No dia 18.09 ocorreu a Marcha Nacional dos
Trabalhadores, em São Paulo, convocada pelo Espaço Unidade de Ação, composto
por uma parte da esquerda – Conlutas, PSTU, parte do PSOL, MRT/LER, PCB,
sindicatos e movimentos sociais. Seria um ato contra o governo e a direita. Segundo Cacau, do PSTU e Conlutas: “Nesse ato,
vamos levantar as bandeiras mais sentidas pelo povo pobre e trabalhador: o
desemprego, o ajuste fiscal, a violência na periferia, o tema da dívida
pública, dos direitos da juventude, das mulheres, negro e negras e LGBTs,
dentre outros”.
O caráter da marcha foi dado pela
palavra de ordem “Basta de Dilma”, que é a versão envergonhada do “Fora Dilma”.
A Folha de São Paulo escreve: “Diferentemente de outros setores da esquerda,
como MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), os organizadores não
descartam a saída de Dilma Roussef, embora não defendam abertamente o
impeachment. As palavras de ordem mais gritadas eram ‘Chega de Dilma, chega de
Aécio, chega de Cunha e desse Congresso’”. Esse bloco não erra ao denunciar o
governo Dilma e sua política. Isso é uma necessidade para retirar da direita o
monopólio da crítica ao governo. Capitula ao confundir o combate aos ataques do
governo ao Fora Dilma, que serve exclusivamente à direita, porque somente ela
está em condições de substituí-la.
O impeachment representa um golpe de
Estado, que traz em si um mandato de maior repressão e exploração. Representa
uma derrota, não só de Dilma, mas dos trabalhadores. Dilma não é melhor que
Aécio ou Temer, tanto que está aplicando profundamente o arrocho fiscal e
privatizando a Petrobrás. O PT se diferencia do PSDB pela sua base social, que
não o faz mudar de política, mas a aplica de forma mascarada. E quando se torna
explícita, aparece claramente como uma traição. O PSDB não vende as mesmas
ilusões. Um governo Aécio não será o mesmo se saído de eleições ou de um golpe.
O PMDB já governa o país por concessão de Dilma, mas um governo Temer, fruto de
um impeachment, será pior para os trabalhadores. Estes têm sobrados motivos
para derrubar Dilma, mas não têm condições para tal.
Os grupos de esquerda que propõem frente
única com o governismo, supostamente, contra o golpe, traem os trabalhadores,
não por serem contra o impeachment, mas por serem coniventes com os ataques de
Dilma. Confundem a luta contra o golpe com o apoio ao governo ao participar dos
atos governistas. Esses atos não são apenas contra o impeachment, são de apoio
a Dilma e toda a sua política. Não é possível disputá-los. A CUT apóia essa política.
O governo não enfrenta o movimento golpista. Caso o fizesse, seria possível a
frente única pontual com ele. A sua forma de “enfrentar” o golpe é capitular a
todo o seu programa. Essa “frente única” de parte da esquerda é apenas uma
forma de apoio ao governo.
A
outra esquerda capitula à direita. A sua luta contra os pacotes liberais,
associada ao Fora Dilma, alimenta o movimento golpista. Todo o mérito dessa
luta deságua no moinho da reação, não na suposta terceira via dos
trabalhadores. A luta dos trabalhadores contra o arrocho somente teria
coerência se conjugada à luta contra o impeachment. Essa esquerda (PSTU, MRT/LER,
etc.), mesmo que negue ser favorável ao impeachment, flerta abertamente com ele
através do Fora Dilma ou mesmo do “Chega de Dilma, Aécio, Cunha, Temer, e o
congresso corrupto”. Essa “terceira via” encobre uma política de apoio ao
golpe, o que fica evidente na tentativa de frente única com golpistas, tipo PPL
(Partido Pátria Livre, ex-MR8, grupo de direita). Toda a gritaria contra os
ajustes, não apaga o caráter principal da Marcha dos Trabalhadores, que foi o
Fora Dilma. Isso a transforma na versão de esquerda das marchas da direita.
Greve Geral
“Zé
Maria fez um chamado à direção da CUT e demais centrais para a construção de
uma greve geral no país contra o ajuste fiscal e os ataques do governo Dilma”
(PSTU). Como se a CUT pudesse deixar de ser uma agência do governo e do
capital. Outro grupo é ainda mais delirante: “Nossa tarefa desde já é organizar
a greve geral contra o ajuste e sua maior promotora, a gerentona do capital
financeiro em nosso país, ...”. Quem organizará essa bendita greve geral?
Certamente, está se dirigindo à CUT. Não é engraçado propor à CUT, agente do
capital financeiro, organizar uma greve geral contra esse mesmo capital
financeiro?
