A Luta
Marxista é um
pequeno núcleo político marxista. Atribui-se como tarefa contribuir para a
reorganização da vanguarda no sentido da construção do partido revolucionário,
o qual se constituiria como seção da IV Internacional, a ser também
reconstruída.
Temos consciência que
essa tarefa não é exclusivamente nossa, mas de todo militante revolucionário
honesto. A vanguarda revolucionária encontra-se dispersa. A crise de direção do
proletariado nunca foi tão profunda. As principais organizações que se
reivindicam da IV Internacional passaram-se de armas e bagagens para o campo do
centrismo ou do revisionismo. Mesmo assim, alguns militantes do futuro partido
encontram-se, inclusive, nessas organizações, as quais, enquanto tais, estão
mortas para a revolução socialista. As grandes traições da social-democracia,
do estalinismo e das principais correntes do trotskismo comprometeram para a
revolução diversas gerações de revolucionários.
É preciso reagrupar os
militantes revolucionários onde quer que estejam. No entanto, a maioria dos
quadros do futuro partido será composta de novos militantes, livres dos vícios
do passado. A principal tarefa de um núcleo marxista é conquistar e formar as
novas vanguardas combativas do proletariado. O partido revolucionário precisa
ser reconstruído pedra por pedra.
Mas o futuro lhe pertence. A atual crise do capitalismo demonstra, pela
milésima vez, a sua falência, e que o mesmo precisa ser derrubado. A História
está mostrando que a ideologia burguesa – representada pelo discurso neoliberal
– faliu. Toda a situação objetiva empurra no sentido de reafirmar a necessidade
do socialismo. Entretanto, o capitalismo não cairá de maduro, precisa ser
derrubado.
Após esta crise virão
outras, ainda mais profundas. De crise em crise, de guerra em guerra, a
História dará todas as oportunidades ao proletariado para que se aproprie do
poder do Estado e construa o socialismo. A História pode ser desesperadoramente
lenta, mas também pode se precipitar. O proletariado pode ser derrotado muitas
vezes, mas não pode ser destruído.
Junto com o discurso
neoliberal faliu também a política reformista e centrista, porque a situação
objetiva está mostrando com clareza a falsidade do reformismo, que o
capitalismo não pode ser reformado. Sem derrotar o reformismo não é possível
construir o partido revolucionário. Por isso, nos propomos participar nesse
combate a todas as variantes do oportunismo juntamente com os milhares de
revolucionários honestos.
Um primeiro passo seria
recuperar a teoria, o programa e o método marxista, abandonado pelo conjunto da
esquerda dita socialista, quase sem exceção. Esses princípios estão expressos
nas obras de Marx, Engels, Lênin e Trotsky. As suas principais tarefas, táticas
e métodos – entre outros documentos – encontram-se nas teses dos quatro
primeiros congressos da III Internacional e no Programa de Transição. A teoria
marxista, nesta época de reação, tem sido vilipendiada. Devemos resgatá-la e
desenvolvê-la para responder às necessidades da nossa época. É preciso analisar
as modernas manifestações do imperialismo, as suas tendências e consequências.
Sem teoria revolucionária não se constrói o partido e não se faz a revolução
socialista.
A política marxista,
para triunfar, deve se confrontar, passo a passo, com o oportunismo e o
sectarismo. Por isso, a Luta Marxista reafirma os seguintes elementos de uma
política marxista:
1 - A principal debilidade
do movimento proletário, responsável pelas suas derrotas, é a crise de direção,
a ausência de uma direção revolucionária. Construir o partido revolucionário e
a IV Internacional é uma tarefa urgentíssima. Todos aqueles que relativizam ou
secundarizam essa tarefa levam água ao moinho da burguesia. Alguns têm uma
postura ambígua. Reafirmam a necessidade do partido para a vitória final da
revolução, mas o mesmo seria dispensável numa primeira etapa democrática. Esse
semi-espontaneismo está na lógica da revolução por etapas.
Outros questionam a
hegemonia do partido nos sindicatos e defendem a sua autonomia em relação aos
partidos em geral. Destilam preconceito em relação aos partidos e ao partido
revolucionário, em particular. Para o marxismo, os sindicatos não podem ser
independentes: ou estão sob a influência da burguesia e dos seus partidos ou do
proletariado. A independência e a autonomia sindical somente é possível sob a
direção do partido revolucionário.
Nenhum partido tem o
direito natural de dirigir os trabalhadores. Esse direito deve ser conquistado
democraticamente, através de uma política correta, do respeito à sua vontade e
ao seu nível de consciência. Mas o partido não é o reflexo passivo da classe. É
a sua parte mais consciente. Luta por convencê-la das suas tarefas históricas,
para organizá-la e levá-la a luta com consciência. Educa as massas na
compreensão do socialismo. Essa tarefa foi abandonada pela vanguarda atual, que
esconde o marxismo dos trabalhadores, restringe a sua propaganda ao
economicismo e às questões democráticas elementares. A essa
"propaganda" chamam marxismo. Essa é a característica típica do
centrismo dominante na vanguarda: socialistas de dias de festa e defensores de
um programa rebaixado para as massas.
