Está em curso uma ofensiva imperialista
contra o Brasil e os trabalhadores: um ataque aos direitos trabalhistas,
previdenciários, aos programas sociais, tarifaço, privatizações, inviabilização
e privatização da Petrobrás, implementada pelo Governo Dilma e apoiada pela
oposição burguesa (PSDB e afins). A campanha política pelo impeachment de Dilma
e a Operação Lava Jato fazem parte desse processo de pressão sobre o governo
para que cumpra ele próprio o programa do imperialismo. O impeachment seria
apenas a “cereja do bolo” para a oposição, a depender de novas denúncias e
circunstâncias. Seria um golpe branco parlamentar, porque feito por um
congresso corrupto valendo-se de pretextos, uma vez que o seu verdadeiro
objetivo é levar a cabo a política do imperialismo. Essa chantagem está sendo
bem sucedida.
Na campanha eleitoral, Dilma criticou o
liberalismo de Aécio. Uma vez eleita, nomeou um ministério econômico que bem
poderia ser o seu: um banqueiro do Bradesco, o chefe da Confederação Nacional
da Indústria e a representante maior do latifúndio. Nem bem tomou posse, essa equipe
mostrou a que veio, editando o seu “pacote de maldades”: retirada de direitos
sociais, tarifaço, política de juros altos para os bancos. Existe uma unidade
entre governo e oposição de direita com relação a esses planos. Os
trabalhadores, ao os combaterem, combatem ao mesmo tempo as duas alas da
burguesia, governo e oposição. É um crime o apoio de parte da esquerda ao
governo e a conivência da outra parte com a campanha da oposição de direita.
Repudiamos o possível golpe parlamentar, o
que não significa apoio ao governo. É uma autodefesa dos trabalhadores porque é
contra eles que se voltará, em primeiro lugar. O imperialismo está satisfeito
com Dilma. Preferiria um governo dos seus representantes mais diretos, para se
livrar melhor dos BRICs e da Petrobrás, o que não significa que tenha já
decidido substituí-la. Quer revogar o atual regime de partilha na exploração de
petróleo, principalmente para o pré-sal, onde a Petrobrás administra os
respectivos consórcios, para voltar ao regime de concessão e também impedir que
o Brasil se torne auto-suficiente em refino de petróleo, sabotando a construção
de novas refinarias. Atualmente, o país exporta petróleo bruto a preço de
banana e importa derivados a preço de ouro.
Paralelamente, a Operação Lava Jato (que
bem se poderia chamar de Operação Joga Lama no PT) encurrala o governo através
da divulgação seletiva pela grande imprensa (também conhecida como PIG) de
denúncias contra figuras do PT e aliados do PMDB e PP, mesmo que o processo
corra em segredo de justiça. Vêm à tona apenas denúncias contra o governo, com
a conivência do juiz Sérgio Moro (amigo do tucano Beto Richa) e de delegados e
promotores a serviço da oposição de direita, quando se sabe que todos os
principais partidos (incluído o PSDB) estão envolvidos desde sempre na
corrupção contra a Petrobrás e na corrupção em geral. Descaradamente, a Rede
Globo instruiu os seus chefes a não divulgarem denúncias contra FHC. Ao mesmo
tempo, a imprensa “moralista” nacional silencia criminosamente sobre o grande
escândalo internacional representado pelas contas secretas no HSBC da Suíça. A corrupção é uma instituição inerente ao
sistema capitalista. A pior mentira é a meia verdade, porque dá ares de
credibilidade a quem a faz. As verdades contra o PT dão credibilidade à arqui-corrupta
oposição de direita. Não absolvemos o PT das suas falcatruas, inclusive, no
atual escândalo da Petrobrás. Na festa dos 35 anos do partido, o próprio Lula
definiu com perfeição o PT de hoje: “O PT transformou-se num partido igual aos
outros, mas não pior”. Somente os trabalhadores têm interesses na verdade
integral. A burguesia nos brinda com um festival de cinismo, cada quadrilha
acusando a outra de corrupta.
