quarta-feira, 29 de julho de 2015

GRÉCIA: NOVA COLÔNIA DA UNIÃO EUROPEIA

       O acordo entre o governo grego (Syriza/ANEL) e a Troika (Banco Central Europeu, Comissão Européia e FMI) transforma a Grécia numa colônia. Até mesmo as propostas de lei devem ser apresentadas previamente à União Européia. Foi um golpe de Estado contra o povo grego. O Syriza passa a ser o executor desse plano. Tsipras tentou embelezar a capitulação: “um acordo difícil, mas que permite continuar a luta”. Isso contrasta com vozes do próprio imperialismo. O economista Paul Krugman afirma: “Isso é um golpe! A lista é mais do que dura, é vingança pura, destruição completa da soberania nacional e sem esperança de alívio”. Ou, como afirma a revista alemã Der Spiegel: “um catálogo de crueldades à Grécia”. A Grécia foi colocada à venda e criado um fundo de privatizações. Os impostos serão aumentados, bem como, a idade mínima para aposentadoria. Os contratos individuais se sobreporão aos coletivos.
 Alguns analistas relacionam esse acordo ao Tratado de Versalhes. Alguém o comparou ao Tratado de Brest-Litovsk (cidade polonesa) entre a Alemanha e a Rússia soviética (03.03.1918), avaliando que era um mal menor em relação à expulsão do Euro. Ao final da guerra, o exército russo estava sem condições de resistir à Alemanha. O tratado entregava a Ucrânia e a Bielo-Rússia, mas preservava o poder soviético, que ganhava tempo para consolidar-se. O acordo da Grécia com o Eurogrupo não tem qualquer relação com Brest-Litovsk. A Grécia não ganha fôlego, não cria possibilidade de recuperação e não tem uma revolução a preservar. O governo Syriza já está reprimindo as manifestações populares. Passa a governar apoiado nos partidos pró-imperialistas (Pasok, Nova Democracia, Potami), que ele mesmo havia derrotado.

O reformismo não passou na prova grega.
        Aqueles que apoiam o Syriza o ajudam a trair o povo. Entretanto, os críticos ao acordo não desempenham melhor papel. A Plataforma de Esquerda, tendência do Syriza, votou contra o acordo mas não rompeu com o partido e o governo. A Antarsya (Coalisão de Esquerda Anti-capitalista) de anti-capitalista não tem nada, é uma oposição burguesa. A maioria da esquerda mundial propõe a frente única com essa esquerda grega, que no máximo propõe o rompimento com a Eurozona. O reformismo, quando na oposição, costuma ser radical. Uma vez no governo, esquece o seu radicalismo.
         A Eurozona é uma camisa de força a serviço dos bancos, que esmaga principalmente os países periféricos, que não têm instrumentos para resistir: não tem moeda própria, o euro controlado pelo Banco Europeu, e com baixa produtividade. O rompimento com o euro somente é viável com a estatização do capital, principalmente, os bancos, e com o monopólio do comércio exterior. A nada disso se propõe essa esquerda. A unidade européia sob o capitalismo significa a escravização do mais fraco pelo mais forte.
        A esquerda internacional, após o acordo, está posando de radical, o que é uma fraude política. A maioria está contra a capitulação do Syriza, mas até a véspera o ajudou a colocar areia nos olhos dos trabalhadores. Apoiou acriticamente o referendo. Até as pedras sabiam que o governo apenas procurava respaldo para negociar outro acordo. Porque, então, a esquerda não preveniu o povo da traição anunciada? Nem sequer chamou voto crítico no não. Pelo contrário, voltou as suas baterias contra o Partido Comunista, o único que alertou contra essa traição, propondo a colocação na urna da seguinte proposta: “Não à proposta da União Européia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional; Não à proposta do governo. Saída da União Européia e classe trabalhadora no poder”. Isso foi tachado de sectarismo e divisionismo por toda a esquerda oportunista (LIT/PSTU, UIT/CST, PTS/MRT (ex-LER), etc.).
