O
bloco que patrocinou o impeachment está dividido. Uma parte resolveu sacrificar
o governo Temer e Aécio Neves. Mas esse golpe dentro do golpe, patrocinado por
Janot e a ala pró-Lava Jato do STF, encontra-se numa encruzilhada. Após
patrocinar o golpe sem consultar o conjunto dos golpistas, precisam chegar
rapidamente a um novo consenso. Essa divisão é ruim para o sistema e compromete
as suas “reformas” contra o povo. Temer diz que não renuncia, provavelmente
apenas para ganhar tempo, a espera de um acordo geral. Caso isso não acontecer,
não se descarta a hipótese da sua permanência, já que conta ainda com o apoio
do principais partidos governistas, PSDB e PMDB, atingidos em cheio pelas
denúncias. O golpe teve muitas motivações. Além dos motivos pessoais de Janot,
que seria rifado por Temer, visa preservar a Lava Jato, ameaçada pela lei de
abuso de autoridade e patrocinada por todos os principais partidos, inclusive,
por Temer. Moro não foi o protagonista principal.
As articulações de bastidores contam com
a participação inclusive do PT. Isso cria uma oportunidade para ele e, ao mesmo
tempo, um complicador para o bloco dos partidos burgueses. Há alguns sinais de
que o PT pode aceitar uma eleição indireta, traindo a luta pelas Diretas Já e à
luta contra as “reformas”, em troca quem sabe da permissão à candidatura Lula
em 2018. Esse mandato tampão faria o trabalho sujo, preservando o futuro
governo saído de eleições diretas. Para
a cúpula do PT, seria a solução ideal. A permissão à candidatura de Lula
garantiria a sua permanência entre a confraria dos partidos burgueses. Esse
seria o objetivo principal, não a eleição de Lula. O PT sabe que a eleição de
Lula seria improvável e, se isso acontecer, de que tome posse. Mas essa
articulação precisaria ser combinada com Moro, o que é outro complicador.
O PT foi desmoralizado perante as massas.
Mesmo assim, fala-se que Lula lidera as pesquisas eleitorais para 2018. Não é
muito alentador. As intenções de voto não levam em conta a rejeição. O PT nunca
mais representará uma esperança para os trabalhadores conscientes. A possível
candidatura de Lula teria de passar por uma maratona. São muitos processos
judiciais e parece que há um acordo prévio com o TRF da 4ª região para
condená-lo rapidamente em segunda instância. Muito dificilmente o imperialismo
permita a sua candidatura, menos ainda a sua vitória e a sua posse.
O objetivo do PT não é romper com os
golpistas, nem com a Lava Jato e muito menos com o imperialismo, mas conseguir
uma correlação de forças que lhe permita uma acomodação dentro do sistema. Mas,
não basta uma razoável votação eleitoral. É preciso mostrar serventia em
relação aos interesses fundamentais da burguesia, que é o apoio às
contrarreformas liberais. Isso, o PT faz à sua maneira, freando um verdadeiro
movimento de massas.
Um pouco da história do PT
O
Movimento Pró-PT de 1979, teve alguns aspectos progressistas, expressos pela Carta
de 1º de Maio desse ano: - por um partido sem patrões; - por um governo dos
trabalhadores; - por um partido organizado através de núcleos de base, com
poder de decisão. Tudo isso foi retirado do programa do partido já na sua
fundação. Somente um setor da delegação do RS se opôs à retirada dessas
bandeiras no primeiro congresso do partido realizado no Colégio Sion, em São
Paulo, em 1980. Criaram-se, inicialmente, núcleos de base, mas sempre foram
minoritários e jamais tiveram poder de decisão.
Paulatinamente,
o PT integrou-se ao sistema. Hoje, é um partido burguês, como qualquer outro.
Herdou todos os seus vícios, inclusive, a corrupção. Jamais se disse socialista
ou isso constou do seu programa. Consta que Lula costumava brincar: “eu não sou
socialista, sou metalúrgico”. E como sindicalista,
traiu todas as greves do ABC (1979, 1980, 1981). Hoje não é mais metalúrgico,
nem sindicalista. É um político burguês, como ele mesmo não faz segredo: “nunca
os banqueiros lucraram tanto como no meu governo”. Afirma ainda que “os bancos
tem que lucrar mesmo, se não a conta será paga pelos trabalhadores”. Mas o seu
governo propiciou juros exorbitantes aos bancos à custa da miséria do povo.
