O
impeachment de Dilma Roussef consumou o golpe institucional, embora ainda
esteja pendente e inabilitação de Lula para 2018. Abre-se uma conjuntura
difícil para o proletariado. O governo golpista prepara um ataque brutal contra
os seus direitos, já iniciado no governo Dilma: fim dos direitos trabalhistas
(CLT) com a supremacia do acordado sobre o legislado; destruição do SUS; da
escola pública; congelamento das despesas públicas por vinte anos (saúde,
educação, etc.); desvinculação das aposentadorias do salário mínimo; reforma previdenciária
(com idade mínima de 65 a 70 anos). Realizar esse trabalho sujo em profundidade
é o mandado concedido pelo golpe ao governo Temer.
Os trabalhadores devem realizar uma luta
defensiva nas piores condições de organização e consciência porque o partido
revolucionário que poderia ter uma política de independência de classe ainda
não existe e a esquerda atual é incapaz de formular tal política. De uma forma
ou de outra, alinha-se atrás de uma ou outra ala da burguesia. Até o
impeachment, um setor marchava atrás da Frente Popular fazendo coro aos atos
governistas como se a luta contra o golpe fosse sinônimo de defesa do governo.
Outro setor (PSTU) flertava com a direita golpista através da palavra de ordem
doutrinária de “Fora Todos”, uma
espécie de apoio velado ao impeachment, porque somente a direita estava em
condições de realizá-lo. Negava também a existência do golpe, considerando
golpe apenas os golpes militares, como se houvesse um modelo de golpe. Ao
contrário, modernamente tem se generalizado os golpes brancos orquestrados pelo
imperialismo, também conhecidos como “revoluções coloridas”.
O primeiro setor considera a Frente
Popular uma espécie de mal menor. O outro afirma que as duas grandes alas
burguesas são equivalentes, ambas comprometidas com os planos de arrocho. Nós
também entendemos assim. Tanto o PT quanto a direita tradicional servem a
burguesia à sua maneira. O PT, sob pressão golpista, procurou demonstrar a sua
serventia aplicando o arrocho fiscal e reprimindo o movimento popular (veja a
lei antiterrorista), ajudando a entregar o pré-sal às multinacionais e esquartejando
a Petrobrás (BR distribuidora). Isso não foi suficiente para safar-se. A sua
serventia principal ao capital é o controle do movimento popular através da
CUT, CTB, MST, UNE, MTST, entre outros. Essa capacidade a direita tradicional
não tem. Como um clínico geral, todo partido burguês pode realizar qualquer
tarefa que lhe seja designada, mas, em geral, determinado partido é requisitado
segundo a sua especialidade. E conter o movimento é a especialidade do PT e da
Frente Popular, tarefa que realizou muito bem, distribuindo pequenas benesses
em momento de crescimento econômico, enquanto servia ao capital no atacado.
Nunca os bancos lucraram tanto quanto nos seus governos, que não resolveram
nenhum dos grandes problemas sociais.
A crise econômica retirou as condições
para essas pequenas concessões. Ao contrário, agora o capital exige a retirada
em regra de todas as conquistas sociais e trabalhistas. O PT não é o partido
mais indicado para essas novas tarefas. A profundidade da ofensiva exige o
aplastamento preventivo de qualquer resistência popular. O verdadeiro alvo do golpe não é Dilma, mas as
massas. É por isso que nenhum trabalhador consciente pode apoiá-lo e é um crime
a política do PSTU, conivente com o golpe através de uma fraseologia de
esquerda. A burguesia sacrifica um dos seus prepostos para melhor defender os
seus interesses, que exigem novos métodos. Mas, mesmo na oposição, o PT
continua desempenhando o seu papel de paralisar o movimento contra as reformas
liberais. CUT, CTB, UNE, MST, não moverão um dedo contra esses ataques, como
não moveram sequer contra o golpe. Não por acaso, as grandes mobilizações
“antigolpistas” começaram no dia seguinte a este. O movimento Fora Temer nada mais é do que um
respaldo à campanha eleitoral do PT e um Lula Lá em 2018. O PT não faz oposição
ao golpe, tanto que está coligado com os partidos golpistas em milhares de
cidades. Tenta manter o seu lugar ao sol no regime burguês oferecendo os seus
préstimos para a paralisia dos movimentos sociais e o apoio velado às contrarreformas
liberais.