        Após o referendo, essa esquerda se fez de muito surpresa com a traição e sacou do colete o seu programa radical. Veremos apenas o programa da LIT, que é um retrato dos demais: “- Não a qualquer plano de austeridade; - Não a todas as medidas da Troika!; - Não à divida; - Pela imediata nacionalização da banca!; Por um plano de resgate dos trabalhadores e do povo!; - A vitória obtida no referendo deve ser defendida nas ruas com a mobilização!; - Fora o pacto Syriza, Pasok, ND”.
        Como se pode falar em vitória? A vitória do não no referendo respaldou a traição do Syriza que resultou no pacote de maldades da União Européia. A esquerda e a LIT se lembraram de defender “não a qualquer plano de austeridade”, apenas após o referendo. Antes disso, respaldaram o governo e o seu plano que estava na manga e todo mundo sabia.  Chamaram de sectarismo a proposta do PC de incluir no referendo exatamente isso, ou seja, não a qualquer plano de austeridade.
         A sua palavra de ordem “não à dívida” é incoerente. A dívida brasileira e argentina é tão fraudulenta quanto a grega. Aqui e na Argentina, essas correntes não fazem qualquer agitação de massa contra a dívida. Fazem apenas declarações para a vanguarda nos seus jornais. Também não fazem qualquer propaganda para as massas das tarefas do socialismo. A sua política do dia a dia é o economicismo rebaixado. A proposta de “nacionalização da banca” é ainda mais irônica. Alguém, por acaso, já leu na plataforma eleitoral do PSTU: - pela expropriação dos bancos e das multinacionais? É fácil ser radical para a Grécia, com o atlântico a nos separar.
         Após romper tardiamente com o Syriza, a esquerda passa a apostar na equivalente grega (Plataforma de Esquerda e Antarsya): “É necessário construir organismos de frente única que possam, nas ruas e locais de trabalho, combater os planos da Troika e promover toda a medida de mobilização dos trabalhadores e do povo, e com apoio internacional. Essa é a única via para derrotar o ataque imperialista e construir uma saída operária para a Grécia e Europa” (LIT). Convocam a raposa para cuidar do galinheiro. Não se pode descartar frente única eventual com alguns setores dessa esquerda contra os planos de austeridade, mas colocar nas suas mãos a tarefa de “construir uma saída operária para a Grécia” equivale a debochar dos trabalhadores, como se esta se dispusesse a romper com o capital. Os métodos devem ser coerentes com o programa.
        Mesmo que a LIT e todo o “trotskismo” estivesse à frente do proletariado grego, nem assim essa pretensa “saída operária para a Grécia” deixaria de ser demagógica. Basta lembrar que o seu programa é a revolução democrática, etapa anterior à revolução proletária. Não se pode romper com a União Européia e estatizar os bancos por via parlamentar, sem insurreição popular. A prova dos nove de uma política revolucionária não está nos discursos socialistas de dias de festa, mas no trabalho coerente pela insurreição proletária. Não propomos aventura, mas a criação de condições para a emancipação do proletariado.

E o Partido Comunista grego?
        Um setor da esquerda alinha-se ao Partido Comunista grego (no Brasil, a LBI). Nós também consideramos que o PC teve uma posição correta no referendo: “Não às propostas da União Européia; e, não às propostas do governo”. A frente única com ele contra os planos da Troika é uma necessidade. Entretanto, diferente da LBI, não delegamos ao PC a tarefa de encabeçar a revolução socialista, porque o seu programa e métodos são contraditórios com esses objetivos. Lembramos que se trata de um partido estalinista, que não defende a soberania popular, baseada nos conselhos de trabalhadores. Também devemos desconfiar da sua amizade com a Rússia, como expressa seu secretário geral, Dimitris Koutsoumpas: “Podemos utilizar as contradições entre os centros imperialistas e alcançar acordos internacionais de benefício mútuo para a Grécia sob o poder popular, o qual estará desligado da U.E. e da NATO”. Em geral, é correto tirar proveito das divisões entre os nossos inimigos, mas não podemos achar que a Rússia é amiga do povo grego e acreditar que a Grécia possa se beneficiar de “acordos internacionais” com a Rússia e a China.
