O imperialismo ameaça bombardear a Síria,
supostamente como castigo ao uso de armas químicas pelo regime. A verdade passa
longe desse discurso. Todas as evidências apontam para a culpa do próprio
imperialismo através dos chamados rebeldes, a seu serviço. Já é uma tradição o
uso de provocações e pretextos para justificar as suas invasões. A Síria é a
“bola da vez” na luta imperialista pelo domínio do mundo. Atiram na Síria
mirando no Irã, Rússia e China. Obama anuncia que o bombardeio é apenas um
“castigo moral” ao regime, que não visa a sua derrubada. A verdade é que não
existem condições políticas para uma guerra de ocupação imediata. Além da
oposição limitada da Rússia, existe o repúdio do povo americano e europeu a
mais essa aventura. Não por acaso, o parlamento britânico votou contra a sua
participação na guerra. O ataque anunciado visa impedir o avanço militar do
governo Assad, debilitá-lo e preparar a vitória futura dos “rebeldes”.
O
proletariado internacional deve defender incondicionalmente a Síria, fiel às
suas melhores tradições de defesa das nações oprimidas, independentemente das
suas direções, ou seja, apesar do ditador Bashar Al Assad. Não se trata de
saber quem é pessoalmente mais cruel. Não existe termo de comparação entre o
poder de Obama, Cameron e Holande, de um lado, e o de Assad, do outro. O
imperialismo é sempre o inimigo principal dos povos, centenas de vezes mais
nefasto. Vejam o recente exemplo da Líbia. Acusaram Kadafi de genocídio por
alegadamente ter matado cinco mil pessoas. Em represália, os bombardeios
“humanitários” da OTAN assassinaram duzentos mil líbios. Hoje, as
multinacionais petroleiras enchem os bolsos com o petróleo líbio, a verdadeira
razão de tamanho “humanitarismo”.
A
capitulação da esquerda
Uma
parte da chamada esquerda virou um braço do imperialismo. Exemplo disso é a
política do PSTU (LIT) e CST (UIT) para a Síria. Dizem que existe “uma
grandiosa revolução em curso” na Síria, que é preciso apoiar o povo sírio
contra a ditadura de Assad. Esse apoio ao “povo sírio” se traduz no apoio aos
“rebeldes” e à sua direção, a Coalizão Nacional Síria (CNS), e a seu braço
armado, o Exército Sírio Livre (ESL). É uma completa fantasia a propalada
existência de um movimento “rebelde” do povo sírio, independente dessa direção,
armada e financiada pelo imperialismo através da Turquia, Arábia Saudita e Catar.
Não existe esse suposto movimento revolucionário sírio, nem o movimento
dirigido pelo CNS pode ser disputado.
Quando
o PSTU e a CST pedem “armas para os rebeldes” estão pedindo armas do
imperialismo para o seu braço armado na Síria, o ESL. Mais de uma vez, pediram
a intervenção externa, acusando o ocidente de “omissão” diante dos massacres
promovidos pelo regime. Hoje, a sua bandeira de “não à intervenção
imperialista” deve ser entendida como uma cortina de fumaça para encobrir o seu
verdadeiro apoio a essa intervenção, expresso na palavra de ordem “Fora Bashar
Al Assad”, porque concretamente o regime sírio somente pode ser derrubado, na
atual conjuntura, pela intervenção estrangeira. A derrubada de Assad é uma
tarefa dos trabalhadores, não pode ser delegada ao imperialismo.
Existem
outros grupos que cometem erros graves na questão Síria. Uns defendem uma
espécie de neutralidade na guerra civil e outros prestam apoio político ao
regime.