Greve Geral não é algo que se “constrói”
abstratamente. É uma consequência de um período de radicalização e contra um
ataque concreto. Esses momentos têm acontecido e passado em branco, sem que os
“radicais” se lembrem de propor a greve geral. Por exemplo: o massacre do PSDB
contra os professores do Paraná; a votação do projeto 4330, o das
terceirizações, etc. Esses fatos criam uma necessidade de um protesto geral dos
trabalhadores. A Conlutas poderia realizar uma grande agitação, dentro das suas
forças, mas nada faz. É assim que se criam as condições para a greve geral, que
foi transformada numa panacéia oportunista.
As tarefas dos trabalhadores
para a conjuntura
Vivemos uma ofensiva contra os direitos
sociais levada a cabo por todos os partidos burgueses. Dilma encampa esses
ataques. O desenvolvimentismo do PT é uma fraude. Governa para os bancos (juros
altos, superávit primário, multiplicou a dívida pública). Privatizou mais
reservas de petróleo que FHC. Desindustrializou o país e aprofundou o seu
caráter semi-colonial: produtor de produtos primários e pagador de juros. Exporta
petróleo bruto e importa derivados; quase não tem refinarias; exporta minério
de ferro e importa aço, sete vezes mais caro.
O crescimento econômico e as melhorias
sociais deveram-se muito mais à conjuntura internacional do que à política do
governo. Foi o bônus de ser semi-colônia. Os altos preços dos produtos primários,
conjugado ao crédito fácil, sustentou o desenvolvimento. Isso não existe mais.
A crise traz o ônus de ser semi-colônia. O “mérito” do PT esteve em aproveitar
a bonança para ampliar os programas sociais, como o bolsa família, que
representa uma migalha em relação ao destinado ao capital.
O
imperialismo pressiona por retirada de direitos trabalhistas e benefícios
sociais. O movimento golpista exerce uma pressão sobre Dilma para que se engaje
nessa tarefa. Ela capitula em toda linha. Abre-se para os trabalhadores um
período de lutas de resistência, contra os pacotes e o golpe em andamento. Os ataques não são exclusivos do governo. São
promovidos em conjunto com os demais partidos patronais e seus governos estaduais.
A denúncia do governo é uma condição do combate ao golpe, retirando da direita
o seu discurso demagógico.
A resistência aos ataques e o combate ao
golpe fazem parte da mesma luta. Esta não pode ser levada em conjunto com a
CUT, UNE e MST, porque os mesmos apoiam o arrocho e não combatem o golpismo. Os
ataques aos trabalhadores fazem parte da sua estratégia de “resistência” ao
golpe. Os atos da CUT são diversionistas. Deixa passar em branco as votações no
Congresso. Os grupos de esquerda que propõem a frente única com a CUT estão de
fato apoiando os planos de austeridade. Devemos denunciá-la como agente do
capital em vez de propor frente única com ela. A frente única contra o golpe
deve ser proposta a todos aqueles que estejam dispostos a lutar efetivamente
contra essa política.
O combate ao impeachment é uma denúncia
da direita golpista. É uma incoerência falar “chega de Aécio, Cunha, Temer e o
Congresso corrupto” se não denunciar o impeachment, que é sua bandeira. É
também incoerente a luta pelos direitos dos trabalhadores desvinculada da luta
contra o impeachment, que representará mais repressão e mais arrocho. Devemos
denunciar ao mesmo tempo o governo e a direita golpista, sem confundir a
denúncia do governo com o Fora Dilma, bandeira da direita. Somente assim se
pode construir a independência de classe. O “terceiro campo dos trabalhadores”
baseado no Fora Dilma é, na verdade, o terceiro campo da burguesia.
A nossa resistência deve se basear na
luta direta e não apenas em atos midiáticos, como os promovidos tanto pela CUT
quanto pela esquerda, a exemplo da recente Marcha dos Trabalhadores. Luta
direta envolve mobilização e organização de base, uma campanha de agitação e
propaganda nas ruas e locais de trabalho. Os atos são importantes, mas devem
ser reflexo de uma mobilização, não apenas da vanguarda. Deve-se ir onde os
trabalhadores estão com a nossa agitação. Fazer das campanhas salariais
momentos dessa agitação e conscientização geral, fugindo do economicismo, que é
o método da esquerda. Organizar nos sindicatos os terceirizados e precarizados.
É mais importante um ato na frente do
Congresso nas votações desses pacotes que dez atos de vanguarda na avenida
paulista. A nossa pauta deve ser a luta contra o desemprego, as terceirizações,
as privatizações, o impeachment, a dívida pública, os planos de arrocho, a
denúncia do capitalismo, do governo e da direita. Organizar os trabalhadores
pela base para derrotar a burocracia sindical, tanto a governista quanto a de
esquerda. Criar um partido revolucionário capaz de se contrapor ao governismo e
aos partidos oportunistas (PSTU, PSOL...). A esquerda atual é um estorvo à
independência de classe dos trabalhadores, que estão órfãos de direção. Isso
não é novidade na história. Outros ventos soprarão.