        Na nova guerra fria entre os blocos EUA/Europa, de um lado, e Rússia e China, de outro, estas últimas estão numa posição defensiva. Assim como a Rússia não pode tolerar os mísseis da OTAN em Kiev, a Europa não tolerará a tutela da Grécia pela Rússia e China, a quem não convém comprar briga com aquela. E mesmo que resolvam socorrer a Grécia, não o fariam caso esta fizesse uma revolução proletária. Uma revolução grega vitoriosa colocaria Rússia e China, não ao seu lado, mas da Europa. Então, o PC grego ficaria diante do dilema: ou de frear a revolução ou romper com os seus aliados.
        A LBI ainda levanta a sua tradicional proposta de greve geral. Tudo o que a Grécia não precisa. Em cinco anos, houve 32 “greves gerais” na Grécia. Greves gerais demonstrativas, sem continuidade, que não pretendem conquistar nada, obstáculo que a burocracia coloca entre o povo e a revolução. Essa mesma burocracia que defendeu o sim no referendo. Nos últimos 40 anos, houve uma centena de greves gerais no mundo e apenas uma greve geral revolucionária (no Uruguai, anos 80, que durou quinze dias). A proposta de uma verdadeira greve geral revolucionária é uma abstração, porque, nas condições atuais, somente a burocracia pode convocar tais greves, que servem para amortecer a luta de classes e evitar a insurreição popular.

Uma proposta para a Grécia
        Não somos pessimistas. Vivemos uma profunda crise de organização e de consciência dos trabalhadores. Fato que não é novidade e não dura para sempre. A política do capital de destruição das conquistas populares cria as condições para a retomada das lutas, como está ocorrendo na Grécia e outros países. Essa resistência trará novamente a sua indispensável organização. O momento é de luta por criar as condições para a revolução proletária. Isso passa pela derrota da burocracia sindical, pelo desmascaramento do reformismo nas suas mais diversas variantes. É de luta pela soberania popular, sinônimo de organização de base, cuja expressão máxima são os conselhos populares. Nada disso acontece espontaneamente. Somente a criação de um partido revolucionário pode tornar efetiva a luta por esses objetivos.
        Essas são as tarefas gerais para a Grécia. Combater sem tréguas o governo capitulador do Syriza, aliado da direita, em unidade com quem estiver disposto a mobilizar as massas. Combater a burocracia sindical. Não depositar confiança na esquerda reformista (Plataforma de Esquerda e Antarsya), nem mesmo no PC. Lutamos pelos Estados Unidos Socialistas da Europa, o que implica romper com a escravatura da Eurozona, o que não pode ser feito por dentro do capitalismo. A vitória do socialismo não pode acontecer por via parlamentar, mas por via insurrecional. Um governo proletário não se sustentará se não for apoiado por um amplo movimento internacional de trabalhadores. A denúncia da extorsão capitalista sobre a Grécia, apelidada de dívida externa, é uma condição para esse movimento. O imperialismo europeu tem os pés de barro. Não resistiria a um movimento consciente das massas. A Grécia não está sozinha. Os amigos do proletariado grego são os seus irmãos escravizados europeus e o proletariado internacional.



domingo, 5 de julho de 2015

ALERTA CONTRA O OPORTUNISMO “FRENTISTA”

                          
         É fácil reconhecer os variados oportunismos pelos seus chavões políticos, verdadeiras receitas gerais: defesa da revolução democrática; Assembleia Constituinte; Revolução Permanente; Frente Única Antiimperialista (FUA); Greve Geral. Este é um texto de critica à Frente Única Antiimperialista na versão da Liga Comunista. Recentemente publicamos outro texto, A Nova Guerra Fria e a Luta de Classes, onde caracterizamos dois setores do “trotskismo” que apoiam respectivamente um ou outro desses imperialismos. Entre aqueles que apoiam o bloco Rússia/China, citamos a Liga Comunista: “apoiam também politicamente os governos das semi-colônias que estão sendo desestabilizados pelo imperialismo. O traço característico das suas políticas é a proposta abstrata e capituladora de frente única”. Ela então nos respondeu com o texto Combate ao Sectarismo Pró-imperialista. Essa versão de FUA faz parte de uma escola oportunista.
