segunda-feira, 9 de setembro de 2013

FORA AS GARRAS IMPERIALISTAS DA SÍRIA


         O imperialismo ameaça bombardear a Síria, supostamente como castigo ao uso de armas químicas pelo regime. A verdade passa longe desse discurso. Todas as evidências apontam para a culpa do próprio imperialismo através dos chamados rebeldes, a seu serviço. Já é uma tradição o uso de provocações e pretextos para justificar as suas invasões. A Síria é a “bola da vez” na luta imperialista pelo domínio do mundo. Atiram na Síria mirando no Irã, Rússia e China. Obama anuncia que o bombardeio é apenas um “castigo moral” ao regime, que não visa a sua derrubada. A verdade é que não existem condições políticas para uma guerra de ocupação imediata. Além da oposição limitada da Rússia, existe o repúdio do povo americano e europeu a mais essa aventura. Não por acaso, o parlamento britânico votou contra a sua participação na guerra. O ataque anunciado visa impedir o avanço militar do governo Assad, debilitá-lo e preparar a vitória futura dos “rebeldes”.
        O proletariado internacional deve defender incondicionalmente a Síria, fiel às suas melhores tradições de defesa das nações oprimidas, independentemente das suas direções, ou seja, apesar do ditador Bashar Al Assad. Não se trata de saber quem é pessoalmente mais cruel. Não existe termo de comparação entre o poder de Obama, Cameron e Holande, de um lado, e o de Assad, do outro. O imperialismo é sempre o inimigo principal dos povos, centenas de vezes mais nefasto. Vejam o recente exemplo da Líbia. Acusaram Kadafi de genocídio por alegadamente ter matado cinco mil pessoas. Em represália, os bombardeios “humanitários” da OTAN assassinaram duzentos mil líbios. Hoje, as multinacionais petroleiras enchem os bolsos com o petróleo líbio, a verdadeira razão de tamanho “humanitarismo”.

A capitulação da esquerda
        Uma parte da chamada esquerda virou um braço do imperialismo. Exemplo disso é a política do PSTU (LIT) e CST (UIT) para a Síria. Dizem que existe “uma grandiosa revolução em curso” na Síria, que é preciso apoiar o povo sírio contra a ditadura de Assad. Esse apoio ao “povo sírio” se traduz no apoio aos “rebeldes” e à sua direção, a Coalizão Nacional Síria (CNS), e a seu braço armado, o Exército Sírio Livre (ESL). É uma completa fantasia a propalada existência de um movimento “rebelde” do povo sírio, independente dessa direção, armada e financiada pelo imperialismo através da Turquia, Arábia Saudita e Catar. Não existe esse suposto movimento revolucionário sírio, nem o movimento dirigido pelo CNS pode ser disputado.
        Quando o PSTU e a CST pedem “armas para os rebeldes” estão pedindo armas do imperialismo para o seu braço armado na Síria, o ESL. Mais de uma vez, pediram a intervenção externa, acusando o ocidente de “omissão” diante dos massacres promovidos pelo regime. Hoje, a sua bandeira de “não à intervenção imperialista” deve ser entendida como uma cortina de fumaça para encobrir o seu verdadeiro apoio a essa intervenção, expresso na palavra de ordem “Fora Bashar Al Assad”, porque concretamente o regime sírio somente pode ser derrubado, na atual conjuntura, pela intervenção estrangeira. A derrubada de Assad é uma tarefa dos trabalhadores, não pode ser delegada ao imperialismo.
        Existem outros grupos que cometem erros graves na questão Síria. Uns defendem uma espécie de neutralidade na guerra civil e outros prestam apoio político ao regime.