A
neutralidade
Os
grupos “neutralistas” alegam que como se tratam de dois setores burgueses,
deveríamos defender uma alternativa independente dos trabalhadores, a revolução
socialista, não apoiando nem o regime nem os “rebeldes”. Efetivamente, em
qualquer situação, devemos atuar de forma independente de todas as frações
burguesas, visando o poder dos trabalhadores. Acontece que nem sempre estamos
em condições de lutar pelo poder. No caso sírio, existe uma guerra civil entre
um governo de uma semi-colônia e um exército mercenário armado pelo
imperialismo. A situação concreta é: o que fazer na guerra entre essas duas
forças burguesas, enquanto não estivermos em condições de lutar pelo nosso
próprio poder? Nesse caso concreto, a vitória do governo, mesmo sendo uma
ditadura, de uma nação oprimida sobre os prepostos do imperialismo é o mal
menor. Essa neutralidade em nome da revolução proletária é uma política doutrinária
que esconde uma capitulação ao imperialismo.
Existe
também outra variante dessa política neutralista. Esta afirma que se trata de
uma luta inter-imperialista, porque os dois lados, o regime e os “rebeldes”, seriam
apoiados pelo imperialismo, o primeiro, pelo imperialismo americano e europeu,
e o segundo, pelo “imperialismo” russo e chinês. A ser assim, de fato, não
deveríamos apoiar um imperialismo contra outro. Entretanto, essa análise tem
dois erros graves. Primeiro, é duvidoso considerar a Rússia e a China como
imperialistas. Segundo, mesmo considerando-as como tais, a política correta
também não deveria ser de neutralidade.
Rússia
e China seriam, nessa hipótese, imperialistas de quinta categoria, comparadas
ao poder dos imperialismos hegemônicos. Estão dando à Síria um apoio mesquinho.
Não enfrentarão o ataque da OTAN, da mesma forma que se omitiram na Líbia.
Nesse caso, o apoio da Rússia à Síria é algo secundário para a definição do
caráter da guerra, ou seja, a Síria não é um regime preposto da Rússia como o é
a Turquia dos Estados Unidos, por exemplo. Nessas condições, a luta da Síria
contra os Estados Unidos, França, Israel, Turquia, Arábia Saudita, Catar, “rebeldes”,
etc, continua sendo uma luta de independência nacional entre uma nação oprimida
e o imperialismo, situação em que também não cabe neutralidade.
A
defesa filo-castrista da Síria
Existem
alguns grupos “trotskistas” que confundem a defesa da Síria com o apoio
político ao regime de Bashar Al Assad, embora neguem esse apoio que consiste no
“embelezamento” do regime e em atribuir-lhe um caráter anti-imperialista. Usam
eufemismos do tipo “todo apoio aos heróicos lutadores anti-imperialistas”, como
se houvessem “lutadores anti-imperialistas” independentes do regime, como se
não fossem o próprio regime. Mais do que o apoio a uma nação oprimida, apóiam
um regime pretensamente nacionalista e anti-imperialista, coisa que o regime sírio
não é ou há muito deixou de ser. Exigem armas do Irã, Rússia, China e
Venezuela, o que é uma ilusão que não podemos alimentar. Devemos denunciar a
omissão e covardia desses países, ao invés de fazer-lhes exigências vazias.
Esses
grupos defendem também uma Frente Única com o regime de Assad. Isso é
admissível em princípio, mas na prática uma fantasia. Não existe partido
marxista na Síria. Frente Única é um acordo prático entre forças políticas, por
exemplo, entre um partido e um governo para a defesa do país. Nada disso é possível
na Síria. Essa política fantasiosa e capituladora esconde uma omissão diante
dos verdadeiros métodos de defesa da Síria. A sua política é semelhante à do
castrismo.
Defender
a Síria com os métodos do proletariado
O
proletariado internacional deve defender as semi-colônias agredidas pelo
imperialismo com os seus próprios métodos e de forma independente: greves,
agitação, propaganda, boicote, armamento próprio. Defender uma semi-colônia não
implica apoiar politicamente a sua direção burguesa. A luta política interna
continua inalterada. Não se abre mão de uma greve, nem da denúncia do regime,
em nome da defesa nacional. A defesa da nação oprimida é incondicional, não
depende de o regime ser ou não nacionalista.
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