Segundos seus apologistas, o PT tirou
milhões da miséria. Isso é uma meia verdade e não é mérito seu, mas da
conjuntura, ou seja, uma época de crescimento econômico internacional. Seu governo beneficiava o capital financeiro
com juros altos, superávit primário, pagamento da dívida e, ao mesmo tempo, no
varejo, realizava políticas populistas: bolsa família, minha casa minha vida,
PROUNI e crédito fácil.
A crise econômica mudou radicalmente a
situação. O PT praticou no segundo governo Dilma uma dura política de ajuste
fiscal como forma de evitar o golpe, sob o comando do banqueiro Joaquim Levy. Essa política potencializou a recessão e jogou
milhões no desemprego e na miséria, em número maior do que aqueles que supostamente
havia tirado da pobreza. Não foi suficiente para salvar o seu governo e
desagradou os trabalhadores. O PT assistencialista não existe mais. Foi
substituído pelo PT do arrocho liberal. A sua diferença com os partidos
tradicionais, que já não era grande, passou a ser sutil. Fomos contra o golpe
de Estado parlamentar contra Dilma, não porque a mesma fosse melhor do que
Aécio, mas porque o golpe implicava num mandato para a aplicação a fundo dos
planos de arrocho. Ser contra o golpe não foi sinônimo de apoio ou governo
Dilma.
Os
trabalhadores não precisam da Lava Jato e da manipulação da Globo para ver a
corrupção do PT. Isso é evidente. O PT nem sequer a nega. O que nega é o
envolvimento direto de Lula ou de Dilma. Mas, isso é irrelevante. A aliança com a quadrilha do PMDB, cuja ficha
corrida era mais do que conhecida, trazia embutida a
conivência com a corrupção. Era um pacote fechado. Ninguém que nomeia um
quadrilheiro contumaz pode esperar que ele se regenere com a botija à disposição.
A cúpula do PT, e Lula em primeiro lugar, é a responsável política por toda
essa maracutaia. Acontece que a Lava
Jato não é um tribunal dos trabalhadores. É um órgão da justiça burguesa, o
qual, pelas suas próprias leis, não pode fazer julgamento político, como está
fazendo. Não reconhecemos qualquer direito à Lava Jato de julgar Lula. Isso é
tarefa dos trabalhadores.
Os trabalhadores estão numa
encruzilhada
Está nas ruas a campanha por Diretas Já.
Como era de se esperar, o PT e aliados fizeram do movimento um Lula 2018. Até
mesmo o discurso contra as “reformas” foi secundarizado. O verdadeiro objetivo
da CUT e demais centrais é chegar a um acordo com o governo, fazendo mudanças
cosméticas no projeto e deixando passar o principal. A correlação de forças não
permite mudar o eixo desse movimento. Alguns levantam a bandeira de Assembleia
Constituinte soberana, que aprove uma pauta dos trabalhadores. Isso está fora
da realidade. Temos visto o contrário, as “reformas” da burguesia alterarem
para pior a constituição de 88. Essa é a tendência. Seria também apostar na
manutenção da institucionalidade burguesa.
A proposta de greve geral para derrubar
Temer peca também pela mesma dificuldade da Assembleia Constituinte. Quem
convocaria tal greve geral? Obviamente, essa é uma reivindicação endereçada à
CUT. Alimenta-se a ilusão de que a CUT, uma agência burguesa, sob pressão,
possa cumprir semelhante papel revolucionário. A estratégia do PT e da CUT é
chegar a um acordo com o sistema, não derrubá-lo. Mais ainda. Uma greve geral é
a consequência de uma situação revolucionária, que não existe. A burguesia está
na ofensiva e os trabalhadores na defensiva. Portanto, não podem ter
alternativa de poder imediato. A sua luta se desloca para a criação dessas
condições.
O
que está na ordem do dia é uma ampla campanha de agitação de massas contra as
“reformas” liberais. Primeiro, é preciso
colocar o povo na rua, não somente a vanguarda. Qualquer greve geral deve ser
consequência dessa mobilização. A burocracia sindical é um estorvo a essa
mobilização. Essa é uma tarefa da vanguarda consciente, que não pode delegá-la
a ninguém.
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