quarta-feira, 9 de março de 2016

A LAVA JATO PREPARA O GOLPE BRANCO

     
        Dia 04 de março, Sérgio Moro deu novo bote contra o PT, prendendo Lula por algumas horas, o que se chamou de “condução coercitiva”. Lula, mais do que Dilma, vira alvo do “golpe legal”, patrocinado por parte do Ministério Público, Polícia Federal, Justiça Federal, Globo, Veja, IstoÉ e parte do STF, através do que se convencionou chamar de Operação Lava Jato. Dizem que ninguém está acima da lei. No caso de Sérgio Moro e da Lava Jato, a “lei é ele” e seus interesses. A “condução coercitiva” de Lula (bem como, a de outros indiciados) foi uma arbitrariedade, segundo as leis vigentes, porque ele não foi sequer intimado previamente. Fez parte do estardalhaço midiático com finalidades escusas, ou seja, desmoralizar Lula e o PT e impedir sua candidatura em 2018. Ninguém explica porque a Globo estava a postos desde a madrugada para transmitir aquilo que devia ser sigiloso.
        A Lava Jato não é uma investigação contra a corrupção, é um complô contra o PT, tendo como finalidade depor Dilma, impedir a candidatura de Lula em 2018, destruir a Petrobrás e entregar o Pré-sal às multinacionais. Isso fica cristalino pelos seus métodos (a prisão de Lula é apenas um exemplo) e pelo seu alvo exclusivo. O PSDB e seus caciques estão acima de qualquer suspeita. A investigação visa apenas arranjar provas ou pretextos exclusivamente contra o PT e o governo. A prisão dos grandes empreiteiros e de alguns políticos pretende apenas chantageá-los para que delatem o PT sob encomenda, e ao mesmo tempo, enfraquecer essas empresas nacionais, abrindo espaço para as multinacionais, enfraquecendo a Petrobrás, pela paralisação das suas obras (a construção das refinarias). Muitos dos chefes da Lava Jato (Sérgio Moro, Fernando dos Santos Lima) são os mesmos que conduziram e abafaram a investigação do escândalo do Banestado. O conluio com a Globo, Veja e IstoÉ fica evidente nos vazamentos seletivos, e que ficam por isso mesmo.
        A Lava Jato não combate a corrupção e não se restringe à legalidade vigente. O conjunto dos fatos e os seus métodos não deixam dúvida quanto à orquestração golpista. Procura-se moldar a opinião pública, sem o que o golpe seria impossível.

O PAPEL DO PT
        O PT não se defende seriamente dos ataques da Lava Jato porque tem os mesmos compromissos com o grande capital que os seus inimigos golpistas. Não pode denunciá-los com clareza porque implicaria em denunciar si mesmo, já que participa do mesmo esquema. Não pode apelar às massas porque isso contraria os seus interesses e o dos seus patrocinadores. A sua resistência ao golpe consiste em ceder aos planos liberais. PT, PSDB e PMDB, entre outros, estão unidos no ajuste fiscal, reforma da previdência, lei antiterrorista, entrega do Pré-sal às multinacionais.
        O PT é mais um partido da ordem capitalista, agente do imperialismo e tão corrupto quanto os outros. O “projeto” que diz defender é uma farsa. Não foi tal “projeto” que tirou milhões da miséria. Foi a conjuntura internacional favorável (alto preço das matérias primas e crédito farto). O Brasil se beneficiou do seu papel de exportador de produtos primários. Colheu os frutos de ser semi-colônia. Tais condições não existem mais. Hoje, colhe o ônus da crise internacional.  O seu “projeto” consiste num assistencialismo mesquinho, e no patrocínio dos interesses do grande capital, no atacado.
        O PT serve ao capital à sua maneira. Nisso se diferencia do PSDB. Nasceu vinculado ao movimento sindical e popular. Esse movimento, mesmo apelegado, aspira recolher as migalhas que caem da mesa da burguesia, com a sua intermediação. A crise econômica, cada vez mais permanente, exige da burguesia ataques cada vez mais brutais. Não há mais espaço para concessões, nem sequer de migalhas. O momento é de ofensiva da burguesia e defensiva dos trabalhadores. A burguesia não precisa mais dos seus préstimos, embora ainda se divida quanto ao golpe.
        A participação do Brasil nos BRICS descontenta também o imperialismo dominante (Estados Unidos e Europa). Este está na ofensiva na América Latina para enfrentar a influência da Rússia e China. Desestabiliza a Argentina, Bolívia, Equador, Venezuela e Brasil. A Lava Jato é parte dessa ofensiva. O PT não é melhor nem pior que o PSDB. É diferente, pelas suas origens e seus métodos. O seu vínculo com os movimentos condiciona a forma da sua política e não a essência. Também é capaz de atacar brutalmente os trabalhadores.

