apoio ao governo. Nenhum apoio a este.
Lutamos contra o golpe não porque Dilma seja melhor que Aécio, mas porque o
golpe se voltará principalmente contra todo o movimento organizado dos
trabalhadores e a esquerda em geral. É necessário criar um movimento
independente dos trabalhadores, por mais minoritário que seja. Não pode ser o
movimento promovido pelo Espaço de Unidade de Ação (PSTU, CSP-Conlutas,
Intersindical, setores do PSOL, etc.) porque este, mesmo que se diga
independente dos dois blocos burgueses, é de fato uma variante do movimento da
direita. Isso se materializa na palavra de ordem de Fora Dilma. A frente única
contra o golpe é uma necessidade, mas somente é possível em torno de lutas
pontuais, nas quais não estejam colocadas nem o apoio ao governo nem o apoio
disfarçado ao golpe.
Infelizmente,
o proletariado não tem, e não pode ter a curto ou médio prazo, uma alternativa
própria de poder. Criar as condições para tal é a nossa tarefa. Isso implica
derrotar as políticas oportunistas desses dois blocos de esquerda, derrotar o
peleguismo sindical e todas as influências burguesas entre nós. Somente assim
se pode criar um partido revolucionário, condição indispensável para que os
trabalhadores possam almejar a conquista do poder político.
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