A neutralidade
         Os grupos “neutralistas” alegam que como se tratam de dois setores burgueses, deveríamos defender uma alternativa independente dos trabalhadores, a revolução socialista, não apoiando nem o regime nem os “rebeldes”. Efetivamente, em qualquer situação, devemos atuar de forma independente de todas as frações burguesas, visando o poder dos trabalhadores. Acontece que nem sempre estamos em condições de lutar pelo poder. No caso sírio, existe uma guerra civil entre um governo de uma semi-colônia e um exército mercenário armado pelo imperialismo. A situação concreta é: o que fazer na guerra entre essas duas forças burguesas, enquanto não estivermos em condições de lutar pelo nosso próprio poder? Nesse caso concreto, a vitória do governo, mesmo sendo uma ditadura, de uma nação oprimida sobre os prepostos do imperialismo é o mal menor. Essa neutralidade em nome da revolução proletária é uma política doutrinária que esconde uma capitulação ao imperialismo.
        Existe também outra variante dessa política neutralista. Esta afirma que se trata de uma luta inter-imperialista, porque os dois lados, o regime e os “rebeldes”, seriam apoiados pelo imperialismo, o primeiro, pelo imperialismo americano e europeu, e o segundo, pelo “imperialismo” russo e chinês. A ser assim, de fato, não deveríamos apoiar um imperialismo contra outro. Entretanto, essa análise tem dois erros graves. Primeiro, é duvidoso considerar a Rússia e a China como imperialistas. Segundo, mesmo considerando-as como tais, a política correta também não deveria ser de neutralidade.
        Rússia e China seriam, nessa hipótese, imperialistas de quinta categoria, comparadas ao poder dos imperialismos hegemônicos. Estão dando à Síria um apoio mesquinho. Não enfrentarão o ataque da OTAN, da mesma forma que se omitiram na Líbia. Nesse caso, o apoio da Rússia à Síria é algo secundário para a definição do caráter da guerra, ou seja, a Síria não é um regime preposto da Rússia como o é a Turquia dos Estados Unidos, por exemplo. Nessas condições, a luta da Síria contra os Estados Unidos, França, Israel, Turquia, Arábia Saudita, Catar, “rebeldes”, etc, continua sendo uma luta de independência nacional entre uma nação oprimida e o imperialismo, situação em que também não cabe neutralidade.

A defesa filo-castrista da Síria
        Existem alguns grupos “trotskistas” que confundem a defesa da Síria com o apoio político ao regime de Bashar Al Assad, embora neguem esse apoio que consiste no “embelezamento” do regime e em atribuir-lhe um caráter anti-imperialista. Usam eufemismos do tipo “todo apoio aos heróicos lutadores anti-imperialistas”, como se houvessem “lutadores anti-imperialistas” independentes do regime, como se não fossem o próprio regime. Mais do que o apoio a uma nação oprimida, apóiam um regime pretensamente nacionalista e anti-imperialista, coisa que o regime sírio não é ou há muito deixou de ser. Exigem armas do Irã, Rússia, China e Venezuela, o que é uma ilusão que não podemos alimentar. Devemos denunciar a omissão e covardia desses países, ao invés de fazer-lhes exigências vazias.
        Esses grupos defendem também uma Frente Única com o regime de Assad. Isso é admissível em princípio, mas na prática uma fantasia. Não existe partido marxista na Síria. Frente Única é um acordo prático entre forças políticas, por exemplo, entre um partido e um governo para a defesa do país. Nada disso é possível na Síria. Essa política fantasiosa e capituladora esconde uma omissão diante dos verdadeiros métodos de defesa da Síria. A sua política é semelhante à do castrismo.

Defender a Síria com os métodos do proletariado
        O proletariado internacional deve defender as semi-colônias agredidas pelo imperialismo com os seus próprios métodos e de forma independente: greves, agitação, propaganda, boicote, armamento próprio. Defender uma semi-colônia não implica apoiar politicamente a sua direção burguesa. A luta política interna continua inalterada. Não se abre mão de uma greve, nem da denúncia do regime, em nome da defesa nacional. A defesa da nação oprimida é incondicional, não depende de o regime ser ou não nacionalista.

            Infelizmente o proletariado sírio não conta com qualquer organização independente. Também não existem grupos marxistas na Síria. É preciso criar um movimento internacional em sua defesa. Os pequenos grupos marxistas, sindicatos combativos e outras organizações têm uma grande tarefa de agitação e propaganda contra a anunciada agressão imperialista, de denúncia da sua farsa humanitária, de esclarecimento das suas verdadeiras razões. A defesa da Síria é incompatível com qualquer apoio aos “rebeldes” sírios, agentes da intervenção estrangeira. Devemos fazer da defesa da Síria um instrumento de conscientização anti-imperialista. Todo trabalhador deve saber que o imperialismo é uma ave de rapina, que é preciso livrar-se das suas garras (as mesmas que extorquem 50% do orçamento do nosso país), que não existe futuro sob o seu domínio, que a agressão a uma nação oprimida equivale a agredir todos os trabalhadores do mundo.




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