O GOLPE E AS ESQUERDAS
        A esquerda divide-se em dois campos opostos diante do movimento golpista. Um setor flerta disfarçadamente com o golpe (PSTU, setores do PSOL, no caso, MES, CST, etc.), e outro setor apóia o governo (PCO, entre outros), sob pretexto do combate ao golpe. Os primeiros inclinam-se diante da opinião pública influenciada pela Lava Jato. Não denunciam o golpe, nem o definem como tal. Inclusive, o PSOL defende “a investigação até o final, pois ninguém está acima da lei”.
        O PSTU tem a seguinte política: “Fora todos. Eleições gerais já. Construir na luta um governo dos trabalhadores formado por Conselhos Populares”. Portanto, defende o Fora Dilma, da mesma forma que a direita, apenas com a diferença que isso seria feito pelos trabalhadores. Acontece que os trabalhadores estão na defensiva. O seu governo não está colocado na ordem do dia. Somente a direita está em condições de depor Dilma. Na prática, o Fora Dilma do PSTU leva água ao moinho da direita.
        A sua política alternativa de eleições gerais não melhora a situação: “Enquanto não temos os Conselhos Populares, defendemos eleições gerais já, não só para presidente, mas para todo mundo”. Essa proposta também é parecida com a do PSDB, que propõe a renúncia de Dilma e novas eleições para presidente. As tais eleições gerais preconizadas pelos PSTU não teriam a participação desses “corruptos envolvidos na Lava Jato, e mudariam não apenas a presidenta mas “todo esse congresso de picaretas”. Mas uma vez, vende ilusões brincando de radical. A mesma conjuntura defensiva que não é propícia ao governo dos trabalhadores também não o é a tais eleições gerais revolucionárias. Qualquer eleição hoje será amplamente hegemonizada pela direita. Somente uma criança de colo e o PSTU não vêem.
        O MRT, ex-LER, apresenta a proposta de Constituinte soberana. Tal proposta claudica da mesma perna que as eleições gerais do PSTU. Quem convocaria essa Assembléia Constituinte soberana? Quem teria maioria nela? Pode-se esperar que tal Assembléia sirva aos trabalhadores contra a burguesia? Não seria mais lógico supor que seria mais uma arma desta contra o proletariado? No campo das abstrações a esquerda é campeã.
        Outro setor da esquerda, mais minoritário, participa das manifestações governistas, como se isso fosse uma espécie de frente única contra o golpe, quando, na verdade, são de defesa do governo. A CUT, e outras entidades, fingem divergir de alguns aspectos da política governamental, mas a apóiam integralmente, de fato. Não é possível lutar contra o golpe apoiando a política de ajustes liberais. Participar desses atos significa apoiar o governo e sua política, porque os mesmos são hegemonizados pelo governismo. Somente se pode derrotar o golpe enfrentando a política de austeridade da burguesia, patrocinada pelos dois blocos burgueses, o do governo e o da oposição (o arrocho fiscal, a reforma da previdência, a destruição da Petrobrás, etc.). Somente essa denúncia pode desmascarar a direita e enfraquecê-la, retirando dela o monopólio da crítica ao governo e mostrando a sua unidade contra o povo por trás da briga pelo poder.
        Lutar contra o golpe não se confunde com o apoio ao governo. Nenhum apoio a este. Lutamos contra o golpe não porque Dilma seja melhor que Aécio, mas porque o golpe se voltará principalmente contra todo o movimento organizado dos trabalhadores e a esquerda em geral. É necessário criar um movimento independente dos trabalhadores, por mais minoritário que seja. Não pode ser o movimento promovido pelo Espaço de Unidade de Ação (PSTU, CSP-Conlutas, Intersindical, setores do PSOL, etc.) porque este, mesmo que se diga independente dos dois blocos burgueses, é de fato uma variante do movimento da direita. Isso se materializa na palavra de ordem de Fora Dilma. A frente única contra o golpe é uma necessidade, mas somente é possível em torno de lutas pontuais, nas quais não estejam colocadas nem o apoio ao governo nem o apoio disfarçado ao golpe.
        Infelizmente, o proletariado não tem, e não pode ter a curto ou médio prazo, uma alternativa própria de poder. Criar as condições para tal é a nossa tarefa. Isso implica derrotar as políticas oportunistas desses dois blocos de esquerda, derrotar o peleguismo sindical e todas as influências burguesas entre nós. Somente assim se pode criar um partido revolucionário, condição indispensável para que os trabalhadores possam almejar a conquista do poder político.