As tarefas pós-impeachment
Os trabalhadores devem preparar-se para
enfrentar o maior ataque às suas conquistas por parte do governo golpista. A
Frente Popular retoma o seu papel de entrave às lutas populares. É preciso
denunciar com todas as forças essa nova trampa que o PT e seus aliados arma
contra o proletariado. Mas além da Frente Popular, devem enfrentar ao mesmo
tempo o conjunto da esquerda, tanto os setores social-democratizantes (PSOL, PSTU,
MRT, etc.) quanto os autoproclamados radicais, menos cotados. Através de
distintas palavras de ordem, quase todos ignoram a conjuntura atual
desfavorável para justificar políticas mirabolantes ou abertamente burguesas. Portam-se
como se os trabalhadores estivessem na ofensiva e o movimento “Fora Temer” estivesse
em disputa, ilusão que a correlação de forças não permite alimentar. As parcas
forças dessa esquerda deveriam ser canalizadas para uma contundente campanha de
denúncia da Frente Popular, cujos frutos se darão a médio ou longo prazo. Dizer,
como o MRT, que “cem mil na rua provaram que o combate ao golpista Temer pode
ser independente do PT” é jogar areia nos olhos das massas.
O
PSTU é ainda mais ufanista: “A classe trabalhadora, por outro lado, está
lutando e tem condições de derrotar esse projeto, e inclusive de derrotar esse
governo”. Com essa suposta ofensiva popular procura justificar a sua política
ultraesquerdista de Fora Todos, que é um disfarce de esquerda para sua
conivência com a direita. O PSOL desempenha também papel lamentável. Tenta se
identificar com a campanha anticorrupção da burguesia, inclusive, apoiando a
Operação Lava Jato, principal setor golpista do imperialismo. Cola-se à direita
para ganhar alguns dividendos eleitorais. Aposta na reforma do capitalismo
mediante eleições.
A crítica que a maioria da esquerda faz
ao PT apenas mascara o seu caráter de braço esquerdo deste. A proposta de eleições gerais (PSTU, PSOL,
MAIS, etc.) é semelhante às “Eleições Já do PT”, mesmo que reivindique que
sejam sob “novas regras”, impossíveis no momento. O mesmo se diga da proposta
de Constituinte do MRT. Subtraindo a fraseologia esquerdista, resta a tentativa
de reforçar o eleitoralismo burguês, que somente interessa à direita atual, a
única em condições de vencer qualquer eleição. A proposta de greve geral, comum
a toda a esquerda, não tem melhor significado. Além da conjuntura desfavorável
aos trabalhadores, resta saber quem a convocaria. As correntes de origem
morenista (PSTU, MAIS, MES, CST, etc.), respondem a isso com a sua tradicional
política de exigências à CUT, CTB, Força Sindical, para que rompam com sua
política de entrave às lutas e convoquem tal greve geral. É o mesmo que pedir à
raposa que proteja o galinheiro. Mais uma vez, todo o radicalismo dessa
esquerda cai por terra, deixando à mostra sua verdadeira essência de braço
esquerdo da Frente Popular.
Mesmo
grupos supostamente radicais, campeões da luta pela greve geral, não saem do
campo abstrato nessa questão, propondo supostamente “passar por cima” da
burocracia sindical. Nem uma palavra sobre quem organizará tal proeza. Falar da
necessária insurreição proletária não transforma em favorável ao proletariado a
conjuntura: ausência de organização independente e de um partido
revolucionário, entrave da Frente Popular, burocratização dos sindicatos. Essa dita
esquerda confunde a necessária propaganda da insurreição com a sua viabilidade
imediata.
Na conjuntura atual, os trabalhadores
não estão em condições de propor uma alternativa própria de poder. A sua luta
se desloca para as tarefas que preparem essas condições no futuro: explicar
pacientemente, organizar pela base, participar de todas as mobilizações, por
pequenas que sejam (atos, greves, ocupações, agitações de rua), enfrentar da
melhor forma possível o ajuste liberal do governo Temer, denunciar a Frente
Popular, a burocracia sindical, a política conciliadora da esquerda reformista
e o doutrinarismo de esquerda. Mostrar para as massas que os problemas sociais
não são meros acaso, mas uma consequência inevitável do capitalismo e enquanto
este não for derrubado por uma insurreição proletária não haverá solução. Fazer
dessa forma uma propaganda concreta do socialismo.