        A LC nos acusa de falsificar as suas posições: “toda a sua argumentação se baseia na falsificação das nossas posições “embelezando e apoiando de fato os governos burgueses dessas nações”, sem citar uma vez sequer a tal posição criticada em qualquer documento nosso. É assim porque a posição criticada SIMPLESMENTE NÃO EXISTE e qualquer um que leia as declarações da FCT e não precise apelar para a má fé para nos detratar constatará isto, pois uma das características básicas da política da FCT é a sua defesa (da) frente única sem prestar qualquer apoio político aos aliados vacilantes e circunstanciais que dirigem o movimento de massas ou as nações oprimidas ameaçadas”.
        Não há falsificação. Não citamos nenhum documento seu por se tratar de um texto de conjuntura e porque o oportunismo não se assume como tal. Jamais encontraríamos nos textos da LC prova explícita do seu oportunismo. A prova é sempre uma interpretação. O que dissemos nesse texto já foi dito e provado em outro, A Frente Única Segundo a Liga Comunista: “A Frente Única Anti-imperialista não faz parte do programa da IV Internacional. Não é verdade que a defenda, apenas sem utilizar a denominação, como afirma o Socialist Fight. Não, a IV Internacional não se valeu dessa tática porque não existem mais as condições da década de 20, principalmente, um partido revolucionário. A FUA é um “acordo prático” entre organizações de massa. Carece de sentido a sua defesa por pequenas organizações. Nunca foi uma tática universal, como o defendiam Lambert, Lora e agora a Liga Comunista. Pierre Lambert ressuscitou a FUA como tática política, fora de contexto. Na Bolívia, Guilhermo Lora aderiu à FUA lambertista, que passou a fazer parte da sua política permanente. Essa FUA lorista nada tinha a ver com as Teses do Oriente, (Teses da III Internacional, 1922) mas a uma versão “trotskista” de frente popular. Pressupunha a existência de uma ala progressista da burguesia”. “Ret Marut e a Liga Comunista não se dão ao trabalho de analisar a conjuntura atual comparativamente com a da época”.
 A LC nega a necessidade de um partido revolucionário como condição para a FUA. Para as Teses do Oriente, a luta pela direção da Frente Única era uma tarefa para os partidos comunistas (Capítulos V e VI). Ao contrário, a FUA da LC deve realizar-se entre governos ou partidos burgueses e pequenos grupos, como se estes pudessem fazer um acordo com esses governos. Quando condicionamos a FUA à existência de partidos proletários, nos acusam de valer-nos de “uma metodologia confusa de pensamento”. Toda a tradição marxista vincula qualquer tática aos partidos proletários: “o elemento essencial de uma manobra, como de toda a ação histórica da classe operária, é o partido” (A Internacional Comunista Depois de Lênin).
        Segundo a LC, “logo descobrimos que a LM é anti-FUA, ou seja, pró-imperialista”; “mas não dizem o porquê”. Não somos contra a FUA em geral, somos contra a FUA oportunista da LC e dissemos o porquê no texto mencionado (A Frente Única Segundo a Liga Comunista), e repetimos: a inexistência de partido revolucionário; a integração total das burguesias nacionais ao imperialismo. Isto, para LC, é ser pró-imperialista. A FUA da LC é uma estratégia, a mesma de Lambert e Lora. Não fosse assim, não a proporiam como uma panaceia universal, capaz de curar câncer e “mau olhado”, na Líbia, Síria, Venezuela, Brasil, Ucrânia, etc. É óbvio que para a LC a FUA não se trata de “acordos práticos”, porque estes somente são possíveis em situações perfeitamente delimitadas, que não são regra: “É evidente que não podemos, no futuro, renunciar a acordos semelhantes, rigorosamente limitados e servindo cada vez a um objetivo claramente definido” (idem).  