2 - O proletariado continua
sendo a única classe objetivamente revolucionária sob o capitalismo, com
capacidade de derrubar o poder da burguesia e expropriar o capital. A enorme
concentração do capital e as novas tecnologias têm levado à redução de algumas
categorias operárias, mas criado ou aumentado outras categorias proletárias. O
proletariado está mais disperso e menos concentrado. Entretanto, o seu peso
específico na sociedade continua sendo enorme. Quase todas as lutas importantes, na
atualidade, são feitas pelo proletariado. Isso é a prova da sua vitalidade. Não existe
outra classe que possa rivalizar com o seu papel.
Outra característica do
revisionismo é exatamente negar o papel objetivo e histórico do proletariado.
Por exemplo: o morenismo, que negou esse papel – bem como o papel do partido
revolucionário – nas revoluções chinesa e cubana, atribuindo-o ao campesinato.
Isso é a negação do marxismo e da realidade. A teoria da revolução permanente –
tão questionada pelo morenismo – diz que, nesses países camponeses atrasados, o
proletariado somente pode chegar ao poder pondo-se à frente de uma revolução
camponesa. Mas a direção e o caráter da revolução é dado pelo proletariado. Tal
foi o caso da revolução russa, e também da chinesa e cubana. Nenhuma revolução
camponesa pura pode chegar a expropriar a burguesia. Moreno esquece do caráter
internacional da revolução e que, portanto, essas revoluções – chinesa e cubana
– foram o resultado direto e indireto da luta de classes internacional - da
própria revolução russa e do ascenso proletário pós segunda guerra mundial.
3 - A tarefa histórica do
proletariado consiste em derrubar o poder da burguesia, destruir as suas
instituições – o governo, o exército, as polícias, o judiciário, etc. – e
instaurar a Ditadura do Proletariado. Essa deve ser uma ditadura sobre a
burguesia e uma democracia para os trabalhadores, baseada nas suas organizações.
O exemplo histórico que temos como referência foram os sovietes, surgidos da
Revolução de Outubro, nos seus primeiros anos, enquanto não foram
burocratizados pelo estalinismo.
Ditadura do Proletariado
implica no uso da repressão contra as tentativas de restauração burguesa. Deve
ser usada na exata medida dessa necessidade. Colocar na ilegalidade os partidos
burgueses não é uma questão de princípio, muito embora possa ser, em geral,
necessária. Mas assegurar de antemão o direito à legalidade a todos os
partidos, inclusive aos burgueses – como propõe o morenismo – é uma postura
liberal burguesa, que significa rejeitar a Ditadura do Proletariado.
4 - A revolução proletária,
na atualidade, assume um caráter socialista desde o primeiro momento, tanto
pela sua direção como pelas suas tarefas. Vivemos a época de domínio
imperialista sobre o conjunto das nações. Nos países coloniais e
semi-coloniais, o atraso econômico convive com setores de ponta da economia,
dominado pelo grande capital. Todos os países estão submetidos ao capital
financeiro. Nesses países atrasados, particularmente, as tarefas democráticas
continuam atuais e de grande importância. Entretanto, a expropriação das
multinacionais é a tarefa objetivamente preponderante, o que confere um caráter
socialista à revolução proletária. Esta deve cumprir, ao mesmo tempo, as
tarefas democráticas e as tarefas socialistas, que são inseparáveis.
Por esse motivo, não
pode existir separação entre a revolução democrática e a revolução socialista.
O centrismo em geral – e o morenismo em particular – fazem essa separação. A
revolução democrática seria anterior à revolução socialista. Num primeiro
momento, as palavras de ordem democráticas seriam preponderantes. A luta contra
uma ditadura militar e a luta pelo socialismo seriam dois momentos distintos.
Primeiro se lutaria pela derrubada da ditadura para depois lutar pelo
socialismo. O mesmo método etapista o morenismo utiliza na guerra contra o
fascismo, por exemplo. Primeiro coloca a luta pela democracia e depois pelo
socialismo. Dessa forma, requenta a teoria da revolução por etapas do
estalinismo.
Não podemos saber
antecipadamente qual o motivo ou a palavra de ordem capaz de desencadear a
revolução. Pode muito bem ser uma questão democrática. No entanto, uma vez esta
sendo vitoriosa, imediatamente deve encarar a necessidade de expropriação do
grande capital, sob pena de ser derrotada. Por isso, seja qual for o motivo
imediato da revolução, ou esta expropria a grande burguesia ou regride.