A Operação Lava Jato nada tem a ver com o
combate à corrupção, mas, encurralando o governo Dilma, pretende destruir e
privatizar a Petrobrás para beneficiar as multinacionais do petróleo e as
empreiteiras estrangeiras. Esse objetivo está sendo alcançado: as obras das
refinarias, estaleiros e petroquímicas estão paralisadas e os operários sendo
demitidos às centenas de milhares, provocando o aprofundamento da recessão. Não
por acaso, a Operação Lava Jato colocou na cadeia os responsáveis pelas
empreiteiras, (os mesmos que financiaram as campanhas eleitorais da maioria dos
deputados, senadores e presidenciáveis) e impede os “contratos de leniência”,
que permitiriam que continuassem operando. As portas estão sendo abertas para
as empreiteiras imperialistas. Dilma não se opõe a esse ataque, mas ajuda a
promovê-lo. Agradando à direita e ao amo imperialista, pensa arrefecer a
pressão contra o seu governo. Engana-se. O reconhecimento não faz parte das
virtudes da burguesia. Dilma, ao dar mostras de fraqueza, torna a oposição ainda
mais assanhada e, ao decepcionar os trabalhadores, fica politicamente
“pendurada no pincel”. O seu governo não se defende dos ataques. Não mobiliza
as suas bases, muito menos os trabalhadores, em sua defesa. A sua serventia
para o imperialismo consiste em conter as mobilizações populares, não em
promovê-las. O governo aposta em estancar as denúncias e as delações premiadas,
envolver também as principais figuras do PSDB e, assim, numa posição mais
confortável, propor um acórdão de bastidores aos seus adversários sobre os
limites das denúncias recíprocas, que não beneficiariam ninguém.
Propostas para os
trabalhadores
A
burguesia está na ofensiva. Os trabalhadores não contam com qualquer direção
que represente a sua independência de classe. Nessa situação, o centro da sua
luta deve concentrar-se na resistência e denúncia dos ataques em curso: o
tarifaço e o ajuste fiscal constante das MPs 664 e 665 promovido pelo governo
com apoio dos seus desafetos da oposição. As centrais sindicais, e a CUT em
particular, tentam uma negociação no parlamento no sentido de maquiar esses
planos, sem mexer no essencial. Devem ser denunciadas como coniventes com esses
ataques. É preciso botar o bloco na rua, sempre que possível. Repudiamos a
campanha pelo impeachment do ponto de vista da independência de classe, sem
apoiar o governo. Não deixamos a critica ao governo na mão da direita. Muito
menos devemos favorecer a oposição burguesa com a proposta abstrata de
substituir Dilma por um governo dos trabalhadores, como faz o PSTU, porque
somente a direita está em condições de depô-la. A esquerda se divide entre os
que apóiam o governo e os que levam água ao moinho do bloco burguês
pró-impeachment. O impeachment, improvável neste momento, mais do que a
deposição de Dilma, se voltaria principalmente contra os trabalhadores.
Os trabalhadores devem denunciar a
corrupção das duas alas da burguesia, governo e oposição, dando nome aos bois e
publicidade a todos os envolvidos, na medida em que sejam de conhecimento
público. Uma investigação própria e independente, por mais necessária que seja,
não tem viabilidade porque as suas direções estão integralmente comprometidas
com a falcatrua de um ou de outro lado. Devemos denunciá-las sem piedade, como
agentes e cúmplices da burguesia, ao invés de fazer-lhes exigências como
costuma fazer parte da esquerda, principalmente, o PSTU, que chama a CUT e o
MST a romperem com o governo, semeando ilusões na burocracia.
Essa
luta dos trabalhadores, de resistência, conscientização e organização, deve ser
preparatória, visando a derrota do peleguismo atual e a criação de um partido
revolucionário. Somente assim o proletariado
poderá colocar na ordem dia os seus objetivos maiores: a re-estatização
integral da Petrobrás, que deve coincidir com a expropriação do grande capital
e das multinacionais e a inauguração do socialismo. A bandeira de “uma
Petrobrás 100% estatal” não pode ser desvinculada da luta pelo socialismo, como
faz a esquerda, sob pena de cairmos na ilusão reformista.