        A política marxista é concreta. Nem sempre são possíveis acordos práticos. Ao propor a FUA, como receita válida universalmente, a LC pressupõe a existência de uma burguesia anti-imperialista, mesmo que o negue. É uma lógica insofismável. Tanto é assim que considera até mesmo a Al Qaeda anti-imperialista. Isso seria válido para o chavismo, embora também o critiquem. Isso significa embelezar esses governos, que seriam supostamente nacionalistas. Não caluniamos. A sua afirmação de que “todo chamado à frente única se faz sem depositar nenhuma confiança nos aliados”, não melhora em nada, piora. Com uma declaração formal, a LC pretende disfarçar a sua política conciliadora.
        A LC, para justificar a sua receita de FUA, comete uma extrema generalização e falsificação histórica: “Toda a história das revoluções no pós-guerra comprova que onde a política de frente única anti-imperialista não foi desviada em frente popular, se edificaram Estados Operários (Iugoslávia, China, Coréia do Norte, Vietnã, ...)”. Isso é uma inverdade rematada. Tomemos o caso exemplar da China. Onde a frente única com a burguesia nacional, representada pelo Kuomintang, ajudou na vitória da revolução socialista? Pelo contrário, nas aventuras revolucionárias de Cantão e Xangai de 1926/27, o Kuomintang massacrou os conselhos populares e estes, antes de serem derrotados, o colocaram na ilegalidade. Desde então, o movimento revolucionário se fez contra o Kuomintang. 
       
O schachtmanismo
        A LC nos rotula de “a versão gaúcha do schachtmanismo”, que seria um câncer que “alastrou-se por quase todas as correntes que reivindicam o legado de Leon Trotsky”. Também lutamos contra esse “câncer”, que a LC não explica o que seja. O próprio termo revela o seu pedantismo com ares de sabedoria. Schachtmanismo se refere a Max Schachtman, dirigente na década de 30 de uma fração do SWP, partido da IV Internacional nos EUA. Schachtman defendia a luta em duas frentes simultâneas, na segunda guerra mundial, tanto contra Hitler, quanto contra Stálin. Trotsky respondeu: “naturalmente que isso é bem mais atraente”. Essa seria a condição mais favorável. Mas, “o problema é colocado assim: o que fazer se Hitler, antes de ser derrotado pela revolução, atacar a Ucrânia antes que a revolução tenha derrotado Stálin?” Nesse caso, “a IV Internacional responde: defenderemos esta Ucrânia escravizada por Stálin, contra Hitler”.
        Esse é o dilema atual nas agressões imperialistas às semi-colônias, como a Síria. Tanto Obama como Assad são nossos inimigos, mas não podemos compará-los. O imperialismo é o inimigo principal dos povos. Muitos grupos “trotskistas” caem no canto de sereia da luta em duas frentes, ou no schachtmanismo, segundo a LC. Essa nunca foi a nossa política. O nosso texto, A Nova Guerra Fria e a Luta de Classes, critica explicitamente o schachtmanismo: “existem também aqueles que defendem a luta em duas frentes: contra as ditaduras e os bombardeios da OTAN. Essa suposta terceira via, transformou-se numa variante da política pró-imperialista dos demais”; “Trotsky combateu, na IV Internacional, as frações internas que defendiam esse tipo de combate em duas frentes”; “os marxistas perfilam-se ao lado das nações oprimidas, como o fizeram na China, contra o Japão, por exemplo”.
         Defendemos a Líbia, sob a direção de Kadafi, contra a OTAN (ver Entre dois Oportunismos) e a Síria, sob Assad. Seriamos schachtmanistas porque fomos contra a frente única com Kadafi, e somos contra com Assad. Dizemos que a frente única não se aplica entre um governo e pequenas organizações, o que não nos impede de tomar uma posição anti-imperialista: “A defesa das nações oprimidas é uma obrigação de qualquer organização. As pequenas organizações  não fazem acordos com governos nacionais. Apoiamos a Síria, mas não é possível uma frente única com Assad. O apoio é unilateral e incondicional. O proletariado apóia as nações oprimidas com os seus próprios métodos: agitação, propaganda, denúncias, greves, boicotes, etc. É isso que está ao alcance das pequenas organizações. Não a abstrata frente única” (A Frente Única Segundo a Liga Comunista). Para a LC, quem não é a favor da sua fantasiosa frente única, seria schachtmanista e pró-imperialista.