Devemos procurar
transformar todas as lutas do proletariado – econômicas, eleitorais, contra uma
ditadura, contra o fascismo, contra a guerra, etc. – em luta pelo socialismo.
Essa vinculação é o método marxista, que a esquerda renega. Ao contrário,
procurar isolá-las em lutas específicas, como se se bastassem a si mesmas.
Assim, caem no economicismo, no etapismo e na conciliação de classes.
5 - A vanguarda marxista
deve participar dos sindicatos atuais. Esses sindicatos encontram-se, cada vez
mais, integrados ao Estado. Essa participação deve ter como objetivo a luta
pela sua independência, transformá-los em sindicatos revolucionários, o que não
significa sindicatos de
vanguarda, de minoria. No entanto, essa transformação dos sindicatos somente é
possível com a derrota da burocracia sindical e do revionismo.
Não podem existir
sindicatos independentes da burguesia e do Estado que não estejam organizados
pela base, em comissões por local de trabalho, que dirijam o próprio sindicato.
Nenhuma direção burocrata ou centrista está interessada nessa organização de
base. Hoje todos os sindicatos existentes são de cúpula - dirigida por
diretorias eleitas pela atual legislação sindical antidemocrática -
independentemente de qual seja a sua direção: CUT, Força Sindical, Intersindical
ou Conlutas.
Participamos da Conlutas
porque dela participa o setor mais combativo da vanguarda brasileira, mas
levamos uma luta contra a política da sua direção. Principalmente, lutamos
contra a sua política de unidade sem princípios com a CUT, com a Intersindical,
etc. A sua política de frente única é uma política de capitulação à CUT, aos
seus métodos e às suas bandeiras. A Conlutas adapta as suas palavras de ordem e
o seu calendário aos da CUT.
Para Trotsky, frente
única são “acordos práticos para ação de massas”, mantendo a nossa
independência, ou seja, as bandeiras e a propaganda próprias. Para o centrismo,
frente única se transforma na confusão das bandeiras e da propaganda com os
agentes da burguesia. Como diz Trotsky, “assume as suas cores”.
6 - Como disse
Lênin - no Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo – “o parlamentarismo está
historicamente caduco mas não está politicamente caduco”. Os marxistas admitem
a sua participação nas eleições burguesas, mesmo no atual estado de putrefação
dos parlamentos. Entretanto, essa participação deve se basear numa análise
criteriosa da conjuntura, nas condições concretas da realidade. Entre essas
condições salientamos: a existência de um partido revolucionário de massas,
coisa que não existe no nosso país e nem mesmo em outros países; uma conjuntura
de retração das lutas, de maneira que essa participação sirva para elevar o
nível de consciência das massas; uma política independente do partido em
relação a todos os outros partidos. Principalmente,
essa última condição, a independência de classe nas eleições, é sacrificada
pelo centrismo dominante no nosso país com a sua política de Frente de
Esquerda. A um partido revolucionário somente se admite participar de eleições
burguesas se for para defender o seu programa, porque esse é um momento
oferecido pela burguesia em que a discussão programática assume o primeiro
plano. Por esse motivo, o partido não pode abrir mão de candidaturas próprias,
o que exclui frentes eleitorais, porque toda frente implica em programas comuns
entre partidos distintos. Consideramos
a Frente de Esquerda - que reúne a quase totalidade da esquerda dita socialista
brasileira – uma pequena Frente Popular. Ela expressa um programa comum dessa
esquerda, eclético na sua forma e burguês no seu conteúdo. O programa dessa
frente é o programa do PSOL, pela correlação de forças internas. Esse é um
partido de composição pequeno burguesa com política burguesa. Por isso, não
participamos da Frente de Esquerda e a combatemos. Chamamos o voto nulo nas atuais
eleições. Existem também pequenos grupos frente populistas envergonhados que se
opõem à atual Frente de Esquerda em nome de uma frente classista. Na prática
seria uma frente eleitoral encabeçada pelo PSTU, apenas sem o PSOL. Não
consideramos que uma possível frente dessa espécie, que incluiria possivelmente
o PCB, seria uma frente classista, mas mais uma pequena frente popular. Tanto
pelo histórico contra-revolucionário do PCB quanto pelo programa etapista e
conciliador do PSTU. Entendemos
que os pequenos grupos marxistas não podem participar com candidaturas próprias
nas eleições. Para o marxismo a participação eleitoral é sempre um método
secundário e subordinado ao método da luta direta. Sendo assim, a participação
eleitoral de um pequeno grupo implica na priorização absoluta das eleições e na
secundarização da luta direta. Podemos afirmar que todos os grupos minoritários
que optaram pela participação eleitoral caíram no mais puro eleitoralismo e na
degeneração política. Entretanto, não participar com candidaturas das eleições
não significa ignorá-las. É preciso aproveitar esses momentos para fazer uma
campanha ativa de divulgação do programa revolucionário, de denúncia da
burguesia e das suas instituições.