        Seriamos também schachtmanistas na questão da Ucrânia, porque não somos favoráveis à sua política de frente única com a Rússia e por isso estaríamos em “cima do muro”. Ser contra a frente única permanente com a Rússia, não implica estar em cima do muro no combate ao fascismo. Será que os companheiros não conhecem a política bolchevique para a guerra imperialista, que se convencionou chamar de derrotismo? Ou jamais ouviram falar do Manifesto da IV Internacional para a segunda guerra mundial? É mais provável que conheçam. Nesse caso, deveriam chamar também Lênin e Trotsky de schachtmanistas. Alguns grupos chegam a definir o derrotismo como a defesa da derrota do próprio país. Isso seria o suicídio político. Derrotismo é a política independente do proletariado nas guerras imperialistas, que não apóia nenhum dos blocos em luta e procura transformar a guerra imperialista em luta pelo seu próprio poder. Dignifica considerar que o inimigo principal está em casa. A primeira obrigação do proletariado é combater a sua própria burguesia, mesmo que isso possa levar à vitória do inimigo. Essa foi a política de Lênin na I Guerra Mundial. Não apoiou a Rússia contra a Alemanha, considerando a defesa da pátria um crime. Os bolcheviques só se transformaram em defensistas, ou seja, favoráveis à defesa da pátria, após a tomada do poder.
        Uma política defensista ou derrotista depende do caráter dos países envolvidos. O defensismo se aplica nos casos de uma agressão imperialista contra uma colônia ou semi-colônia. O derrotismo, para as guerras inter-imperialistas. É fundamental definir se esses países são imperialistas ou colônias e semi-colônias. No caso da Ucrânia, de um lado está os Estados Unidos e seus marionetes fascistas, e de outro a Rússia. Nós definimos a esta como um imperialismo nascente. Toda a política de LC leva a crer que a considera uma semi-colônia, embora a defina como uma potência capitalista sui-generis, o que é uma definição ambígua porque não esclarece se é imperialista ou semi-colônia. A Rússia age nas suas imediações como imperialista: Chechênia, Abkassia, Ossétia, Geórgia, Ucrânia, e agora na anexação da Criméia. Nenhuma semi-colônia anexa território, principalmente, contra a potência dominante. Alegar que era a vontade da população, não exclui que seja uma anexação. É insofismável, nem Putin nega, só a LC. Reconhecer isso não quer dizer “repercutir a propaganda de guerra do imperialismo contra a Criméia, Repúblicas de Donbass e a Rússia”.
        Os Estados Unidos são o imperialismo agressivo, que está cercando a Rússia e chega às portas de Moscou ao promover o golpe fascista na Ucrânia. A anexação da Crimeia, pela Rússia, é defensiva. Nem por isso, devemos apoiá-la. Defendemos a independência política do proletariado ucraniano em relação aos dois imperialismos, a transformação da guerra imperialista em luta pelo poder. Não é luta em duas frentes, porque o inimigo principal está em casa, o fascismo apoiado pelos Estados Unidos. Essa é uma tarefa do proletariado, que não delegamos a Putin. Para a LC, o fato de não apoiarmos a Rússia, ou não propormos frente única com ela, seria apoiar o imperialismo e seus prepostos fascistas. Para nós, o fato de a Rússia estar na defensiva não a torna o mal menor. Os Estados Unidos promove as hordas fascistas de Kiev. A Rússia também enviou para a ocupação da Crimeia batalhões monarquistas, a versão russa do fascismo. O fascismo ucraniano é mais perigoso e tem o apoio do imperialismo mais forte. Mas a Rússia não é garantia contra o fascismo em geral, embora esteja lutando contra o fascismo na Ucrânia. O fascismo europeu divide-se entre o apoio a Kiev e a Moscou. Houvesse uma revolução proletária no Donbass, veríamos Putin mostrar as suas garras. Logo faria um acordo com Kiev e mandaria para o Donbass o seu próprio fascismo.
        A proposta de frente única permanente com a Rússia é um crime. Significa embelezar o regime russo de oligarcas, que estão por trás de Putin. Caso houvesse um movimento proletário independente no leste da Ucrânia, este poderia eventualmente estabelecer acordos temporários com a Rússia, enquanto esta não passar para o outro lado.  Mas isso dependeria de circunstâncias muito particulares e concretas, impossíveis de estabelecer de antemão. A proposta de frente única da LC peca por ignorar a falta de tal movimento organizado e por se antecipar aos fatos imprevisíveis, como se a Rússia fosse permanentemente anti-imperialista. É uma capitulação à Rússia. O proletariado ucraniano deve ser educado na desconfiança em relação ao regime russo, como inimigo, não como aliado permanente, como pressupõe essa proposta de frente única. É também criminosa a proposta de anexação do Donbass pela Rússia. Supõe que esta seja a salvação e não o poder do proletariado. Este deve enfrentar um inimigo de cada vez, de acordo com o perigo que cada qual representa. O fascismo ucraniano é o inimigo de casa, mais perigoso e agressivo. Deve também saber utilizar, em proveito próprio, a briga entre os seus inimigos.

A frente única com Dilma
        Segundo a LC, a LM defenderia que “não se deve combater com todas as nossas forças e por todos os meios a direita golpista e chamar uma frente única contra o imperialismo e a oposição de direita golpista ...”. Sim, devemos combater a oposição de direita, mas não através da frente única permanente com Dilma, CUT, UNE, MST, etc., porque nenhum desses está combatendo a direita. Quando mais Dilma capitula, mais a direita exige e mais audaciosa se torna. Devemos apoiar a luta contra a direita, por mínima que seja, mas não podemos apoiar o governismo, participando dos atos governistas da CUT, disfarçados de luta, e votando em Dilma, como faz a LC. É preciso avaliar bem cada “luta” concreta. É a política antipopular do governo que joga as massas no colo desta. É a denúncia do governo que a enfraquece, retirando dela o monopólio da critica. É um tiro no pé qualquer identificação com o regime. Somos contra o golpe, tanto na forma de golpe militar como impeachment, porque seria uma derrota dos trabalhadores e abriria um período de maior repressão.
        A LC tenta disfarçar de bolchevismo a sua capitulação representada pelo voto em Dilma. Os bolcheviques defenderam “apoiar a burguesia contra o tzarismo (na segunda fase das eleições ou nos embates eleitorais, por exemplo)...”. Isso é completamente fora de contexto. Na época bolchevique, se tratava da revolução democrática contra a monarquia semi-feudal. Lênin considerava que os agentes sociais da revolução seriam o proletariado e os camponeses pobres, contra a burguesia liberal. Mesmo assim, por se tratar de uma revolução democrática, era possível alguns acordos práticos com ela. Esse foi o caso do voto crítico, nos segundos turnos eleitorais, no partido Kadete (Liberais Constitucionalistas) contra os partidos monárquicos. Somente a deturpação histórica da LC vê semelhanças com a atualidade.
        Não somos “objetivamente adversários de toda a qualquer frente única”. Somos adversários do método oportunista de frente única da LC. Também não é verdade que defendamos que “nem sequer se deve participar de greves cuja direção é burocrática”, e seríamos por isso “fura greves”. Participamos dos sindicatos dirigidos pela burocracia e de suas greves (CPERS e SIMPA). Mas não somos apêndice da burocracia, como a LC, a ponto de participar inclusive das suas greves patronais, como as greves da CNTE de apoio ao PNE (Plano Nacional da Educação) liberal, ditado pelo Banco Mundial. Não participados dos atos nacionais da CUT quando são de apoio ao governo Dilma. Preferimos ser esse tipo de “fura greve” do que ser cúmplices da traição da burocracia aos trabalhadores.
        Temos apenas um acordo fundamental com a LC, de que as nossas políticas são realmente opostas.